Por
Tem gente besta que acha perda de tempo conversar com os amigos num bar nas manhãs de sábado.
Pois eu faço isso há muito anos e não me arrependo: lá fico sabendo de coisas interessantes, que não estão na mídia.
Por exemplo, neste sábado, meu velho e bom amigo Nelson Jobim, que sabe
das coisas, sacou o celular e me mostrou no Google um episódio
emblemático na história americana sobre o qual vou escrever aqui.
Em 1920, na maior democracia do mundo, como gostam de escrever os
editorialistas brasileiros, Eugene Victor Debs, líder sindical
americano, um dos fundadores da IVVVW, sigla da união mundial dos
trabalhadores, concorreu à presidência da República dos Estados Unidos
pela quinta vez.
Nesta última, ele estava preso.
Debs foi
condenado pelo “Sedition Act”, em 1918, a dez anos de prisão por
denunciar a participação americana na 1ª Guerra Mundial, e sua pena só
foi comutada pelo presidente Warren Harding, em 1921, um ano depois da
eleição em que teve 3,4% dos votos.
Lembra alguma coisa do que está acontecendo por estes tristes trópicos um século depois?
Ao reivindicar o direito de Lula ser candidato nas eleições
presidenciais de 2018, no Brasil, o Comitê de Direitos Humanos da ONU
não está inovando nada.
Assim como Lula, Eugene Debs era um líder
sindical combativo, que liderou uma greve nacional de 250 mil
trabalhadores ferroviários no final do século 19 e, por isso, cumpriu
seus primeiros seis meses de prisão, em 1894.
Debs foi um dos
membros fundadores do Partido Socialista da América, assim como Lula
liderou greves no ABC, no século passado, e criou o Partido dos
Trabalhadores, que chegou ao poder em 2003.
A grande diferença da
democracia brasileira para a americana é que, mesmo preso, Debs pode
ser candidato a presidente, e aqui Lula não pode, por decisão de um juiz
de primeira instância referendada por apenas três desembargadores do
TRF-4.
Outra diferença entre o americano e o brasileiro, ainda
maior, foi a votação de Debs nos Estados Unidos, onde sempre era um
candidato nanico, sem chances de vencer e, no Brasil, Lula é o líder da
intenção de votos, na faixa dos 40%, o que corresponde a 57 milhões de
eleitores.
Por isso, a ONU e o resto do mundo não conseguem
entender como quatro magistrados, que não foram eleitos por ninguém,
podem ter mais força do que a ampla maioria do eleitorado de um país com
mais de 200 milhões de habitantes. Que democracia é essa?
Para
quem tanto gosta tanto de comparar o Brasil com os Estados Unidos, vale a
pena refletir como as democracias funcionam em favor da maioria da
população, ou não.
O líder sindical e socialista dos Estados
Unidos morreu em 1926, “não muito tempo depois de ser internado em um
sanatório devido a problemas cardiovasculares que se desenvolveram
durante seu tempo de prisão”, como relata a Wikipedia, a enciclopédia
livre.
Espero que meu velho amigo Lula não tenha o mesmo destino e
possa, pelo menos, disputar a eleição deste ano, como recomendou
decisão da ONU.
Valeu pela dica, caro Jobim, obrigado.
Com
a palavra, os digníssimos ministros do Supremo Tribunal Federal, do
qual Nelson Jobim já foi presidente em tempos mais democráticos, cargo
hoje ocupado pela sambista Cármen Lúcia.
Vida que segue.
Nenhum comentário:
Postar um comentário