O momento é mais que oportuno para se buscar respostas à pergunta formulada no título. Afinal, o que é educar?
Por Paulo Cannabrava Filho*
Oportuna
porque temos que saber avaliar as propostas dos políticos que estão se
candidatando para ser presidente, governador ou legislador nesta
República. O que eles pensam sobre educação?
Oportuna para que se discuta se é bom o caminho da militarização do ensino
que vem sendo praticada às centenas por esse Brasil afora, formando
quadros para o nazi-fascismo. Oportuna porque querem transformar o
ensino em mercadoria para lucro de grandes corporações e de financeiras. Então, está na hora de se fazer muitas perguntas e de buscar respostas por conta própria.
Neste artigo pretendo ajudar a fazer perguntas e buscar respostas.
Vamos acabar com o ensino público?
Afinal, a escola pública virou uma
porcaria, um antro de violência. Vamos tirar de lá nossos filhos e
colocá-los nas escolas pagas?
Será educar colocar as crianças numa escola sem partido?
Se a escola não é pra ser sem
partido, de que partido deve ser? Do PSDB do Aécio Neves? Ou do MDB de
Temer? Seria melhor uma escola comunista ou uma adventista? Ou numa
escola católica, onde a onde a moral cristã afasta dos maus costumes?
Comecemos pelas perguntas e respostas
mais simples, aquelas que encontramos nos dicionários, que deveriam
estar sempre às mãos das pessoas, pois ajudaria a não serem tão
enganadas todos os dias pelos charlatões da política e por uma mídia
alienante.
Caudas Aulete, pai dos dicionários da língua portuguesa, dá quatro significados para a palavra educar:
- Promover o desenvolvimento moral, intelectual e físico de; ensinar boas maneiras a: Cabe aos pais educar os filhos;
- Transmitir conhecimentos a; Instruir;
- Cultivar-se, aperfeiçoar-se: Nunca é tarde para que a pessoa se eduque;
- Fazer com que (o animal) obedeça; Domesticar.
O espanhol, outro idioma latino, bem
parecido com o nosso, dá cinco significados, nenhum com o sentido de
domesticar. Interessante isso!
- tr. Dirigir, encaminar, doutrinar;
- tr. Desarrollar o perfeccionar las
facultades intelectuales y morales del niño o del joven por medio de
preceptos, ejercicios, ejemplos, etc. Educar la inteligencia, la
voluntad;
- tr. Desarrollar las fuerzas físicas por medio del ejercicio, haciéndolas más aptas para su fin;
- tr. Perfeccionar o afinar los sentidos. Educar el gusto, el oído;
- tr. Enseñar los buenos usos de urbanidad y cortesía
O italiano, o mais próximo da língua originária, ou seja, do latim, também regista quatro significados
1
Condurre, guidare le facoltà intellettuali e morali di qualcuno, spec.
dei giovani, a uno sviluppo armonico, con un’azione continua e coerente,
fondata sull’insegnamento e sull’esempio e secondo determinati
principi: e. i figli; e. al bene, al rispetto; e. con l’esempio, con la persuasione
‖ SIN. formare, istruire
2 Sviluppare, svolgere, raffinare determinate facoltà e attitudini: e. la fantasia, il gusto, la sensibilità; e. al lavoro, allo studio
‖ SIN. affinare
3 Esercitare, avvezzare: e. l’orecchio alla musica; e. il corpo alla fatica
‖ Di animali, ammaestrare: e. i buoi al lavoro dei campi
‖ SIN. allenare, abituare
4 poet. Allevare, coltivare: e. un figlio
A amplitude do conceito educar
O portal educador.brasilescola.uol.com.br, dos mais visitados por professores e alunos, considera que:
“O
conceito de educar vai muito além do ato de transmitir conhecimento,
educar é estimular o raciocínio, é aprimorar o senso crítico, as
faculdades intelectuais, físicas e morais”
E acrescenta:
“A
educação é função de todos, pois aprendemos até mesmo em uma conversa
com uma pessoa de outra cultura, que recebeu educação diferente da
nossa, etc. Isto é, nosso aprendizado depende não só da escola, mas
também de nossos familiares e das pessoas que convivemos, seja na
escola, em casa ou no trabalho. A educação é algo que cabe em qualquer
lugar”.
Um conceito um pouco mais amplo, porém assertivo, recolhemos do professor Júlio Furtado, um especialista que presta serviço ao mundo empresarial
“Educar’ vem do latim educare, por sua vez ligado a educere, verbo composto do prefixo ex (fora) e ducere (conduzir,
levar), e significa literalmente ‘conduzir para fora’, ou seja,
preparar o indivíduo para o mundo. Tem a sua essência no método
maiêutico criado por Sócrates, que tem como pressuposto, não oferecer
respostas, mas fazer novas perguntas que guiem o educando para dentro de
si, em busca da resposta. Logo, o primeiro requisito para educarmos uma
pessoa é acreditar que existem respostas dentro dela”.
Impressiona como um intelectual e educador como Paulo Freire entre na lista dos execrados sociais, dos demônios a serem exorcizados. Vamos ver, então, o que diz o professor Felipe Aquino, que se fundamenta na igreja de Roma para alicerçar seus conceitos.
“O Papa João Paulo II disse que “o ato de educar é o prolongamento do ato de gerar”; isto é, fazem parte do mesmo ato.
“Gerar
segundo a carne significa dar início a uma posterior ‘geração’, gradual
e complexa, através do inteiro processo educativo” (CF, 16). Educar os
filhos é a grande missão que Deus confiou aos pais. É por causa da
importância dessa tarefa, que Deus ‘encheu de honra’ as pessoas dos
pais”.
O que é educar?
Os pensadores deram muitas respostas a esta importante pergunta.
Gandhi dizia que “a verdadeira educação consiste em pôr a descoberto o melhor de uma pessoa.” Nisto é preciso a arte de educar, a mais difícil e mais bela de todas.
Certa vez Michelangelo viu um bloco de pedra e disse: “aí dentro há um anjo, vou colocá-lo para fora!” Depois
de algum tempo, com o seu gênio de escultor, fez o belo trabalho. Então
lhe perguntaram como tinha conseguido aquela proeza. Ele respondeu: “o anjo já estava aí, apenas tirei os excessos que estavam sobrando”. Educar é isto, é ir com paciência e perícia tirando os maus hábitos e descobrindo as virtudes, até que o ‘anjo’ apareça.
Michel Quoist dizia “que não é para si que os homens educam os seus filhos, mas para os outros e para Deus”.
Educar é transformar?
Um intelectual mais aberto, que estuda e ensina filosofia, como Renato Janine Ribeiro, que vê a educação como objeto da filosofia, explica para os eruditos que
“Educar
é, por isso, mover de dentro para fora. O latim tinha outra preposição
para movimento, que era o “de” (como em deduzir), mas que designava um
movimento que não começava de dentro do objeto e, sim, de sua fronteira,
de sua divisa, de sua exterioridade. Com o “de”, o movimento é externo.
Com o “e”, ele vem de dentro. Um dos grandes sentidos de educar é,
portanto, transformar.
Daí, a
grande característica da Educação: ela modifica, transforma – e, se
tivermos apreço por ela, diremos que muda para melhor, que liberta, que
emancipa. É diferente da instrução ou do treinamento. Quando instruo uma
pessoa sobre alguma coisa, não a modifico nem pretendo modificá-la. Um
treinamento não visa a mudar a pessoa treinada. Apenas lhe acrescenta
informações. Não mexe com seu interior, com sua identidade”.
O que diria o grande mestre educador Paulo Freire
(1921-1997)? Ele já não está entre nós, mas estão seus ensinamentos,
seus seguidores por todo o mundo. E estão também os fascistas que o
querem destruir.
É tão forte o sentido libertário do
conceito de educar de Paulo Freire que até mesmo depois de morto
continua a ser perseguido e demonizado por aqueles que querem ser
escravos intelectuais, formar seres dóceis que não atrapalhem a
rapinagem desses que estão na terra para enriquecer materialmente.
Aprendi na pouca mas profunda
convivência com Paulo Freire a não aceitar a vida fora do sonho e da
utopia, e que ensinar, é exatamente isso, despertar para a vida e viver
para perseguir o sonho e construir a utopia. É isso. Educar é viver para
transformar o mundo.
Todos somos seres inacabados e,
portanto, todos temos algo para aprender e para ensinar. É preciso
aprender a olhar crítica e criativamente a realidade para poder
transformá-la. Em síntese, Paulo Freire entendia que,
“Como uma experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Ninguém
educa ninguém — ninguém se educa a si mesmo. Os homens se educam entre
si. Mediatizados pelo mundo. Ninguém liberta ninguém — ninguém se
liberta sozinho — os homens se libertam em comunhão”.
A escola é sem partido?
Qual seria a resposta que daria Paulo
Freire à polêmica atual em torno da “escola sem partido”? Penso que em
todos os seus livros há profusão de respostas em cada página.
Primeiro esclareceria o porquê de uma escola assim:
“Numa
sociedade de classes, são as elites do poder, necessariamente, as que
definem a educação e, consequentemente, seus objetivos. E estes
objetivos não podem ser, obviamente, endereçados contra os seus
interesses”. (Freire, 1976, p. 116)
Na sua Pedagogia da Esperança, explica:
“Não
há, nunca houve nem pode haver educação sem conteúdo, a não ser que os
seres humanos se transformem de tal modo que os processos que hoje
conhecemos como processos de conhecer e de formar percam seu sentido
atual. O ato de ensinar e de aprender, dimensões do processo maior — o
de conhecer — fazem parte da natureza da prática educativa. Não há
educação sem ensino, sistemático ou não, de certo conteúdo”. (Freire,
1992, p. 110)
E mais adiante complementa:
“O que
me parece finalmente impossível, hoje como ontem, é pensar, mais do que
pensar, é ter uma prática de educação popular em que, prévia e
concomitantemente, não se tenham levado e não se levem a sério problemas
como: que conteúdos ensinar, a favor de que ensiná-los, a favor de
quem, contra que, contra quem. Quem escolhe os conteúdos e como são
ensinados”. (Freire, 1992, p.135)
Construir escolas ou cadeias?
Reportagem publicada pelo Estado de
Minas, em 15/1/2017, ouvindo educadores, juristas, psicólogos,
sociólogos e criminalistas, sobre o fato de o Brasil ter um dos mais
altos índices de encarcerados do mundo, chegaram à conclusão de que “se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.
É certo isso?
O Estado de Minas investigou para
saber até que ponto o incentivo em educação — sobretudo no ensino básico
— é um fator preponderante para diminuir a inserção no mundo do crime. A
resposta: sim, a profecia feita em 1982 se concretizou e Darcy Ribeiro
não só tinha razão, como o país atravessa uma crise no sistema
prisional sem precedentes, com 622 mil presos, – sendo quase a metade de
temporários, aguardando julgamento — e um déficit de 250 mil vagas no
sistema prisional.
A frase entre aspas acima, é do antropólogo Darcy Ribeiro, que junto com Anísio Teixeira (1900-1971),
outro grande mestre educador, no Conselho Nacional de Educação,
imaginaram e se esforçaram por não deixar nenhuma criança fora da
escola. Do sonho à realidade, criaram em Brasília o conceito de escola
parque, em que a criança entra de manhã e é devolvida para as mães no
final da tarde, prontos para irem para a cama dormir. Na escola, ele
aprendeu, fez lições de casa, praticou esportes, desenvolveu dotes
artísticos e recebeu duas refeições e dois lanches, além de assistência
médica, dentária e psicológica.
Quando Brizola foi
eleito governador do Rio de Janeiro, Darcy Ribeiro, que nunca parou de
sonhar, assumiu a secretaria de Educação e semeou por todo o Estado os
Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS). O objetivo estratégico
continuava sendo o de não deixar criança alguma fora da escola.
Evidentemente uma boa escola, pública, gratuita, com professores
dignamente remunerados e formados.
Por que destroem as boas escolas?
Por que projetos como esses foram
destruídos? Não pode ser por ser caro, pois mais caro custa manter um
preso do que um aluno, como já se comprovou.
O resultado do abandono da boa escola foi constatado pela reportagem que tomamos como fonte
A previsão, se o crescimento da
população carcerária mantiver o ritmo, é de que o Brasil supere a marca
de 1 milhão de detentos em 2022. Segundo a presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, também presidente do
Conselho Nacional de Justiça, um preso custa ao estado 13 vezes mais que
um estudante: em média, R$ 2,4 mil por mês (R$ 28,8 mil por ano),
enquanto um estudante de ensino médio custa atualmente R$ 2,2 mil por
ano.
E mais adiante acrescenta
Em 2013, um estudo do departamento
de Economia, Administração e Sociologia da Universidade de São Paulo
(USP) mostrou que para cada investimento de 1% em educação, 0,1% do
índice de criminalidade era reduzido. Para obter esse número, a pesquisa
analisou o gasto público em educação entre 2000 e 2009, e como o
investimento impactou na redução da taxa de homicídios. Depois, observou
como uma escola voltada para o desenvolvimento de conhecimento tem
menos chance de desenvolver alunos violentos do que escolas com traços
como depredação do patrimônio, atuação de gangues e tráficos de drogas.
Os nossos próceres da educação já indicaram o caminho: é só seguir
Os mestres Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Zeferino Vaz (1908-1981),
Paulo Freire, lutavam pelo que pregavam e acreditavam ser prioridade da
nação: uma educação pública, laica, universal e gratuita. E pelo que se
pode inferir da obra intelectual e física desses próceres, educação em
escolas de tempo integral com professores formados para essa tarefa mais
que transformadora, revolucionária, pois capaz de produzir o homem novo
transformador da realidade.
Para suprir a carência de quadros e
de conceitos, conceitos emanados da interpretação da realidade, não
importados nem muito menos decorados, Darcy projetou e inaugurou o que
ele entendia como a Universidade Necessária, a Universidade de Brasília,
que leva seu nome mas já não mais seus conceitos. Uma universidade para
ser
“criadora
de uma cultura nacional de base científica e formadora de mestres
capazes de reformular e difundir a cultura nacional (…) um núcleo de
amadurecimento da consciência crítica nacional, privilegiando programas
de estudo mais capazes de instrumentalizá-la cientificamente e de
sustentá-la ideologicamente” (RIBEIRO, 1970:122).
Está mais do que na hora de
reabilitar esses grandes mestres brasileiros para colocar a educação no
rumo certo, que é o da libertação humana, no mais amplo sentido.
Libertar-se das trevas da ignorância, libertar-se da servidão
intelectual, ser livre para viver, criar e amar… Viver com dignidade,
integrado socialmente, com teto, pão e diversão. Ver no outro o seu
igual.
Afinal, por acaso, não somos todos
netos ou tataranetos de uma mesma negra africana? É o que comprovaram os
cientistas que decifraram nosso DNA, que pouco difere do de uma
minhoca.
Há que dizer não à formação de brigadas fascistas
O que diriam esses mestres se vissem
que a “nova escola” que estão semeando pelo interior do país, dirigidas
por oficiais da Polícia Militar, que no lugar da pedagogia impõem a
disciplina militar?
Temos agora, além da militarização do
estado policial, a militarização do ensino público. Sim, aquela escola
que deveria ser laica, gratuita e republicana, no sentido de formar
cidadãos e cidadãs, está formando jovens de mentes vazias e repressoras.
Escolas dirigidas por oficiais das
Polícias Militares, sem nenhuma experiência, ou mesmo vocação
pedagógica, formados para serem agentes repressores. Escolas públicas,
que deveriam ser gratuitas, estão cobrando mensalidade de R$ 50 aos pais
de alunos e ainda têm de arcar com o custo do uniforme, que vai além
dos R$ 250.
Escola em que o policial, que se diz professor, se apresenta uniformizado e armado diante dos alunos.
Alarmante reportagem da revista Época de 23/7/2018, que constata que em 122 escolas públicas militarizadas as crianças marcham com cânticos de guerra.
Que guerra? A guerra que vão travar contra seu próprio povo depois que aprenderem manejar as armas?
O ruim, asseveram alunos
entrevistados, é a revista na entrada, em meninas que não podem estar
com unhas esmaltadas, e meninos que não podem estar com cabelo na moda.
Pela descrição das crianças, não é escola, é quartel, quando foi
construída para ser escola pública.
Quem está promovendo essa
militarização em Goiás é o ex-governador Marconi Perillo (PSDB).
Entregou para o comando da PM 43 escolas com nada menos que 53 mil
alunos. Trinta dessas escolas foram retiradas da rede pública da
secretaria de Educação. E a moda está pegando. Já são 122 escolas em 14
estados.
Gente! Ninguém fiscaliza isso? E as diretrizes de base nacional, como é que ficam?
Segundo os ouvidos pela reportagem,
liberdade de expressão e pensamento viraram palavras proibidas. “Aqui
ninguém tem o direito de pensar livremente. Não podemos fazer nada que
desagrade aos militares”.
Não é como uma escola criada para
formar militares das forças armadas, que possuem currículos apropriados e
fazem parte da rede de ensino federal. No caso, são escolas estaduais
entregues à gestão da PM sob o argumento de que há que impor disciplina
aos alunos.
Fascismo explícito
Isso, essa militarização do ensino
num estado militarizado, é fascismo explícito. Quem foi que preparou
esses oficiais que se arvoram a educar nossas crianças?
Sabemos que milhares foram treinados
na Escola das Américas, nos Estados Unidos, onde se aprende a defender
os valores da sociedade estadunidense, o uso da tortura, quem pensa é
comunista e deve ser extirpado, bandido bom é bandido morto, e negro é
sempre bandido.
Que outra coisa poderão ensinar nessas escolas militarizadas dirigidas por meganhas?
Foi precisamente assim que Benito
Mussolini criou os Camisas Negras, as hordas fascistas que semeavam
terror onde havia divergência ao Estado de Pensamento único. Exemplo
seguido à risca por Adolf Hitler, na Alemanha nazista, que semeou terror
em toda humanidade.
Como sensibilizar a sociedade?
Os sindicatos de professores se
mobilizaram localmente, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação também. Não conseguem mobilizar contra essa fascistização do
ensino. Até parece que a sociedade quer mesmo isso, já que não conseguem
manter as crianças nas escolas e nem impor disciplina nas que a
frequentam.
O pretexto que utilizam é o de que se
não disciplinar essa juventude, eles ficam nas ruas e viram bandidos.
Bom, não viram bandidos, mas viram fascistas assassinos ou policiais
repressores, também assassinos.
Será que não há outro jeito de tratar as nossas crianças?
Integrar
Sim, há outras maneiras de educar e integrar a juventude.
Quando os bolchevique chegaram ao
poder na Rússia de 1917, a situação das crianças, adolescentes e jovens
adultos era muito similar ao que se vê hoje no Brasil dos excluídos. Não
há escolas nem serviços públicos, formam gangues como estratégia de
sobrevivência e de ascensão social. A indisciplina que os caracterizam é
reação à opressão, expressão de liberdade contida.
Na Rússia, não colocaram esses jovens
em nenhum quartel, em nenhuma Febem, hoje Fundação Casa. Colocaram em
colônias educacionais em que, sob orientação de Anton Makarenko (1888-1939),
talvez o maior educador do século 20, criaram uma verdadeira pedagogia
fundada no aperfeiçoamento do melhor da qualidade humana contida em cada
indivíduo. A educação para o socialismo.
O que diria Makarenko se visse nossas
escolas militarizadas e dirigidas por policiais militares sem nenhuma
experiência pedagógica?
“Como
na vida tive que, fundamentalmente, resolver objetivos e problemas
relacionados com a educação, sofri muito com esta questão, quando me
enviam educadores sem educação. Gastei vários anos de minha vida e de
trabalho, pois é uma grande estupidez contar que um educador sem
educação eduque alguém. Considerei que era melhor ter na coletividade
quatro educadores talentosos do que 40 sem talento e sem educação. Com
meus próprios olhos vi pessoas sem talento e sem educação trabalharem na
coletividade. Que resultado poderia dar um trabalho destes? Só a
desintegração da coletividade. Não pode haver outros resultados”.
Quando os policiais militares que
assumiram a gestão da educação em escolas públicas dizem que estão
formando moralmente esses jovens, há que sempre lembrar de Makarenko,
para quem, com toda sua experiência asseverou que
“todas
essas questões são extraordinariamente difíceis, visto que as boas
qualidades necessitam de anos para se formarem. Não se pode formar um
caráter sem método ou através do imediatismo. Só se pode formar um
caráter mediante a participação prolongada da pessoa na vida de uma
coletividade corretamente organizada, disciplinada, forjada e orgulhosa
de si mesma. Mas organizar uma experiência deste gênero significa
obrigatoriamente arriscar”.
Porque essa longa reflexão?
Porque temos que lutar pela escola
pública de qualidade, contra a mercantilização do ensino, Aluno não é
mercadoria para ser idiotizado, é gente, é o futuro da nação, merece que
todo o dinheiro do mundo seja aplicado para seu desenvolvimento.
Será que algum candidato pensa assim?
*Jornalista editor de Diálogos do Sul