"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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domingo, 29 de novembro de 2020

A encruzilhada econômica chamada Paulo Guedes, por Luis Nassif

Guedes é boquirroto, blefador e se vale dos mesmos estratagemas de Jair Bolsonaro, de falsificar a realidade.

Por Luis Nassif ǀ Coluna Econômica - GGN

A economia está na encruzilhada do chamado problema Paulo Guedes.

Guedes é boquirroto, blefador e se vale dos mesmos estratagemas de Jair Bolsonaro, de falsificar a realidade.

No final do ano passado, analisamos os indicadores que, supostamente, indicariam a recuperação da economia – segundo Guedes – e nenhum deles dava a menor indicação da reversão da crise. Mesmo assim, continua insistindo que a economia se recuperaria em V, não fosse a pandemia.

Agora, anuncia uma nova recuperação em V, contra todos os sinais.

Os nós que têm pela frente seriam desafios até para gente grande. Teria que administrar simultaneamente os seguintes problemas:

  1. A bomba do desemprego.

Com o fim do auxílio emergencial, haverá uma explosão maior no próximo ano, com a possibilidade da taxa de desemprego bater nos 20%.

  1. A recuperação econômica.

A volta da economia depende fundamentalmente do emprego – que não irá se recuperar. Guedes é incapaz de montar uma política ativa de crescimento. Seu repertório teórico ainda não conseguiu superar a miragem do choque fiscal anticíclico. É uma loucura de cabeças de planilha, que não resiste à menor análise.

  • Investimentos são diretamente proporcionais à demanda.
  • Se a economia está em queda e há um choque fiscal, amplia a queda da demanda, a capacidade ociosa.
  • Mas, segundo a lógica guediana, se o investidor sentir firmeza nos cortes fiscais, será estimulado a investir.

A questão central é: investir para quê, se o retorno do investimento depende da demanda?

  1. Equilíbrio fiscal.

Tem-se, de um lado, o torniquete da Lei do Teto. Todas as estimativas revelam impossibilidade de montar um orçamento minimamente viável, que se enquadre nas restrições da Lei. Ao mesmo tempo, o rigor fiscal, em um quadro de economia em queda, acentua o movimento de queda e, com ele, a não recuperação das receitas fiscais.

  1. O aumento da inflação.

A incapacidade de Guedes de administrar estoques reguladores e criar amortecedores para a alta das commodities – influenciada pelo câmbio, pelas exportações e pelas cotações internacionais – promoveu uma pressão disseminada de preços.

Para continuar lendo clique aqui

 

Fonte: Publicado no Jornal GGN

 

sábado, 28 de novembro de 2020

“Era comum acharem que minha mãe era minha babá”, diz empresário branco adotado por família negra

"Cresci vendo minhas irmãs sendo chamadas de macacas", conta Alex Ferrer, que foi adotado por uma família negra após ser abandonado pela mãe biológica em um hospital de Taguatinga

O empresário Max Ferrer com a mãe negra e na festa em família (Reprodução/Instagram)

“Era comum acharem que minha mãe era minha babá. Ela chegou a ouvir que escolhera um branquinho porque não gostava da própria raça”, o depoimento foi dado pelo empresário Alex Ferrer, adotado por uma família negra depois que foi abandonado pela mãe biológica em um hospital de Taguatinga, cidade satélite de Brasília.

“Na década de 70 e 80 era comum ver negros sendo xingados na rua. Na época, eu aprendi que ser negro era algo inferior e isso fez com que eu sentisse vergonha [da minha família]. Cresci vendo minhas irmãs sendo chamadas de macacas. Ficava revoltado”, conta, em entrevista à Revista Vogue.

Relações Públicas, jornalista e “agitador social”, como se define nas redes sociais, Alex Ferrer construiu uma carreira bem sucedida, enquanto vê ainda hoje os irmãos sofrendo preconceito por serem negros.

“Dos meus cinco irmãos, três fizeram concurso público e até que se deram bem. Mas duas irmãs que ingressaram na iniciativa privada tiveram pouquíssimas oportunidades, mesmo com grau de escolaridade elevado. Eu nunca tive esse problema. Uma das muitas consequências do preconceito é que ele é contagioso, contamina até mesmo as vítimas. Ao ser olhado como inferior, você começa a se convencer de que é inferior, mesmo que racionalmente lute contra isso”, diz ele, que relatou ainda que um irmão tornou-se policial e não conseguiu promoção pelo fato de ser negro.

“Meu irmão sempre era parado na rua e já chegou a apanhar de policiais sendo que nada disso aconteceu comigo. Ele acabou se tornando policial, mas ainda lá na corporação perdeu uma promoção por ser negro. Seu próprio chefe deixou isso claro”.

O racismo estrutural, segundo ele, mantém boa parte da família na miséria há pelo menos três gerações. “Atualmente, 90% da minha família vive no Rio de Janeiro. Todos na baixada Fluminense. Poucos tiveram ascensão profissional. São três gerações morando numa favela”.

*Plinio Teodoro - Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas



Carta ao Povo Brasileiro

"A saúde do Brasil precisa do SUS. A economia do Brasil precisa do SUS. O povo brasileiro precisa do SUS forte, público, integral e universal. Defender o SUS é defender a vida. Junte-se a esta campanha."

Texto publicado no Facebook da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia - ABMMD - CE
Leia na íntegra a Carta da ABMMD ao Povo Brasileiro:

São mais de 170 mil brasileiras e brasileiros mortos pela pandemia de Covid-19 desde março. No país, a Covid-19 mata mais pessoas negras, pobres e se dissemina rapidamente entre trabalhadores de serviços essenciais e informais assim como entre populações vulnerabilizadas. A desigualdade social e a desvalorização da vida serviram de terreno fértil para o vírus.

Ações relevantes de enfrentamento, que deveriam ter sido lideradas pelo governo federal, foram sabotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. A ausência de coordenação nacional, testes armazenados sem uso e recursos financeiros retidos são alguns exemplos. Essa desorientação propositada tem alimentado as mais altas taxas de mortalidade e letalidade da Covid-19 nas Américas, só comparáveis às dos Estados Unidos, Peru e Chile.

O presidente da república incentivou aglomerações, desarticulou medidas de proteção de populações vulneráveis, como os povos indígenas. Não existe plano para a futura vacinação, o que gera ansiedade e insegurança na população. Essas aberrações levaram à denúncia do governo Bolsonaro por crime contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional, em Haia, Holanda.

Diante disto, coube aos governadores, prefeitos e secretarias municipais de saúde atuarem para minimizar a tragédia que a nação vive. O SUS, nosso Sistema Único de Saúde, demonstrou sua importância para o enfrentamento dos desafios impostos pela pandemia.

O SUS é base essencial para saúde e bem-estar da população. No entanto, precisa de recursos humanos, materiais e financeiros para conter a circulação do novo coronavírus. Precisa de coordenação uniforme, nacional, articulada, e medidas de segurança sanitária. Precisa de orçamento adequado. Os valores para 2021 são menores do que os de 2020 - menos 40 bilhões de reais! Sem orçamento suficiente, não poderá cumprir seu papel de cuidar e salvar vidas.

É preciso investir na Atenção Primária, em especial na estratégia de Saúde da Família, na Vigilância em Saúde e nas Redes de Atenção para garantir medidas de prevenção, proteção, monitoramento de casos e seus contatos e assistência pelas equipes de saúde, atuando em suas comunidades. Ciência, tecnologia e inovação em saúde para laboratórios públicos, produção de equipamentos, fármacos, vacinas e material de proteção necessitam de investimento.

Responsabilidades pelas mortes e doenças evitáveis que ocorreram durante a pandemia devem ser apuradas. Ao mesmo tempo, reconhecer a grandeza do SUS, que salvou a vida de milhões de pessoas e poderá salvar ainda mais com estrutura e financiamento adequado.

A saúde do Brasil precisa do SUS. A economia do Brasil precisa do SUS. O povo brasileiro precisa do SUS forte, público, integral e universal. Defender o SUS é defender a vida. Junte-se a esta campanha.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Bolsonaro e seus militares estão cada vez mais perdidos na pandemia, por Chico Alves

Foi dessa forma que chegamos aos 170 mil mortos e é assim que vamos enfrentar o recrudescimento da pandemia, que se verifica na alta de casos e internações.

Por Chico Alves, Colunista do UOL
Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello (Imagem: Divulgação)

Quando apoiou a aventura de Jair Bolsonaro na campanha de 2018, o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, sabia que o então candidato à Presidência não tem perfil de gestor. Por isso, o projeto avançou prevendo a participação no governo de militares de alta patente da reserva e da ativa. A ideia era que os generais, almirantes e brigadeiros ajudassem tanto a conter os arroubos de Bolsonaro quanto a administrar o Brasil.

Como fica provado a cada dia, a empreitada não deu certo. Mais que isso. Está dando muito errado.

O general de três estrelas da ativa que ocupa o Ministério da Saúde assiste tranquilamente o avanço da covid-19, cuja taxa de transmissão volta a crescer, sem apresentar um plano mínimo de enfrentamento da crise sanitária. Os 170 mil mortos pela doença não são suficientes para que Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro tenham pressa.

De Bolsonaro, que vive no mundo da lua com suas cloroquinas, ivermectinas e gripezinhas, não se pode esperar nada mesmo.

De Pazuello, que chegou com fama de gênio da logística, a esperança era que ao menos deixasse a equipe de excelentes técnicos do ministério trabalhar com autonomia. Infelizmente, o que se viu foram cargos chave ocupados por fardados que fazem tudo para desmantelar a máquina que por décadas funcionou muito bem.

O resultado aí está:

- Desde o início da pandemia, Bolsonaro abdicou da tarefa de coordenar nacionalmente o combate à crise porque os militares não gostaram da decisão do Supremo Tribunal Federal, que acertadamente manteve prerrogativas de estados e municípios.

Quando argumenta que não faz nada contra a pandemia porque "o STF não deixa", Bolsonaro está apenas verbalizando a tese disparatada dos fardados que o cercam.

- Uma das consequências dessa omissão é o balanço descrito na matéria do jornalista Vinícius Sassine, publicada hoje na Folha de S. Paulo. Grande parte da verba liberada a duras penas para contratação de profissionais, reforma de hospitais e compra de alimentos simplesmente não foi utilizada.

Nesse descalabro estão juntos os ministérios da Saúde, Cidadania, Agricultura, Ciência e Tecnologia, Justiça, Turismo e Relações Exteriores. Todos foram aquinhoados com recursos do Orçamento de Guerra que praticamente não gastaram.

- Diante da iminência da excelente notícia da aprovação de uma vacina contra a covid-19, o governo se encarrega da má notícia: ainda não tem qualquer plano para viabilizar a vacinação em massa dos brasileiros.

Essa tarefa básica, que deveria ser uma das prioridades da pasta, só começa a ser esboçada agora, depois que o governo foi instado pelo STF a fazê-lo.

- Os militares do Ministério da Saúde queimam agora os neurônios para explicar o indesculpável desperdício de 6,8 milhões de testes contra a covid-19 que continuam armazenados em um galpão do governo federal em São Paulo. O absurdo foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Alguns já estão vencidos e outros ficarão imprestáveis até janeiro. O prejuízo é de R$ 290 milhões.

Para tentar evitar perda total, a pasta, cujo titular até pouco tempo ostentava o título de craque da logística, tenta agora estender a data de validade, sem ter ainda a mínima ideia de como distribuir os itens a estados e municípios.

- Além de gastar dinheiro com testes de covid-19 que provavelmente serão jogados no lixo, o governo também determinou ao Exército que torrasse grana inutilmente na produção de hidroxicloquina em quantidade suficiente para suprir a demanda nacional por 18 anos.

Foi dessa forma que chegamos aos 170 mil mortos e é assim que vamos enfrentar o recrudescimento da pandemia, que se verifica na alta de casos e internações.

Apesar disso, Pazuello e outros militares do governo exibem a fisionomia tranquila de quem acha que esbanja toda a sabedoria que os reles civis nunca irão alcançar. Continuam a crer que estão salvando o Brasil, muitos se irritam com as críticas.

Bolsonaro é apenas a face mais visível e bizarra do trágico momento que vivemos, na contagem diária de tantas mortes que poderiam ter sido evitadas.

Todos aqueles que colaboraram e continuam colaborando para esse resultado dramático não serão esquecidos. Por mais que tentem, os militares não conseguirão se dissociar desse fracasso.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL)




Homenagem a Maradona

Maradona (Foto: Reprodução/Facebook)

Diego Armando Maradona morreu nesta quarta-feira (25), aos 60 anos. Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória em sua casa – onde se recuperava de uma cirurgia na cabeça – em Tigre, na região de Buenos Aires, na Argentina, no final da manhã. 
Edição especial da Revista France Football em comemoração ao aniversário de 60 anos de Maradona. (Foto: Reprodução/Facebook)

Maradona foi um gênio, sendo considerado o maior jogador da história do futebol argentino e um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. 




Charge, por Carlos Lattuf

Descanse em paz, gigante Maradona!

Brasil é líder mundial em compartilhamento de fake news sobre cloroquina, diz pesquisa

Mais de 70% das notícias falsas criadas sobre o medicamento tiveram origem no Brasil

Bolsonaro com a cloroquina (Reprodução/Twitter)

Um levantamento realizado pela International Fact Checking Network, rede internacional de jornalistas voltada para a checagem de notícias, mostra que o Brasil é campeão em compartilhamento de fake news sobre a eficácia de medicamentos contra a Covid-19.

Segundo a coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo, mais de 70% das fake news criadas sobre a cloroquina, medicamento defendido por Jair Bolsonaro contra o coronavírus, tiveram origem no Brasil.

Desde o início da pandemia, o presidente insiste na suposta eficácia do medicamento contra o vírus. Um estudo global realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) já concluiu, no entanto, que o remédio não funciona contra a Covid-19.

O levantamento também mostra que os alvos recorrentes das notícias falsas são os governadores dos estados. Das 102 menções feitas a governadores em todo o mundo, metade saíram do Brasil.

Apesar da quantidade elevada de fake news, o Brasil não liderou no ranking mundial em relação ao compartilhamento geral de notícias falsas sobre a pandemia. No país, segundo a pesquisa, foram produzidas 703 notícias falsas em relação ao coronavírus, menos que Índia (1.715) e Estados Unidos (1.018).




Homenagem a Fernando Vanucci

Jornalista Fernando Vannucci (Foto: reprodução/Youtube)

O jornalista Fernando Vanucci morreu, aos 69 anos, nesta terça-feira (24), em São Paulo. Vanucci começou a carreira aos 15 anos, no rádio, e trabalhou nas principais emissoras de televisão do país. Ao longo da carreira, o jornalista trabalhou como apresentador, repórter, locutor e comentarista. Cobriu seis Copas do Mundo, de 1978 a 1998, e seis Olimpíadas, de 1980 a 2000, além de várias transmissões do Carnaval no Rio de Janeiro. E criou o bordão que se tornaria sua marca registrada: "Alô Você".

Charge, por Quinho Cartum
Descanse em paz, grande Fernando Vanucci!

sábado, 21 de novembro de 2020

De branco para branco: Não seja canalha, o racismo está na nossa cara. Por Henrique Rodrigues

Na coluna de Henrique Rodrigues: Um homem negro foi brutalmente morto por espancamento. Há quem negue o racismo por puro cinismo. E há também os que negam por uma ignorância soberba. Seja como for, entendam: nós, brancos, não sabemos nada sobre racismo. Isso nunca nos impactou.

Foto: YouTube (reprodução).

Vamos direto ao ponto. Se você é branco, responda a essas perguntas: Você já foi espancado no supermercado? Já foi seguido por seguranças na loja de departamento? Todos já te olharam ao mesmo tempo quando você entrou pela porta da sala de aula na universidade? Já precisou evitar determinados horários e lugares para não ser abordado repetidamente pela polícia? Já foi inferiorizado sem qualquer razão, exclusivamente pela cor da sua pele?

Todo ano é a mesma coisa. No Dia da Consciência Negra um caminhão de impropérios e idiotices inunda a internet. É uma verdadeira disputa para ver qual branco fala a maior bobagem sobre o racismo. O tal ditado do Morgan Freeman já é um clássico. Todo incauto que se preze corre para o tal simplismo reducionista da frase do ator norte-americano.

Este texto não é um tratado sobre o pensamento social brasileiro, nem sobre a formação e constituição étnico-antropológica do nosso povo. Seria uma estupidez gastar saliva com quem não consegue observar coisas tão óbvias, que podem ser notadas por qualquer um no cotidiano.

Um homem negro, dentro de um supermercado, foi espancado até a morte por dois seguranças brancos. Este é um fato concreto.

A intuito aqui é bem claro e objetivo. Se você não quer tomar conhecimento do que se passa ao seu redor, se escolhe ser cego para todas as relações raciais conflituosas que vivemos, ok! Apenas perceba que nós, brancos, não temos a menor ideia do que são essas vivências e idiossincrasias. Isso nunca fez parte intrinsecamente de nossa condição como cidadãos.

Alberto Silveira Freitas tinha 40 anos. Estava acompanhado da esposa, comprando algumas coisas numa unidade do Carrefour, em Porto Alegre. Após uma discussão banal foi imobilizado por dois seguranças brancos e recebeu uma sessão de socos na cabeça. Na sequência teve o tórax pisado e comprimido.

Nego Beto, como era conhecido, foi morto por espancamento e asfixia, enquanto uma empolgada funcionária branca do supermercado filmava tudo de pertinho, procurando o melhor ângulo. Um de seus assassinos é um PM.

Se você observar, o único negro ali era Beto.

Repito. Um homem negro foi brutalmente morto por espancamento, em meio a um cenário onde só havia atores brancos. Há quem negue o racismo por puro cinismo. E há também os que negam por uma ignorância soberba.  Seja como for, entendam: nós, brancos, não sabemos nada sobre racismo. Isso nunca nos impactou.

Se você permanece sem perceber isso, seu caso não é o da ignorância soberba que mencionei lá no início. Sua postura de negar o racismo numa das sociedades mais vergonhosamente racistas do mundo é realmente um lance de cinismo, sabe?

Você o faz por opção.

*Jornalista e professor de Literatura Brasileira.




quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A privatização tornou-se a cloroquina do setor elétrico, por Luis Nassif

Tudo isso exige uma discussão racional, técnica, despida do terraplanismo do ideologismo rasteiro, algo que já ocorreu em outros momentos da história e que se perdeu em algum momento em que a polarização e a radicalização emburreceram drasticamente o país.

Um dos principais pensadores sobre o papel da mídia no Brasil, Rodrigo Mesquita tem uma definição exemplar sobre o papel da imprensa: “Mais do que informar, o papel das empresas de informação foi e será sempre contribuir para os processos de articulação da sociedade”.

Um país é um organismo complexo, com instituições públicas e privadas, organizações sociais, movimentos, associações empresariais e sindicais, poderes independentes, universidades, institutos de pesquisa. Por isso mesmo, a imprensa tem papel central de ventilar os grandes temas, buscar as informações precisas, os diagnósticos técnicos e científicos, a racionalidade nas decisões.

Uma imprensa pouco precisa, ideologizada, é duplamente perniciosa. De um lado, por não saber identificar as informações relevantes. De outro, por vender falsos diagnósticos.

É o caso das discussões sobre o setor elétrico, a partir do blackout ocorrido no Amapá.

Em alguns veículos respeitáveis divulgou-se a informação de que as causas foram o baixo investimento público e o preconceito em relação ao investimento privado. Foram afirmações mecânicas, ideológicas, sem se dar conta que o problema ocorreu com uma empresa privada, a Isolux, responsável pela transmissão de energia da hidrelétrica de Tucuruí para o estado.

A Covid-19 mostrou a importância das discussões técnicas e do respeito à ciência. O setor elétrico merece tratamento igual. E tratamento técnico significa discutir tecnicamente o modelo de funcionamento do setor, para entender melhor a parte em que cabe privatização ou não.

O foco dos problemas: a Isolux

O sistema que abastece o Amapá depende de três empresas:

Geração – usina de Turucuí.

Distribuição – empresa estadual do Amapá.

Transmissão – Da Gemini Energy, que adquiriu da espanhola Isolux, dona da Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE).

A LMTE tinha três transformadores, um em manutenção, um que explodiu e o terceiro que foi danificado pelo fogo. E não havia uma estrutura nacional capaz de suprir a linha com novos transformadores.

Em 2008, a Isolux venceu a licitação para a linha de transmissão de 1.438 km que levava energia de Tucuruí ao Amapá. Fez grande estardalhaço com as torres que construiu para transportar a energia, batizada por ela de  As Torres Gêmeas da Isolux.

Na época, era a sétima construtora da Espanha. Com a crise de 2008, o mercado europeu desabou e o da América Latina foi impulsionado pela manutenção das cotações de commodities. A empresa decidiu investir pesadamente na região, abrindo várias frentes simultaneamente.

No contrato da  LMTE, previu investimento da ordem de R$ 2,7 bilhões. Mas o valor real saltou para $ 3,7 bilhões e os atrasos acarretaram multas de mais R$ 400 milhões. Enfrentou os mesmos problemas de empreiteiras brasileiras, com a dificuldade de identificar custos reais a partir dos projetos executivos das licitações.

O endividamento pesou e a queda nas cotações de commodities ampliou a crise na região e o faturamento projetado da empresa.

Em 2015, tentou abrir capital e captar 600 milhões de euros para redução da dívida O lançamento seria coordenado pelo Citigroup, Morgan Stanley e Banco Santander. Aparentemente, não deu certo

Em 2016 a Isolux entrou em recuperação judicial na Espanha. Conseguiu homologar um plano e recuperação gigantesco, com passivos de 4,6 bilhões de euros. O principal credor era o Santander, com 350 milhões dos 650 milhões de dívidas bancárias do grupo. De imediato, conseguiu uma injeção de capital de 200 milhões de euros.

Na renegociação, anunciou ter colocado à venda uma planta fotovoltaica e as linhas de transmissão no Brasil. Em 2017 entrou oficialmente em processo de falência, com uma dívida estimada em 4 bilhões de euros.

A aventura latino-americana terminou em desastres sucessivos. Foi obrigada a cancelar um contrato com o Metrô de São Paulo, duas obras de saneamento no Uruguai, a construção de um prédio para a Universidade de Santiago do Chile.

No início de 2018, um tribunal de Madri condenou Luis Delso, ex-presidente da Isolux, e José Gomis, sócio e ex-vice-presidente, a seis meses de prisão por fraude fiscal. No dia 1o de fevereiro de 2018 a Justiça brasileira homologou o pano de recuperação judicial da Isolux no Brasil.

Em setembro de 2019 vendeu seus ativos para dois fundos especializados em reestruturação de empresas, constituídos para avançar sobre os destroços das empresas brasileiras destruídas pela Lava Jato e pela crise de 2016.

A venda de ativos

A LMTE foi adquirida pela Starboard Asset, apresentada como subsidiária do Grupo Starboard Restructuring Partners. A empresa pertence a Fábio Vassel, um ex-sócio e executivo do Brasil Plural, passou pela Nomura, , pelo UBS e participou de várias reestruturações, como da Saraiva, da OGX, Inepar etc.  A Starboard foi constituída em 2015 tendo como outro sócio, Warley Isaac Noboa Pimentel, ex-presidente da paranaense Inepar que assumiu a empresa após os problemas enfrentados por ela com a Lava Jato. A Starboard montou a Gemini, com 20% de participação da Perfin.

Em março de 2020, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) rejeitou a proposta da Isolux de transferir suas operações para outra companhia, o Power Fundo de Investimentos em Participações Infraestrutura Ltda.  As regras do acordo foram elaborados pela Starboard Partners. Propunha que o novo dono não herdasse as sanções previstas em contrato, para o caso de atrasos nas obras. A ANEEL não aceitou.

O negócio acabou fechado com a própria Starboard. Em nenhum momento, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) se preocupou com as vulnerabilidades criadas pela crise da Isolux.

As vulnerabilidades

A crise expõe vulnerabilidades do setor. Antes, tinha-se um modelo integrado nacional, sob controle da Eletrobras. Com o modelo de privatização – iniciado por Fernando Henrique e consolidado por Lula – criou-se um modelo partido que, teoricamente, deveria estimular a competição.

Por exemplo, geradores de energia poderiam disputar o fornecimento para distribuidoras, desde que houvesse uma transmissão integrada e neutra. Ainda mais depois que ganharam espaço novas formas de energia, a solar, a eólica e a energia distribuída ganha espaço.

A competição ocorre no mercado livre. Mas o grande modelo de capitalização se deu através da chamada energia contratada. Por ela, antes de iniciar investimentos – especialmente os grandes investimentos – o gerador acertava contratos de longo prazo com as distribuidoras. E, tendo como garantia os recebíveis, conseguem captar recursos no mercado.

Em suma, o antigo modelo integrado, com geração, transmissão e distribuição concentrados em grandes empresas de energia, pulverizou-se. Além disso, houve mudanças tecnológicas que geraram novas perspectivas e novas incertezas para o setor.

Tudo isso exige uma discussão racional, técnica, despida do terraplanismo do ideologismo rasteiro, algo que já ocorreu em outros momentos da história e que se perdeu em algum momento em que a polarização e a radicalização emburreceram drasticamente o país.