Quem vê as fotos do mar de luzes nos protestos de Budapeste (acima)
pode associá-lo até a um sereno espetáculo de Natal. Mas as pessoas
reunidas na noite desta segunda-feira (17/12) na capital da Hungria,
pelo quinta dia consecutivo, não seguravam velas, mas smartphones – e
sua mensagem não era religiosa, mas política.
Elas cobram do presidente Viktor Orbán que ele revogue uma lei que
possibilita a empregadores exigir de seus funcionários até 400 horas
extras por ano, e pagar por elas apenas três anos depois. Desde a
votação na última quarta-feira no Parlamento, cada vez mais pessoas se
mobilizam contra essa “lei dos escravos”. Em várias ocasiões, houve
tumultos violentos, embora as marchas tenham começado pacíficas.
No domingo, por exemplo, os protestos permaneceram
inicialmente pacíficos, para mais tarde a polícia usar novamente gás
lacrimogêneo. Com 10 mil, talvez 15 mil participantes, esse foi o ápice
de uma onda de protestos que até agora não se tinha visto durante os
oito anos de mandato de Orbán na Hungria.
Na França, os chamados “coletes amarelos” também levam a uma
avaliação similar. O acirramento do clima político parece ter chegado às
ruas europeias.
Hungria: “Fora Orbán”
Com seus clamores, muitos manifestantes expressaram que, para eles, o
que está em jogo é mais do que a lei de horas extras ou a política
social de seu primeiro-ministro. Sob Viktor Orbán, os trabalhadores
perderam cada vez mais direitos, enquanto as empresas viram as suas
posições reforçadas.
Há também descontentamento com as medidas de Orbán contra os sem-teto
e os migrantes, como também contra sua ação de resgate do
ex-primeiro-ministro da Macedônia Nikola Gruevski, que foi preso em seu
país de origem e recebeu asilo político de emergência na Hungria.
Sérvia: violência estatal
Em Belgrado, capital da Sérvia, milhares de pessoas foram às ruas
neste fim de semana. Como nos protestos em massa contra o regime
Milosevic nos anos 1990, muitas delas deram desabafo à sua ira contra o
governo com apitos e buzinas.
O estopim dos protestos atuais foi um ataque brutal ao líder
esquerdista sérvio Borko Stefanovic. Homens em camisas pretas espancaram
e feriram gravemente o político com uma barra de ferro, no final de
novembro na cidade de Krusevac, no sul do país.
O presidente Aleksandar Vucic condenou o ataque. Os autores foram
capturados. No entanto, a oposição continua culpando a dura retórica de
Vucic pelo clima de violência no país.
Albânia: mais que taxas universitárias
Na Albânia, desde o início do mês, os universitários estão
protestando por uma redução nas anuidades. Nas universidades estatais,
as taxas variam entre 160 e 2.560 euros. A renda média mensal no pobre
país dos Bálcãs é de apenas 350 euros.
No entanto, os manifestantes na capital Tirana e em várias outras
cidades albanesas estão se voltando cada vez mais de forma mais
generalizada contra o governo do primeiro-ministro Edi Rama. Com
bloqueios de estradas, por exemplo, eles chamam a atenção para a pobreza
generalizada no país e para os altos preços da gasolina.
França: a força dos “coletes amarelos”
Com bloqueios de estradas devido aos altos preços da gasolina,
começou na França, há algumas semanas, o protesto dos “coletes
amarelos”.
A crescente manifestação em nível nacional perdeu em dinamismo após
as concessões feitas pelo presidente Emmanuel Macron e o atentado que
deixou cinco mortos em Estrasburgo. A dimensão dos protestos em Paris,
no último fim de semana, ficou muito abaixo das semanas anteriores.
O programa emergencial de bilhões de dólares, que prevê, entre
outros, um aumento de 100 euros no salário mínimo, traz dificuldades
orçamentárias para a França: em 2019, o país deverá fazer mais dívidas
do que o permitido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento na zona do
euro.
Seu principal objetivo inicial, que era o fim de um imposto ambiental
sobre os combustíveis fósseis, foi alcançado. No entanto, nas poucas
semanas de sua existência, o movimento gerou um enorme dinamismo e,
subitamente, expandiu-se fortemente para vários direcionamentos
políticos.
Esse crescimento rápido pode vir a ser fatal para o movimento, se os
objetivos das partes envolvidas divergirem de tal forma que elas não
possam mais concordar em torno de uma agenda comum.
A Europa unida em protesto?
“Na verdade, seria possível supor que este simbolismo dos “coletes
amarelos” – já que todos têm um no carro – pudesse se espalhar muito
rapidamente”, diz a especialista em protestos Sabrina Zajak. “Além
disso, há naturalmente insatisfação em muitos outros países europeus”.
Até agora, no entanto, ela está certa em sua avaliação de que os
protestos não se espalharam em grande escala. Depois de presenças
ocasionais dos “coletes amarelos” na Bélgica e na Holanda, o movimento
coletivo Aufstehen (Levantar-se), iniciado pela política esquerdista
alemã Sahra Wagenknecht, convocou no fim de semana uma grande
manifestação dos “coletes amarelos” em Munique. Segundo a polícia, no
entanto, apenas 100 pessoas participaram da manifestação na terceira
maior metrópole alemã. Até agora, a avaliação de Zajak foi confirmada:
“O protesto na França tem algo a ver com o contexto específico do país”.
Também os protestos no Leste Europeu se dirigiram até agora de forma
muito específica contra os governos locais. “Um movimento europeu de
protesto é possível no caso de preocupações transnacionais, como quando
está em jogo, por exemplo, a sobrevivência de setores profissionais – no
caso de pescadores, produtores de vinho ou fazendeiros”, diz por sua
vez o sociólogo Dieter Rucht à emissora pública alemã ZDF. “Mas o que se
observa em quase toda a Europa são níveis crescentes de
descontentamento e inquietação.”
No entanto, enquanto a política social e do mercado de trabalho são
temas nacionais, as mudanças climáticas não conhecem fronteiras. Nesse
sentido, há ao menos um pequeno movimento de protesto que está cada vez
mais comprometido com a Europa, a “greve escolar pelo clima”, que se
iniciou em meados do ano com um evento solo da sueca de 15 anos Greta
Thunberg.
Desde o seu discurso na Conferência do Clima da ONU (COP24) em
Katowice, um número crescente de escolares está fazendo parte desse
movimento em vários países europeus. Na última sexta-feira, centenas de
milhares de estudantes participaram em Berlim, Hamburgo, Munique,
Colônia, Kiel, Göttingen e outras cidades alemãs.