'Nesta eleição, minha escolha não será a favor de um candidato, mas contrária ao capitão'
Por Roberto Carlos Modesto
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Wilson Dias/Agência Brasil |
Sempre fui um eleitor ideológico e programático, buscando o
equilíbrio entre esses fatores, que tinha como regra votar, em primeiro
lugar, a favor e não contra um candidato ou partido, como fazem os
direitistas em relação a Lula e ao PT.
Mas as coisas tem mudado. Nos tempos que correm, sinto que estou
regredindo, igualando-me a eles, às avessas. Acho que sou afetado pelo
contexto regional.
O interior do Paraná, do agronegócio, é zona eleitoral conservadora,
em rápida transição para conservadora extremada. Alguns que supunha
inteligentes tem declarado voto em Jair Bolsonaro. Vejo o sinal amarelo.
Diante disso, só tenho uma certeza em relação ao meu voto no primeiro e
segundo turnos da eleição presidencial em outubro: será contra o
capitão Bolsonaro.
Provavelmente a culpa não é só minha. O Brasil também regrediu.
Não consigo compreender como uma candidatura que ofendeu e ofende
negros, mulheres, indígenas, homossexuais e a resistência ao regime
militar tem vez e tem voz.
Qual a alternativa viável que essa candidatura oferece? Será que são
apenas homens brancos que catapultam essa ameaça política? Não pode ser.
Mas os que me declararam o voto pertencem a essa categoria, uns mais,
outros menos jovens, que frequentaram faculdade, com uma característica
em comum quando a discussão entra no terreno político: uma terrível e
profunda ignorância histórica em geral, e da história brasileira em
particular.
Lembrá-los dos infortúnios do voluntarismo da era Collor, da falta de
bases partidária e social, da retórica da caça aos marajás, é tão
distante quanto referir-se ao sistema político do tempo do Império.
Que dirá lembrá-los dos malefícios ao País do moralismo vassoureiro
de Jânio Quadros que, eleito, tentou aplicar no Congresso o golpe da
renúncia. Evento que deslanchou a crise institucional do período Jango e
jogou o Brasil sob os coturnos da ditadura em 1964.
Não tem clima para diálogo. Os eleitores da criatura acreditam que
ele acabará com os direitos humanos, fuzilará os corruptos e os
bandidos, colocará os civis sob a autoridade dos militares. Um
interlocutor, menos militarista, me diz que se Bolsonaro encontrar
resistência no Legislativo deve recorrer diretamente às ruas.
Como assim, companheiro? Estaria eu diante de um bolivariano? E o
terror de que Lula e Dilma transformassem o Brasil numa gigantesca
Venezuela ou Cuba? Cadê o discurso do Estado de direito?
Tenho receio que se ocorrer o cenário que o meu interlocutor imagina
pode não faltar apoio para uma intervenção militar, como a que foi
pedida na greve dos caminhoneiros, tão logo a falta de bom senso e de
racionalidade topem com as dificuldades do processo político.
A serpente choca seus ovos, mas tem muita gente que não leva o
fenômeno a sério. Primeiro achavam que o capitão seria rapidamente
varrido das primeiras posições das pesquisas, agora acham que não chega
ao segundo turno e, se chegar, não ganha.
Quem duvida é doido. Bolsonaro é um aventureiro oportunista. A sua
alegada ignorância de economia, saúde, educação é só mais uma forma de
não se responsabilizar por nada, nem pelo que veio nem pelo que virá.
A exemplo de seus seguidores, ele não gosta de política, apesar de
viver dela, assim como sua família. É menos ameaçadora a criatura porque
o fenômeno do extremismo conservador é mundial? Porque finalmente temos
uma direita que mostra a cara (a sua pior cara), pela via eleitoral?
Estava e estou pronto para votar no Ciro Gomes, mas entendo que a
hegemonia lulopetista colocou correntes nas pernas do meu candidato. Se
Ciro sucumbir, seja Fernando Haddad (mesmo com todos os sinais de
continuidade da instabilidade institucional), seja Marina Silva (mesmo
com a falta de um discurso coerente), seja Geraldo Alckmin (mesmo com a
sua utopia regressiva, rumo à Primeira República ou Temer II – uma
temporada completa), terá o meu voto.
Muito embora ainda não tenha deixado de ser do contraditório, agora
também chegou o momento de ser do contra. Um pouco de pragmatismo, na
hora certa, se não pode fazer o bem, pode evitar o mal.
Fonte: Publicado na Carta Capital
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