"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Governo Bolsonaro não tem um projeto para o desenvolvimento do Brasil, sobretudo, que o torne um país mais justo, livre e soberano


Por Manoel Paixão
Meu caro leitor e minha cara leitora,

Chegamos a dois meses de governo Bolsonaro, para um governo que mal começou, o que se pode dizer é que este já começou muito mal.

Nenhuma novidade nisso aí. Deu só o que já se previa. Muita demonstração de falta de preparo e de condições para governar um país da dimensão do Brasil.

E não foi por falta de aviso.

A montagem do governo Bolsonaro, dava uma prévia do que seria o nosso país a partir do dia 1° de janeiro de 2019.

Mas, toda aquela euforia ainda causada com a vitória de Bolsonaro e a derrota do Petê e da esquerda nas eleições, fez com que muita gente nem percebesse o que estava sendo preparado, e logo seria posto em prática contra o povo brasileiro e o país.

Tal como era esperado, nesses poucos dias da era Bolsonaro, nos deparamos com um festival de besteirol, protagonizado pelo presidente & cia, além de uma atrapalhada atrás da outra, prova disso foi a fracassada participação de Bolsonaro em Davos e a repercussão negativa na imprensa mundial.

Não posso deixar passar aqui, as suspeitas de esquema de candidaturas laranjas na campanha eleitoral do ano passado, caso envolvendo o PSL, partido do presidente Bolsonaro, que provocou a primeira crise e levou à primeira queda de ministro do governo.

Isso sem contar, as movimentações suspeitas do caso Queiroz/Coaf e as ligações suspeitas com milícias do Rio de Janeiro, envolvendo a família Bolsonaro.

E nessa toada, temos um governo que não faz nenhuma questão de esconder sua total submissão aos interesses estadunidenses.

O pior disso tudo, é que o governo Bolsonaro segue no aprofundamento da agenda de medidas e reformas iniciadas no governo golpista e ilegítimo do Temer, para uma verdadeira liquidação do país, e a destruição por completo da ordem democrática e do Estado de Direito.

Como vem sendo anunciado, por esses que aí estão no poder, eles têm pressa para de uma vez por todas desmontar as instituições, entregar o patrimônio público e eliminar os direitos sociais, a fim de favorecer o mercado financeiro. Não tenho dúvidas, que isso será levado a cabo pelo governo Bolsonaro.

E olha que o povo brasileiro, principalmente a classe trabalhadora, foi muito afetada pelo golpe e pelo pacote de maldades promovidos pelo então governo golpista e ilegítimo.

É visível, que o governo Bolsonaro não tem um projeto para o desenvolvimento do Brasil, sobretudo, que o torne um país mais justo, livre e soberano.

Diante de tudo isso, é imprescindível, estarmos atentos para evitar uma enxurrada de retrocessos à caminho.

Espera-se daqui pra frente, muita resistência e luta, pois as tentativas desse governo contra o povo serão as mais absurdas possíveis, melhor dizendo ainda mais maléficas, a começar por essa proposta de reforma da Previdência, que é muito pior do que aquela proposta pelo governo Temer.

A hora é de levante popular, para barrar tudo o que faz parte dessa agenda de medidas e reformas anti-povo e anti-Brasil, que pelo visto é extensa.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Violência contra a mulher: novos dados mostram que 'não há lugar seguro no Brasil'


Apenas 8% dos municípios brasileiros têm delegacias da mulher. GETTY IMAGES
Em um sábado de fevereiro, Elaine Caparróz apanhou por horas de um homem que conheceu na internet e terminou a noite com o rosto desfigurado. Dias depois, outro homem foi detido por ejacular sobre uma passageira dentro de um trem.
Não foram casos isolados. Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.
Os dados são de um levantamento do Datafolha feito em fevereiro encomendada pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) para avaliar o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.
O levantamento, divulgado nesta terça-feira, levou a diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno, a questionar a existência de espaços em que a mulher possa se sentir efetivamente segura no país. "Ela está sofrendo violência dentro de casa, aí ela pega o metrô para ir para o trabalho, onde também vai ser assediada. Qual é o lugar seguro, então? Ele existe?"
Os novos dados corroboram o que outras pesquisas já mostravam. Grande parte das mulheres que sofreram violência dizem que o agressor era alguém conhecido (76,4%). Mulheres pretas e pardas são mais vitimadas do que as brancas; as jovens, mais do que as mais velhas.
27,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses, diz pesquisa. GETTY IMAGES
Em conversa com a BBC News Brasil, Bueno comentou o resultado da pesquisa e a situação da violência contra a mulher no Brasil de modo geral. Para ela, o país avançou em muitos aspectos, apesar de as taxas de assassinatos de mulheres terem mudado pouco.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
BBC News Brasil - O padrão de violência contra as mulheres no Brasil é muito parecido há anos. Qual foi sua reação ao ver os dados da pesquisa?
Samira Bueno - Há uma série de números impressionantes. Há 536 casos por hora no Brasil e quase a mesma proporção de mulheres que dizem ter sido vítima de algum tipo de violência sexual. O número de mulheres que sofreram espancamento é assustador (1,6 milhão). Todos esses dados remetem à violência doméstica: 76,4% das mulheres conheciam o autor da violência, a maior parte aconteceu dentro de casa.
Mas quando olhamos para o assédio, o espaço público tampouco é seguro. O número de mulheres assediadas fisicamente no transporte público, quase 4 milhões, é enorme. Não tem um espaço onde a mulher efetivamente está segura. A mulher está sofrendo violência dentro de casa, aí ela pega o metrô para ir para o trabalho, onde também vai ser assediada. Qual é o lugar seguro, então? Ele existe?
BBC News Brasil - Na última semana, dois casos de violência contra mulheres se tornaram públicos: no Rio, uma mulher foi espancada por um homem que ela conheceu na internet, e em São Paulo, um homem ejaculou na perna de uma mulher em um trem. O que esses casos mostram sobre como o assunto é tratado no Brasil?
Samira Bueno - No caso do homem que ejaculou na menina no transporte público, ela pediu ajuda dentro do trem e ficou todo o mundo olhando para a cara dela sem fazer nada. Depois, um guarda perguntou a ela se ela tinha certeza que a mancha na roupa dela não era de água. Como isso ainda acontece? Ela tinha acabado de sofrer uma violência como essa, que é humilhante, que te faz sentir violada. Foi à delegacia, ficou uma hora e meia esperando, foi mal atendida.
37,1% das brasileiras relatam ter sido vítima de assédio no último ano; 7,8% foram assediadas fisicamente no transporte público. OSWALDO CORNETI
A mulher que foi espancada ficou quatro horas sofrendo agressão e pedindo ajuda e levou quatro horas para alguém fazer alguma coisa.
Isso tudo mostra como ainda somos coniventes com a violência contra a mulher. São tantos tipos de violência, em tantos espaços distintos, mas as respostas que nos são dadas são as mesmas em todo lugar.
BBC News Brasil - A razão para isso é mais cultural ou relacionada a políticas públicas?
Samira Bueno - A origem é cultural. Podemos ter as melhores políticas públicas, de punição a agressores, mas se elas não incorporarem uma perspectiva de prevenção, pensando em como é possível alterar normais sociais e culturais, não vamos resolver o problema.
Temos a Lei Maria da Penha, a alteração na lei do estupro, a lei do feminicídio, a de importunação sexual, são todas boas, mas a lei por si só não resolve o problema. O menino que vê o pai batendo na mãe vai bater na esposa. A menina que sofre violência sexual dentro de casa e muitas vezes nem sabe que aquilo é uma violência. Se ouvir falar sobre isso na escola, vai identificar que talvez ela seja vítima.
"A lei por si só não resolve o problema. O menino que vê o pai batendo na mãe vai bater na esposa
'A menina que sofre violência sexual dentro de casa e muitas vezes nem sabe que aquilo é uma violência, se ouvir falar sobre isso na escola, vai identificar que talvez ela seja vítima'. GETTY IMAGES
BBC News Brasil - Como a política pública pode intervir no aspecto cultural?
Samira Bueno - Agressores têm que ser presos, mas também têm que passar por processos que não ocorrem, mas deveriam, como os grupos reflexivos. Eles precisam entender que aquilo é uma violência, repensar seu comportamento. Temos que levar às escolas um ensino de igualdade de gênero, do que é a violência. No caso da violência doméstica, o homem vai repetir esse comportamento. É um padrão que precisa ser rompido.
A gente pode apostar na prisão como punição que vai alterar isso, mas sabemos que, se a ameaça de prisão fosse uma forma de evitar que as pessoas cometessem crimes no Brasil, estaríamos numa situação melhor, pois temos a terceira maior população carcerária do mundo. Temos a lei do estupro há dez anos, mas não temos menos estupros por isso. O mesmo vale para a lei de drogas. Legislação é um instrumento importante, mas por si só, não resolve o problema.
BBC News Brasil - Os dados mostram que mulheres negras seguem sendo mais vitimadas.
Samira Bueno - É impossível não falar de racismo, em como ele determina trajetórias de vida. Quais são as condições econômicas das mulheres pretas? Em geral, vivem em condições piores do que a média das mulheres brancas. Isso é fruto do nosso legado escravocrata que nunca solucionamos. Isso fica evidente nos dados de assédio. Elas são mais vitimadas do que mulheres brancas. Parece que o corpo negro é um espaço público.
Vitimização também é maior entre mulheres pretas (28,4%) e pardas (27,5%) do que entre as brancas (24,7%). GETTY IMAGES 
BBC News Brasil - A taxa de mortes por violência de mulheres permanece relativamente estável no Brasil desde o início dos anos 2000. O Brasil evoluiu ou está estagnado no combate à violência contra a mulher?
Samira Bueno - Avançamos muito. O que interpretamos como violência é uma construção social e cultural. Já fomos muito mais tolerantes do que somos hoje. Veja o caso do Doca Street e da Angela Diniz (em 1976, ele a matou, na casa dela, em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, após ela terminar a relação, e foi absolvido). Ele alegou que cometeu um ato de legítima defesa da sua honra. Hoje isso seria inaceitável.
BBC News Brasil - Como avalia o impacto da Lei Maria da Penha?
Samira Bueno - A Lei Maria da Penha é uma grande conquista. No papel, é muito boa. Não é só uma lei penal, é quase uma política pública inteira de violência contra a mulher. Ela engloba muitos aspectos - prevenção, medidas protetivas, trabalhos com autores de violência. Num caso como esses, o desafio é sempre o da implementação.
Tem, por exemplo, o obstáculo do pacto federativo - para a lei funcionar, você depende de Prefeitura, Estado, União, do Executivo, do Judiciário, e muitas vezes a política não conversa. Fazer com que o serviço em rede funcione é desafiador. Fazer com que esse serviço chegue para além das capitais (8% dos municípios têm delegacias da mulher) também é um desafio.
Vemos que também falta institucionalização de boas práticas. Quando projetos funcionam, não é por institucionalização, mas porque indivíduos lutam por eles.
BBC News Brasil - O presidente Jair Bolsonaro expediu um decreto que facilita a posse de armas, uma de suas principais promessas de campanha. O maior acesso a armas pode afetar a violência contra mulheres?
Samira Bueno - O decreto autoriza a posse de armas, ou seja, o direito de ter armas em casa, que é justamente onde as mulheres morrem. Se cidadão que é um perpetrador de violência doméstica tem uma arma dentro de casa, é uma receita para a tragédia. Estamos dando um instrumento mais poderoso ao algoz de uma mulher.
Dadas as evidências científicas que temos da relação de aumento de arma de fogo com aumento de homicídios e suicídios, e dadas as características da violência contra a mulher, muito provavelmente teremos um aumento do feminicídio, assim como de lesões graves – como o caso da Maria da Penha, que levou um tiro do marido nas costas enquanto dormia e ficou paraplégica. Haverá também um impacto no sistema de saúde.






Usar imagem de crianças sem autorização é ilegal; saiba como denunciar

'Professora de Direito Débora Diniz divulgou modelo de representação a pais que tenham seus filhos constrangidos em escolas'


A antropóloga e professora de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Débora Diniz, divulgou na tarde desta terça-feira (26) um modelo de representação a pais brasileiros caso seus filhos sejam gravados ou se sintam obrigados a cantar o hino nacional em suas escolas.
Ao blog Diniz disse que ficou surpresa com a notícia para que alunos cantem o hino nacional e que o momento seja gravado e enviado ao MEC. “A mim não há nada de errado em crianças cantarem hino, mas em filmagens de crianças sem autorização dos pais, sim”, pontuou.
Débora Diniz vinha sofrendo inúmeros ataques e ameaças de morte por sua postura em defesa da descriminalização do aborto até a 12º semana de gravidez. Por conta disso, precisou ser incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal e foi forçada a deixar o Brasil em 2018.
No documento a professora de Direito cita o art 5º da Constituição Federal afirmando que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Abaixo o inteiro teor do documento sugerido por Diniz:

*Jornalista e Relações Públicas pela Faculdade JK de Brasília. É também especialista em comunicação pública e comunicação política no legislativo, tendo já sido indicado ao Prêmio Comunique-se de Jornalismo Político. Já trabalhou na cobertura de política para o site The Intercept Brasil e Metrópoles. É colunista da Fórum.




Vélez Rodríguez acha que somos ladrões e canibais, mas o Hino há de nos salvar

O ministro da educação Ricardo Vélez Rodríguez. Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil
Existem atos falhos e atos de deliberada expressão daquilo que de fato acreditamos.
Quando o ministro da Educação Ricardo Vélez Rodriguez afirmou em entrevista que o brasileiro é um “canibal” e que “rouba coisas dos hotéis”, não deixou escapar uma impressão íntima e pessoal do que sente pelo povo que o acolheu, mas sim, vocalizou orgulhosamente algo que não faz o menor esforço para esconder.
A despeito do cargo que ocupa.
E se alguém ainda mantinha alguma dúvida a respeito de seu desprezo pelo Brasil e pelo povo brasileiro, a carta que o Ministério da Educação emitiu a todas as escolas do país dá cabo de qualquer fio de esperança de civilidade e respeito por nossas leis e garantias constitucionais.
Conclamar os diretores de escolas a unir alunos e professores para encenar uma grande peça de propaganda partidária assinalando inclusive o que seguramente é o lema de campanha mais cínico e hipócrita de toda a história, ultrapassa todos os limites legais de probidade administrativa.
Utilizar o Ministério da Educação para fins de promoção pessoal e partidária desafia à luz do sol a moralidade pública e o ordenamento jurídico.
Ainda mais, ultraja os direitos civis de imagem ao expor inadvertidamente crianças das mais tenras idades sem qualquer conhecimento, autorização ou consentimento dos pais ou responsáveis.
Atitudes como essa que violam regras primárias da administração pública não seriam tomadas com tanta convicção se seu autor não acreditasse de fato que pertencemos a uma classe inferior de civilização.
Se dessa forma são praticadas, é porque inexiste qualquer consideração por parte de um estrangeiro que apesar de ter se naturalizado brasileiro, não se sente em absoluto parte desse povo.
É como se nos observasse com a empáfia e a soberba de quem realmente se presume superior. Tudo à revelia do fato de também ter nascido num país latino americano com problemas tão ou ainda mais graves do que o Brasil.
Ao que tudo indica, o homem encarregado por gerir a pasta da educação nacional acredita piamente que sua função na verdade é a de domesticar bárbaros impondo como parâmetro único e inquestionável a ser seguido a sua própria visão de mundo.
Entre descalabros dessa monta, Vélez Rodriguez se mostra um educador ainda mais incompetente do que na função de administrador.
Levando-se em conta que nesse caso específico uma coisa complementa a outra, o que temos não é só um completo inoperante na área, mas, sobretudo, um risco incalculável para o imprescindível exercício do livre pensar.
Para uma nação que passou a flertar com a ignorância e a estupidez, é o recrudescimento de tudo aquilo que nos trouxe a esse estado de insensatez.
*Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina




Novo grupo de extrema-direita do MP defende vigilância escolar e punição a professores por “ideologia”

'Novo grupo conservador do MP poderia ser mais um Ministério de Bolsonaro'
 
Na vanguarda do atraso, membros do Ministério Público correm atrás do Governo Federal para disputar as narrativas mais autoritárias e conservadoras do Brasil. No final do ano passado, um grupo de 128 integrantes das carreiras dos Ministérios Públicos, essencialmente do MPF, criaram uma associação que traduz o que seria a vertente bolsonarista dentro do parquet. MPPS, Ministério Público Pró-Sociedade é a sigla dos novatos da política de extrema direita no órgão dos promotores de justiça.
Coordenado por Renato Barão Varalda, Promotor de Justiça (MPDFT) e Adriano Alves Marreiros, Promotor de Justiça Militar, a carta de inauguração do grupo tem a relatoria de Ailton Benedito de Souza, Procurador da República.
Do que se pode empreender da carta, o grupo é assumidamente defensor de valores religiosos cristãos, morais e “da família”, críticos do “garantismo penal” e de qualquer ativismo judicial do campo progressista. Estão dispostos a puxar o coro para fazer a voz do MP clamar por “mais justiça”, como se novidade fosse defender aumento de penas, mais prisões e endurecimento penal. São críticos das ideias progressistas e querem travar uma cruzada política e jurídica para aniquilar qualquer ideologia que não sejam a deles próprios.
Apesar de não haver menção qualquer a apoio ao Governo Bolsonaro, o grupo conseguiu, em sua carta de apresentação, levantar as principais bandeiras hasteadas por Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018. Certos de que a guinada à direita terá uma jornada útil de pelo menos mais quatro anos, a conhecida tendência política direitista do MP nacional aglutinou promotores com coragem o suficiente para enterrarem seus nomes juntos com a ideia deste novo governo.

CONTRA IDEOLOGIAS

No manifesto inaugural do grupo há uma extensa tentativa de se explicar uma guerra às ideologias, de forma genérica, como se qualquer forma de ideologia devesse ser exterminada por não seguir qualquer preceito de racionalidade. De forma curiosa, o grupo se diz não ideológico, já demonstrando de antemão que 128 promotores juntos não são capazes de entender o conceito de ideologia.
Em rápida pesquisa no dicionário Aurélio, podemos entender que “ideologia” é: “Conjunto de ideias, convicções e princípios filosóficos, sociais, políticos que caracterizam o pensamento de um indivíduo, grupo, movimento, época, sociedade.” Logo, quando se juntam 128 promotores e promotoras para defender um conjunto de ideias políticas, podemos entender este kit de ideias por ideologia.
Mas se não por estupidez, o que de fato não acredito, então por má-fé, estes afirmam em suas considerações, “conservadorismo não é ideologia, mas expressão da realidade pautada na ordem, na liberdade e na justiça”.

IDEOLOGIA DE GÊNERO

De outra sorte, críticos de que homens e mulheres possam ter identidades de gênero e orientação sexual distintas da heteronormalidade cristã, os promotores anunciam a caçada à comunidade LGBTI+. Em um desses parágrafos introdutórios o grupo diz que “ideologia de gênero é experimento totalitário de engenharia social que destrói a identidade natural do ser humano, usando as escolas como laboratórios e os estudantes (crianças e adolescentes) como cobaias”. Em outro confuso enunciado, o grupo faz críticas à possibilidade de crianças e adolescentes entrarem em contato com qualquer conteúdo dito pornográfico nas escolas, fazendo séria alusão ao mito do “Kit Gay” nas escolas.

ESCOLA SEM PARTIDO

Dentro desse contexto normatizador da vida escolar, os promotores fazem a cama para que ideias autoritárias como o “Escola Sem Partido” prosperem. Defendem a utilização de câmeras nas dependências escolares e, inclusive, querem punir criminalmente professores por praticarem “ideologia” nas salas de aula.
“O Ministério Público deve proteger a dignidade da criança e do adolescente de ‘práticas pedagógicas’ abusivas, entendidas, entre outras condutas, a estimulação sexual, a doutrinação ideológica, política ou partidária, ainda que a pretexto educacional, promovendo a responsabilização administrativa, cível e criminal dos atos abusivos.”
Se não bastasse o absurdo de condenar professores, a extrema-direita do MP abre brechas para que o órgão possa “defender” os pais dos alunos cujos professores que “pratiquem ideologia”.
“O Ministério Público, diante de indícios de alienação parental com participação de professor ou autoridade escolar, deverá tomar as medidas adequadas à proteção dos direitos da criança e do adolescente e ao exercício do poder familiar, guarda ou tutela (art. 2º, caput, parágrafo único da Lei nº 12 .318/2010).”

CENSURA PRÉVIA AS FAKE NEWS

Incomodados com a reorganização da sociedade civil em combate as “fake news”, sejam elas organizadas pela imprensa, órgãos públicos ou grandes empresas de tecnologia como Google e Facebook, os promotores fazem longa defesa ao “direito humano à comunicação”.
Em um aparente lapso de sensatez, os direitos humanos voltam à cena no 18˚ enunciado: “O Ministério Público deve combater toda forma de censura ilícita às liberdades de informação , opinião e expressão nos meios de comunicação social, inclusive na internet.”

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DAS VÍTIMAS

Absorvidos pelos delírios bolsonaristas, estes promotores e promotoras se comprometem em solicitar ao Conselho Nacional do Ministério Público, ao Conselho Nacional dos Procuradores-gerais de Justiça e aos Ministérios Públicos que instituam, nas suas respectivas estruturas, o que eles dizem ser uma “comissão de defesa dos direitos humanos das vítimas”. Representantes do grupo MPPS já se reuniram com o ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, para quem entregaram um documento solicitando também a criação de uma Secretaria de Direitos Humanos das Vítimas.

CONTRA O ABORTO

Ideologicamente, esses promotores agem como uma espécie de TFP (Tradição, Família e Propriedade) e defendem que o Ministério Público deve proteger especialmente “a família como base da Sociedade”, deve defender a “inviolabilidade dos direitos à vida, desde a concepção, à liberdade, à igualdade, à propriedade”.
É certo que um grupo que contém 128 promotores e promotoras ainda é uma minoria dentro das estruturas dos Ministérios Públicos do país. Infelizmente, é sabido também, que as ideias deste grupo não representam somente o pensamento da minoria da instituição. Gostaria de saber o que acham os outros promotores.

*André Zanardo é ativista pelos Direitos Humanos, advogado e diretor de redação do portal de notícias Justificando.


Escola sem Partido e devaneios do ministro: educação chega à demência

'Para o ex-ministro Renato Janine Ribeiro, o MEC joga fora o conhecimento acumulado nas últimas três décadas'


Pense naquela sua tia que compartilha correntes no WhatsApp, envia mensagens de alerta sobre os novos tipos de golpes que bandidos estão a aplicar na praça e, abduzida por insuspeita militância, bombardeia sua caixa de entrada com abaixo-assinados em série. Imagine que essa sua tia, hoje uma aplicada combatente da mamadeira de piroca, decidiu enveredar-se na trilha do comentário político ao inaugurar um canal no YouTube, onde é possível acompanhar seu pensamento vivo. Vociferante e furibunda com os inimigos, amável com os amigos, foi catapultada ao sucesso como “influenciadora digital” da nova direita, espécie de Alexandre Frota dispensada do filme pornô, embora suas vergonhas estejam à vista do internauta que se animar a assisti-las. Sua tia é aculpada de tudo: foi ela quem apresentou Bolsonaro a Paulo Guedes, propiciando o casamento que terminaria em bem-sucedida relação de poliamor com o grande capital. Como Frota, virou deputada federal do PSL, de cujo laranjal soergue sua principal bandeira, o da ressurreição do projeto Escola sem Partido. A sua tia das correntes, raro leitor, ela existe, tal e qual sua improvável trajetória. Trata-se da procuradora aposentada Beatriz Kicis Torrents de Sordi, a Bia Kicis, de 58 anos, eleita pelo Distrito Federal com os votos de 86.415 adversários da urna eletrônica.
GENTE ESTRANHA. NO DESTAQUE, O MINISTRO DA EDUCAÇÃO, RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ, DA ALA PSICODÉLICA DO GOVERNO. ACIMA, APARENTEMENTE ORIUNDA DO MESMO UNIVERSO PARALELO, A YOUTUBER BIA KICIS, AGORA DEPUTADA DO PSL, DE CUJO LARANJAL SOERGUE SUA PRINCIPAL BANDEIRA. (FOTO: REPRODUÇÃO/REDES SOCIAIS).

Kicis – melhor seria Kisses, mas não podemos exigir mais da realidade – surgiu primeiro na internet como uma golpista incauta a clamar pelo impeachment da presidenta Dilma. Na sequência, tornou-se militante do voto impresso. A partir desse moinho de vento, a quixotesca personagem passou à luta contra outros gigantes, em especial a “doutrinação” de alunos nas escolas por “esquerdopatas” e a “ideologia de gênero”, que acabaria por fabricar a tal mamadeira, sem dúvida o produto mais criativo do mercado nacional, quiçá mundial, de notícias falsas. Ao chafurdar na produção audiovisual de Kicis, fica-se a par de seu desejo de processar os antigos professores de história que lhe ensinaram tudo errado, certamente uns doutrinadores de meia-tigela. Por outro lado, encontra-se “o mestre e o homem que despertou uma nação”, o Napoleão de hospício Olavo de Carvalho, em colóquio com a dita-cuja e “o querido Edu, Edu Bolsonaro, o filho do Jair”. Enquanto se desenrola o besteirol, o público eriça-se nas caixas de comentários. “Glória a Deus!”, louva um cristão. “Senta o dedo!”, sugere outro.

A necessitar de um compêndio de fake news, vale a pena recorrer à Kicis. Está lá, por exemplo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em sua convocatória aos terroristas árabes da Al-Jazeera (que seria uma célula da Al-Qaeda não fosse um canal de televisão) para que cerrassem fileiras por Lula Livre. No dia do assassinato de Marielle Franco, a youtuber já sabia se tratar de um “assalto” àquela que “provavelmente defendia essa agenda desarmamentista”. A produção de Kicis é também uma fonte inesgotável de comédia involuntária, como no caso do vídeo em que alardeia “EM PRIMEIRA MÃO” a candidatura a deputado de Nelson Barbudo, aquele que foi à posse no Congresso com chapéu de vaqueiro e barba de Karl Marx. Parte de suas publicações é de chamamentos a Tico e Teco, a dupla de neurônios que habita o bolsominion clássico. Em uma dessas pérolas, Kicis convoca a massa a “bater sinos”, acender e apagar as luzes de casa no momento em que Sérgio Moro estivesse em entrevista com Gerson Camarotti no GloboNews. Para tanto, vestia-se com chapelão verde e amarelo, a pecar apenas na escolha do modelo cowboy no lugar daquele de bobo da corte.
No novo projeto, grêmios estudantis não fazem política e professores podem ser filmados
Esta é a pessoa, pois, à frente do redivivo projeto Escola sem Partido, arquivado no fim do ano passado pela comissão que analisava a proposta na Câmara dos Deputados, sob pressão de educadores e do STF. Protocolado por Bia Kicis no primeiro dia de trabalho da nova legislatura, o PL nº 246/19 é ainda mais radical do que as ideias defendidas pelo fundador do “movimento”, o advogado Miguel Nagib. Em sua nova versão, defende a gravação de aulas a pretexto de “uma melhor absorção do conteúdo e garantia do direito de pais e responsáveis terem ciência do processo pedagógico e avaliação da qualidade dos serviços prestados na escola”. A proposta afronta a liberdade de cátedra assegurada pelo artigo 206 da Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Além disso, proíbe que grêmios estudantis promovam qualquer atividade político-partidária. “O Escola sem Partido, assim como a ‘ideologia de gênero’, foi factoide criado para desviar a atenção dos temas importantes durante a elaboração do Plano Nacional de Educação que entrou em vigor em 2014”, diz o ex-ministro da Educação do governo Dilma, o filósofo e cientista político Renato Janine Ribeiro. “É uma pena que setores progressistas tenham mergulhado nessa piscina com tanto prazer e engano, no lugar de ter exigido que a discussão fosse sobre educação. Agora Inês é morta, e esse tema está aí, presente e forte.”

O novo Escola sem Partido certamente encontrará guarida no Ministério da Educação, sob o comando de Ricardo Vélez Rodríguez, um teólogo, filósofo e professor que, embora nascido na Colômbia, parece oriundo do mesmo universo paralelo de onde saiu Beatriz Kicis, ambos em guerra contra inimigos imaginários como o “marxismo cultural”. Indicado por Olavo de Carvalho, Rodríguez integra a ala psicodélica do governo, onde perfilam também o chanceler Ernesto Araújo e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves. Não se tem certeza ainda sobre qual é o mais doidão entre os três cavaleiros do Apocalipse, mas com certeza o apetite de Damares para o tema sexual lhe tem garantido a dianteira nessa corrida maluca. Rodríguez, no entanto, vem baixando seu tempo a cada volta. A última da semana compete com a afirmação de Damares de que parte de seus diplomas não seria universitária, mas “bíblica”. No caso do ministro, descobriu-se constar em seu currículo um livro de sua autoria organizado por Alexis de Tocqueville, que morreu em 1859. Antes, um outro morto já havia sido molestado em seus devaneios. Em entrevista à Veja, Rodríguez atribuiu a Cazuza a frase “liberdade é passar a mão no guarda (na bunda do guarda, a bem da verdade)”, dita pelos humoristas do Casseta & Planeta. Sob ameaça de um processo pela mãe do cantor, foi obrigado a desculpar-se no Diário Oficial, quer dizer, no Twitter.
Delírios: Segundo o ministro, Cazuza queria passar a mão no guarda. E o jornalista Ancelmo Gois era da KGB.
Os delírios avolumam-se, a demonstrar que talvez tenhamos todos sido recolhidos a um hospício, sem no entanto nos darmos conta, temática explorada pelo escritor Campos de Carvalho em A Lua Vem da Ásia. Na mesma entrevista à Veja, o ministro disse que “o brasileiro viajando é um canibal, rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião, acha que sai de casa e pode carregar tudo”. Em nota oficial com erro de português e letras em caixa-alta, o MEC classificou o jornalista Ancelmo Gois, de O Globo, como um agente do KGB “TREINADO EM MARXISMO E LENINISMO” pelo serviço secreto soviético. Motivo: o colunista publicara um texto mostrando que vídeos de pensadores de esquerda tinha sido suprimidos de uma web tevê pública. Houve também o caso das alterações dos critérios para a adoção dos livros didáticos, que não precisariam mais tratar de temas como a não violência contra a mulher e a promoção da cultura e história quilombolas e dos povos do campo. Ficariam eliminadas as exigências das referências bibliográficas, seriam aceitos os erros de revisão e a publicidade de marcas. Com a óbvia repercussão negativa das novas medidas, anularam-se as mudanças.
Descarte: Para o ex-ministro Renato Janine Ribeiro, o MEC joga fora o conhecimento acumulado nas últimas três décadas
Para Renato Janine Ribeiro, o problema maior reside menos nos devaneios do ministro do que no desmonte que vem sendo operado no MEC. “O fato é que em 20 e tantos anos construiu-se a base para o progresso da nossa educação. Mas o novo governo jogou fora toda essa expertise, todo o conhecimento acumulado”, diz. “Apesar das minhas divergências com o governo Temer, as pessoas trazidas por ele tinham alguma qualificação. A recusa de nomes como (a socióloga e ex-secretária-executiva do MEC) Maria Helena Guimarães de Castro ou (o educador e diretor do Instituto Ayrton Senna) Mozart Neves Ramos me choca, ainda mais quando chegam outros que não têm o menor conhecimento sobre o assunto, nem teórico nem prático.” O professor de bacharelado e pós-graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC Salomão Barros Ximenes vê “uma completa mudança de eixo na concepção do que é a escola e o papel da educação pública, que tem agora como uma de suas prioridades a militarização do ensino como forma de combater a criminalidade. Algo preocupante, porque reacionário, regressivo e autoritário. Tem-se pela primeira vez o abandono declarado do Plano Nacional de Educação. E tudo aponta para uma sinergia sinistra: corte de investimentos, censura e privatização”.
OLAVO DE CARVALHO. A FIGURA ACIMA INDICOU O MINISTRO VÉLEZ E É “O MESTRE QUE DESPERTOU UMA NAÇÃO”, SEGUNDO KICIS. (FOTO: GREG SALIBIAN)
Bia Kicis, a nossa tia das correntes do WhatsApp, tornou-se figura de proa da República. Em novembro de 2017, com a ajuda do empresário Winston Ling, do Grupo Ling, apresentou o “liberal” Paulo Guedes aos filhos de Bolsonaro. Quinze dias depois, iniciava-se a incendiosa relação do pai com o Posto Ipiranga. Deu no que deu. Hoje, Kicis é uma das candidatas à Presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a mais importante da Casa. Periga vermos na educação brasileira a escola sem noção.

*Editor da revista CartaCapital