"Semana anterior
ao carnaval foi muito ruim para a pátria bolsonárica. Ela começou com a repulsa
geral às agressões grotescas do miliciano-em-chefe à jornalista Patrícia Campos
Mello", escreve o jornalista Gilberto Maringoni
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Jair
Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
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COLOQUEMOS OS PROBLEMAS EM
FILA PARA QUE MARCHEM DE FORMA ORGANIZADA:
1. OS BOLSONARIERS (corruptela
de farialimers) não estão convocando sua Marcha sobre Roma dia 15 de março por
causa do orçamento impositivo do Congresso, que trava o livre manejo de parte
das verbas públicas pelo Executivo.
Os bolsonariers – a começar
pelo presidente da República - convocam a manifestação golpista por se sentirem
em processo de isolamento acelerado.
2. A SEMANA ANTERIOR AO
CARNAVAL foi muito ruim para a pátria bolsonárica.
Ela começou com a repulsa
geral – de lideranças congressuais aos partidos de extrema esquerda, passando
pela mídia, setores empresariais, ministros do STF e ativistas sociais – às
agressões grotescas do miliciano-em-chefe à jornalista Patrícia Campos Mello.
3. QUASE CONCOMITANTEMENTE, os
petroleiros obtiveram duas vitórias fundamentais: a suspensão das quase mil
demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) e a
reabertura de negociações com a Petrobrás, no TST. É algo muito significativo
em tempos de destruição do movimento sindical.
4. NOS MESMOS DIAS, O BC
divulgou os resultados da balança de transações correntes de janeiro.
Segundo O Globo, “As contas
externas do Brasil registraram déficit de US$ 11,879 bilhões em janeiro deste
ano, com aumento de 31,3% na comparação com o mesmo mês de 2019”.
Foi o pior resultado desde
2015, puxado pelo déficit na balança comercial.
A balança de transações
correntes contabiliza a balança comercial, a balança de serviços e as
transferências unilaterais. Ou seja, o que entra e sai do país em termos
monetários.
5. APESAR DO QUADRO de quase
estagnação interna – com possibilidades de voo de galinha ao longo do ano -, as
importações cresceram. Isso se dá pelo fato de a indústria brasileira – ou o
que resta dela – trabalhar cada vez mais com componentes e insumos
importados.
É uma piora estrutural da
economia. Caso retomemos o crescimento, tais importações tenderão a aumentar,
agravando o déficit.
Isso com uma taxa de câmbio
que abriu nesta quarta (26) a R$ 4,42, o que torna as importações mais caras.
6. OBSERVE-SE AQUI A
CONSTATAÇÃO de que a saída de dólares do Brasil alcançou US$ 44,7 bilhões em
2019, como divulgado no início de janeiro. Trata-se do maior volume de recursos
retirados do país em 38 anos.
7. VAMOS ADIANTE. O
megamutirão bolsonarier pela legalização da versão nacional das SA
(Sturmabteilung), as tropas de assalto nazistas, deu com os burros n’água. O
Aliança pelo Brasil, agremiação da pátria bolsonarier conseguiu validar apenas
0,6% das assinaturas coletadas, após dois meses de frenética agitação em
cartórios amigos.
O Tribunal Superior Eleitoral
validou 2,9 mil assinaturas de 492 mil necessárias para legalizar o partido.
8. O ROL DE FRACASSOS OFICIAIS
não parou por aí. Foram desmascarados, pela ação corajosa do senador Cid Gomes
(PDT-CE), os incentivos a motins das forças de segurança patrocinados pelo
círculo próximo de aliados do miliciano-em-chefe.
9. NESSA CONTA ENTRA o affair
Adriano Nóbrega, arquivo valiosíssimo, flambado em obscura ação da PM baiana em
associação à Polícia Civil do Rio de Janeiro. Suspeito pelos laços com a
família real, o assassinato do matador profissional seria objeto de interesse
do clã ora no poder.
10. COMO COROAMENTO MAGISTRAL
da perda de credibilidade governamental, tivemos o Carnaval, repleto de alusões
nada edificantes aos meliantes espalhados por palácios e pela Esplanada dos
Ministérios, com direito a transmissão quase em rede nacional.
11. DIANTE DESSA COLETÂNEA de
más notícias, Bolsonaro e os seus agem de forma absolutamente
destrambelhada.
É incrível perceber que nem
ele e nem o general Heleno, o monstro de Porto Príncipe, conseguem fazer o que
qualquer comandante responsável de tropa faria: avaliar as forças disponíveis,
o efetivo inimigo, o terreno e as condições de batalha e traçar uma ação
racional, na tentativa de chegar à vitória. Mais fácil rosnar “foda-se”.
12. AGEM COMO GAROTOS que
jogam pedra na vidraça e saem correndo. Diante de um problema, aparentam tomar
a ofensiva – xingando, gritando ou fazendo bananas -, mas fogem para a frente.
Arreganham os dentes e latem, sem saber como darão o passo seguinte. Devem ser
militares de araque.
13. A REDE BOLSONARIER está
convocando o 15 de março como o dia do golpe. Suas hordas marcharão –
possivelmente com um cabo e um soldado – para fechar o Congresso e o STF. Há,
contudo, cheiro de válvula queimada no ar.
14. OS GENERAIS Santos Cruz e
Roberto Peternelli desautorizaram o uso de suas imagens em memes convocando a
balbúrdia. O mundo político institucional em peso – Celso Mello, Lula, FHC,
João Dória, as presidências da Câmara e do senado, os partidos de oposição, os
movimentos sociais, o mundo da cultura etc. – abriu em peso suas baterias
contra a loucura extremista. Na prática, forma-se uma frente democrática ampla
e poderosa, como há tempos não se via.
15. DIANTE DE PESADAS CRÍTICAS
que começou a receber na noite de terça (26), o miliciano-mor tuitou
enigmaticamente: “Tenho 35Mi de seguidores em minhas mídias sociais, c/
notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. No Whatsapp, algumas
dezenas de amigos onde trocamos mensagens de cunho pessoal. Qualquer ilação
fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”.
Releve-se a tortura cometida
contra o idioma, mas Bolsonaro tenta desmentir os relatos de que estaria
distribuindo convocatórias para o 15M. Ele ainda orientou seus ministros a não
engrossarem a convocação do ato.
16. HÁ ENSAIOS TÍMIDOS de
recuo por parte do bando palaciano. É muito difícil que um líder em processo de
isolamento – apesar de seus razoáveis índices de aprovação – consiga ir muito
além dos fracassos recentes. No início de novembro, a convocação de protestos
contra a saída da prisão do ex-presidente Lula reuniu poucos gatos pingados em
algumas capitais.
17. NÃO SE DEVE SUBESTIMAR O
FASCISMO. Ao mesmo tempo, é necessário tentar analisar com um pouco mais de objetividade
a realidade para que não entremos em pânico diante de latidos que indicam perda
de musculatura por parte da extrema-direita. Disseminar alarmismos ou convocar
ações extremadas e irresponsáveis devem ser colocadas para fora do radar dos
democratas que buscam desmontar a patranha fascista.
18. ELES PODEM MUITO. Mas não
podem tudo.
*Gilberto Maringoni de
Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro.