Do Valor:
Com a possibilidade de o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva concorrer novamente à Presidência da República, a
disputa pelo cargo em 2018 poderá ter um componente eleitoral inédito, sugere
uma pesquisa qualitativa feita pela empresa Ideia Inteligência com
exclusividade para o Valor: "saudades".
Ao explorar os argumentos e as
justificativas de um grupo selecionado de eleitores que andam afastados do PT,
mas declaram intenção de votar no petista, o levantamento identificou
reiterados sinais de um sentimento de nostalgia em relação à sua gestão, de
2003 a 2010. Eleitores não ideológicos que estariam dispostos a guiar a escolha
baseados em boas lembranças daquele governo. Lembranças associadas,
principalmente, a aspectos econômicos.
O estudo qualitativo não tem valor
estatístico. Seus resultados não podem ser projetados para o conjunto do
eleitorado ou interpretados como síntese de opiniões do grupo social
investigado. Mas dão pistas a respeito do que pode estar passando pela cabeça
de uma parcela dos brasileiros que tem alimentado o crescimento do petista nas
pesquisas quantitativas.
Em dezembro, num levantamento
quantitativo com 2.828 entrevistas e margem de erro de dois pontos, o Datafolha
mostrou que Lula é líder isolado em todos os cenários de primeiro turno. Apesar
do noticiário francamente desfavorável em 2016, com a Lava-Jato em seu encalço,
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e derrota do PT nas eleições
municipais, as intenções de voto no ex-presidente cresceram, enquanto a taxa de
rejeição ao seu nome apresentou tendência de recuo. Em seu melhor cenário, Lula
pulou de 17% em março para 26% em dezembro (confira nos gráficos abaixo). Em
simulações de segundo turno, só perdeu para a sua ex-ministra Marina Silva
(Rede).
Para tentar entender que tipo de
fenômeno pode estar sustentando esse desempenho, a empresa Ideia reuniu um
grupo específico de eleitores declarados do petista e promoveu uma discussão de
uma hora e meia, estimulada por um profissional habilitado. Trata-se de uma
técnica muito usada por marqueteiros para captar motivações subjetivas de
segmentos de eleitores e orientar rumos publicitários de campanhas eleitorais.
O grupo era composto por dez pessoas,
que receberam uma gratificação em dinheiro pela participação, lanche e
refrigerante. Optou-se por eleitores das classes C e D de regiões periféricas
de São Paulo, de 25 a 55 anos, que não são filiados ou militantes do PT, mas
que, embora possam ter restrições ao partido, declaram intenção de votar em
Lula numa nova eleição presidencial.
Os eleitores selecionados, conforme
ficou demonstrado na sessão, têm interesse por política, mas são pouco
informados e nutrem forte rejeição a partidos. Usam como fontes de informação o
Facebook e a televisão, principalmente Globo e Record. Todos já votaram em Lula
pelo menos uma vez, mas nenhum votou pela reeleição do ex-prefeito de São Paulo
Fernando Haddad (PT) no ano passado. Mais da metade declarou voto no tucano
João Doria, três anularam, um foi de Celso Russomanno (PRB). O nome do deputado
Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que ensaia o lançamento de uma candidatura
presidencial, despertou visível interesse nos homens, mas também imediata
rejeição entre as mulheres.
No grupo em que só um disse não ter
apoiado o impeachment de Dilma, a figura política de Lula foi reverenciada. A
discussão em torno de seu nome, conforme assinalam os pesquisadores, é embalada
por “forte apelo emocional”, movida por um sentimento de “gratidão extrema,
ligada à sensação de boa situação financeira (…) que marcou os governos Lula na
memória dos entrevistados”. A pesquisa ocorreu uma semana antes da morte da
mulher de Lula, a ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Um dos aspectos mais destacados pelos
participantes foi o do trabalho, realçado várias vezes durante a sessão. “Havia
um equilíbrio entre as coisas, a taxa de desemprego era muito baixa. No governo
dele eu arrumava emprego fácil, mesmo sendo menor de idade”, afirmou um dos
participantes. “Antes eu escolhia a empresa que eu queria trabalhar”, completou
outro. “Era um governo que todo mundo gostava, você não via ninguém fazer
baderna”, resumiu mais um. “Só quem não gostou da administração dele foi o
pessoal da classe A. Muita gente começou a ter opção e salário melhor e parou
de se sujeitar para os patrões.”
(…)
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