"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Temer e a pouca vergonha de nossos tempos

Por Eugênio Aragão

As frações de informação tornadas públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente decente. Conclui-se que Temer e sua cambada prepararam a traição à Presidenta Dilma Vana Rousseff bem antes das eleições de 2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais. Não para financiar as eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140 parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma. Temer armou cedo o golpe que lhe daria o que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo do épico "O Senhor dos Anéis". Muito ainda saberemos sobre o mais vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável mãozinha de carreiras da elite do serviço público. O resultado está aí: o fim de um projeto nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que, "em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de rasgar os votos de 54 milhões de brasileiras e brasileiros. Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá. É assim que se despedaça e trucida a democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça. A piscadela de Alexandre de Moraes a Edison Lobão, na CCJ, diz tudo. Assistiremos a tudo isso sem nenhum sentimento de pudor? A essa altura dos acontecimentos, o STF e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do impedimento da Presidenta Dilma Rousseff com a descarada hipocrisia definida por Voltaire como "cortesia dos covardes". Caiu o véu da mentira. Não há mais como negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O Judas revelado está. E os guardiões da Constituição? Lavarão as mãos como Pilatos - ou tomarão vergonha na cara? 


sábado, 25 de fevereiro de 2017

Do Blog do Sakamoto: Por que o governo Temer segue vivo após tantas denúncias?

Por Leonardo Sakamoto
 
Todos os presidentes após a redemocratização poderiam ter sofrido impeachment. Haveria razões para tanto – ou elas nasceriam pelas mãos da inventividade política. Isso não aconteceu porque contaram com o apoio político do Congresso Nacional e o respeito do Supremo Tribunal Federal. Um impeachment de Temer é, ainda hoje, algo impensável. Uma parte considerável dos deputados federais, senadores e da classe política deposita nele a esperança de que poderá frear, de alguma forma, a operação Lava Jato, impedindo-os de ir para o xilindró ou devolver milhões roubados. Menos impensável, mas ainda assim remota, é a chance de cassação da chapa Dilma-Temer durante a gestão Gilmar Mendes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Até aí, nada de novo. Mas pouco se fala da segunda perna desse apoio, que vem de uma parte da elite econômica. Empresários brasileiros e estrangeiros têm condicionado seu apoio ao governo Michel Temer à aprovação de reformas que combatem a crise econômica jogando a fatura no colo dos mais pobres ao mesmo tempo que usam a própria crise como justificativa a fim de reduzir a parte do Estado que atende às necessidades da xepa humilde, protegendo os mais ricos via manutenção de altos subsídios e baixa carga tributária de sua renda e seu patrimônio. Esse grupo, na prática, mostra não se incomodar tanto com a corrupção desde que a missão seja cumprida. Até porque, pelo que mostram as delações, a lama já chegou ao Pato Amarelo, o que deve impedi-lo de voar. Quando a imprensa divulga que um depoimento de José Yunus, grande amigo de Michel Temer, reforça o envolvimento de seu ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, em uma suspeita de falcatrua e joga suspeição sobre o comportamento do próprio Temer, em uma trama que envolve doleiros, muito dinheiro e Eduardo Cunha, era de se esperar que os empresários se revoltassem tanto quanto se revoltaram com as falcatruas do governo do PT. Mas enquanto a encomenda estiver sendo entregue, ninguém ouve, ninguém fala, ninguém vê. Ninguém nem pensa em pedir a cabeça do governo, que poderia ser entregue de bandeja pelo Congresso Nacional na tentativa de apaziguar a gritaria na esfera pública, ''num grande acordo'', da mesma forma que aconteceu com Dilma Rousseff. Por isso a resposta do título desse texto não passa pelo que o Congresso Nacional, a cúpula do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, grandes empresários e os milhões que foram às ruas pedir o impeachment de Dilma Rousseff devem ou não fazer. Eles seguem tocando suas vidas e perseguindo seus objetivos. Perde tempo, na minha opinião, quem cobra deles uma ação no sentido de encabeçar uma ação que deveria estar sendo feita por outros descontentes. De acordo com pesquisas de opinião aplicadas sobre os manifestantes, os perfis dos favoráveis e dos contrários ao impeachment foram mais parecidos entre si do que com o restante da sociedade, tornando-os mais próximos de uma elite social e econômica. O povão, em sua maioria, não foi à rua. Muito menos a maioria dos jovens que coalharam as cidades brasileiras em junho de 2013, ao contrário do que bradam organizações que dizem falar em nome deles. Durante o processo de impeachment, pesquisas mostraram que as razões pela insatisfação com o governo Dilma eram diferentes entre os mais ricos (que eram maioria nas manifestações de rua, reclamavam da corrupção, defendiam uma redução do Estado menor e tinham natureza antipetista) e os mais pobres (que passaram a querer sua saída, mas porque a economia estava ruim e o Estado não estava sendo suficientemente grande para garantir um colchão melhor de proteção social). Ou seja, a maioria amorfa em nome do qual tudo é feito, mas que raramente se beneficia do Estado, continuou onde sempre esteve: trabalhando pelo bem-estar de uma minoria e assistindo a tudo bestializado pela TV. A grande pergunta é se algo (o aprofundamente do desemprego ou uma reforma da Previdência Social mais dura com os pobres, por exemplo) ou alguém será capaz de mobilizar o povão para levá-lo às ruas. Se esse pessoal resolver dizer basta às castas de políticos corruptos, de elites econômicas sanguessugas e de demagogos violentos e antidemocráticos, percebendo que, crise após crise, são eles que pagam o pato num país em que lucros ficam com o andar de cima e prejuízos com o andar de baixo, acho que, como já disse aqui, o país entra em nova fase. Se melhor (com a população sendo protagonista de sua vida) ou pior (com a chegada de um ''salvador'' que, não se engane, podará direitos ao invés de garanti-los), não saberia dizer.

Fonte: Publicado em 25/02/2017 no Blog do Sakamoto

POR QUE FALAMOS QUE A MÍDIA BRASILEIRA É UM CÂNCER

Por Victor Grabois 

 "Não estou interessado na peruca do Eike ou no rivotril do Cabral ou na depressão da mulher dele. Quero saber da morte do Teori. Da delação da Odebrecht (950 depoimentos de 77 executivos - pronta há meses). Da delação do Cunha (rasparam a cabeça dele?) e daqueles 200 milhões que disseram ser dele. Da liberdade de Cláudia Cunha e filhos. Dos 23 milhões do Serra depositados no exterior. Do enriquecimento meteórico da filha de Serra. Das 43 menções ao golpista Temer nas delações e seu cheque propina nominal. Do terço de Aécio em Furnas - e tudo mais. Do suicido do policial Lucas Arcanjo em BH. Da prisão do jornalista Marco Aurélio Carone por 9 meses em BH. Da liberdade da irmã de Aécio. Da propriedade de quase meia tonelada de pasta de cocaina voando num helicóptero da família Parrella. Da propriedade do jatinho que vitimou Eduardo Campos. Da propina do filho legítimo de FHC. Do sustento da amante de FHC com dinheiro público. Dos milhões recebidos por Alckmin. Das provas contra Lula. Das provas contra o filho de Lula. Dos bens bloqueados do Eliseu Padilha. Das propinas do Moreira Franco. Das menções do nome Dilma nas delações. Do roubo da merenda de SP. Dos desvios no metro de SP. Do terreno roubado por Doria em Campos do Jordão. Da sonegação fiscal do vice prefeito do Rio. Da sonegação milionária das Organizações Globo. Da propriedade daquela mansão de praia que os Marinhos negam ser os donos. Da sonegação dos membros da FIESP. Do bloqueio dos bens de Eduardo Paes. Do empresariado carioca que chupou mais de 180 bilhões do RJ em isenções fiscais duvidosas em 9 anos. Dos privilégios absurdos do nosso judiciário. Etc... e põe etc nisso. E só pra ficarmos nos últimos anos. Faço questão de não fazer coro com a pauta ditada e imposta por esta mídia canalha por pura conveniência."

Da página do Facebook, Cartunistas contra o golpe: Últimos acontecimentos na Republiqueta das Bananas registrados em charges e caricaturas

 Por Dil Márcio.

Por Eduardo Simch.

Por Rice Araujo.

Por Berze HQ.
Por Osmani Simanca.
 

Por Dino Alves.

Por Vitor Teixeira.

Por Alexandre Beck.

Por Bennet.
Por Rafa Campos e Bira Dantas.

Por Bira Dantas. 

Por Daniel Lafayette.
Por Renato Aroeira.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Os 4 motivos que levaram José Serra a pedir demissão


José Serra é um político à deriva. É detestado no PSDB, suportado no governo Temer e se tornou eleitoralmente irrelevante. Tão irrelevante que a última sondagem CNT sequer o incluiu nas fichas de presidenciáveis.

Seu pedido de demissão deve-se aos seguintes fatores:


1. A irrelevância de sua atuação à frente do MRE

O insuspeito O Globo relacionou todos os fatos relevantes da gestão Serra no Ministério das Relações Exteriores (MRE). Sob o impactante título “As principais passagens de Serra no MRE”, relacionou os seguintes feitos:

· Defesa do apoio ao governo

· Polêmica com países bolivarianos

· Proximidade com a Argentina

· Passaportes diplomáticos

· E seu grande momento: Homenagem à Chapecoense.

E nada mais havia para se dizer. O cargo, aliás, comprovou a profunda ignorância de Serra em relação a qualquer tema contemporâneo. Em uma das áreas mais sensíveis, para a reaproximação com os Estados Unidos, não logrou nenhum protagonismo. Sua insegurança era tal que chegou a levar Fernando Henrique Cardoso em um dos primeiros encontros de confronto do Mercosul, pela incapacidade de desenvolver um discurso minimamente eficaz.

Na vitrine o MRE, além disso, ficou escancarada sua baixíssima propensão ao trabalho. Serra é de acordar tarde, dormir tarde e não tem pique gerencial. Por isso, em cargos executivos acaba restringindo sua agenda diária a encontros insossos com um ou outro secretário.

2. Sua irrelevância política

Serra é detestado no PSDB, aturado no PMDB e descartado no governo Temer. No Palácio, era alvo de piadas e gozações da troupe de Temer, por impropriedades cometidas, a julgar pelos relatos do mais assíduo dos comensais, Jorge Bastos Moreno.

Havendo eleições em 2018, o PSDB teria Geraldo Alckmin ou Aécio Neves e Temer—PMDB apostará em Henrique Meirelles.

A volta para o Senado devolve Serra ao seu habitat natural. Seu maior mérito foi o de sempre ter-se cercado de bons assessores para as atividades parlamentares.

3. A Lava Jato

 Ao longo de sua carreira, Serra sempre amarelou em momentos graves. Apesar de se dizer defensor de câmbio competitivo, enquanto Ministro do Planejamento de FHC desapareceu das discussões públicas. Anos depois, Gustavo Franco confessaria seu espanto com o baixo nível de informação econômica de Serra.

No governo de São Paulo, as principais crises foram enfrentadas assim:

· Na greve da USP, mandou a Polícia Militar retirar estudantes a cacetada.

· Na greve da Polícia Civil, que cercou o Palácio Bandeirantes, recuou rapidamente de sua decisão de não receber grevistas e acabou premiando-os com mais do que as próprias propostas da categoria.

· Nas enchentes que assolaram o Estado, sumiu. Não presidiu uma reunião sequer da defesa civil, não veio uma vez sequer a público comandar os trabalhos do governo. Quando saiu candidato a presidente, demonstrou não conhecer sequer o conceito de Defesa Civil.

Com as investigações da Lava Jato batendo na sua porte, o pânico é evidente. Até algum tempo atrás, Serra mantinha em casa uma coleção de obras de arte capaz de provocar inveja até em ricos de verdade, como Roberto Civita, dono da Abril. A quebra do sigilo do fundo de investimento de sua filha Verônica certamente teria um efeito devastador sobre seu futuro.

No Senado, Serra voltará a ser mais um dentre muitos – e não um Ministro exposto. E terá tempo para tentar recompor seus laços com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, que lhe permitiram, em outros tempos, montar dossiês mortais e ações policiais contra adversários políticos.

4. A doença

Em praticamente todas as fotos em que aparece, como chanceler, há a expressão do olhar vazio, da falta de energia, indicando claramente problemas físicos. Serra alega ter dores na coluna que o impediriam de efetuar viagens longas. É provável.

Mas padece de outros problemas. Colegas tucanos apontam para uma depressão continuada. Cenas recentes – dele não sabendo declinar nomes de países que compõem os BRICs – podem indicar problemas graves de memória, mas pode ser efeito de medicamentos pesados.



O RETORNO DA MÚMIA

Por Leandro Fortes 
(Da página do Facebook, publicado em 23/02/2017)

José Serra não está deprimido: ele é a própria encarnação da depressão. Golpista, dissimulado, entreguista, ególatra, a existência física e política de Serra é depressiva, inclusive para seus correligionários, desde sempre. É óbvio, até para os colunistas que lhe prestam vassalagem, que Serra está abandonando o barco do governo golpista porque lhe negaram o protagonismo necessário - única razão de viver de gente como ele. Era um ministro inútil dentro de um governo lamentável, pego em flagrante em um esquema de propinas depositadas na Suíça, enquanto bradava, com essa hipocrisia tão peculiar aos tucanos, contra a corrupção alheia. Talvez pense que, abandonando o barco como uma ratazana esperta, tudo isso passe batido pela História. Não passará. Serra tornou-se conhecido quando, presidente da UNE, em 1964, fugiu do País antes mesmo de um único disparo ter sido feito pelos golpistas de então. Foi para o Chile e, curiosamente, partiu então para os Estados Unidos, de onde voltou mentindo que era economista. De lá para cá, virou um devotado súdito do Tio Sam, a quem prometeu - e cumpriu - entregar as reservas de petróleo do Brasil. Agora, levará sua depressão atávica de volta ao Senado Federal, atualmente, um ambiente mais que perfeito para sua recorrente prostração moral. Será mais um golpista numa bancada de traidores da pátria que, espero, sejam julgados ainda durante esse apodrecimento em vida transmitido, dia e noite, em tempo real.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Cinco provas de que o Sr. Diálogo foi morto pelo Dr. Ignorância no Brasil


Encarar tudo como se a vida se resumisse a duas opções, vida ou morte, ordem ou caos, Palmeiras ou Corinthians, é sintomático de sociedades em que o Dr. Diálogo foi cruelmente assassinado pela Sr. Ignorância. Com o punhal do maniqueísmo. Na sala de estar do país.

São obviedades, mas nunca é demais repetir:

1) Se alguém…

Critica a Reforma da Previdência proposta pelo governo federal.

Talvez…

Não ignore que a população brasileira vem envelhecendo e que o sistema de Previdência Social precisa de uma rediscussão e de mudanças para que os que precisam dele não fiquem desamparados no futuro.

Mas…

Seja contra os pobres arcarem com o custo maior disso. Eles, que começam a trabalhar mais cedo, passam a vida em subempregos que não contam tempo de aposentadoria, esfolam-se ao cortar cana de açúcar ou carregar sacos de cimentos nas costas e morrem antes da média da população, serão os principais prejudicados.

2) Se alguém…

Critica a Reforma do Ensino Médio proposta pelo governo federal.

Talvez…

Não ignore que debater essa etapa de ensino é urgente, pois o desempenho é sofrível, o currículo é desinteressante e a evasão, monstruosa – 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola.

Mas…

Considera que uma reforma imposta de cima para baixo é um desrespeito e uma violência aos milhões de profissionais que atuam em educação, aos militantes que participam dos inúmeros fóruns e instâncias de educação no país, aos alunos que ocupam escolas em busca de uma voz e aos pais e mães que acompanham com preocupação a formação dos filhos. Por exemplo: quem vai bancar a universalização do tempo integral e o consequente pagamento de bolsas para jovens que trabalham para ajudar no sustento da casa? O montante sinalizado pelo governo não dá nem para a coxinha.

3) Se alguém…

Critica a Reforma Trabalhista proposta pelo governo federal.

Talvez…

Saiba que a legislação trabalhista brasileira precisa ser depurada, reorganizada, simplificada e atualizada, o que resultará em benefício ao trabalhador e ao empregador. E que isso depende de muito diálogo entre governo, trabalhadores e empresários.

Mas…

Ache um absurdo que o pacote proposto seja a antiga pauta de reivindicações de associações de empregadores do campo e da cidade para aumentar a sua lucratividade e competitividade. E que a base dessa reforma não inclua a discussão sobre o aumento da produtividade através da capacitação da força de trabalho e da melhoria de sua qualidade de vida, mas seja feita com a extensão das jornadas de trabalho, a flexibilização das horas extras e a diminuição da proteção social através da ampliação da terceirização legal.

4) Se alguém…

Criticava a PEC do Teto proposta pelo governo federal.

Talvez…

Entendesse que estamos em uma grande crise econômica e sacrifícios são necessários.

Mas…

Acredita que, ao aprovar medidas que limitam o crescimento de investimento público nos próximos 20 anos, o governo jogou as contas da crise nas costas dos mais pobres (que dependem de educação e saúde públicas) e protegeu os mais ricos – que seguem sem pagar impostos sobre dividendos recebidos de empresas e taxas sobre grandes fortunas e grandes heranças e a continuam com a mesma alíquota de imposto de renda da classe média, quando essa deveria ser maior.

5) Se alguém…

Critica o governo Temer.

Talvez…

Não seja um petista saudoso, um comunista ardoroso ou o filho do Tinhoso.

Mas…

Acredite que, do jeito que as reformas estão propostas, dezenas de milhões ficarão à margem de sua dignidade e nós seguiremos como um dos recordistas em injustiça social. Enquanto isso, a cúpula do governo (que vai salvando o pescoço dos escândalos de corrupção) vai agradando a elite econômica – que, convenhamos, sempre foi muito feliz por aqui.

*Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.

Fonte: Publicado em 20/02/2017 no Blog do Sakamoto 

“Reforma da previdência será maior desmonte social da história”, alerta Dieese

'Ganz Lúcio compara desafio de impedir aprovação da PEC 287 ao período enfrentado na pré-Constituinte por movimentos sociais.'
 
Jornal GGN - O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, comparou o desafio de impedir a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, da reforma da Previdência, que tramita hoje no Congresso Nacional, ao período pré-Constituinte, de meados de 1980. Em entrevista à RBA, ele avaliou a urgência dos movimentos sociais se mobilizarem para evitar “um dos maiores desmontes institucionais e sociais da história”, lembrando que o Congresso e o governo Temer estão bastante alinhados para conseguir realizar a passagem da reforma. 
 
 
A PEC 287 desobrigará o Estado a manter a Previdência e sobrecarregará a participação do trabalhador, podendo quebrar o sistema público, assim favorecendo a previdência privada. O relator da proposta na Câmara dos Deputados, Arthur Maia (PPS-BA) é acusado de receber contribuições de bancos e seguradoras para a sua campanha eleitoral em 2014.
 
 
 
Especialistas alertam que PEC 287, que o governo tenta votar a toque de caixa, deve inviabilizar aposentadorias, afastar contribuintes e piorar o sistema público para favorecer o privado
 
Por Vitor Nuzzi
 
Conhecido por apresentar em 2013 um relatório francamente favorável à ampliação da terceirização, o deputado Arthur Maia – na época no SD, hoje no PPS baiano – espera divulgar em meados de março seu parecer sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma da Previdência Social. O plano de trabalho na comissão especial foi apresentado em 14 de fevereiro, e prevê oito audiências públicas e seminário internacional.
 
A guerra começou, como diz o economista Eduardo Fagnani, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O que está em jogo no Brasil não é um ajuste fiscal, é uma mudança no modelo de sociedade”, afirmou, durante evento organizado pelo Dieese e por nove centrais sindicais, que tentam unir forças para derrubar (como defendem alguns) ou modificar (como tentam outros) a PEC 287. Em comum, todos refutam o argumento central do governo Temer, que fala em necessidade de “reforma” para manter o sistema viável.
 
Argumentos sempre usados de “déficit” ou “rombo” da Previdência são falsos, diz Fagnani. “O déficit é a parte do governo que, embora prevista na Constituição, não é contabilizada”, afirma. “Não há argumento para dizer que o problema fiscal brasileiro é a Previdência. A estratégica do ajuste fiscal é comprimir o gasto primário.” Já o gasto financeiro, acrescenta, “deixa explodir”.
 
Para a oposição no Congresso, a PEC tem o sistema financeiro como interessado direto. Assim que Maia foi escolhido como relator, emergiu a informação de que o deputado recebeu contribuições, em sua campanha eleitoral, de bancos e seguradoras – apenas da Bradesco Vida e Previdência, foram quase R$ 300 mil, em 2014. Para o parlamentar, isso nada mais é que uma “ilação maldosa”.
 
O presidente da comissão especial, Carlos Marun (PMDB-MS), deve conduzir a tramitação da PEC 287 conforme deseja o Planalto sem temer pressões contrárias. Marun já mostrou resistência ao defender, quase solitariamente, o agora ex-deputado Eduardo Cunha antes de sua cassação. “Quem defende Cunha, defende qualquer coisa”, diz um observador.
 
Ou seja: para combater a PEC, será preciso muita unidade e capacidade de articulação e pressão, diante de um Congresso francamente alinhado ao governo e às reformas, incluindo a trabalhista. Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, trata-se de desafio semelhante ao do período pré-Constituinte, em meados dos anos 1980. Ele avalia que o movimento sindical precisa se organizar para evitar “um dos maiores desmontes institucionais e sociais da história”. E as centrais não são contra mudanças, acrescenta, tanto que apresentaram várias propostas em negociações com a equipe de Michel Temer. “O projeto que está aí não nos representa. Queremos uma reforma que dê proteção universal aos trabalhadores, eficaz na cobrança, com sonegação zero, universal e sustentável.”
 
Protestos
 
As centrais mandarão representantes a Brasília no dia 21, para conversar com os presidentes da Câmara e do Senado, líderes partidários e com o comando da comissão especial da reforma da Previdência (e também da trabalhista). Em 15 de março, acompanhando uma data já aprovada pelos trabalhadores em educação, haverá um dia nacional de protestos e paralisações contra a 287.
 
Em meados de janeiro, o Dieese divulgou nota técnica com restrições severas ao projeto do governo, cuja premissa básica é dificultar ou impedir o acesso a benefícios – e reduzir o valor para quem conseguir recebê-los. Tornaria a aposentadoria integral uma “utopia” e, em uma análise mais geral, “favorece o aumento da vulnerabilidade social, da pobreza e das desigualdades no país”. O instituto também identifica favorecimento: “Transparece ainda na proposta um objetivo implícito de fragilizar a Previdência Social e estimular a difusão de sistemas privados de previdência”.
 
Para obter a aposentadoria integral, pelas regras propostas na PEC, um trabalhador precisaria contribuir durante 49 anos, uma façanha se considerados fatores como rotatividade e informalidade no mercado de trabalho brasileiro. Com base em dados de 2014 da própria Previdência, segundo os quais cada trabalhador pagou em média 9,1 contribuições naquele ano, o tempo aumenta consideravelmente: “Seria necessário esperar 64,6 anos, depois de iniciar a vida laboral, para completar o correspondente a 49 anos de contribuições”.
 
Suposição irrealista
 
O instituto destaca que a exposição de motivos da PEC não traz explicação sobre a proposta de mudança do cálculo do benefício. “Tudo indica que o raciocínio utilizado foi: subtrair a idade legal de início de trabalho no Brasil (16 anos) da idade mínima de aposentadoria proposta (65 anos) e fazer com que ao resultado dessa diferença (49 anos) corresponda à aposentadoria integral”, analisa. “A suposição, totalmente irrealista para a realidade brasileira, é que a pessoa trabalhadora contribuiu todos os meses, ininterruptamente, no período entre os 16 e os 65 anos, sem nunca ter ficado desempregada, inativa do ponto de vista econômico, na informalidade (isto é, como autônoma sem contribuição previdenciária) ou na ilegalidade (contratada sem carteira). A suposição do início do período contributivo aos 16 anos também desconsidera o princípio de que, nessa idade, a pessoa ainda deveria estar em processo de escolarização e de formação para o trabalho.”
 
Mais informações da própria Previdência mostram potencial excludente da proposta governista. Segundo divulgou o jornal Folha de S.Paulo na edição de 12 de fevereiro, 79% das aposentadorias por idade concedidas em 2015 foram para trabalhadores com menos de 25 anos de contribuição, que pela PEC passa a ser o tempo mínimo exigido – o atual é de 15 anos.
 
Recortes por grupos sociais também atestam que alguns setores sofrerão ainda mais caso as mudanças sejam implementadas. Estudo elaborado por um grupo de trabalho no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta consequências negativas para as mulheres. “Estimamos que cerca de 47% das atuais contribuintes não conseguirão se aposentar, em geral as mais precarizadas, aumentando fortemente a demanda por BPC (benefício de prestação continuada)”, diz o estudo. “Eles sabem disso. Por isso mesmo, estão desvinculando o BPC do salário mínimo”, diz a pesquisadora Joana Mostafa, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea. Para ela, a PEC 287 representa “redução do Estado na proteção social”.
 
Estabelecer a mesma idade para homens e mulheres na concessão da aposentadoria, como quer o governo, significa uma “mudança radical”, dizem os pesquisadores. “A diferença de idades para homens e mulheres reconhece um maior risco da mulher de se ausentar ou participar menos do mercado de trabalho por força da divisão sexual do trabalho ainda desigual.”
 
Segundo Joana, que participou do seminário do Dieese, apesar de alguma melhoria nos últimos anos, a desigualdade persiste: com salário equivalente a 70% do recebido pelos homens, as mulheres ainda têm jornada semanal, em média, de oito horas a mais. Em um período de 25 anos de contribuição, isso corresponderia a um acréscimo de 4,5 anos. Ou mais, considerando a informação de que o trabalhador, em média, contribui nove a cada 12 meses – o período aumentaria para 5,4 anos.
 
Exclusão
 
No caso dos trabalhadores rurais, a exclusão pode ser ainda maior, segundo Evandro Morello, assessor da Secretaria de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Ele estima que a PEC tira a expectativa de mais de 70% dos camponeses de alcançar a aposentadoria. “Isso afeta a economia dos municípios, a produção de alimentos.”
 
Evandro acredita que a reforma representará um desestímulo à permanência no campo, principalmente para os trabalhadores mais jovens: “O jovem tem de ser muito herói para permanecer no campo e manter-se no processo produtivo da agricultura. Quem vai ficar no campo produzindo alimentos para o Brasil?”, questiona.
 
Pela proposta do governo, o trabalhador rural passaria a ter uma contribuição individual, em vez da contribuição sobre a venda, como ocorre hoje (artigo 195 da Constituição), algo inviável pela realidade do agricultor, avalia o assessor da Contag.
 
A PEC também aumenta para 65 anos a idade mínima para aposentadoria – hoje é de 60 anos para os homens e de 55 para as mulheres. Evandro afirma que quase 80% dos homens e 70% das mulheres começam a trabalhar no campo com menos de 14 anos. “Quem vai conseguir alcançar essa idade (65), considerando que é um trabalho penoso?”, questiona.
 
A rigidez das novas regras poderá fazer com que também os jovens urbanos se sintam pouco atraídos a contribuir para a Previdência, acredita o economista Eduardo Fagnani. “Está se disseminando a ideia de ‘se não vou usar, por que pagar?’”, comenta. Fatores como uma saída do público jovem da base de contribuintes e mudanças nas relações de trabalho que levam à menor formalidade, como a terceirização, podem causar “queda brutal” da receita. Ele lembra que a Previdência é sustentada pelo trabalhador ativo, pela sociedade e “sobretudo pelo governo”, aproveitando para contestar afirmação corrente de que o sistema se torna inviável porque há, progressivamente, menos pessoas na ativa e mais inativos.
 
Falta diálogo
 
Quem também contesta os dados do governo é o presidente da Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Vilson Antonio Romero. “O governo dá uma pedalada na Constituição e faz uma contabilidade criativa”, afirma sobre o falado “rombo” da Previdência.
 
Segundo ele, com todas as fontes de financiamento previstas para manutenção da seguridade social, o sistema não tem déficit. Mas desde 1994, com a criação do Fundo Social de Emergência, a atual Desvinculação de Receitas da União (DRU), o governo passou a contar com um “instrumento de tunga”, como ele define, citando o uso para outros fins da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), além de renúncias previdenciárias, incluindo desonerações da folha de pagamento e entidades filantrópicas.
 
Romero concorda que o setor rural é fator de preocupação, mas discorda do ônus para o trabalhador. “Temos de chamar o agronegócio a contribuir.” Outra fonte de recursos estaria na venda de imóveis, que representam anualmente bilhões em manutenção e outras despesas. “A Previdência Social é a maior imobiliária do Brasil. E não aliena isso”, afirma o presidente da Anfip, defendendo ainda aperfeiçoamento do combate à sonegação.
 
Está faltando diálogo, diagnosticou o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Peter Poschen. Para ele, o debate sobre a Previdência precisa ser aprofundado para que resulte em uma reforma “justa e equilibrada”, já que se trata de um tema complexo e que afetará a atual geração e as próximas. Essa discussão precisa ser feita com todos os agentes sociais e com o maior número de informações. “Nossa percepção é que, nesse sentido, ainda falta muito.”
 
Sobre a PEC 287, ele vê uma “lógica fiscal, no sentido de conter gastos”, mas afirma que é preciso considerar outros aspectos, inclusive em termos de manutenção da formalidade, para que isso não represente perdas – inclusive fiscais – no futuro. “Isso requer uma decisão da sociedade”, observa o diretor da OIT. Ele considera a Convenção 102 da OIT, ratificada pelo Brasil, “uma boa âncora para o debate” – essa norma trata de critérios básicos para regimes de seguridade social, em relação a contribuições, pagamentos e governança.
 
Entre os princípios básicos da OIT, está a cobertura universal do sistema, com base na solidariedade social. Um levantamento da organização mostra tendência mundial de expansão da cobertura previdenciária, embora metade dos idosos ainda não receba benefícios. A maioria dos países têm sistemas públicos. Alguns desistiram da privatização. Um dos modelos mais conhecidos, o do Chile, é hoje objeto de questionamento. “Há uma grande discussão sobre o que fazer com o sistema privado, que se tornou impopular”, diz o especialista da OIT Fabio Durán.
 
Está na PEC 287
 
• Para a concessão da aposentadoria, será preciso ter pelo menos 65 anos de idade e no mínimo 25 anos de contribuição. A aposentadoria por contribuição será extinta. Atualmente, no regime geral, é necessário ter 65 anos (homens) ou 60 anos (mulheres) e 15 anos de contribuição.
 
• Está prevista uma regra de transição, para homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 45 anos. Eles teriam de pagar um “pedágio” equivalente à metade do tempo de contribuição que resta para a aposentadoria. Se faltam cinco anos, por exemplo, teriam de trabalhar mais dois anos e meio.
 
• Além do “pedágio”, eles teriam as regras de cálculo para a aposentadoria já alteradas. Assim, em vez da média de 80% dos maiores valores de contribuição, esse trabalhador receberia o equivalente a 51% da média (desde julho de 1994) mais 1% por ano de contribuição. Em um exemplo mais repetido, teria de trabalhar durante 49 anos seguidos para conseguir a aposentadoria integral. Em qualquer caso, perde receita.
 
• Também cairiam os valores dos benefícios, tanto para servidor vinculado ao RPPS (regime próprio) como para o segurado do RGPS (regime geral). A PEC desvincula benefícios do salário mínimo. Segundo o Dieese, as pensões concedidas com valor de um mínimo correspondiam, em 2015, a 55% do total e por 36% do montante pago.
 
• O Dieese dá exemplos de uma professora da educação básica e de uma trabalhadora rural com 44 anos de idade na data de promulgação da emenda constitucional (caso a PEC seja aprovada). Nesse caso, elas não serão contempladas pela regra de transição e terão de trabalhar 10 anos a mais: em vez de 11, 21 anos. A proposta suprime diferenças entre homens e mulheres nos critérios de idade e tempo de contribuição.