"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.
#PauloFreireMereceRespeito #PatonoDaEducaçãoBrasileira #PauloFreireSempre

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Então, que venha 2021!

"Restaura, SENHOR, a nossa sorte..." (Salmos 126:4)

Por Manoel Paixão 
Meu caro leitor e minha cara leitora,

Desejo a você e sua família um novo ano repleto de grandes oportunidades, realizações e conquistas pessoais e profissionais. Que seja um ano de renovo da fé, das energias, da esperança e dos sonhos. Que Deus continue te abençoando, protegendo e dando sabedoria, discernimento, equilíbrio, ânimo, luz, inspiração, força, saúde e paz. E que você continue cultivando os bons sentimentos, como o amor, a humildade, o respeito, a empatia, a solidariedade e a amizade. 

Então, que venha 2021!

Cuide-se e boa sorte!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Precisamos urgentemente de gente “do” bem!

'Se colocar no lugar do outro, inclusive o de se imunizar para enfrentar governantes homicidas', escreve Magali Cunha

(Foto: iStock)

Estive lendo comentários sobre um vídeo do cantor popular Chico César, postado em mídias sociais no último final de semana. No vídeo, ele entoa a canção “Pico”, marchinha bem humorada, que compôs para expressar a tragédia que o país vive, seguindo a linha de outro compositor brasileiro, Cartola, que cantava “Deixe-me ir preciso andar/Vou por aí a procurar… Rir pra não chorar”.

Em “Pico”, Chico Cesar canta com um sorriso nos lábios: “Eu vou tomar vacina/quem não quiser que tome cloroquina/não vou passar vergonha/quem não quiser que escute esse pamonha…”

Entre os muitos comentários elogiosos, um único crítico me chamou a atenção: era de um pastor de igreja evangélica histórica que registrava “olha aí o maconheiro que a galera gosta!”.

O mau humor do pastor me remeteu de imediato a uma reflexão do escritor israelense Amós Oz, que dizia que nunca viu um fanático bem-humorado, nem alguém bem-humorado se tornar fanático. Para Oz, o bom humor é uma “cura para o fanatismo”.

Depois, ao refletir mais sobre o comentário mal-humorado e maldoso, lembrei-me de narrativas da Bíblia cristã que mostram que pessoas que dizem a verdade são sempre um incômodo e, por isso, são desqualificadas publicamente e perseguidas. Isto acontecia com profetas que falavam em nome de Deus, denunciando a exploração dos pobres, as injustiças contra órfãos, viúvas e estrangeiros, e a hipocrisia de quem dizia celebrar Deus no templo e praticava estes atos abomináveis.

Os profetas Elias e Jeremias tiveram a vida colocada em risco. O profeta Amós foi desqualificado por ser trabalhador informal, criador de ovelhas, e teve as suas palavras de denúncia distorcidas pelo sacerdote Amazias, um pastor da época. Nenhum destes se deixou intimidar.

Jesus também sofreu críticas e perseguição por dizer verdades sobre a religião e as injustiças sociais de sua época, e, também, por agir na contramão de tipos ideais, “gente de bem”, que na sua época eram representados pelos mal-humorados fariseus.

Estas pessoas se baseavam nas oposições entre bem e mal, certo e errado, dirigente e submisso, e muitos outros. Com isso, vão se construindo noções que são sedimentadas na cultura e passam a ser reproduzidas tanto no cotidiano que envolve família, vizinhança e trabalho, quanto nos espaços institucionais que envolvem educação, religião, mídias, por exemplo. Surgem então as concepções de “gente de bem”, “pessoa direita”, “homem/mulher ideal”, situação ou coisa que se deve valorizar. Elas vão marcar justamente os opostos. Pessoas e situações a serem evitadas como “do mal”, “esquerdopata”, “de vida errada/torta”, “má companhia”, “mau exemplo”, “o que se deve rejeitar”.

Poderíamos tomar muitos exemplos aqui, e quem ler este texto pode evocar os seus próprios, que têm relação com esta reflexão. Os “diferentes” ou “fora do padrão” são assim classificados de acordo com valores em torno da aparência, da sexualidade, dos grupos e dos locais dos quais fazem parte, do vocabulário, do nível de educação formal, de ocupação e de renda, da posição política, entre outros aspectos. Tudo isto se reflete em situações do cotidiano, em que pessoas sofrem preconceito, discriminação e até abuso moral (bullying) por serem consideradas “diferentes” ou “não enquadradas” nos tipos estabelecidos para as “pessoas ideais”. São visíveis também nas mídias e na forma como situações são noticiadas ou personagens são representadas em filmes, novelas ou programas de entretenimento.

Jesus, inspiração maior dos cristãos, andou justamente na contramão destas compreensões. Estamos a dias da celebração do seu nascimento, e é sempre bom lembrar que as narrativas dos Evangelhos da Bíblia cristã contam como Jesus era mal visto por ser originário de Nazaré, uma periferia da Palestina. “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré”, foi a pergunta de Natanael sobre Jesus (João 1.46).
Jesus era criticado pelos religiosos por andar com pessoas tidas como impuras, gente que não era considerada “de bem” pela sociedade judaica da época: pescadores, doentes, mulheres, cobradores de impostos, militantes zelotes
Era censurado também por estar mais presente em espaços considerados “não frequentáveis” (a beira-mar, casas de gente “suspeita”); por romper com regras socioculturais e religiosas que excluíam membros da sociedade e/ou os impediam de viver plenamente, incluindo o prazer e o lazer. “Glutão e beberrão” foram adjetivos atribuídos a ele pelas lideranças religiosas, guardiães dos valores da “gente de bem” da época.

Jesus, aquele de Nazaré, viveu uma vida “fora do padrão” da sociedade na qual estava inserido. Seria certamente considerado “mau exemplo”, “má companhia”, “pessoa de vida torta” também em nosso tempo. Em favor da justiça e do valor que ele dava a todas as pessoas, ele estava sempre nos lugares considerados inadequados, com pessoas consideradas “erradas”, acusado de criar tumultos, e de falar e fazer coisas impróprias para a “gente de bem”. Tudo isto porque agia e dizia verdades que precisavam ser ditas.

E aí está um elemento-chave para se pensar neste período do Natal que se aproxima: o que realmente importa na nossa vida em sociedade? Tudo o que Jesus fez e viveu foi pautado nos valores da justiça e da misericórdia. E isto não se alcança com aparência, pureza sexual, origem e local de vinculação, nível formal de educação, ocupação, renda. Isto vem de dentro. Tem a ver com visão de mundo, compreensão da vida e caráter. E tudo isto se reflete na posição política. É mudar a partícula: ser gente “do” bem! Pensar e agir pelo bem de todas as pessoas, não apenas de um grupo em particular, se colocar no lugar do outro, de seu sofrimento e de seus direitos, inclusive o de se imunizar com uma vacina para enfrentar governantes homicidas, os Herodes dos nossos dias.

*Jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. É colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas. Escreve neste espaço às quartas-feiras.




quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Quem é que você vai matar neste Natal e Ano Novo?

Quem é que você pretende matar nestas festas de fim de ano?

Seus pais, avós, irmãos, marido, esposa?

Seus filhos?

Um amigo, ou até alguém que você nem conhece direito, mas que também tem um monte de gente que o ama?

“Égua”, você deve estar pensando, “Essa mulher deve ser meio doida, porque eu não pretendo matar ninguém, não”.

Afinal, você é uma pessoa pacífica, trabalhadora, que não faz mal a uma mosca, né?

O problema, mano, é que a gente tá numa situação que não é preciso nem puxar uma arma, pra matar alguém.

O coronavírus, a covid-19, adoece e mata, sem que seja preciso dar um tiro ou uma facada.

E mata de um jeito até pior: com a pessoa em agonia, com falta de ar, sem conseguir respirar.

Com a pessoa sem poder receber nem um beijo ou um abraço, daqueles a quem ama.

E com você sem poder nem mesmo segurar nas mãos dela e dizer o quanto a ama e o quanto ela é importante na sua vida.

Será que vale a pena arriscar a vida de alguém tão amado só por causa de um Natal ou de uma festa de Ano Novo?

Quantos natais e finais de ano você ainda terá, se souber se cuidar direito?

E quantos natais e finais de ano ainda terão seus pais, avós, marido, esposa, filhos, amigos, se você não lhes passar essa doença?

Falta tão pouco para uma vacina, mano.

São Paulo deve começar a vacinar a população em janeiro, o que será seguido por governadores e prefeitos de várias cidades, que já estão comprando a vacina também.

Já pensou você colocar tudo a perder na marca do pênalti, só por causa de dois ou três meses?

Será que as pessoas a quem você ama e que lhe amam tanto não valem nem mesmo esses poucos meses de espera pela vacina?

Já pensou, no próximo Natal e Ano Novo, olhar a cadeira vazia de seu pai ou mãe, avô, avó, filho, irmão, amigo, só porque você resolveu ir agora pra uma festa, praia ou shopping, com um monte de gente?

Já imaginou a dor, de saudade e de consciência, que você vai sentir?

Sabia que a previsão é que a quantidade de doentes e mortos pela covid aumente à beça, exploda, após essas festas de Natal e fim de ano, devido às “aglomerações”, que são os grandes ajuntamentos de pessoas?

Essa doença está matando idosos, jovens, crianças, e até mulheres que acabaram de parir.

E muitas vezes, quando não mata, deixa a pessoa com problemas no coração, pulmões, rins e até na cabeça.

E não se sabe se esses problemas (sequelas) durarão só uns meses, ou se ficarão por anos, ou até pelo resto da vida.

Já imaginou seus pais, ou até você, sem poderem trabalhar durante meses, anos, ou até pelo resto da vida?

Seus pais e você têm dinheiro pra isso, mano?

Vale a pena ficar inválido, sentindo falta de ar com qualquer esforço, como tem acontecido com pessoas que tiveram essa doença, só por causa de um Natal ou fim de ano?

Pense nisso, mano.

Não acredite no Bolsonaro ou em quem diz que essa doença é só uma gripezinha: a covid-19 já matou mais de 182 mil brasileiros, entre eles até gente famosa, que mesmo tendo bons médicos e hospitais particulares não resistiu.

Neste Natal e Final de Ano, fique em casa.

E mesmo em casa, evite dar festa pra parentes e amigos que não moram com você.

Proteja-se.

E proteja aqueles a quem você ama e que lhe amam tanto também.  

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Veja a situação de cada estado: https://congressoemfoco.uol.com.br/covid19/

No Pará, já são mais de 282 mil casos confirmados da doença e mais de 7 mil mortos. O governador determinou que a Policlínica passe a tratar as pessoas que ficaram com “sequelas”, que são problemas de saúde deixados pela covid: http://www.saude.pa.gov.br/governo-do-para-lanca-triagem-pos-covid-para-tratar-sequelas-da-doenca/

Veja alguns famosos que morreram de covid-19. A lista é de 10/12 e não inclui o Paulinho, do Roupa Nova: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1685711824501873-relembre-os-famosos-que-morreram-com-covid-19

Abaixo, links sobre as sequelas deixadas pela covid

Na lista, destaque para a reportagem, datada de 6 de novembro, da excelente Agência Pública: https://apublica.org/2020/11/cheiro-podre-fadiga-danos-neurologicos-pacientes-com-sequelas-de-covid-19-nao-conseguem-tratamento-no-sus/

Mais uma reportagem pra não deixar de ler, datada de 13 de novembro, do site paranaense “Saúde em Debate”: médicos investigam se a covid não está deixando sobreviventes até com tendência a diabetes. Aqui: https://saudedebate.com.br/noticias/sequelas-da-covid-19-a-vida-nao-voltou-ao-normal-apos-a-alta-hospitalar

Matéria de 29 de novembro, mostrando pessoas que ainda permanecem com problemas de saúde dois meses depois de terem covid: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/11/29/sequelas-em-pacientes-com-covid-19-continuam-2-meses-apos-alta-hospitalar.htm

Matéria de 15 de outubro com sobreviventes falando sobre as sequelas que ficaram, e médicos relatando casos de pacientes: https://coronavirus.atarde.com.br/covid-19-pacientes-recuperados-relatam-sequelas-da-doenca-especialistas-dizem-que-quadros-podem-ser-permanentes/

Matéria de 12 de agosto, mostrando algumas sequelas que começavam a ser registradas pelos sobreviventes da covid: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/08/12/coronavirus-a-longa-lista-de-possiveis-sequelas-da-covid-19.htm



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Homenagem a Paulinho, do Roupa Nova

"As luzes do palco se apagaram. Infelizmente o nosso querido Paulinho não resistiu", diz nota divulgada pelo Roupa Nova
(Foto: Reprodução/Facebook/Roupa Nova)

O músico Paulo César Santos, o Paulinho, vocalista e percussionista do grupo Roupa Nova, morreu na noite desta segunda-feira (14), aos 68 anos, em decorrência de complicações da Covid-19. Em setembro, Paulinho passou por um transplante de medula óssea para tratar de um linfoma e no mês passado, quando ainda se recuperava do procedimento, recebeu o diagnóstico da Covid-19. Ele estava internado em um hospital na zona sul do Rio de Janeiro. 

O perfil do grupo Roupa Nova no Facebook divulgou uma nota sobre a morte de Paulinho:

"As luzes do palco se apagaram. Infelizmente o nosso querido Paulinho não resistiu. Acabamos de receber a notícia que ele veio a falecer de falência de múltiplos órgãos após ser acometido pela infecção do vírus COVID 19. Paciente decorrente de outras co-morbidades, entre elas um transplante de medula óssea devido a um linfoma, ele teve uma parada cardiorrespiratória hoje, que levou à parada dos órgãos. Nossos sinceros agradecimentos à todos que oraram e pediram por ele. Deus o receba de braços abertos! #Luto"

Artistas e personalidades prestaram homenagens ao genial Paulinho, em suas redes sociais:

"Soube do falecimento de Paulinho do Roupa Nova, Covid19. Durante anos no roteiro, e até a mixagem, “Sapato Velho” seria usada em Bacurau, mas terminou não entrando. Um grande abraço nos amigos e familiares. Obrigado Paulinho." — Kleber Mendonça Filho (@kmendoncafilho) December 15, 2020

"“Cresci ouvindo Roupa Nova” é a mensagem que mais leio em todos os grupos de amigos. Deve ser incrível ter uma história assim. Q dia triste." — Bruno Gagliasso (@brunogagliasso) December 15, 2020

"Que DEUS console aos familiares e amigos do nosso amado e querido Paulinho do “Roupa nova” Mais um gênio da nossa música que partiu vítima dessa doença terrível" — BUCHECHA (@BuchechaOficial) December 15, 2020

"Meus sentimentos à família Roupa Nova, todos os fãs e familiares.  Obrigado por sua arte, Paulinho." — Wilson Sideral (@sideraloficial) December 15, 2020

"Meus sentimentos e solidariedade aos parceiros da banda, em particular ao meu irmão Ricardo Feghali, à família e aos seus milhões de fãs. Adeus, amigo." — Jandira Feghali (@ jandira_feghali) December 15, 2020

"Nosso abraço a toda família @RoupaNova. Sentimos muito" — Biquini Cavadão (@biquini) December 15, 2020

Fluminense Football Club lamentou a morte de Paulinho, que era torcedor do clube:

"O Fluminense lamenta profundamente o falecimento de Paulinho, vocalista do Roupa Nova e Tricolor de coração. Desejamos muita força a familiares e amigos." — Fluminense F.C. (@FluminenseFC) December 15, 2020

Chagistas brasileiros também prestam suas homenagens: 




 

Sem dúvidas, a sua partida é uma perda imensurável para a música popular brasileira. Obrigado Paulinho, por ter nos encantado todos esses anos com seu carisma e sua marcante voz. 


Descanse em paz e que Deus conforte sua família, amigos, fãs e todos os integrantes do Roupa Nova! 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O tempo...Por Régis Barros

"Todo dia é para ser vivido. Aproveitar o nosso tempo o qual não sabemos dizer quanto será."

*Por Régis Barros

Ele urge! O tempo é uma dimensão dual. Ele, por vezes, alivia dores, mas, outras vezes, as alimenta também. Quando olhamos para a nossa finitude, o tempo não joga no nosso time. Se não estivermos machucados pela amargura suicida ou numa posição de terminalidade paliativa, o tempo, que concretiza a finitude, sempre nos incomoda.

Então, o que devemos fazer?

Simplesmente, tentar viver. Todo dia é para ser vivido. Aproveitar o nosso tempo o qual não sabemos dizer quanto será. Quantas vezes nos esquivamos de se jogar para a vida? Tememos a morte, mas abdicamos da vida. Isso pode ter um custo, visto que, não é incomum perceber isso já no ciclo final da vida. Não há dúvidas de que viver não é uma tarefa simples e fácil. Machucados nós seremos. Feridas acontecerão. Choro e sangue aparecerão na nossa narrativa. Mas, apesar disso, a vida pode e deve ser buscada. É preciso degustá-la. Lutar por ela é necessário. Nessa aquarela, seremos, somente, nós que poderemos colori-la. O pincel está na nossa mão. As tintas estão no nosso desejo. Portanto, somos os pintores da nossa vida. Cabe-nos fazer valer. Faça da sua vida uma pintura.

Se assim fizermos, o tempo que tem um eventual papel algoz não nos atormentará tanto. Como bem dito pelo Prof. Oliver Wendell Holmes, “o mais importante da vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos”.

*Régis Barros é médico psiquiatra, mestre e doutor em saúde mental




Chega de loucura, o Brasil deve reconhecer que não tem presidente, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Sempre que abre a boca para ostentar uma suposta virilidade, Bolsonaro agride a dignidade humana. Ele sabota o combate à pandemia e facilita a importação de armas.

Por Fábio de Oliveira Ribeiro | Opinião - Jornal GGN

Esta semana, o presidente brasileiro protagonizou mais um episódio grotesco. Ele imitou um gay ao ridicularizar o pavor causado pela pandemia e riu de 178 mil famílias cujos parentes morreram em virtude do COVID-19 https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/12/video-viral-de-bolsonaro-sobre-covid-traz-piada-homofobica-sobre-ozonioterapia.shtml.

Ele já tinha feito algo semelhante em abril de 2020 https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2020/04/28/no-meio-da-pandemia-do-que-ri-jair-bolsonaro.htm.

Sempre que abre a boca para ostentar uma suposta virilidade, Bolsonaro agride a dignidade humana. Ele sabota o combate à pandemia e facilita a importação de armas. O desprezo que ele nutre e demonstra pela vida e pelo direito à vida é evidenciado por algumas de suas frases mais famosas:

“O erro da ditadura foi torturar e não matar.”

“Policial que não mata não é policial.”

“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre.”

“Minha especialidade é matar.”

“Quem tiver arma de fogo, é para usar.”

Antes de assumir a presidência, Bolsonaro já havia dado algumas demonstrações de que é inapto para exercer a presidência da república https://jornalggn.com.br/crise/inaptidao-mental-para-tomar-posse/.

Alguns meses depois da posse Estadão disse num editorial que o presidente não tinha condições psicológicas de governar

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,bolsonaro-em-davos,70002691926.

A Folha de São Paulo deu destaque ao seu comportamento paranoico

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/psicanalistas-veem-bolsonaro-com-atitude-paranoica-e-onipotente-diante-da-pandemia.shtml.

bolsonaro-com-atitude-paranoica-e-onipotente-diante-da-pandemia.shtml.

Dois grandes jornalistas e juristas de renome já cogitaram a necessidade de sua interdição do presidente brasileiro:

https://jornalggn.com.br/noticia/kotscho-bolsonaro-tem-problemas-mentais-e-precisa-ser-interditado/

https://jornalggn.com.br/a-grande-crise/mais-um-dia-de-loucuras-de-bolsonaro-por-luis-nassif/

https://jornalggn.com.br/noticia/estamos-num-quadro-de-insanidade-caso-de-interdicao-diz-jurista-sobre-bolsonaro/

https://jornalggn.com.br/noticia/confira-ha-elementos-para-pedir-a-interdicao-de-bolsonaro-por-insanidade/

É evidente que a conduta de Jair Bolsonaro se tornou mais errática e bizarra depois que ele foi infectado pelo COVID-19. Portanto, é plausível a hipótese de uma sequela mental incapacitante decorrente da pandemia

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/08/18/um-em-cada-16-paciente-da-covid-19-desenvolve-doenca-mental-ate-tres-meses-apos-a-infeccao-aponta-estudo.ghtml.

Num regime monárquico, a questão da inaptidão mental é resolvida mediante a separação entre a pessoa do monarca e as funções governamentais que ele exerce. D. João foi regente de Portugal em virtude da mãe dele ter ficado louca. O transtorno mental do rei Jorge III da Inglaterra foi resolvido quando Jorge, o príncipe de Gales, assumiu as atividades políticas do pai. Luís II, rei da Baviera, também foi afastado das funções governamentais em virtude da insanidade mental.

O regime republicano não é imune a esse tipo de problema. Pode o presidente da república ser declarado mentalmente inapto para governar? A resposta é sim.

O que fazer quando um presidente começa a apresentar sinais evidentes de loucura?

Recentemente um Tribunal repeliu o pedido feito numa Ação Popular para que Jair Bolsonaro fosse submetido a um exame de sanidade mental https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/tribunal-barra-acao-popular-que-pedia-averiguacao-da-sanidade-mental-de-bolsonaro/. Essa decisão me parece adequada, pois meio processual escolhido era evidentemente inadequado. Como qualquer cidadão, o presidente da república pode ser réu numa Ação de Interdição ajuizada pelos familiares dele ou pelo Ministério Público.

O Brasil está totalmente desgovernado, diplomaticamente isolado e ruma para uma catástrofe sanitária e econômica. Não é mais possível tolerar o que está ocorrendo. Já que não existem condições parlamentares para o Impeachment (se houvessem Rodrigo Maia provavelmente teria iniciado o procedimento) e nenhum promotor tem coragem de ajuizar a Ação de Interdição do presidente enlouquecido, o Conselho Federal OAB deveria pedir ao STF que o declare Bolsonaro mentalmente inapto para exercer o cargo. Nesse caso, o vice assumiria a presidência com ou sem a aquiescência do Congresso e a crise seria politicamente contornada mediante o restabelecimento do presidencialismo de coalizão.

Não é golpe de estado reconhecer que o país não pode mais continuar sendo golpeado por um mentecapto. Jair Bolsonaro deve ser removido da presidência de uma maneira ou de outra para que o Brasil não continue sendo removido do mapa. As necessidades humanitárias de 211 milhões de cidadãos são muito maiores do que as prerrogativas políticas de um só homem incapaz de governar.




quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O direito a ter direitos

Por Franssinete Florenzano

Hoje é o Dia Internacional dos Direitos Humanos, instituído pela ONU nesta data, em 1948, ao proclamar a Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade se esforce, através do ensino e da educação, em promover o respeito a esses direitos e liberdades e a adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, a fim de assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva.

O primeiro registro de uma declaração dos direitos humanos foi o Cilindro de Ciro, escrito por Ciro, o Grande, rei da Pérsia (atual Irã) por volta de 539 a.C.. Filósofos europeus da época do Iluminismo desenvolveram teorias da lei natural que influenciaram a Declaração de Direitos, de 1689, na Inglaterra; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, na França; e a Carta de Direitos, de 1791, nos EUA.

Faltava garantir a liberdade da palavra e da livre expressão, a liberdade de religião, a liberdade por necessidades e a liberdade de viver livre do medo. A Carta das Nações Unidas reafirmou a fé nos direitos humanos, na dignidade e nos valores humanos para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

Mas ainda hoje as desigualdades são gritantes, as liberdades individuais e coletivas são amordaçadas pelo poder político e econômico e pelo crime organizado, milhões de famílias sobrevivem em condições subumanas. É um dia de luta, ainda. Até quando?



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Assassinato de Marielle completa mil dias sem respostas

Novas pistas surgiram sobre carro clonado usado na emboscada que matou a vereadora e seu motorista

Para marcar a data de mil dias sem Marielle Franco, organizações da sociedade, movimentos sociais e o Psol estão convocando a realização de atos simbólicos (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

São Paulo – O assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes completa mil dias nesta terça-feira (8). Eles foram mortos na noite de 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. O caso segue sem respostas e, até o momento, os responsáveis não foram presos. Marielle e Anderson sofreram uma emboscada na Rua Joaquim Palhares, bairro do Estácio, região central da capital fluminense. O carro em que estavam foi abordado por outro veículo e alvejado por vários disparos, que atingiram a vereadora e o motorista.

Nos últimos dias, novas pistas surgiram na montagem do quebra-cabeça. Na emboscada, foi usado um Chevrolet Cobalt clonado e os investigadores descobriram que Eduardo Almeida Nunes de Siqueira, morador da Muzema, favela dominada pela milícia, clonou um veículo do mesmo modelo, entre janeiro e fevereiro de 2018. Além disso, outro fato que chama a atenção é que o advogado Bruno Castro, que representa Siqueira, é o mesmo que atua para o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle e Anderson.

O jornal O Globo mostra que, em depoimento prestado à Delegacia de Homicídios (DH), em 2018, Siqueira disse que clonou um carro igual ao usado no crime, mas as afirmações “foram esquecidas no processo”. Eduardo “não sabia informar” se o carro havia sido utilizado no assassinato, mas viu grande semelhanças com o veículo que clonou.

Suspeitos do caso

A polícia do Rio segue outras linhas de investigação. Uma das versões acreditam que o ex-bombeiro, ex-vereador e miliciano Cristiano Girão ordenou a morte de Marielle, com o objetivo de se vingar do deputado federal Marcelo Freixo (Psol). Girão era um dos nomes na lista da CPI das Milícias, em 2008, presidida por Freixo. O miliciano ficou preso até 2017, um ano antes do crime.

O ex-bombeiro diz que possui um álibi, mas o Ministério Público solicitou ao Google o fornecimento da localização de Girão no momento do crime. O MP aguarda o julgamento de três recursos extraordinários no Supremo Tribunal Federal (STF). O Google recorreu da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que determinou o fornecimento de informações às autoridades fluminenses. 

Em março de 2019, Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46, foram presos. A força-tarefa que levou à Operação Lume diz que eles participaram dos assassinatos de Marielle e Anderson. Segundo as autoridades, Lessa efetuou os 13 disparos, enquanto Élcio dirigia o Cobalt.

Mil dias sem Marielle

Para marcar a data de mil dias sem Marielle Franco, organizações da sociedade, movimentos sociais e o Psol estão convocando a realização de atos simbólicos. No Rio de Janeiro e em outros locais, serão realizados atividades de “Amanhecer por Marielle”.

No texto de convocação, o Psol diz: “Nas ruas, amanheça o dia 8 vestindo Marielle ou qualquer imagem que possa celebrar sua vida e exigir respostas. Em sua janela, coloque um cartaz ou uma fita lilás. De forma segura, reúna vizinhas, amigas e familiares para ações rápidas de intervenção nas praças do seu bairro”.

Recentemente, também foi lançado o primeiro livro-reportagem sobre o assassinato da Marielle Franco e do motorista. Com o título Mataram Marielle, os jornalistas de O Globo Chico Otavio e Vera Araújo analisam os bastidores da investigação mal conduzida.

O livro não traz os nomes dos responsáveis pelo crime, mas aborda os bastidores da investigação policial descrita “como quase amadora”, o que ocasionou uma série de erros primários e desperdício de provas — como imagens potencialmente reveladoras, como descreve a Folha de S.Paulo.




Morre o ator Eduardo Galvão, aos 58 anos, vítima de Covid-19

Eduardo estava internado havia mais de uma semana no Rio. Ele deu entrada com cerca de 50% dos pulmões comprometidos

Eduardo Galvão (Divulgação)
O ator Eduardo Galvão morreu na noite desta segunda-feira (7) aos 58 anos, vítima de coronavírus. Ele estava internado havia mais de uma semana em um hospital particular do Rio de Janeiro, com cerca de 50% dos pulmões comprometidos.

Segundo informações da coluna de Fefito, no UOL, Eduardo precisou ser intubado e passou seus últimos dias na UTI. Por volta da meia-noite, familiares e amigos do ator confirmaram sua morte.

Nas redes sociais, diversos artistas lamentaram a morte de Eduardo. “Meu Deus! Partiu nosso grande amigo Eduardo Galvão. Desarvorada. Emudecida. Sem chão”, escreveu a humorista Dadá Coelho.

“RIP Eduardo Galvão! O mais novo da turminha. O mais alegre, o mais engraçado, o mais saudável! Dor imensa”, comentou José de Abreu.

Outros famosos, como Elisabete Pacheco, Marina Moschen, Tuca Andrada, Inez Viana, Mayara Magri, Antonio Grassi e Marcelo Várzea também prestaram homenagem ao ator.

A última novela de Eduardo foi “Bom Sucesso”, da Globo, em 2019. Ele ficou conhecido, no entanto, por trabalhos como o infantil “Caça Talentos” (1996), no qual contracenava com Angélica, e “Menino Maluquinho” (2006), no qual interpretava o pai do famoso personagem de Ziraldo.

O artista também fez sucesso ao atuar em novelas como “Despedida de Solteiro” (1992), “Porto dos Milagres” (2001) e “O Beijo do Vampiro” (2002). Ele teve ainda teve passagens pela Record, onde atuou em “Apocalipse” (2017), e pela Band, onde fez “Dance Dance Dance” (2007).


Fonte: Publicado na Revista Fórum



Pará tem 65% dos casos de Sarampo

A Campanha de Vacinação foi prorrogada até o próximo dia 20 de dezembro.

Por Franssinete Florenzano

De todos os casos notificados e confirmados de sarampo no Brasil este ano, 65% estão no Pará, com um total de 5.375 ocorrências, das quais 2.496 na faixa etária de 20 a 49 anos. Só nas últimas doze semanas foram 99 casos confirmados no Estado. Os dados constam no Boletim Epidemiológico do Sarampo, divulgado ontem pelo Departamento de Epidemiologia da Sespa. Nessas últimas semanas, os municípios que mais tiveram casos confirmados de sarampo foram Portel (62) e Bagre (12), na Região de Saúde Marajó II, e Afuá (9), na Região Marajó I. Considerando dados de 2020, os municípios com maior número de casos de sarampo são Belém (1.459), Ananindeua (969), Breves (274), Marituba (257) e Abaetetuba (217). A Região Metropolitana de Belém apresenta o maior número de casos confirmados da doença em todo o Pará. Na sequência, estão as regiões do Tocantins, Marajó II e Metropolitana III. É importante que a população procure as Unidades Básicas de Saúde para tomar a vacina tríplice viral, que também protege contra a rubéola e caxumba.

O sarampo é uma doença infecciosa aguda viral transmitida por tosse, fala, espirro ou respiração de pessoas doentes. É  grave, e pode até matar. Ou deixar sequelas para o resto da vida, como cegueira, retardo do crescimento, surdez e redução da capacidade mental. O paciente deve procurar atendimento médico logo que apresentar os primeiros sintomas, que são febre, tosse, coriza, conjuntivite e manchas vermelhas na pele. Todas as pessoas não vacinadas, e que nunca adoeceram de sarampo, são suscetíveis ao contágio. Só a vacina garante a proteção.

Os casos suspeitos de sarampo precisam ser notificados em até 24 horas após o atendimento, para que haja investigação pela Vigilância Municipal, que inclui a busca de contatos não vacinados até 48 horas e o bloqueio vacinal até 72 horas após a notificação. A cobertura continua muito baixa no Pará. Só 26,20%, cerca de 900 mil pessoas de uma meta de 3,5 milhões. O público-alvo da campanha é formado por pessoas adultas, que circulam por diversos locais, como trabalho, escola, bares e academias. A vacina está disponível nos postos dos 144 municípios paraenses, assim como a contra a poliomielite. Os cidadãos precisam fazer sua parte. É uma luta de todos. A Campanha de Vacinação foi prorrogada até o próximo dia 20 de dezembro.


Fonte: Publicado no Blog da Franssinete Florenzano



domingo, 6 de dezembro de 2020

Governo Bolsonaro ataca programas de saúde mental

Ministério da Saúde prepara revogação de cerca de 100 portarias editadas entre 1991 e 2014, o que pode comprometer políticas públicas de saúde mental

Eduardo Pazuello (esq.), ministro da Saúde, e o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Erasmo Salomão/MS (via fotospublicas.com)

O governo de Jair Bolsonaro aproveita a pandemia da covid-19 para continuar com o desmonte de diversas políticas públicas. Agora, os alvos são as estratégias de saúde mental.

O Ministério da Saúde está preparando a revogação de aproximadamente 100 portarias sobre saúde mental que foram editadas entre 1991 e 2014, o que coloca em risco iniciativas como o programa anual de reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar no SUS; as equipes de Consultório na Rua; o Serviço Residencial Terapêutico; e a Comissão de Acompanhamento do Programa De Volta para Casa.

Segundo o jornalista Guilherme Amado, da revista Época, as autoridades de saúde estão preocupadas com a possibilidade que esse desmonte ocorra durante uma crise histórica na saúde brasileira. E o calendário também preocupa, por conta da possibilidade da revogação ocorrer durante o recesso do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

O grupo Psicanalistas Unidos pela Democracia (PUD), em nota, declara adesão ao movimento Grupo Geral – Frente Ampliada em Defesa da Saúde Mental, da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial, recém criado, que luta contra o desmonte da saúde mental. Leia a nota a seguir.

NOTA DE APOIO E ADESÃO

O PUD – Psicanalistas Unidos pela Democracia – vem publicamente declarar sua adesão ao Movimento intitulado GRUPO GERAL – FRENTE AMPLIADA EM DEFESA DA SAUDE MENTAL DA REFORMA PSIQUIÁTRICA E LUTA ANTIMANICOMIAL, constituído nesta sexta-feira, 04/12, em ampla reunião que contou com profissionais, usuários, familiares e gestores de diversos estados brasileiros em resposta, note-se que imediata, vigorosa e ampla, à iniciativa ministerial de radicalizar o desmonte já iniciado pelos Governos que se sucederam ao golpe de 2016, das políticas públicas e dos dispositivos operativos da saúde mental anti-manicomial construídas ao longo dos últimos 35 anos no país.

Convocamos os psicanalistas que trabalham no campo da Saúde Mental e os que defendem políticas e práticas de cuidado em saúde mental em liberdade, respeito à cidadania e direitos humanos que tomem posição nesta Frente, seja através do engajamento em algum dos sete grupos específicos de trabalho prontamente formados ou através de diferentes formas de apoio.

PUD – Psicanalistas Unidos pela Democracia




Morre o ex-presidente do Uruguai Tabaré Vázquez

Médico oncologista foi uma das grandes lideranças da Frente Ampla, coalizão de esquerda que governou o Uruguai por 15 anos

Presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez (Foto: Secretaria de Comunicação/ Presidência do Uruguai)

O ex-presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, morreu na madrugada deste domingo (6) aos 80 anos. Vázquez havia concluído seu segundo mandato há apenas nove meses e enfrentava um câncer de pulmão.

O ex-presidente foi o primeiro líder de esquerda a ser eleito no Uruguai desde o fim da ditadura militar. Ele governou o país em dois momentos: entre 2005 e 2010, quando foi sucedido pelo correligionário José Mujica, e, mais recentemente, entre 2015 e 2020.

O atual presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, do Partido Liberal, lamentou a morte do político nas redes sociais.

“Enfrentou com coragem e serenidade sua última batalha. Tivemos momentos de diálogo pessoal e político que valorizo e me lembrarei sempre. Serviu ao país e, com base no seu esforço, obteve vitórias importantes. Foi o presidente dos uruguaios. O país está de luto. Descanse em paz, Presidente Tabaré Vázquez”, escreveu no Twitter.

Médico oncologista, Vázquez recebeu o diagnóstico de câncer no pulmão em 2019 e, desde então, fazia tratamento com quimioterapia. Ele foi uma das principais lideranças do Frente Amplia, coalizão de esquerda que liderou o Uruguai por 15 anos.

O partido também lamentou a morte do ex-presidente nas redes sociais. “Seu exemplo de integridade política e compromisso inabalável com nosso país e povo, nos levará a continuar seu legado”, escreveram.

Em homenagem ao ex-presidente, um cortejo sairá da Prefeitura de Montevidéu e passará pelas principais avenidas da cidade.




Em nota conjunta, conselhos de saúde defendem a imunização total da população brasileira contra a Covid-19

A nota conjunta divulgada neste sábado (5), foi assinada por Carlos Lula, presidente do CONASS e secretário estadual de Saúde do Maranhão e Wilames Freire Bezerra, presidente do CONASEMS e secretário municipal de Saúde de Pacatuba (CE).
NOTA CONJUNTA CONASS E CONASEMS
CAMPANHA NACIONAL DE VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) reiteram a defesa da incorporação pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) de todas as vacinas contra a Covid-19, com reconhecidas eficácia e segurança, especialmente as que já estão sendo testadas no Brasil, considerada, ainda, a necessidade de se alcançar a imunização de toda a população brasileira, com a máxima brevidade.

O recrudescimento da pandemia da Covid-19, no mundo e no Brasil, aponta para um cenário de insuficiência de doses para a vacinação de todas as populações, fazendo com que restrições ao número de fornecedores causem atrasos no acesso à vacina para grupos prioritários de risco.

É urgente que os processos de avaliação para o uso emergencial de vacinas contra a Covid-19, a logística de aquisição de insumos, o sistema de informações, a definição das estratégias de monitoramento e avaliação da campanha e, principalmente, a aquisição das vacinas estejam sob a coordenação do Ministério da Saúde, responsável pelo PNI, como medida para garantir a equidade entre os entes subnacionais. A falta da coordenação nacional, a eventual adoção de diferentes cronogramas e grupos prioritários para a vacinação nos diversos estados são preocupantes, pois gerariam iniquidade entre os cidadãos das unidades da federação, além de dificultar as ações nacionais de comunicação e a organização da farmacovigilância, que será fundamental com uma nova vacina.

O PNI é um patrimônio do Brasil e sua experiência já consolidada na realização de campanhas de grande porte e seu forte vigor técnico são um importante trunfo para atender a este desafio. A sociedade brasileira exige que as decisões sobre a vacinação contra a Covid-19 não sejam pautadas por questões alheias aos interesses do País.

As gestões estadual e municipal do SUS manifestam sua inafastável postura em defesa dos interesses da população brasileira, fundamentada na Ciência, com a transparência, agilidade e efetividade necessárias.

Carlos Lula                                        
Presidente do CONASS

Wilames Freire Bezerra
Presidente do CONASEMS




sábado, 5 de dezembro de 2020

Moro, hienas e abutres. Por Cristina Serra

Muito além de condenar políticos e empresários, Moro esfolou as empresas, destruiu milhares de empregos e demonizou a política. 

Cristina Serra, jornalista e escritora (Foto: Reprodução)

Diante de fato novo, volto ao personagem, sobre o qual escrevi dias atrás. O ex-juiz da Lava Jato tornou-se sócio-diretor da consultoria norte-americana Alvarez & Marçal, encarregada de administrar o processo de recuperação judicial da empreiteira Odebrecht (consta que também presta ou prestou serviços para, pelo menos, outras três empresas envolvidas na operação). 

O antigo império de engenharia foi peça central no esquema de corrupção investigado sob o comando de Moro. Ele condenou e prendeu donos e executivos da empreiteira, aprovou  delações premiadas e acordos de leniência. Com seus excessos e desvios, contudo, o ex-magistrado ajudou a quebrar a empresa e agora – dono de um acervo de informações privilegiadas – vai se beneficiar triturando a carcaça e seus despojos. 

Na natureza, essa conduta encontra paralelo nos predadores necrófagos, como hienas e abutres. A diferença é que estes tem papel fundamental na manutenção do equilíbrio de ecossistemas. Moro é o contrário. Seu papel de regente dos acusadores implodiu a necessária equanimidade que a função de juiz requer. Muito além de condenar políticos e empresários, Moro esfolou as empresas, destruiu milhares de empregos e demonizou a política. 

Basta ver o efeito disso nas três últimas eleições. Os sinais do triunfo da anti-política em 2016 foram confirmados da pior forma possível em 2018. Tanto que Moro não teve o menor constrangimento em ser ministro da extrema direita. Nesta eleição de 2020, com a Lava Jato na lona, foi nítido o recuo da anti-política, embora esteja cedo para decretar o seu fim. 

O ex-ministro não é o único a levar vantagem na porta giratória entre as esferas pública e privada. Mas sua conduta extrapola o conflito ético e reforça críticas sobre sua atuação na Lava Jato, que deveria ser investigada. O pedido de suspeição repousa placidamente na Segunda Turma do STF, o que remete, ironicamente, à frase síntese de Romero Jucá: “Com o Supremo, com tudo”.

(publicado originalmente na Folha de São Paulo em 05/12/20)



sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Violência psicológica, tentativa de estupro e a cruel conivência da Globo, por Luciana Sérvulo da Cunha

Além da violência sofrida, muito está oculto no silêncio doído das vítimas e na omissão dos agressores. Um país que ignora os altos índices de violência contra a mulher, pouco estuda cientificamente os perfis e as relações entre vítimas e agressores, acaba alimentando um silêncio cortante.

*Por Luciana Sérvulo da Cunha
(Foto: YouTube/Reprodução)

“Um indivíduo pode conseguir destruir o outro por um processo de contínuo e atormentador assédio.” – Hirigoyen.

Começo essa escrita expressando minha solidariedade e carinho à Dani Calabresa, exaltando sua coragem em denunciar o moribundo ex-humorista Marcius Melhem por assédio moral e sexual na Rede Globo. Manifestando também o desejo de que não precisemos mais ressaltar e admirar a coragem de uma mulher quando ela viveu o inferno, teve sua vida despedaçada e por uma questão de sobrevivência de seu corpo fragmentado e sua alma roubada tem que gritar suas feridas. Sim, estupradores são ladrões de corpos e não se diferenciam de abusadores(as), ladrões de almas. Que nós mulheres possamos viver em um mundo onde não precisemos mais ser injustamente corajosas assim!

Passar por uma relação abusiva com pessoas famosas, admiradas, adoradas e seguidas por milhões de pessoas é o pior dos infernos, pois além do fato de involuntariamente termos que trombar constantemente com essa pessoa e sua “arte” na grande mídia e nas redes sociais, engolimos a seco e revivemos a dor a cada vídeo, show, espetáculo e comentários nos grupos de WhatsApp, geralmente seguidos de infinitos coraçõezinhos iludidos acompanhados de um surreal “perfeita”(o), nos trazendo uma sensação de impotência corrosiva e massacrante, sentindo na pele o que significa ter que lidar com a opressão do status e o “poder” da imagem em uma sociedade narcísica, onde eles são eleitos reis. Falo do lugar de quem viveu uma relação de abuso emocional com essas características. Até conseguir entender, e principalmente assumir e nomear que o que tinha acontecido comigo, que é “violência psicológica”, levou muito tempo. Outro tempo tão longo, tem sido a profunda busca pela cura.

A violência emocional é a violência mais comum praticada contra as mulheres e uma das mais difíceis de serem reconhecidas e combatidas. Seja pela cultura machista e patriarcal em que somos criadas e estamos inseridas, seja pela falta de pesquisa, informação e ferramentas de combate a esta violência tão naturalizada e enraizada no cotidiano das brasileiras, ou pelas suas características específicas. O abuso emocional não deixa marcas físicas. Ele é uma violência silenciosa, por ser velada e insidiosa.

A violência psicológica está centrada na questão do poder e domínio sobre o outro e pode ser executada por pessoas com perversão narcísica ou algum tipo de transtorno de personalidade. A vítima a sofre de maneira silenciosa porque se trata de uma violência não assumida e negada pelo (a) agressor(a), que sutilmente inverte a relação acusando o outro de ser o culpado pela situação. Desta forma, a vítima se sente confusa e acaba por sentir-se culpada, o que, por sua vez, inocenta o(a) agressor(a). Não se trata de uma violência física, e esta não é pontual: estende-se ao longo do tempo. Como essa não é uma perversão explícita, ao contrário, ela se mistura no dia a dia, nos pequenos atos, nas pequenas relações, passa despercebida. Assim, o(a) agressor(a) vai deturpando de maneira sutil e pejorativa a visão que a vítima tem de si, retirando sua vitalidade e vivacidade, diminuindo, humilhando, fazendo ruir sua autoestima e sua paz interior, a induzindo a um estado de confusão, vulnerabilidade e consequentemente, de dependência emocional, levando um longo tempo para a vítima perceber, e sobretudo para reconhecer, estupefata, que está presa numa teia.

O abuso emocional geralmente está presente em todas as outras formas de abuso e pode ser uma porta para outros tipos de violências, como a violência sexual. Ele pode começar de forma sutil, com desencorajamentos à realização de projetos próprios, por um constante apontar de erros, falhas e defeitos da vítima bem como a subestimação de sua capacidade, até chegar a xingamentos, gritos, cobranças excessivas, falsas acusações, perseguição, desautorização das decisões pessoais (roupas, escolhas, amizades, horários, estudos/trabalho), chantagens, ameaças, depreciações, ciúmes frequentes, ironias e exposição da figura. Alguns exemplos aqui dados podem parecer óbvios, mas ressalto que quando o abusador(a) lança mão deles em uma relação, seja ela amorosa ou uma relação de amizade, a presa já está enredada em sua teia e não consegue ter clareza suficiente para assim perceber. Algumas relações onde já existe um nível de entrega e confiança da parte da vítima, o abusador(a) não precisa se utilizar de uma violência mais brutal e explícita mantendo um comportamento sedutor, encantador com medidos tons de manipulação e dubiedade, uma vez que o amor da vítima já é o suficiente para ser seu suprimento narcísico por bastante tempo.

Pondero aqui que pessoas narcísicas perversas podem estar presentes em nossas vidas em um número muito maior do que possamos imaginar e elas geralmente tem por características imediatas a inteligência, a sedução, a amabilidade, a diplomacia, a boa retórica e o bom humor. Não existe abusador ou abusadora que não seja atraente e encantador(a). E no fundo, quando convivemos na intimidade com eles(as), o que percebemos é uma insegurança gritante, uma inveja incontrolável, uma solidão colossal, uma falta de empatia abismal, grande imaturidade emocional e incapacidade total de olhar pra dentro e lidar com seus próprios sentimentos e emoções. O narcisista perverso é incapaz de admitir seus erros, sempre se colocará como vítima e projetará nos outros seus monstros internos e todos os fracassos de sua vida, autojustificando as punições e crueldades cometidas ao longo de muitas relações abusivas, deixando vidas literalmente como terras arrasadas.

Além da violência sofrida, muito está oculto no silêncio doído das vítimas e na omissão dos(as) agressores(as). Um país que ignora os altos índices de violência contra a mulher, pouco estuda cientificamente os perfis e as relações entre vítimas e agressores(as), acaba alimentando o silêncio cortante que beneficia agressores(as), levando as vítimas à depressão, em alguns casos ao suicídio, ou à morte por doença degenerativa grave, mantendo assim intacto o ciclo de abusos. O pouco que se estuda no Brasil, limita-se em geral ao assédio moral no trabalho, mas que, devido ao preconceito, à misoginia e ao racismo estrutural que permeiam a nossa sociedade e a elite brasileira, faz com que os resultados desse combate sejam cada vez mais favoráveis aos agressores(as), principalmente quando uma boa parte deles pode ser de pessoas dotadas de algum poder (capital político, financeiro, religioso ou artístico) e as vítimas, além do dano psicológico sofrido, ainda devem lidar com a pressão da opinião popular, ou as ameaças e retaliações dos(as) agressores(as), seus cúmplices, fiéis seguidores e toda sua rede de poder a lhe garantir imunidade e proteção.

Por isso que hoje, por mais torto ou doído que pareça, é um dia para ser lembrado. Por maior “poder” que uma empresa ou imagem possa ter nessa nossa doente sociedade narcísica do espetáculo, quando vazia, ou melhor, quando construída com energias sugadas e almas roubadas, ela vai, ah se vai, um dia, ruir e murchar!

*Luciana Sérvulo da Cunha é cineasta, autora, entre outros, do longa “Hijos de La Revolución”

[Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum]