Não é brincadeira. A boiada de Cristina avança há muito tempo sobre pastos, árvores, rios, bichos e índios.
Por Moisés Mendes
Se o Pantanal tivesse mais boi pastando, haveria menos incêndios. A maioria ri de uma tese ‘científica’ desse porte. Mas muita gente não ri, porque a bobagem é uma mensagem.
A tese da ministra Tereza Cristina sobre o boi-bombeiro tem coerência com as histórias esdrúxulas de Damares, de Ernesto Araújo, dos filhos de Bolsonaro e do próprio Bolsonaro.
A especialidade do governo é produzir besteiras. Mas o boi-bombeiro não é da mesma família da Terra plana, não é a mesma coisa.
Parece engraçado, e de fato é, mas é na verdade um produto de outra ala da fábrica de barbaridades do governo. Tereza Cristina é integrante da turma ‘racional’ do governo.
A racionalidade da sua tese é da mesma linha dos raciocínios de Ernesto Araújo e seu anticomunismo obsessivo no Itamaraty, de Milton Ribeiro e seu moralismo na Educação, de Ricardo Salles e seu poder destruidor no Meio Ambiente. Todos já tiveram o seu boi-bombeiro, ou o seu boibeiro.
Uma ministra diz publicamente, e não numa roda de conversa, que o pasto mais ralo evitaria incêndios, e na sequência os jornais saem a ouvir os cientistas.
A reação dá sentido à sua fala e a eleva à condição de controvérsia. Mas não se enganem. O boibeiro não é o terraplanismo de Tereza Cristina.
Não é uma bobagem que aparentemente só fomenta ignorâncias. É uma tentativa de colocar o boi na conversa.
O boibeiro é mais um esforço para que abram todas as porteiras e deixem passar a boiada. O que ela disse é: encham o Pantanal de bois, como estão fazendo com a Amazônia.
É preciso baixar o pasto, com mais boi comendo o que estiver pela frente, porque o fogo não gosta de pasto ralo.
Se der, além do pasto, que cortem arbustos e árvores, que tirem do fogo o pretexto para que avance e destrua o Pantanal.
Sem pasto, sem árvores e sem bichos selvagens. O Pantanal poderá ser salvo e se transformar numa imensa invernada.
Tereza Cristina está mandando recados. Está dizendo aos fazendeiros que eles devem tomar conta do Pantanal, onde houver pasto. É o governo quem diz.
Ah, mas cientistas e ambientalistas não recomendam. Os cientistas apenas dizem o que pensam. Quem manda é o governo. E Tereza Cristina está mandando: passem a boiada, porque é o que eu e Bolsonaro desejamos.
Tereza Cristina não é uma Damares. O que Damares tem é um rebanho religioso. A ministra tem rebanhos de bois e de fazendeiros.
Não é brincadeira. A boiada de Cristina avança há muito tempo sobre pastos, árvores, rios, bichos e índios.
Fonte: Publicado no Blog do Moisés Mendes
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