"Cresci vendo minhas irmãs sendo chamadas de macacas", conta Alex Ferrer, que foi adotado por uma família negra após ser abandonado pela mãe biológica em um hospital de Taguatinga
“Era comum acharem que minha mãe era minha babá. Ela chegou a ouvir que escolhera um branquinho porque não gostava da própria raça”, o depoimento foi dado pelo empresário Alex Ferrer, adotado por uma família negra depois que foi abandonado pela mãe biológica em um hospital de Taguatinga, cidade satélite de Brasília.
“Na década de 70 e 80 era comum ver negros sendo xingados na rua. Na época, eu aprendi que ser negro era algo inferior e isso fez com que eu sentisse vergonha [da minha família]. Cresci vendo minhas irmãs sendo chamadas de macacas. Ficava revoltado”, conta, em entrevista à Revista Vogue.
Relações Públicas, jornalista e “agitador social”, como se define nas redes sociais, Alex Ferrer construiu uma carreira bem sucedida, enquanto vê ainda hoje os irmãos sofrendo preconceito por serem negros.
“Dos meus cinco irmãos, três fizeram concurso público e até que se deram bem. Mas duas irmãs que ingressaram na iniciativa privada tiveram pouquíssimas oportunidades, mesmo com grau de escolaridade elevado. Eu nunca tive esse problema. Uma das muitas consequências do preconceito é que ele é contagioso, contamina até mesmo as vítimas. Ao ser olhado como inferior, você começa a se convencer de que é inferior, mesmo que racionalmente lute contra isso”, diz ele, que relatou ainda que um irmão tornou-se policial e não conseguiu promoção pelo fato de ser negro.
“Meu irmão sempre era parado na rua e já chegou a apanhar de policiais sendo que nada disso aconteceu comigo. Ele acabou se tornando policial, mas ainda lá na corporação perdeu uma promoção por ser negro. Seu próprio chefe deixou isso claro”.
O racismo estrutural, segundo ele, mantém boa parte da família na miséria há pelo menos três gerações. “Atualmente, 90% da minha família vive no Rio de Janeiro. Todos na baixada Fluminense. Poucos tiveram ascensão profissional. São três gerações morando numa favela”.
*Plinio Teodoro - Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário