"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.
#PauloFreireMereceRespeito #PatonoDaEducaçãoBrasileira #PauloFreireSempre

quarta-feira, 28 de março de 2018

Hoje, tentaram te matar

Lula e Ana Cañas. Foto: Ricardo Stuckert


hoje, tentaram te matar. 
04 balas disparadas em sua direção.
pois podem te apedrejar, xingar, crucificar.
eu estarei ao seu lado. 
o que os fascistas querem não é o fim da corrupção.
não é a ‘justiça’ que tanto hipocritamente clamam com suas panelinhas.
o que eles querem é a morte de um candidato que lidera todas as pesquisas de intenção de voto para a presidência da república.
um homem julgado e condenado sem provas, no circo bizarro e totalmente arbitrário da lava-jato e do judiciário de carmen lúcia - que, aliás, recebeu michel temer para um cafezinho em sua casa, na semana passada.
o que os fascistas querem é executar um ser humano que será indicado ao prêmio nobel da paz. 
no MECANISMO deles, o ódio, a ignorância, a intolerância, a truculência, o preconceito e a execução - como visto hoje, vencem.
no mecanismo de josé padilha, a demonização da esquerda é o trampolim que lhe cai muito bem, obrigada.
colocar palavras ditas por outrens na boca de quem lhe convém é apenas ‘liberdade de expressão à favor de uma força dramática’.
parabéns, diretor. 
comprar capas de revistas para anunciar o seriado no país inteiro (contando com a condenação) apenas para promover a série, é tripudiar além do imaginável. 
é escabroso. 
num fode, netflix.
além do roteiro raso, maniqueísta e maquiavélico (eufemismos rolando).
transformar o moro num herói? 
ele, que ontem mesmo, defendia o reajuste do auxílio-moradia dos juízes, no programa roda viva.
que bonitinho, gentê. 
então alguém pergunta pro herói da série do padilha porque a lava-jato não condenou nenhum tucano?
ou o que ele fazia, aos risos, com o aécio, certa feita.
qual foi a piada que nós, brasileiros, perdemos, hein, senhor diretor?

(Postado originalmente na fanpage oficial da cantora no Facebook)

A quem serve a destruição política do Lula?

Por Manoel Paixão

Analisando bem, veremos que serve...

Às elites econômica, política, midiática, jurídica, religiosa e intelectual, do nosso país. Historicamente, acumuladoras de privilegiados e trazem consigo uma mentalidade escravocrata, predatória, saqueadora, entreguista, retrógrada, abusiva, intolerante, racista, manipuladora e golpista, que é transmitida de geração em geração, pelos setores mais conservadores, autoritários, antinacionais, antissociais e antidemocráticos, da sociedade brasileira. Segundo o jornalista Franklin Martins: “A elite brasileira despreza a democracia. É um grupo de predadores”. Essas elites são as grandes responsáveis pelo atraso do nosso país, não cansam de se aproveitar do Estado e de explorar o povo brasileiro. O saudoso Darcy Ribeiro, notável antropólogo e educador, dizia que: “O maior e único problema do Brasil são as suas elites: apátridas, parasitárias, vivem de vender o patrimônio nacional e manter o povo escravizado, ignorante, feito gado”.

Aos detentores da grande mídia nacional, em geral aliados a grandes corporações ou grupos poderosos, que colocam seus veículos de comunicação a serviço de interesses – sempre tendenciosos, muitos até escusos – que nada tem que ver com a defesa dos interesses do nosso país ou do bem-estar social do nosso povo. Isso, quando não estão utilizando seus veículos para propagar o ódio e a intolerância por toda parte, ou incumbidos de destruir a imagem e o legado de alguém, com seus linchamentos covardes e condenações prévias, na tentativa maldosa de influenciar a opinião pública. Ou ainda, gerar na população uma indiferença ou aversão a certos políticos, siglas partidárias e movimentos sociais, enquanto se encarregam de blindar e proteger outros – e porque não dizer, os seus. Tamanha é a parcialidade, a seletividade e a distorção, que se ver no trato das notícias e informações, veiculadas diariamente nessa grande mídia. Para o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello: “O maior inimigo do Brasil é a grande imprensa”.

Aos que defendem um Estado mínimo e a privatização das empresas e serviços públicos.

Aos que não querem um Brasil verdadeiramente independente, livre e soberano.

Aos que não respeitam o Estado Democrático de Direito.

Aos que são contrários a promoção de políticas públicas progressivas, ao desenvolvimento sustentável e ao combate às desigualdades.

Aos que querem o fim da CLT, do SUS, da Previdência Social, da universidade pública gratuita e de tudo quanto é programa social.

Aos que não aceitam uma política de aumento real do salário mínimo, de valorização da classe trabalhadora, e que categorias como as das empregadas domésticas tenham direitos trabalhistas garantidos.

Aos que vivem vociferando a criminalização dos movimentos sociais e suas lideranças.

Aos que não respeitam a diversidade de ideias e opiniões, a pluralidade de gênero, credo, cultural, étnico-racial e etc.

Aos que não suportam mais ouvir falar em bolsas, cotas, cidadania, direitos humanos e inclusão social.

Aos que defendem uma tal de meritocracia, mas detestam ouvir falar em igualdade de oportunidades e justiça social.

Aos que não aceitam pobres, negros e classe operária, saindo da invisibilidade e ascendendo socioeconomicamente.

À uma parcela considerável da classe média, muito bem definida nas palavras do saudoso e genial jornalista Paulo nogueira, do DCM, como “reacionária e visceralmente analfabeta política”. A mesma parcela desta, que se enxerga como parte integrante das elites e não percebe como é usada. “A classe média é feita de imbecil pela elite”, como bem disse o sociólogo Jessé Souza. E a outros grupos da sociedade brasileira, também despolitizados e mal informados, outrora chamada de “midiotizados” e mais recentemente definidos como “manifestoches”, pela escola de samba Paraíso do Tuiuti.

Aos que não sabem fazer outra coisa, a não ser odiar, odiar e odiar. A propósito, no texto “A marcha dos hipócritas”, do jornalista Leandro Fortes, que vale a sua leitura, dá para a gente entender um pouco mais como esse ódio é alimentado e tem um destino certeiro, em nosso país.

Aos hipócritas, falsos moralistas e oportunistas de ocasião.

E por aí vai.

Agora, em se tratando do Lula, vemos claramente, que ele é alvo de perseguição política. Não é de hoje que isso acontece. Já são quase 40 anos passando por isso. Ao longo desse tempo, Lula já sofreu os mais diversos tipos de ataques e ofensas, que se possa imaginar, sempre acompanhadas de uma tentativa vil de criminalizá-lo. Nenhum outro personagem da história política brasileira, foi tão discriminado, difamado, desrespeitado, execrado e achincalhado publicamente, quanto o Lula vêm sendo. E seus perseguidores pertencem às mesmas elites de sempre, que dentre outras coisas, são extremamente inescrupulosas, preconceituosas e intolerantes. Porém, nesses anos de operação “farsa jato” e de golpe, toda essa perseguição política, não só se intensificou como também se tornou mais implacável. E não pense, que se trata de um aprofundamento no combate à corrupção ou de se fazer justiça nesse país, como querem a todo custo fazer pensar. Não mesmo. Mas, de um indisfarçado interesse político por trás disso tudo. Tanto é, que nesses últimos dias, há uma forte mobilização das elites do nosso país, em empregar todo o seu poder político-econômico-midiático-judicial, para garantir imediatamente a sua prisão.

Aliás, vale lembrar, que os governos de Lula e de Dilma, sim, esses mesmos, deixaram um legado histórico para o país, no que se refere de fato ao combate à corrupção, inclusive estruturando e fortalecendo o Ministério Público e a Polícia Federal, que nunca antes tiveram tanta autonomia, pois governos anteriores controlavam e muito bem essas instituições.

Nesta sanha desenfreada, lançaram mão de todas as artimanhas possíveis para condená-lo e, consequentemente, levá-lo a uma prisão. Sua vida e de sua família foi devassada. Sofreu o que mais pareceu um sequestro, naquele fatídico episódio da condução coercitivamente. Sofreu o escrachado público, no grotesco episódio do PowerPoint. Sofreu uma enxurrada de acusações absurdas. Sofreu uma intensa caçada judicialesca e midiática. Teve sua defesa por inúmeras vezes cerceada. Até que se chegou ao ponto, e em tempo recorde, de sua condenação sem provas, mas por convicções de sobra. Faltando agora prendê-lo. Resumido, vimos um jogo de cartas marcadas, um processo de Lawfare e uma condenação exclusivamente política.

É uma tremenda covardia, o que estão fazendo com o Lula, e qualquer pessoa consciente, facilmente percebe isso. Como bem disse o jornalista Kiko Nogueira, do DCM, “Ninguém normal gosta de ver uma perseguição abjeta”. A menos que a pessoa seja tão ingênua, ou facilmente influenciada e manipulada, ou inescrupulosa e mal-intencionada.

Para seus perseguidores, Lula deve ser preso o quanto antes, posto que, mesmo com outras denúncias, mesmo após condenação, ele lidera todos os cenários na corrida presidencial para 2018. Pensam eles, que agindo assim, existe alguma chance de saírem vitoriosos nas urnas. Por isso, querem urgentemente sua inabilitação no processo eleitoral desse ano. A sua prisão nesse momento, sem dúvida, causaria um enorme estardalhaço, e conhecendo bem os seus adversários, seria um prato cheio para uma espetacularização midiática daquelas. Já é sabido, que se o inimigo em questão for o Lula, vale tudo. Porém, o tiro pode sair pela culatra. O que é bem provável. Segundo o ex-ministro do STF, Nelson Jobim, o capital político do Lula é tão grande que ele elege “qualquer um” em 2018, mesmo que seja preso.

Mais do que isso, a destruição política do Lula, também tem o objetivo claro de privar o povo brasileiro de assumir o protagonismo econômico, político e social no país, de ter uma melhor qualidade de vida e de ter um futuro mais digno. O Lula voltando a governar o Brasil contrariaria aos interesses das elites. Isso significaria, a retomada de um projeto de país, que vinha sendo construído, e que foi interrompido pelo golpe de 2016. Trata-se de um Brasil independente, soberano, democrático, com amplo desenvolvimento sustentável e crescimento econômico, e voltado para a elevação das condições de vida do povo. Pois, o Lula possui todos os pré-requisitos necessários – por tudo aquilo que ele já fez e representa para o povo brasileiro e para o país e, ainda, pelo que pode fazer – para restituir a democracia, recuperar a governabilidade, a economia, os empregos, a representatividade e o prestígio no cenário internacional. Tudo o que as elites não querem. O sociólogo Jessé Souza, destaca que “o Brasil é palco de uma disputa entre esses dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia”.

Viu como é fácil entender por que querem tanto a destruição política do Lula e a quem tudo isso serve.

DCM: O fascismo na Itália é irmão do fascismo do sul do Brasil

Por Lucia Helena Issa

Professor Abel, alvo do ódio

Morei em Roma durante seis anos, de onde colaborei como jornalista com dois grandes jornais brasileiros, e durante os meus anos em Roma, tentei entender o ódio que tomou conta dos jovens italianos nas décadas de 30 e 40 e como o ódio foi sendo alimentado por grupos poderosos e invisíveis até então, legitimando agressões contra todos os que pensassem de forma diferente, contra os jovens de esquerda, contra mulheres mais independentes, contra trabalhadores rurais etc, dando origem ao Fascismo. 
As milícias fascistas eram chamadas de “fascio”, uma espécie de feixe com vários gravetos de madeira que, juntos, podem fazer uma fogueira, segundo uma das metáforas usadas na época.
O movimento dos “fascio” passou a ganhar força quando a Milizia Volontaria per La Sicurezza passou a agredir as pessoas em passeatas. Os agressores eram chamados de Camicie Nere, Camisas Negras, em homenagem aos “arditi”, que usavam uniformes negros, e agiam em nome do anticomunismo, do antipacifismo e do ” nacionalismo”.
Os Camisas Negras atacavam mulheres, jovens, espancavam grevistas, intelectuais críticos ao fascismo, membros das ligas camponesas e de qualquer grupo que pensasse de forma diferente dos fascistas. Poucas pessoas sabem que bem antes da II Guerra, os “fascios” foram responsáveis pelo assassinato de 600 italianos, enquanto a polícia italiana se omitia ou se recusava a fazer algo.
Essas milícias, no início, usavam porretes e chicotes ao invés de armas, pois seu objetivo era humilhar seus inimigos e não matá-los. A semelhança entre o MBL e outros grupos como os que atacaram mulheres que estavam participando de uma caravana política, com os jovens fascistas italianos da década de 30 é assustadora. Os Camicie Nere queriam impedir as pessoas de circularem livremente pelo território italiano.
As milícias que atacam no Brasil também. Os Camicie Nere odiavam os trabalhadores rurais, os jovens de esquerda e os membros das Ligas Camponesas. Os que atacaram no sul do Brasil também. Os fascistas italianos tiveram o apoio de policiais e, mais tarde, do próprio Mussolini. Os que agrediram mulheres no sul do Brasil tiveram o apoio dos policiais e de uma senadora da República.
Vivendo em Roma, pude entrevistar pessoas que perderam seus pais durante o Fascismo e centenas de mulheres que lutam para que a história jamais se repita e o ódio não seja adubado. Recentemente, o Facebook fechou uma página italiana chamada “Giovani fascisti italini” (Jovens Fascistas Italianos), que tinha como objetivo alimentar o ódio e como membros jovens de extrema direita e dois senadores que os apoiavam.
Recentemente, o Facebook brasileiro fechou uma página ligada ao MBL, por criar notícias falsas sobre a vida de Marielle Franco e por alimentar o ódio.
(Publicado no Facebook de Lucia Helena Issa, jornalista)

terça-feira, 27 de março de 2018

Jornal GGN: Fascismo com a complacência nacional


O assassinato da vereadora Marielle Franco e os ataques à caravana de Lula  pelo Sul do país não deixam dúvidas de que o Brasil vive um contexto político no qual há a presença de grupos fascistas organizados, violentos e que adotam táticas terroristas para se imporem. Não resta dúvida também que os eixos articuladores desses grupos terroristas são os apoiadores da candidatura de Bolsonaro, da candidatura de Flávio Rocha, de grupos de ruralistas, de movimentos como o MBL e o Vem pra Rua e que contam com apoio institucional em setores do Judiciário e em setores dos partidos políticos governistas e de parlamentares e até de senadores, como é o caso de Ana Amélia Lemos.

O mais grave de tudo isto é que estes grupos fascistas, violentos e terroristas contam com a complacência da grande imprensa, de partidos ditos de centro como o PSDB, da OAB, do governo Temer, das presidências da Câmara e do Senado, da presidência do STF e de alguns candidatos à presidência da República. Afinal de contas, não se ouviu nenhuma dessas vozes condenar a violência contra a caravana.
Cabe perguntar: onde estão os editoriais dos grandes jornais contra a violência que atingiu a caravana de Lula? Jornais que sempre foram ávidos a cobrar posições das esquerdas contra atos esporádicos de violência de militantes... Será mero acaso que os grandes jornais deram generosos espaços, no fim de semana, a generais golpistas, a exemplo do general Antônio Hamilton Martins Mourão?
Por que a OAB, a presidência da República, a presidência do STF, as presidências das Casas Legislativas, o Ministério da Justiça, o Ministério da Segurança Pública e o Ministério Público Federal não se pronunciaram até agora? Por que o "democrata" Fernando Henrique Cardoso silencia ante esses ataques fascistas? Por que os pré-candidatos Alckmin e Rodrigo Maia não emitem nenhuma palavra sobre essa violência política? Onde estão todos? Estão com medo? São coniventes? Ou são cúmplices? É preciso advertir esses emudecidas personagens acerca de que esse silêncio conivente de hoje poderá proporcionar que amanhã também se tornem vítimas dessa violência fascista.
O PT e os democratas precisam pressionar essas autoridades e esses representantes políticos para que se pronunciem sobre esta violência fascista. Ou eles se manifestam e adotam atitudes ou a história os cobrará amanhã acerca do seu covarde silêncio. Esses grupos e dirigentes políticos, na verdade, abrigaram o fascismo nascente no processo do golpe que derrubou a presidente Dilma. Desmoralizados, porque muitos deles se revelaram moralistas sem moral, envolvidos em graves casos de corrupção, se acovardaram e, agora, por falta de coragem, por covardia ou por cumplicidade se calam ante a escalada de violência fascista que poderá mergulhar o Brasil numa guerra civil.
Guerra civil sim, porque esses grupos fascistas e terroristas estão caminhando rapidamente para o paramilitarismo. Os defensores da democracia não podem assistir passivamente a escalada de violência desses grupos. Antes de tudo, precisam organizar a sua autodefesa porque, como foi visto em São Miguel do Oeste (SC), as polícias tendem a ser coniventes com esses grupos terroristas.
Em segundo lugar,  é preciso cobrar do governador de Santa Catarina um esclarecimento acerca da passividade da polícia em face da violência desses grupos. Em terceiro lugar, é preciso levar a senadora Ana Amélia Lemos à Comissão de Ética do Senado por apoiar e estimular a violência política. Em quarto lugar, é preciso promover uma ampla campanha de esclarecimento da opinião pública acerca desses grupos violentos e criminosos. Em quinto lugar, como já sinalizou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é necessário fazer uma ampla denúncia internacional acerca da existência desses grupos fascistas e acerca da conivência das autoridades para com os mesmos.  
Por outro lado, já passou da hora de Lula, Ciro Gomes, Guilherme Boulos e Manuela D'Ávila se reunirem para divulgar um manifesto conjunto em defesa da democracia, da liberdade e da justiça e de condenação da violência política e social que graça pelo país. Se não é possível construir uma candidatura de unidade do campo progressista, os candidatos precisam mostrar uma unidade de propósito neste momento grave do país: a luta para defender a democracia que não temos.
Ação fascista: mentiras, violência e covardia
Esses grupos fascistas brasileiros, que proliferaram nos últimos anos, não fogem à tipologia clássica de ação dos movimentos totalitários já mapeada e descrita por vários estudiosos, notadamente por Hannah Arendt. Grupos e movimentos totalitários, quando ainda não estão no poder, se ocupam, fundamentalmente, da propaganda dirigida a pessoas externas aos mesmos visando convencê-las. A característica principal dessa propaganda é a mentira. O contemporâneo fake news foi largamente utilizado pelos nazistas e, em escala menor, pelos fascistas de Mussolini. Não há nenhuma novidade nisto. As mentiras monstruosas que esses movimentos propagam visam entreter o público para convencê-lo e para aliviar as pressões críticas sobre si mesmos.
Aqui no Brasil, recentemente, viu-se como o MBL e outros grupos agiam no processo do golpe. Mentiam sobre a corrupção do governo Dilma enquanto se aliavam e apareciam em público com os maiores corruptos do país: Eduardo Cunha, Aécio Neves e outros. Aliás, Aécio e o PSDB patrocinaram esses grupos. Eles mesmos são integrados por corruptos e, geralmente, por indivíduos enredados em teias criminosas. E mentem de forma impiedosa e criminosa sobre Marielle quando esta não pode mais defender-se.
Se, externamente, esses grupos se dedicam a propaganda, internamente seu objeto é a doutrinação. Notem o que diz Arendt: "Se a propaganda é integrante da 'guerra psicológica', o terror é-lhes ainda mais inerente". Foi usado em larga escala pelos nazistas, que definiam o terror como "propaganda de força". Arendt adverte que ele aumentou progressivamente antes da tomada do poder por Hitler "porque nem a polícia e nem os tribunais processavam seriamente os criminosos da chamada Direita". Qualquer semelhança com o que temos hoje no Brasil não é mera coincidência.
Crimes contra indivíduos, ameaças e ações violentas contra adversários caracterizam a propaganda e o terror desses grupos. Tem-se aí o assassinato de Marielle e de outros líderes sociais e comunitários e a violência contra a caravana de Lula. Temos a violência verbal nas redes sociais que também é uma forma de propaganda. Não é possível subestimar esses atos, pois englobam elevado perigo num mundo anômico e num país com as instituições destruídas. Todos esses atos, essa violência, esse terrorismo,  têm o mesmo pano de fundo: o crescimento do fascismo no Brasil.
Se a primeira característica desses grupos é a mentira, se a segunda é a violência, a terceira é a covardia. Geralmente praticam a violência contra vítimas indefesas. Veja-se a suprema covardia no assassinato da Marielle. A covardia da tocaia na execução de líderes sem-terra, líderes indígenas e militantes ambientalistas. Os agroboys covardes que atacaram a caravana de Lula agrediram mulheres, inclusive uma mulher que está em tratamento de câncer e que estava com seu filho de dez anos. São esses covardes que a igualmente covarde senadora Ana Amélia Lemos exalta. É preciso detê-los. Detê-los com a militância nas ruas, a exemplo dos atos de protesto contra a execução de Marielle, a exemplo dos professores paulistanos e exemplo de tantos enfrentamentos pelo Brasil. Detê-los com as candidaturas de Ciro, de Boulos e de Manuela. E é preciso detê-los com a candidatura de Lula até o fim.
*Aldo Fornazieri é Professor de Sociologia e Política (FESPSP).

terça-feira, 20 de março de 2018

CARTA ABERTA DE REPÚDIO À MANIFESTAÇÃO DA DESEMBARGADORA MARÍLIA CASTRO NEVES

A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down vem tornar público seu repúdio à demonstração de preconceito manifestado por uma autoridade pública, a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em relação às pessoas com síndrome de Down.
Na luta empreendida pela sociedade e pelo estado brasileiro pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência, destacamos a aprovação do texto da Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, introduzindo no ordenamento jurídico, com força de emenda constitucional, normas com o propósito de promover, proteger e assegurar o exercício pleno e qualitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência.
Após milênios de exclusão, nos últimos 70 anos, a sociedade em todo o mundo vem aperfeiçoando-se em seu processo civilizatório ao reconhecer os direitos e propor melhoria das condições de vida da pessoa com deficiência.
Não obstante essa árdua luta que visa mudar os paradigmas sociais e culturais mediante novos valores que reconhecem a dignidade humana, nos deparamos com comentários feitos por pessoa cujo exercício da nobre função de magistrada, desce ao mais baixo nível, tornando público em perfil do Facebook seu preconceito contra as pessoas com deficiência.
A Desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro postou em sua página virtual: “Voltando para a casa e, porque vivemos em uma democracia, no rádio a única opção é a Voz do Brasil...Well, eis que senão quando, ouço que o Brasil é o primeiro em algumas coisas!!! Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de down!!!. Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social...Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem??? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”.
Sabemos que os juízes também têm a liberdade de se expressar como cidadãos, mas a atividade que escolheram lhes impõe uma série de limitações, de natureza normativa, presentes no Código de Ética da Magistratura, dentre as quais o dever de manter a integridade de sua conduta e o de comportar-se em sua vida privada de modo a dignificar a função de magistrado.
A FBASD considera que mensagem carregada de preconceito, ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça.
Assim vimos tornar público nosso repúdio contra a manifestação de preconceito expressado pela Desembargadora Marília Castro Neves.  

DCM: “Ensino as crianças a ter respeito pelos outros”: professora com Síndrome de Down responde à desembargadora


A professora Débora Seabra de Moura
A professora Débora Seabra de Moura respondeu à desembargadora Marília Castro Neves, que a ridicularizou no Facebook.
“Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de down!!! Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social… Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem?”, escreveu Marília.
Débora Seabra tem 36 anos e trabalha há 13 como assistente em um colégio particular e tradicional de Natal, a Escola Doméstica.
É autora de livro infantil chamado “Débora Conta Histórias” (Alfaguara Brasil, 2013) e já recebeu convites para realizar palestras em várias partes do Brasil e no exterior.
Em 2015, por ser considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas, recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação em Brasília.
Abaixo, sua carta aberta:

RBA: Coronel da PM do Rio homenageia e rebate acusações contra Marielle Franco

Oficial da reserva manifesta repúdio à onda de ataques contra vereadora assassinada. "Senti-me na obrigação de informar a amigos desinformados sobre quem ela era"

Por Redação
Após assassinato brutal, Marielle Franco passou a ser atacada nas redes sociais, mas ofensas e acusações carecem de fundamento, como revelou o oficial da PM do Rio.
Em resposta aos ataques nas redes sociais à vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), assassinada na quarta-feira (14), o coronel da reserva da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Pmerj) Robson Rodrigues da Silva defendeu o trabalho e o caráter da parlamentar, em seu Facebook. Ele relata, entre outras passagens, que certa vez Marielle o procurou para discutir formas de ajudar policiais que sofriam de abusos, assédio moral e sexual e outras violações de seus direitos. "Alguém que 'só quer defender bandido' teria esse comportamento?", diz o oficial. Atualmente, Robson é consultor de política e segurança cidadã e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ.

Além de coronel da reserva, ele é bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorando em Ciências Sociais na Uerj. Entre as funções que desempenhou na Pmerj, foi comandante do Batalhão de Polícia de Choque, dirigiu a Coordenadoria de Análise Criminal, coordenador-geral das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), Chefe do Estado Maior Geral Administrativo e Chefe do Estado Maior Geral, última função na ativa.

Leia o texto de Robson na íntegra:

Os sinos dobram por ti

por Robson Rodrigues

Cada morte violenta me arranca um pedaço da alma, pois os mais de 60 mil homicídios ao ano nos distancia, e muito, do lugar civilizatório que, julgo, mereceríamos ocupar como país tão lindo como o nosso. Calo, sofro, choro em silêncio. Não me apraz falar, não me apraz comparecer a rituais de despedida fúnebre e sentir o sofrimento das pessoas, principalmente dos familiares, em respeito a suas dores.

O cargo me obrigou a assistir inúmeros enterros, de inúmeras vítimas policiais de uma guerra fratricida que nos prostra enquanto seres humanos. Uma guerra inglória. Abri uma exceção por um dever de consciência; para falar de uma amiga, a vereadora Marielle, porque, se sua morte me impactou, muito mais tem impactado a forma vil e cega e infame como ela vem sendo tratada por algumas pessoas nas redes sociais. Pessoas que não conheceram Marielle.

Senti-me na obrigação de informar a amigos desinformados sobre quem ela era; amigos que considero e que são bombardeados por bobagens e falsas informações sobre a vereadora que não conheceram. Segue abaixo uma dessas mensagens que enviei a um amigo a quem considero bastante e que talvez possa servir a outros amigos.

Caro amigo xxxx (oficial PM)

Te conheço há bastante tempo para saber o quanto você é inteligente para não se deixar levar por esses discursos que destilam o ódio, mesmo nesses momentos de dor. Deveríamos, sim, nos unir enquanto sociedade contra o maior problema civilizatório que nos afeta e dilacera: a violência homicida. Apesar disso, há pessoas que insistem em simplificar questão tão complexa, dividindo o mundo em direita e esquerda.

Você está além disso que eu sei.

Choro pelas mortes infames, do cidadão comum, dos meus amigos, dos meus amigos policiais dos quais já perdi a conta inúmeras vezes. Meu primeiro serviço como aspirante foi atender a ocorrência do assassinato de um policial militar, adorado em meu Batalhão. Chorar com sua família me fez pensar o quão difícil seria aquela trajetória profissional que eu havia abraçado.

Meu sentimento é expressado nos versos do poeta John Donne: “a morte de qualquer homem (ou mulher) me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

Choro agora por uma amiga admirável, sobretudo porque lutava contra essa estupidez e sonhava com uma sociedade melhor. A vereadora Marielle era corajosa; lutava a favor das minorias, mas principalmente contra a estupidez das mortes desnecessárias que têm endereço e destinatários certos. Mortes muitas vezes festejadas por pessoas que querem que nós, policiais, façamos para elas o serviço sujo de um extermínio fascista. Não se esqueça que também acabamos vítimas dessa estupidez.

Conheci Marielle quando ela me trouxe, de forma educada mas contundente, o caso de algumas mães amedrontadas com a ação de policiais que barbarizavam moradores de uma certa favela com UPP. Os fatos eram indefensáveis. Aqueles comportamentos não era o que se podia esperar de uma instituição que existe para combater o crime, mas, sobretudo, para servir a população. Tomei minhas providências. Se Marielle veio até a mim buscando solução, era porque confiava na polícia, pelo menos em parte dela, uma parte da qual eu te incluo. Marielle, assim como nós, não confiava na polícia violadora de direitos, na polícia bandida, mas confiava na instituição policial, naqueles que não querem que ela seja instrumentalizada para fins vis e elitistas, sendo direcionada para os mesmos estratos de onde a maior parte de nossos próprios policiais vem.

Depois disso ela me procuraria para saber como ajudar policiais que sofriam abusos, assédios moral e sexual e outros tipos de violações de direitos. Eu te pergunto: alguém que “só quer defender bandido” teria esse comportamento?

Na ocasião, me lembro de ter comentado com ela do sofrimento dos policiais subalternos, da mulher policial, da mulher negra policial etc. Um fato em especial me tocava naquele momento: o de viúvas de PM. Eu disse a ela que uma das formas de ajudar poderia ser agilizando os processos de obtenção de suas pensão. Há trâmites administrativos que emperram a pensão da viúva e que extrapolam as possibilidades da corporação; há também a lentidão da investigação da morte dos policiais militares por parte da PCERJ, que é formalidade do processo. Ela se interessou e, depois, junto com o deputado Marcelo Freixo, criaram um núcleo de atendimento a policiais. Mesmo depois de ter deixado a PM, encaminhei alguns casos a eles.

Nossos praças e oficiais mais subalternos, principalmente as policiais negras, são discriminadas diariamente em nossa instituição, sofrem assédios, sobretudo por parte de pessoas como nós, oficiais e brancos.

Recentemente a PM impôs limite de vagas para mulheres no concurso do CFO, mas contra isso ninguém de dentro se colocou. Marielle se interessava por essas causas, que, infelizmente, ainda não tocam nossa sensibilidade institucional. Com suas bandeiras ela defendia muito mais nossos policiais do que nós fomos capazes de compreendê-lo e de fazê-lo.

Portanto, postagens maldosas como essas, que vêm circulando nas redes sociais, além de não retratarem a realidade, são de um imenso desrespeito não só à historia de Marielle, mas aos nossos policiais honestos e trabalhadores sofridos, sobretudo as policiais negras, que tanto necessitam ser acolhidos nas causas que ela magnificamente defendia. Que tenhamos Marielle presente para transformar nossa polícia em uma instituição melhor para a sociedade e para policiais vocacionados.


segunda-feira, 12 de março de 2018

DCM: Marcos Valério quebra o silêncio e entrega o esquema de corrupção do PSDB


Marcos Valério
Na sexta-feira da semana passada, o publicitário Marcos Valério ficou sete horas no Departamento Estadual de Investigações sobre Fraudes em Belo Horizonte, no primeiro depoimento que prestou depois que fez um acordo de delação premiada com a Polícia Civil de Minas Gerais.
“O Valério implodiu o PSDB”, disse uma pessoa que acompanhou o depoimento. Conversei com outras pessoas que estiveram presentes no depoimento. Os relatos são impactantes. Rodrigo Pinho de Bossi, chefe do Departamento, não deu entrevista, mas anunciou que deve falar sobre o caso em coletiva.
Ele, entretanto, não liberará o depoimento até que o acordo de delação premiada seja homologado pela Justiça.
Marcos Valério cumpre pena de 37 anos e cinco meses de prisão por participação no caso conhecido como Mensalão de Brasília ou Mensalão do PT.
Ele tinha uma agência de publicidade usada para repassar recursos a políticos de todos os partidos, durante os primeiros anos do primeiro mandato do governo Lula.
Era um operador. O dinheiro de caixa 2 passava por ele.
O que a velha imprensa quase não diz  — e quando diz não destaca — é que Marcos Valério começou a operar no submundo da política muito antes do PT chegar ao governo.
“Foi no governo de Eduardo Azeredo, do PSDB, que ele criou os mecanismos para ser o maior trem pagador da política brasileira”, disse uma pessoa que acompanhou o depoimento.
Marcos Valério tentou fazer delação premiada em outros momentos, mas o Ministério Público Federal rejeitou seu depoimento.
“Agora nós sabemos por que. É porque ele arrebenta o PSDB e seus apoiadores. É muita sujeira, e o Ministério Público não quis ouvir”, afirmou a fonte.
Valério confirmou a autenticidade de documentos apreendidos pela Polícia Civil em casas de pessoas que estavam sendo investigadas por envolvimento em esquemas de corrupção, como Denise Landim e o advogado Joaquim Engler.
Um dos documentos apreendidos é a cópia da chamada Lista do Valério, um documento que foi considerado apócrifo. Nesta lista, a exemplo de outra lista famosa, a de Furnas, aparecem os nomes de pessoas que receberam recursos operados por Valério.
São pessoas que ocupavam postos de destaque no governo de Fernando Henrique Cardoso. O que Valério contou à Polícia Civil é a origem desses recursos.
“A origem está na negociação na venda da CEMIG”, contou ele, em referência à estatal de energia controlada pelo governo de Minas Gerais.
Em 1997, o governo de Minas Gerais, por decisão de Eduardo Azeredo, vendeu 32,7% das ações da CEMIG para o que se chamou à época “parceiros estratégicos”, que formaram o consórcio Southern Electric Brasil Participações Ltda.
O consócio foi costurado pelo Banco Opprtunity, de Daniel Dantas, com duas empresas de eletricidade dos Estados Unidos, a Southern Electric e a AES.
Pelo lado do governo, quem conduziu a venda foi o vice-governador Walfrido dos Mares Guia. O consórcio arrematou quase 33% das ações ordinárias da Cemig por R$ 1,13 bilhão.
O dinheiro que financiou a compra saiu dos cofres do BNDES, na época presidido por Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Metade do dinheiro seria paga em 12 meses sem juros e, a outra metade, em 10 anos, com financiamento do BNDES, que cobrava do consórcio juros de 3,5% ao ano.
O governador Azeredo não se reelegeu. Em seu lugar, assumiu Itamar Franco, que em 1999 entrou com ação para desfazer o acordo de acionistas e retomar para o Estado o controle da CEMIG.
O Tribunal concedeu liminar favorável a Itamar, que demitiu os três diretores que representavam o consórcio.
Mas as ações continuaram nas mãos do consórcio, que até hoje recebem altos dividendos, o que demonstra que as empresas capitaneadas por Daniel Dantas fizeram um excelente negócio.
Se foi bom para os investidores, foi péssimo para a estatal, e um negócio desse tipo não se concretizaria sem o pagamento de propina, muita propina.
É aí que entra Marcos Valério.
Ele já tinha negócios com Daniel Dantas, através das contas de empresas de telefonia controladas pelo Banco Opportunity.
Para Valério, publicidade sempre foi um meio de fazer caixa 2, e era essa a natureza dos negócios com Dantas.
“Ele pagou todo mundo, a maior parte gente graúda do PSDB, graúda não, muito graúda, do governo de Minas Gerais e do governo federal”, contou a fonte.
Quando estourou o escândalo do Mensalão, começou a circular a lista com o nome das pessoas que receberam recursos de Valério. Não fazia referência explícita à CEMIG, mas os nomes que apareciam lá eram de pessoas envolvidas, de uma forma ou de outra, com a venda das ações.
A lista tem a assinatura de Valério e documentos desse tipo, como o de Furnas, servem para intimidar recebedores de recursos ilegais.
Na época, a velha imprensa noticiou que Valério havia negado a autenticidade da lista, mas nunca se fez perícia para verificar se a assinatura era dele.
A lista original foi entregue pelo advogado Dino Miraglia, na época advogado do lobista Nílton Monteiro, delator de Furnas e do Mensalão de Minas, ao então presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que foi o relator do Mensalão de Brasília.
O documento nunca foi investigado e se encontra nos arquivos do Supremo Tribunal Federal. Mas a lista teve repercussão. Negativa para quem a denunciou.
O ministro Gilmar Mendes, que fazia parte do governo Fernando Henrique Cardoso, aparece na lista como recebedor de propina. O caso foi noticiado pela revista Carta Capital.
Gilmar processou a publicação, o jornalista autor da reportagem e o advogado. Todos foram condenados.
Com o depoimento de Marcos Valério, abre-se nova oportunidade para um mergulho no submundo que une política, Ministério Público, Judiciário e grandes empresas.
Sempre se soube que a corrupção não nasceu com o governo do PT, mas uma blindagem institucional nunca permitiu que as investigações avançassem sobre o PSDB.
O delegado Rodrigo Bossi de Pinho, da Polícia Civil de Minas, abriu uma brecha, deu voz a um grande operador do submundo do dinheiro, um profissional do crime de colarinho branco que prestou serviços a A, B, C e até Z.
Vai começar uma operação abafa.
A parte do Brasil que já foi civilizada não pode permitir que isso aconteça.
A lucrativa CEMIG foi o bem que, segundo Valério, os corruptos do PSDB venderam