Por Frederico Firmo
A pauta ideológica constante colocada por este governo esconde a
realidade e nos obriga a debater quimeras e fantasmas. A Escola sem
Partido define um palco ideológico onde, sem dúvida, os defensores da
educação devem combater, porém ela é uma manobra diversionista. Enquanto
somos obrigados a entrar num debate absurdo, contra propostas
obscurantistas, o Conselho Nacional de Educação aprovou o novo programa
curricular, onde as escolas publicas deverão essencialmente lecionar
português, matemática e inglês. Deixando como optativas, que PODEM ou
NÃO serem oferecidas pelas escolas: física, química, biologia, e
praticamente extintas as humanidades: sociologia, história e filosofia.
Obviamente as optativas não serão oferecidas quando for conveniente.
Por exemplo, se houver dificuldade em encontrar um professor de
ciências, a adiministração escolar poderá alegando falta de professor e
simplesmente não oferecer. A falta de professores de Ciências para o
Ensino Médio é sobejamente conhecida. Esta carência levou os governos
anteriores a um enorme esforço para ampliar o número de professores,
criando vários cursos de licenciatura nas Universidades Federais,
Institutos Federais e através da criação do EAD, (Ensino a Distância),
para atingir áreas onde não havia universidades. que tinha como objetivo
central a formação de professores de Ciências para o Ensino Médio.
Esta decisão do Conselho Nacional, sucateia de forma definitiva a
escola pública. Como iremos estimular a formação professores de Física,
Química, Biologia, Sociologia, História e Filosofia, na Universidades
se sabem de antemão que não terão emprego. Isto terá efeitos
devastadores, pois terá efeito sobre a formação, não apenas de
professores mas de toda a cadeia que leva à formação de futuros
engenheiros, cientistas, pensadores sociais , conhecedores de nossa
história. Esta decisão indica que o que este governo pretende é apenas
alguém que leia e escreva em português, que saiba fazer contas
elementares, a aprenda a dizer Yes, para o patrão estrangeiro. Todo o
esforço de formação feito com a criação das licenciaturas nas Univ.
Publicas e Institutos Federais de Educação, serão simplesmente jogados
fora. O ataque aos cursos de EAD, voltados para a formação de
professores, já foi um prenúncio desta política. De há muito os grupos
privados, combatiam o EAD público, pois o padrão de rigor e de estrutura
do EAD publico ficava muito custoso para os padrões de EAD privado.E
aos cabeças de planilha e pseudo defensores da eficiência, saibam que em
Educação eficiência é sinônimo de mais investimentos, e não de lucro.
Se estas medidas aprovadas se concretizarem, das escolas públicas não
teremos alunos capazes de competir em nenhum vestibular. Afinal os
vestibulares continuarão a exigir todas as disciplinas. Pretendem pelo
jeito que o aluno da escola pública seja no máximo um técnico, com
rudimentos de inglês, para trabalhar em uma indústria consumidora de
tecnologia, e jamais criadora.
Nas escolas privadas para as elites, os alunos continuarão a se
preparar para os vestibulares numa Universidade Pública que cobrará
mensalidades. Sendo que estas mensalidades não serão jamais suficientes
para sustentar financeiramente o Ensino, a Pesquisa e a Extensão de uma
Universidade Pública. Não sustentarão a manutenção de laboratórios
didáticos e de pesquisa e de todo o acervo. A cobrança é puramente
ideológica, pois apenas quer sinalizar que todo o dinheiro do estado
deve ser dirigido apenas ao mercado. E que a educação não é uma
obrigação do Estado e nem um direito do cidadão. Em breve veremos
parlamentares se movimentarem para retirar estes termos da constituição,
alegando sempre que não há dinheiro. É o mesmo subterfúgio utilizado
com a previdência, onde jamais ouvimos falar sobre as dívidas dos
empresários com a previdência. O roubo institucionalizado, por várias
empresas, que coletam o dinheiro dos trabalhadores e não pagam nem sua
parte e nem a dos funcionários, para a previdência. Estes roubos jamais
entram na conta do deficit. Não se fala também em aumentar a alíquota da
previdência para os empresários, mas apenas dos trabalhadores. Da
mesma forma a educação, a partir da cobrança de mensalidade, será para
os cabeças de planilha, uma questão de fluxo de caixa. É por esta razão
que não existe pesquisa, nem grupos de pesquisas relevantes, nas
Universidades Privadas, com raríssimas exceções. Pesquisa sequer está
nas suas planilhas financeiras. Nas raríssimas excessões, o dinheiro
para estas atividades vem de Instituições Públicas de Fomento. Mas o DNA
principal das escolas privadas é que são apenas escolas, e uma
Universidade é muito mais do que isto, pois é um centro de educação e
criação de conhecimento.
A mensalidade apenas mudará ideologicamente a estrutura da
Universidade Pública. A simples cobrança, tranformará os alunos em
clientes e não educandos. Aos desavisados saibam que em nenhuma grande
universidade pelo mundo, as pesquisas, formação e até mesmo professores e
pesquisadores não são pagos por mensalidades, mas sim pelo
financiamento do Estado. A mensalidade servirá apenas para barrar os
pouco pobres que apesar de tudo conseguirão passar em um vestibular.
Se trabalhássemos com dados seria mais fácil combater o caráter
ideológico destes discursos. Por exemplo o mito de que nas Universidades
Públicas a maioria é de ricos e privilegiados. Já se foi este tempo. Na
Universidade Pública de hoje, a maioria pertence ou à classe média
baixa, ou à classe pobre. Se visitarem a Universidade Federal de Santa
Catarina, verão as filas do restaurante universitário, que ocupam
diariamente muitos quarteirões. Saberiam também que sem o Restaurante
Universitário, muitos alunos teriam que desistir da Universidade. Estas
filas mostram com clareza que a maioria ali não é rica. O discurso de
que a universidade é para ricos, não se volta para uma maior
democratização, mas ao contrário é usado para uma maior elitização.
Assim como o discurso dos privilégios da previdência apenas é usado
para, acabando a previdência pública, enriquecer os fundos de pensão dos
bancos privados. E tudo isto será liderado por um louco privatista que
pretende apenas enriquecer mais e mais, visto que é um empresário da
educação e CEO de fundos de pensão.
No momento, enquanto a Escola sem partido, ganha manchetes diárias,
debates e propostas de leis, medidas sucessivas e concretas vão
destruindo a educação pública. No Estado de Santa Catarina, as leis de
flexibilizaçao do trabalho abriram a possibilidade de terceirizar as
atividades fins. Isto já tem levado prefeitos a contactarem grupos
privados de ensino para através da terceirização, pagos pelo estado,
assumirem escolas públicas. São empresas onde os professores serão
diaristas da educação dando lucro aos grupos, gerando pobreza aos
professores e ignorância para os alunos. Obviamente estes grupos
utilizarão o discurso ideológico da Escola sem partido, e incentivarão
os alunos a agirem para trocar professores, como se fosse um bem de
consumo no supermercado. Os professores ligados aos grupos deverão
provavelmente trabalhar em diversas escolas, dando aulas mas não
educação. A escola sem partido se alia a esta terceirização, pois
veremos em breve grupos empresariais religiosos que estarão nas escolas
públicas pagos pelo estado, e propagando o obscurantismo.
A Escola sem partido é pura ideologia, no sentido que é apenas um véu
para esconder a destruição que já estão realizando na educação
pública. No momento grupos empresariais de educação estão dando as
cartas e tem como arma ideológica a Escola sem Partido, e como arma
letal a posição que ocupam dentro de Conselhos Nacionais de Educaçao, e
nos Ministérios.
Mas neste governo, tudo é ideologia e dentre os ideólogos, o mais
destrutivo será o Czar da Economia, pois este continuará sendo pranteado
pelos adoradores do Mercado. E embora sua ideologia jamais tenha dado
certo em nenhum lugar do mundo, com certeza, como Macri nos levará de
volta ao FMI e agora sem nada na mão, pois tudo será "vendido".
Fonte: Publicado no Jornal GGN
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