Por Luis Felipe Miguel, professor da UnB
Publicado originalmente no perfil de
Facebook do autor
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João Amoêdo (Foto: Divulgação/Partido Novo) |
Não quero me tornar monotemático, mas tem um negócio interessante no
site da candidatura do Amoêdo. Tem uma página lá intitulada “mitos e
verdades”, o que já é significativo – não acho que ele tenha tanta
importância, a ponto de surgirem “mitos” sobre ele. Esse negócio de
“mito” deve ser um ato falho, fruto do desejo de ser um Bolsonaro.
A maior parte da página está em forma de perguntas e resposta. Uma
pergunta é: “João é banqueiro?” Esclareço que “João” é a alcunha que os
marqueteiros dele inventaram na tentativa de torná-lo popular. A
resposta é curta: “João nunca foi banqueiro, mas sim bancário. Começou
como estagiário e, com muito trabalho e dedicação, foi crescendo nas
empresas por onde passou. Atualmente dedica todo seu tempo ao [partido]
Novo”.
É uma resposta digna de nota, por pelo menos dois motivos. Primeiro, é
mentirosa. Amoêdo é tão bancário quanto o presidente da Ford é
metalúrgico. Ele fez sua carreira como executivo do setor financeiro.
Seria banqueiro mesmo que não fosse acionista dos bancos – e, na
verdade, tornou-se grande acionista. Afinal, sua posição objetivamente
estava na defesa dos interesses do capital contra o trabalho. Numa
negociação sobre salário e condições de trabalho dos bancários, de que
lado “João” sentava?
Há um vídeo – que um militante do Novo fez a gentileza de mandar para
mim, acompanhado de alguns impropérios – em que Amoêdo imerge ainda
mais no falseamento da verdade. Além de repetir que não era banqueiro,
mas bancário, ele diz que nunca foi do Itaú. “Eu trabalhava numa
financeira que foi comprada pelo Itaú e quando isso aconteceu eu tive
que sair, fiquei desempregado. Depois eu estava no conselho de
administração do Unibanco, o Itaú veio, fez uma fusão com o banco, e eu
também tive que sair”. Uma vítima do Itaú, na verdade! Ele não diz que
não foi apenas membro do conselho de administração e sim vice-presidente
do Unibanco. Mas, sobretudo, não diz que após a fusão tornou-se
integrante do conselho de administração do Itaú BBA, um dos braços da
nova empresa. É quase como dizer “não tenho nada a ver com a Unilever,
eu trabalho é na Kibon”. Ele deixou o cargo no Itaú BBA para se dedicar a
uma nova função corporativa: o partido Novo.
O segundo motivo que torna interessante a resposta é o
subtexto ideológico. Amoêdo se apresenta como a prova viva da tal
“meritocracia”. Com “trabalho e dedicação”, qualquer estagiário do Itaú
(que deve receber em torno de 1,5 mil mensais) pode amealhar uma fortuna
de 450 milhões de reais, vestir uma fantasia alaranjada e custear sua
própria candidatura à presidência. Não conseguiu, está pendurado no
cheque especial e devendo pro próprio empregador? Culpa dele. Certamente
faltaram esforço e mérito.
O nome do partido é novo, mas a mentira e a mistificação são bem velhas.
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