"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Bolívia é o país que mais reduziu a desigualdade salarial na América Latina

'Educação, aumento do salário mínimo e formalização do trabalho influíram no resultado, segundo o Banco Mundial'

Notas Periodismo Popular

O crescimento econômico anual de 4% facilitou a distribuição e a implementação de políticas públicas progressivas no país / Notas
Um relatório do Banco Mundial publicado, na semana passada, informa que, nos últimos anos, a Bolívia atingiu o melhor desempenho na redução da diferença salarial entre os países da América Latina.

Segundo o coeficiente Gini, parâmetro utilizado na pesquisa, a desigualdade de salários no país que, em 2003, correspondia a 0,53, agora está em 0,44. O coeficiente de Gini indica um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde ao melhor indicador, ou seja, a igualdade absoluta; e 1, o pior.

Segundo a pesquisa, este avanço se deve principalmente a três aspectos: ao desenvolvimento educacional, ao aumento real do salário mínimo nacional e a uma maior formalização do trabalho.

Até 2005, um ano antes da vitória do atual presidente do país, Evo Morales, o salário mínimo nacional era de 440 pesos bolivianos, o que equivale a cerca de 200 reais.

Em 2017, o salário mínimo passou a ser 2 mil pesos, equivalente a 940 reais, o que representa um aumento de 400%, enquanto a inflação anual média durante esses anos foi de 6%.

O ministro de Trabalho, Emprego e Previdência Social, Héctor Hinojosa, pontuou que o aumento salarial foi estabelecido como política de Estado. "O salário é um mecanismo que dinamiza a economia, é uma parte fundamental do nosso modelo, que se sustenta no mercado interno, e é preciso dinamizá-lo", explicou.

O ministro ainda destacou as políticas de redução do desemprego e afirmou que o governo pretende reduzir a taxa de desemprego a 3,5% antes do final do ano. "Quando iniciamos o Programa de Apoio ao Emprego [em 2012], a taxa de desemprego estava em 4,5%", relembrou. Hinojosa esclareceu que "com este investimento que estamos fazendo, em quatro ou cinco meses de atividade, chegaremos a 3,5%. É o que calculamos", disse.

Como aponta o Banco Mundial, a formalização do trabalho - em uma economia com uma forte tradição de trabalho informal - também contribuiu para melhorar os indicadores salariais e a qualidade educacional, considerada "fundamental para criar habilidades que levem a salários mais altos e meios de subsistência sustentáveis".

O crescimento econômico anual de 4% também influiu na redução da desigualdade salarial, pois facilitou a distribuição e a implementação de políticas públicas progressivas. O vice-ministro do Orçamento e da Contabilidade Fiscal do país, Jaime Durán Chuquimia, assegurou que espera que a Bolívia "continue nessa dinâmica para dignificar os salários dos trabalhadores bolivianos”.

Edição: Simone Freire | Tradução: Luiza Mançano

Um exemplo a ser seguido

'A distribuição de professores ajuda a explicar a igualdade de condições nas escolas'
Por Murilo Basso
Foto: Ministry of Education - Japan
De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Japão é o país com o maior nível de igualdade na educação, quando comparado a outros países com índices de desenvolvimento similar.
No país asiático, a grande maioria dos estudantes das classes sociais mais baixas tem acesso a educação de qualidade equivalente àqueles de classes sociais mais altas - segundo dados da própria OCDE, apenas 9% da variação de desempenho entre os alunos é ocasionada por diferenças socioeconômicas.
Além disso, o Japão apresenta um dos menores índices de evasão: 96,7% dos jovens terminam o ensino médio; a média dos países analisados pela OCDE é de 76%. No Brasil, o índice é de 46%.
Uma das explicações para os bons resultados é a distribuição de professores altamente capacitados para áreas diversas do país, o que cria um equilíbrio no nível de ensino entre áreas urbanas e rurais, pobres e ricas. “Há muitos esforços para redirecionar os melhores professores e recursos para os estudantes mais desprivilegiados”, diz Andreas Schleicher, responsável pelo trabalho da OCDE em educação e desenvolvimento.
Mais experiência, maiores desafios
Essa abordagem parte das outras esferas da sociedade e do governo: no país, a falta de oportunidades é vista como responsabilidade de todos. Como resultado, crianças japonesas que crescem em famílias mais pobres têm maiores chances de mobilidade social na vida adulta, quando comparadas às de outros países desenvolvidos, como os Estados Unidos.
O sistema de realocação de professores é um dos principais motivos por trás da igualdade do sistema educacional japonês: docentes no Japão não são contratados por escolas específicas, mas por províncias, que podem mudar o posto de trabalho do professor a cada três anos.
Já o sistema de contratação por província é similar ao modelo brasileiro, em que as Secretarias de Estado da Educação fazem concursos e processos de seleção para uma região específica. Mas enquanto no Brasil os docentes contratados são alocados para escolas de modo aleatório, no Japão as províncias analisam as demandas de cada escola e escolhem os profissionais mais alinhados a cada necessidade.
As realocações são feitas com maior frequência no começo da carreira, e diminuem conforme o profissional adquire mais experiência. A rotatividade nos primeiros anos de trabalho permite que os professores adquiram experiências diversas, em escolas com perfis distintos, o que os deixa mais preparados para desafios de ensino e aprendizagem.
Professores mais experientes são priorizados pelas províncias em contextos mais desafiadores e direcionados para as escolas que mais precisam evoluir. Eles permanecem nelas por mais tempo para que as mudanças sejam efetivas.
Gerindo recursos
A mesma lógica se aplica à distribuição dos recursos públicos direcionados para educação. O volume de investimento é proporcionalmente menor do que em outros países desenvolvidos: o Japão investe 3,3% do seu PIB em educação, contra uma média de 4,9% dos países da OCDE. O país asiático gasta menos do que os Estados Unidos – são US$ 8,7 mil por aluno, contra US$ 10,9 mil nos EUA.
A diferença está no modo como a verba pública é distribuída: escolas têm infraestrutura enxuta, com construções simples e materiais econômicos, como livros impressos em papel simples. Os custos com pessoal também são diminuídos com equipes menores – a limpeza, por exemplo, é feita pelos próprios alunos e professores. A gestão escolar também é simplificada, com apenas um diretor e alguns vice-diretores em cada escola, sem cargos intermediários entre eles e os professores.
Como resultado dessa simplificação, províncias podem pagar salários mais altos para os professores: o rendimento médio dos docentes na educação básica é de US$ 4,1 mil por mês – maior do que a média de US$ 3,7 mil dos países da OCDE.
O valor médio corresponde quase totalmente ao salário recebido pela maioria dos professores: os salários, que são pagos conjuntamente pelo governo federal e pela administração local, não variam muito entre as regiões do país, mesmo com as diferenças de custo de vida entre as áreas urbanas e rurais. Como consequência, a realocação de profissionais para áreas rurais e regiões mais pobres desperta maior interesse por suas vantagens financeiras.
Modelo autônomo
O modelo de ensino japonês também contribuiu para o sucesso do seu sistema. Lá, os professores têm maior autonomia sobre os planos de ensino para o ano letivo, e são incentivados a compartilhar experiências com os outros docentes, que analisam e oferecem sugestões.
A troca de conhecimento entre os profissionais pode ser multidisciplinar, o que transfere o foco do ensino para a resolução de problemas, diferentemente da abordagem ocidental tradicional de priorizar conteúdos específicos em cada disciplina.
Essas particularidades, de acordo com Schleicher, constroem um sistema educacional que apresenta resultados concretos para a parte mais importante da equação: “É um dos poucos sistemas educacionais que funciona bem para quase todos os estudantes.”

sábado, 18 de novembro de 2017

CRÔNICA: UM MINUTO PARA REFLETIR

Temos muito o que aprender, com a vida e uns com os outros. O dia-a-dia, às vezes, faz com que as pessoas apenas existam ou passem umas pelas outras sem um olhar especial.

Tem a rotina, tem as preocupações, tem os sonhos. Tem a nossa vida, o nosso mundo. Mas, tem o mundo do outro também. Parece natural esquecer do outro, não é mesmo? Pois não deveria.

Júlia se formou na faculdade, havia morado o período de graduação longe da família e de alguns amigos, sacrifício necessário para realização profissional. Lá pelo meio do curso – medicina – recebeu a notícia que uma de suas melhores amigas estava doente e teria que fazer um tratamento. Laura e Júlia sempre foram muito próximas, amigas-irmãs, mas com os anos morando longe, nem sempre se falavam mais.

Certo dia, Júlia recebeu uma ligação de sua mãe dizendo que Laura estava muito ruim e já que as férias estavam chegando Júlia podia ir até sua cidade... para dar um apoio a sua amiga-irmã.

Júlia entendeu o que sua mãe queria dizer, não precisava de muitas palavras. Mas, ela tinha uma viagem marcada com o namorado novo e alguns novos amigos e não foi. Passado uns dias que ela embarcou para a viagem de férias chega uma mensagem no celular “Minha filha, a Laurinha não resistiu”. Laura havia estado com Júlia em diversos momentos de sua vida, no colégio, durante as novas experiências de adolescente, a separação dos pais e etc...

O choro foi inevitável, Júlia olhou ao seu redor e não estava onde mais desejaria naquele momento, nem se quer havia se despedido de sua amiga ou dado o apoio que sua mãe havia sugerido a ela. Naquele momento, uns dos novos amigos de Júlia se aproximou, enquanto uns continuaram a se divertir. Ele disse algo que ela jamais esqueceria: “Ju, a vida é rara, às vezes é preciso mais do que ver pessoas, é preciso olhar para elas, enxerga-las”.

O amigo de Júlia a enxergou naquele momento.

Júlia estava encantada com o mundo de possibilidades que outra cidade, outros amigos e namorado proporcionaram a ela. Mas, naquele momento, nada disso faria sentido. Ela entendeu que não importa o mundo de possibilidades que você tenha, é essencial cuidar e valorizar o que fez parte do seu caminho para chegar onde chegou.

Júlia nem de longe era uma garota ruim, mas estava concentrada em seu mundo apenas. Assim como você pode estar concentrado no seu, julgando Júlia agora.

E, para você, ela deixa um pedido de reflexão: Até que ponto estou cego com o meu mundo e apenas vejo as pessoas, mas não as enxergo?

Hoje vale enviar aquele mensagem de “saudade”, “como foi seu dia?”, “quanto tempo! Como você está?” ou qualquer outra coisa especial que você queira. Não deixe para amanhã. Valorize as Lauras que você encontra pelo caminho da vida.


17 pessoas negras da História que você não viu na escola


Na escola, provavelmente, você não ouviu falar sobre os guerreiros e guerreiras ou líderes quilombolas que desenharam a História do Brasil. Ao contrário da ênfase na trajetória dos imperadores Dom Pedro I e II, por exemplo, pouco se estuda dentro da sala de aula a influência negra de nosso país além da escravidão.
Pensando nisso, a plataforma educacional gratuita Quizlet convidou Stephanie Ribeiro, estudante de Arquitetura da PUC de Campinas (SP) e ativista feminista negra, para elaborar uma lista com 17 pessoas importantes da cultura negra do Brasil. No site interativo é possível aprender sobre cada uma delas de forma dinâmica.
“Quem é quem na história negra do Brasil” te leva a descobrir o quanto você conhece sobre as personalidades negras brasileiras. Clique aqui para acessar a plataforma e jogar. O conteúdo também traz os marcos da história negra (confira aqui). Abaixo, veja alguns dos nomes reunidos:
Abdias Nascimento

Créditos: Reprodução/Quizlet
Abdias Nascimento
Foi um poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras.
Antonieta de Barros

Créditos: Reprodução/Quizlet
Antonieta de Barros
Pioneira no combate a discriminação dos negros e das mulheres, foi a primeira deputada estadual negra do país. Atuou como professora, jornalista e escritora.
José do Patrocínio

Créditos: Reprodução/Quizlet
José do Patrocínio
Foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país.
Carolina Maria de Jesus

Créditos: Reprodução/Quizlet
Carolina Maria de Jesus
Considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.
Lima Barreto

Créditos: Reprodução/Quizlet
Lima Barreto
Foi um jornalista e escritor que publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX.
Lélia Gonzalez

Créditos: Reprodução/Quizlet
Lélia Gonzalez
Intelectual, política, professora e antropóloga brasileira.
Luisa Mahin

Créditos: Reprodução/Quizlet
Luisa Mahin
Uma ex-escrava africana, radicada no Brasil, mãe do abolicionista Luís Gama.
Luís Gama

Créditos: Reprodução/Quizlet
Luís Gama
Foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro.
Tereza de Benguela

Créditos: Reprodução/Quizlet
Tereza de Benguela
Foi uma líder quilombola que viveu no atual estado de Mato Grosso, durante o século XVIII. Foi esposa de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho (ou do Quariterê). Com a morte do marido Teresa se tornou a rainha do quilombo.
Zumbi dos Palmares

Créditos: Reprodução/Quizlet
Zumbi dos Palmares
    Foi o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial.

    Ensina a teu filho

    “Ensina a teu filho que o Brasil tem jeito e que ele deve crescer feliz por ser brasileiro.
    Há neste país juízes justos, ainda que esta verdade soe como cacófato. Juízes que, como meu pai, nunca empregaram familiares, embora tivessem filhos advogados. Jamais fizeram da função um meio de angariar mordomias e, isentos, deram ganho de causa também a pobres, contrariando patrões gananciosos ou empresas que se viram obrigadas a aprender que, para certos homens, a honra é inegociável.
    Ensina a teu filho que neste país há políticos íntegros como Antônio Pinheiro, pai do jornalista Chico Pinheiro, que revelou na mídia seu contracheque de parlamentar e devolveu aos cofres públicos jetons de procedência duvidosa.
    Saiba o teu filho que, no monolito preto do Banco Central, em Brasília, onde trabalham cerca de 3 mil pessoas, a maioria é honrada e, porque não é cega, indignada ante maracutaias de autoridades que deveriam primar pela Ética no cargo que lhes foi confiado.
    Ensina a teu filho que não ter talento esportivo ou rosto e corpo de modelo, e sentir-se feio diante dos padrões vigentes  de beleza, não é motivo para ele perder a auto-estima. A felicidade não se compra nem é um troféu que se ganha vencendo a concorrência. Tece-se de valores e virtudes e desenha, em nossa existência, um sentido pelo qual vale a pena viver e morrer.
    Ensina a teu filho que o Brasil possui dimensões continentais e as mais férteis terras do planeta. Não se justifica, pois, tanta terra sem gente e tanta gente sem terra. Assim como a liberdade dos escravos tardou, mas chegou, a reforma agraria haverá de se implantar. Tomara que regada com muito pouco sangue.
    Saiba o teu filho que os sem-terra que ocupam áreas ociosas e prédios públicos são, hoje, chamados de “bandidos”, como outrora a pecha caiu sobre Gandhi sentado nos trilhos das ferrovias inglesas e Luther King ocupando escolas vetadas aos negros.
    Ensina a teus filhos que pioneiros e profetas, de Jesus a Tiradentes, de Francisco de Assis a Nelson Mandela, são, invariavelmente, tratados,  pela elite de seu tempo, como subversivos, malfeitores, visionários.
    Ensina a teu filho que o Brasil é uma nação trabalhadora e criativa. Milhões de brasileiros levantam cedo todos os dias, comem aquém de suas necessidades e consomem a maior parcela de sua vida no trabalho, em troca de um salário que não lhes assegura sequer o acesso à casa própria. No entanto, essa gente é incapaz de furtar um lápis do escritório, tijolo da obra, uma ferramenta da fabrica. Sente-se honrada por não descer ao ralo que nivela bandidos de colarinho branco com os pés-de-chinelo. É gente feita daquela matéria-prima dos lixeiros de Vitoria que entregaram a policia sacolas recheadas de dinheiro que assaltantes de banco haviam escondido numa caçamba.
    Ensina a teu filho a evitar a via preferencial dessa sociedade capitalista que nos tenta incutir  que ser consumidor é mais importante que ser cidadão; incensa quem esbanja fortuna e realça mais a estética que a Ética.
    Saiba o teu filho que o Brasil é a terra de índios que não se curvaram ao jugo português e de Zumbi, de Angelim e frei Caneca, de madre Joana Angélica a Anita Garibaldi, Dom Helder Câmara e Chico Mendes.
    Ensina a teu filho que ele não precisa concordar com a desordem estabelecida e que será feliz se se unir aqueles que lutam por transformações sociais que tornem este país livre e justo. Então, ele transmitirá a teu neto  o legado da tua sabedoria.
    Ensina teu filho a votar com consciência e jamais ter nojo de política, pois quem age assim é governado por quem não tem e, se a maioria tiver a mesma reação, será o fim da democracia. Que o teu voto e o dele sejam em prol da justiça social e dos direitos dos brasileiros, imerecidamente tão pobres e excluídos, por razoes políticas, dos dons da vida.”

    *Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.