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quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Dia dos professores: pouco a comemorar, muito a construir
Viva Paulo Freire, um grande professor brasileiro!, por Rômulo Moreira
Ao falar sobre Educação, Paulo Freire partia de um pressuposto segundo o qual “não há docência sem discência”, pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”
*Por Rômulo Moreira
Hoje, Dia do Professor e da Professora, lembro de Paulo Freire, um grande educador brasileiro. Aliás, “a influência de Paulo Freire na Alemanha é muito grande. Ele é visto como um dos grandes nomes da pedagogia, ao lado de Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau, Rudolf Steiner e Maria Montessori. Ainda hoje os livros dele são muito usados em universidades, há inúmeros trabalhos universitários que utilizam as obras dele“, segundo afirma Heinz-Peter Gerhardt, Doutor em Educação pela Universidade de Frankfurt.[1]
Dentre as suas inúmeras obras, destaco as minhas preferidas: “Pedagogia da Autonomia”, “Pedagogia do Oprimido” e “À sombra desta Mangueira”, além de um “livro falado” – “O Caminho se faz Caminhando: Conversas sobre Educação e Mudança Social”, transcrição de um longo e proveitoso diálogo entre Paulo Freire e Myles Horton, educador americano, co-fundador, em 1932, da Highlander Folk School e militante no Movimento de Direitos Civis, figura que influenciou, dentre outros, Martin Luther King. A “Pedagogia do Oprimido” é a única obra brasileira a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa, consideradas pelo projeto Open Syllabus.[2]
Ao falar sobre Educação, Paulo Freire partia de um pressuposto segundo o qual “não há docência sem discência”, pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.” Para ele, ensinar não poderia ser uma mera transferência de conhecimento, mas, muito mais, uma criação de “possibilidades para a sua produção ou a sua construção.”
Freire não via o aluno/educando/aluna/educanda como um mero objeto do conhecimento do educador/educadora, sendo este apenas o sujeito do processo: um que é formado (e tomado por objeto), outro que forma (o sujeito). Ao contrário, esta relação não era de subordinação, mas de coordenação, devendo ficar claro “que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.”
Logo, docente e discente são, ambos, sujeitos do mesmo processo de conhecimento, não sendo um objeto do outro: “ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, homens e mulheres descobriram que era possível ensinar.” Paulo condenava o que ele chamava de “ensino bancário” em que “o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber.”
O ensino bancário, burocratizado, autoritário, insensível, acrítico, é típico de uma “ideologia da opressão”, em que o (a) educador (a) “será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem”, negando, por conseguinte, “a educação e o conhecimento como processos de busca.” Algo muito parecido com a tal ideia da “escola sem partido”, inconcebível com o fato de que “ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra.”
Portanto, trata-se de uma estupidez!, pensar em um espaço pedagógico neutro, “como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.” A concepção da chamada Escola sem Partido, desde um ponto de vista “dos interesses dominantes”, exige “uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades.” Freire falava na “politicidade da educação, ou seja, a qualidade de ser política, inerente à sua natureza.”
Ele pregava a educação “problematizadora e libertadora”, na qual o (a) educador (a) é, antes de tudo, um “humanista, revolucionário”, crente não em seu saber absoluto e onipotente, mas, ao contrário, crente nos homens e “no seu poder criador”, sendo um verdadeiro “companheiro dos educandos, em suas relações com estes.” Na Educação bancária revela-se a natureza opressora do ensino e do ensinar, obstaculizando “a atuação dos homens como sujeitos de sua ação, como seres de opção, frustrando-os.”
Já na Educação problematizadora, respeita-se, sobretudo, a autonomia e a dignidade do (a) educando (a), privilegiando a crítica e o diálogo. Este respeito erige-se como um “verdadeiro imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.” O espaço da escola, portanto, é, especialmente, um espaço de crítica e de diálogo permanente e dinâmico, “prática fundamental à natureza humana e à democracia”, uma verdadeira “exigência epistemológica.”
Aqui, e não lá, incentiva-se durante todo o processo educador a criatividade, a rebeldia, a insubmissão e a curiosidade (não a “curiosidade ingênua – que caracteriza o senso comum”, mas a “epistemológica”). A (o) educanda (o) deve ser estimulada (o) constantemente a exercer a “sua capacidade de arriscar-se, de aventurar-se”, imunizando-a (o), assim, “contra o poder apassivador do ´bancarismo`.”
O aprender e o ensinar são tarefas que exigem este dinamismo decorrente do aprender e do ensinar com uma visão crítica e sempre reflexiva. Não há espaço para meros “depositantes” de conhecimentos e, consequentemente, de “depositários” de saberes. O espaço onde alguém ensina (aprendendo) e outro aprende (ensinando) deve ser libertador, não alienante, mas uma libertação autêntica: “não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo.” Não se trata de uma liberdade sem limite, óbvio que não!, pois “não é possível autoridade sem liberdade e esta sem aquela.”
Na Educação problematizadora educadores e educandos devem, todos!, ser “instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.” “Um aventureiro responsável”! Aqui, a professora ou o professor não confunde autoridade com autoritarismo, liberdade com licenciosidade. A autoridade mostra-se na “segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que decide, com que respeita as liberdades, com que discute suas próprias posições, com que aceita rever-se.”
No diálogo com Myles (acima referido) o educador americano afirma que usava as “perguntas mais do que qualquer outra coisa”, pois “a razão pela qual você fez a pergunta é porque você sabe algo.” Assim, “redescobriu o que sabia há muito tempo, ou seja, que uma das melhores maneiras de educar é fazer perguntas, o que não é praticado muito extensivamente na vida acadêmica.”
Uma outra grande e valiosa lição de Freire é a que afirma tratar-se o ser humano de um sujeito inacabado e inconcluso. Aliás, “o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida há inacabamento.” O ser humano, enquanto ser inacabado, rejeita a “inexorabilidade do futuro” e o determinismo fatalista típico do discurso neoliberal: “pragmático e reacionário.”
Também a esperança não foi omitida dos textos de Paulo Freire, para quem aquela “faz parte da natureza humana”, razão pela qual devemos sempre lutar para “diminuir as razões objetivas para a desesperança que nos imobiliza.” Ele não concebia, e achava mesmo uma contradição, “que uma pessoa progressista, que não teme a novidade, que se sente mal com as injustiças, que se ofende com as discriminações, que se bate pela decência, que luta contra a impunidade, que recusa o fatalismo cínico e imobilizante, não seja criticamente esperançosa.”
Enfim…, muita coisa ainda haveria para se dizer sobre a genialidade de Paulo Freire, um educador que se negava, tal como Simone de Beauvoir, a “arrastar consigo, para a morte, a humanidade inteira.” Não se tratava de um educador burguês que profetizava “o naufrágio universal.” Seu pensamento não era, portanto, como se referia Beauvoir, “catastrófico e vazio.”[3]
Um homem que pregava o diálogo, inclusive, e principalmente, na sala de aula. Um sujeito que se indignava com a miséria e com a pobreza; era solidário, empático e afável, e detestava o autoritarismo, razão pela qual foi perseguido e preso pela ditadura militar. Abominava a tortura e os torturadores.
*Rômulo de Andrade Moreira – Procurador de Justiça no Ministério Público do Estado da Bahia e Professor de Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade Salvador – UNIFACS
[1] GERHARDT, Heinz-Peter. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2019/04/26/metodo-paulo-freire-e-utilizado-para-integracao-de-refugiados-na-alemanha.htm, acessado em 15 de outubro de 2020.
[2]http://g1.globo.com/educacao/noticia/2016/02/so-um-livro-brasileiro-entra-no-top-100-de-universidades-de-lingua-inglesa.html, acessado em 17 de fevereiro de 2016.
[3] O Pensamento de Direita, Hoje, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972, página112.
Fonte: Publicado no Jornal GGN
Dia dos Professores: Nas trincheiras do Brasil por liberdade e democracia, por Henrique Rodrigues
Não abaixe a cabeça. Tenha a humildade dos justos e a persistência dos fortes. Orgulhe-se de cada batalha. Educar é uma luta pela liberdade do indivíduo e por uma sociedade com pensamentos sem amarras. Lute como um professor!
Saúdo os professores brasileiros neste 15 de outubro. Faço-o também como professor, mas em especial como cidadão.
Em cada palmo de chão do Brasil, nós estamos lá. Com salários maiores ou menores, nós estamos lá. Com mais ou menos liberdade, nós estamos lá. Na paz ou na violência das ruas e comunidades, nós estamos lá.
Esta onipresença é a arma que garante nossa própria existência indispensável. Conhecemos cada drama, cada riso e cada lágrima. As agruras e alegrias de cada jovem, pobre ou rico, longe ou perto.
Em todos esses anos, circulando pelos rincões do Brasil, sertões afora, sempre notei a existência inequívoca de duas coisas: a miséria e as escolas.
Se há escolas, há professores.
Os tempos são duros e a resistência pretérita dos grandes homens e mulheres de nossa educação precisa ser relembrada todos os dias, como método de sobrevivência e combustível para a motivação.
Ser desprezado, não valorizado, estigmatizado, perseguido e servir de bode expiatório para todo o acervo de mazelas de nossa história não é algo novo, tampouco exclusividade dos tempos sombrios contemporâneos.
Apedrejar professores é prática mais velha que andar pra frente no Brasil. O extraordinário Graciliano Ramos, romancista alagoano neorrealista dos anos 30, autor de ‘Vidas Secas’, que exerceu o magistério e foi diretor de Instrução Pública em sua terra natal, após promover uma verdadeira revolução educacional no cargo, dando bônus salarial aos professores, aumentando repasses de verbas às unidades, criando uniformes escolares para crianças que pareciam farrapos humanos e reformando toda a estrutura física da rede, ganhou como prêmio uma prisão arbitrária nos porões imundos do Estado Novo Varguista, em 1.936, ainda que o regime só fosse iniciado formalmente no ano seguinte. Foi implacável com seus algozes, imortalizando seu sofrimento e as injustiças sofridas no doloroso ‘Memórias do Cárcere’.
“A crise da educação brasileira não é uma crise, é um projeto”. O autor desta elucubração, o antropólogo e educador Darcy Ribeiro, que teve papel importantíssimo na elaboração das políticas educacionais do país no século XX, sobretudo em relação à escola pública, e que foi o homem forte na reformulação de inúmeras universidades brasileiras antes e após os Anos de Chumbo, também é o autor de uma outra frase muito conhecida, que profetizou uma realidade com a qual nos confrontamos hoje:
“Se nossos governantes não fizerem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construírem presídios.”
As prisões estão aí, superlotadas e insuficientes, enquanto o esvaziamento dos esforços para um sistema educacional mais abrangente e universal segue de vento em popa, sem dar trégua.
É a lógica do sistema. Àqueles a quem se negou os livros, hoje lhes oferecemos as celas.
O mais impressionante é que todo o alarido delirante de 50 anos atrás aparece de volta e a cólera do obscurantismo não procurou outro culpado na caça às bruxas típica da paranoia dos parvos. O alvo não mudou e somos nós, os professores, que mais uma vez servimos de boi de piranha na fogueira santa que pretende exorcizar o atraso nacional com mais atraso e estupidez.
Como condição inegociável devemos exigir a liberdade. Não a suposta liberdade travestida de “doutrinação ideológica” que todo gorila limítrofe aponta com o dedo em riste, mas sim o pleno exercício do pensamento emancipador.
A nossa luta deve ser por uma Educação que se espelhe nos cânones civilizacionais da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), com liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, marcada pelo pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, respeito à liberdade e apreço à tolerância, orientada pelo respeito mútuo, pela justiça, pelo diálogo e solidariedade, assegurando os Direitos Humanos e a cidadania.
Não abaixe a cabeça. Tenha a humildade dos justos e a persistência dos fortes. Orgulhe-se de cada batalha. Educar é uma luta pela liberdade do indivíduo e por uma sociedade com pensamentos sem amarras. Lute como um professor!
Na pandemia, com o mundo desabando sobre nossas cabeças, fomos nós a dar o pontapé inicial dessa corrida louca que nos exigiu reinvenção e superação a toque de caixa. Muitos encamparam o desafio desgastante do ensino remoto, enquanto tantos outros ficaram largados no ócio do esquecimento por culpa de autoridades públicas que não forneceram condições dignas para a empreitada.
Neste 15 de outubro, reflita sobre o Brasil que queremos e entenda que ele inevitavelmente terá que passar por nós.
A todos que contribuem com nossa missão e que reconhecem os percalços e dificuldades de nosso cotidiano, um imenso agradecimento.
Seguimos na luta. Desistir é algo que desconhecemos.
*Jornalista e professor de Literatura Brasileira.
O sentimento fálico dos “membros“ do Judiciário e MP, por Giselle Mathias
Os “membros” do Poder Judiciário e do MP agem como se fossem o próprio poder e por este motivo não aceitam ser criticados ou questionados sobre suas condutas, valores e códigos morais na vida profissional e particular.
Por Giselle Mathias | Justiça - GGN
No início de outubro o jornal Folha de São Paulo publicou matéria sobre os penduricalhos da magistratura e do Ministério Público, demonstrando o gasto absurdo que o Estado brasileiro tem com essas categorias.
Além dos altos salários os tribunais, principalmente, os estaduais e militares criam auxílios para permitir ganhos que exacerbam, e muito, o ganho médio do servidor público.
As associações de magistrados defendem o ganho e o justificam por não serem considerados “servidores públicos”, visto que possuem vitaliciedade como garantia de independência. No entanto, aparentemente, usam a garantia de independência como meio de se colocarem acima do Estado e de toda a sociedade, beneficiando-se da vitaliciedade para garantir altas remunerações, e impor a todos seus conceitos conservadores, além de interferir diretamente na política e na gestão do Estado, sem que tenham sido eleitos para tanto.
Absurdamente, as declarações de juízes, procuradores e promotores sempre estão permeadas por uma soberba, como se aqueles que ocupam esses cargos estivessem acima das falhas humanas, e, portanto, seriam ungidos de uma isenção e princípios éticos quase divino, que os permitisse ditar suas regras, inclusive, em total afronta Às leis e princípios do Direito.
Os “membros” do Poder Judiciário e do MP agem como se fossem o próprio poder e por este motivo não aceitam ser criticados ou questionados sobre suas condutas, valores e códigos morais na vida profissional e particular. Hoje, alguns “membros” do judiciário e do MP, após a alta exposição midiática das últimas décadas, passaram a se considerar o próprio Estado, ungidos por uma entidade, pois estão acima do povo e da sociedade, e possuem como missão conduzi-los para o “bem”. Afinal, o povo não sabe votar, não sabe o que precisa e nem sabe como se conduzir moralmente.
Talvez seja necessário pensar para além da construção cultural oligárquica que forma o Poder Judiciário e MP, refletindo sobre o que representa simbolicamente essas categorias serem classificadas como “membros”, e, não, simplesmente, como servidores públicos que possuem algumas prerrogativas em razão da função exercida.
Segundo Juan David Nasio, psicanalista argentino, “não devemos nos esquecer, simplesmente, de que somos sempre, como sujeitos, efeitos do significante”. E a partir da fala de Juan David Nasio pode-se entender que a definição de “membro” do Poder judiciário e MP represente, na construção simbólica, a equiparação de magistrados, procuradores da República e promotores A divindades fálicas de tempos remotos, as quais representavam a proteção e a agressividade, aquelas que perpetuavam a vida e neutralizam as coisas ruins.
E como divindades fálicas, enquanto “membros”, representativas do patriarcado, do poder, a partir da castração simbólica da sociedade, e da crença de serem os únicos detentores dos valores morais e de uma falsa isenção humana, esses homens e mulheres consideram estar além do bem e do mal, sem que por isso possam ser julgados ou questionados em qualquer espaço.
A construção simbólica dos sujeitos enquanto “membros” vitalícios do Sistema Judicial os transformou em uma casta de intocáveis, que não estão sujeitos Às normas e regras estabelecidas para os cidadãos. Os “membros”, enquanto divindades fálicas, decidem o que serve ou não a essa sociedade de mortais infantilizados, determinando, inclusive, a partir de suas crenças, o crime a partir do sujeito e não do tipo penal descrito na norma; usando como justificativa a “livre interpretação”, pois acreditam que não estão sujeitos às normas e aos princípios do Direito, mas apenas a sua própria divindade, que dizem ser a consciência.
Acreditam tanto em sua superioridade que defendem receber do Estado ganhos abusivos, sem considerar as condições de desigualdade do país; defendem a “meritocracia” e o sistema capitalista, e não abrem mão de serem sanguessugas dos recursos estatais, através de inúmeros penduricalhos financeiros.
Portanto, não há possibilidade de retomada do processo Democrático neste país enquanto não houver uma reforma profunda no Sistema Judicial brasileiro, enquanto não se fizer uma critica contundente e análise profunda de como esse sistema é constituído cultural, sociológica e ATÉ psicanaliticamente. O primeiro passo, talvez, seja defini-los como servidores públicos, e, não como “membros”, divindades fálicas, detentoras do destino humano.
terça-feira, 13 de outubro de 2020
Exclusão por interesse? Política de educação especial de Bolsonaro tem por trás 'disputa de recursos por escolas'
Crítica às classes especializadas é da psicóloga Isabel Rodrigues. Movimentos de pessoas com deficiência se articulam pela revogação de decreto
Por Redação RBA
Para a psicóloga, pedagoga e doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Isabel Rodrigues, a nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE), apresentada pelo governo Jair Bolsonaro para estudantes com deficiência, tem por trás “uma disputa por recursos” entre “instituições segregadoras que são nomeadas como escolas especiais”. Publicada em decreto (nº 10.502) no final de setembro, a medida é vista como uma ameaça à educação inclusiva, prevista em lei desde 2009.
Em entrevista a Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, Isabel, que é também assessora do Instituto Vladimir Herzog (IVH), destaca que a nova política extingue a ideia de educação inclusiva ao propor que classes especializadas conduzam a aprendizagem de estudantes com deficiência. O que, na prática, são espaços institucionais à parte da escola regular, onde essas pessoas não vão ter seus direitos garantidos.
“Não tenho dúvida de que uma das intenções seja destinar parte dos recursos a instituições que antes recebiam pela via da saúde, da assistência social e da educação os recursos para existirem. E a partir de 2008, com a proposta da educação inclusiva, elas perderam grande parte do recurso da educação. Desde então há algum tipo de pressão para se retornar a um nível de financiamento”, afirma a psicóloga e pedagoga.
Articulação
Conforme reportado pela RBA, desde que foi anunciada pelo presidente, a medida é alvo de inúmeras críticas de entidades e movimentos das pessoas com deficiência. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, há ao menos seis projetos de decreto legislativo (PDL) que pedem sua suspensão. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também apresentou o PDL 437 no Legislativo para sustar os efeitos do decreto.
Em paralelo, os ministérios públicos de São Paulo e Paraná também destacam que a nova PNEE é inconstitucional. E representa um retrocesso do ponto de vista legal. Isso porque há uma “confusão” entre a oferta do direito à educação com a oferta do direito à educação especializada. O que reduz a participação das pessoas com deficiência na educação. Na prática, a medida de Bolsonaro está longe de garantir o acesso à educação regular ao propor como modalidade de ensino as chamadas classes especializadas.
De acordo com Isabel, devido à pressão contrária ao decreto, movimentos e entidades já conseguiram um requerimento de urgência para votação na Câmara. “Agora é necessário que o (presidente da Câmara) Rodrigo Maia paute e o decreto seja revogado”, comenta. Pelas redes sociais, apoiadores também emplacam hashtag #EscolaEspecialNãoÉInclusiva.
Contra as barreiras
“A gente sabe pelo histórico dessas instituições que as características que elas desenvolvem estão mais localizadas no campo da saúde do que da educação. Essas instituições tiveram seu papel histórico na época em que não existiam políticas públicas de acesso e garantia de direitos dessa população”, observa a psicóloga e pedagoga sobre o período anterior ao decreto 6.949 de 2009. A medida foi a que deu força de lei à Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, assinada por 160 países dois anos antes.
“A partir de convenção, ratificada no Brasil com status constitucional desde 2009, ela procura garantir uma mudança de perspectiva de um modelo médico, que localizava a deficiência no corpo da pessoa, para um modelo social. Então deficiência não é algo que a pessoa sofre ou porta. Ela está localizada no encontro da pessoa com a sociedade. A sociedade promove barreiras para essas pessoas. A pessoa que é usuária de cadeiras de rodas e não encontra rampas pela cidade, ela vai estar mais excluída do que uma pessoa que mora numa cidade em que a acessibilidade está garantida em todos os prédios. Da mesma forma é a escola”, compara Isabel, reforçando a importância da inclusão na escola regular.
“Ofertar a produção de recursos de acessibilidade, romper com barreiras que possam existir e proporcionar a aprendizagem dessas crianças com deficiência com as crianças sem deficiência no mesmo espaço”, finaliza.
Fonte: Publicado na Rede Brasil Atual (RBA)
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
DW: Violência policial explode na América Latina, por Ines Eisele
sábado, 10 de outubro de 2020
Ninguém segura a boiada de Tereza Cristina, por Moisés Mendes
Não é brincadeira. A boiada de Cristina avança há muito tempo sobre pastos, árvores, rios, bichos e índios.
Por Moisés Mendes
Se o Pantanal tivesse mais boi pastando, haveria menos incêndios. A maioria ri de uma tese ‘científica’ desse porte. Mas muita gente não ri, porque a bobagem é uma mensagem.
A tese da ministra Tereza Cristina sobre o boi-bombeiro tem coerência com as histórias esdrúxulas de Damares, de Ernesto Araújo, dos filhos de Bolsonaro e do próprio Bolsonaro.
A especialidade do governo é produzir besteiras. Mas o boi-bombeiro não é da mesma família da Terra plana, não é a mesma coisa.
Parece engraçado, e de fato é, mas é na verdade um produto de outra ala da fábrica de barbaridades do governo. Tereza Cristina é integrante da turma ‘racional’ do governo.
A racionalidade da sua tese é da mesma linha dos raciocínios de Ernesto Araújo e seu anticomunismo obsessivo no Itamaraty, de Milton Ribeiro e seu moralismo na Educação, de Ricardo Salles e seu poder destruidor no Meio Ambiente. Todos já tiveram o seu boi-bombeiro, ou o seu boibeiro.
Uma ministra diz publicamente, e não numa roda de conversa, que o pasto mais ralo evitaria incêndios, e na sequência os jornais saem a ouvir os cientistas.
A reação dá sentido à sua fala e a eleva à condição de controvérsia. Mas não se enganem. O boibeiro não é o terraplanismo de Tereza Cristina.
Não é uma bobagem que aparentemente só fomenta ignorâncias. É uma tentativa de colocar o boi na conversa.
O boibeiro é mais um esforço para que abram todas as porteiras e deixem passar a boiada. O que ela disse é: encham o Pantanal de bois, como estão fazendo com a Amazônia.
É preciso baixar o pasto, com mais boi comendo o que estiver pela frente, porque o fogo não gosta de pasto ralo.
Se der, além do pasto, que cortem arbustos e árvores, que tirem do fogo o pretexto para que avance e destrua o Pantanal.
Sem pasto, sem árvores e sem bichos selvagens. O Pantanal poderá ser salvo e se transformar numa imensa invernada.
Tereza Cristina está mandando recados. Está dizendo aos fazendeiros que eles devem tomar conta do Pantanal, onde houver pasto. É o governo quem diz.
Ah, mas cientistas e ambientalistas não recomendam. Os cientistas apenas dizem o que pensam. Quem manda é o governo. E Tereza Cristina está mandando: passem a boiada, porque é o que eu e Bolsonaro desejamos.
Tereza Cristina não é uma Damares. O que Damares tem é um rebanho religioso. A ministra tem rebanhos de bois e de fazendeiros.
Não é brincadeira. A boiada de Cristina avança há muito tempo sobre pastos, árvores, rios, bichos e índios.
Fonte: Publicado no Blog do Moisés Mendes
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
Escola Especial não é inclusiva, por Ana Laura Prates
sábado, 3 de outubro de 2020
A História espera Celso de Mello, por Moisés Mendes
O baú de penas, por Fernando Brito
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
Homenagem a Quino
Cartunistas homenageiam a Joaquín Salvador Lavado Tejón, conhecido como Quino e criador da personagem Mafalda, que morreu nesta quarta-feira (30), aos 88 anos.
Por Renato Aroeira
Por Toni D'Agostinho
Por Bira Dantas
Por Paulo Batista
Por Carlos Latuff