Mas, se não houver reação à altura por
parte dos maiores interessados — nos alvos da manifestação do dia 15 — o
episódio tende a se repetir de forma perigosa e com consequências
imprevisíveis.
Por Helena Chagas
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Presidente Jair Bolsonaro – Foto Orlando Brito |
Acuados pelas milícias digitais
bolsonaristas, integrantes do Legislativo e do Judiciário preferem, algumas
vezes, fingir que não vêem e tratar como abusos retóricos as ameaças do
presidente da República às instituições da democracia. Talvez por isso, Jair
Bolsonaro continue reincidindo, dando sempre um passo à frente no rumo do
autoritarismo.
A turma dos panos quentes tem lá suas
razões. Além de temer apanhar ainda mais nas redes, não quer elevar a
temperatura ao nível de uma crise institucional, contrapondo poderes, de
desfecho imprevisível. A arma máxima do Congresso é o impeachment, mas hoje dia
— diferentemente do que ocorreu na destituição de Dilma Rousseff — seus dirigentes
morrem de medo da palavra. Não só dela, mas da reação de um presidente com o
perfil político e psicológico de Bolsonaro. Melhor não mexer com isso.
Vindo de um presidente da República, tal
estratégia — como a de enviar vídeo convocando para manifestação contra o
Legislativo — é, sim um atentado contra a democracia. E deve ser tratado como
tal. Será que o pessoal vai tomar coragem?A questão é que já ficou mais do que
clara a estratégia presidencial de jogar espuma para desviar as atenções de um
governo crivado de problemas — da ligação com milicianos à incompetência na
gestão, passando pela estagnação econômica — às custas da estabilidade política
e institucional. Jair Bolsonaro quer puxar o Congresso para a briga, de
preferência no meio da rua, tentando insuflar a torcida contra seus
representantes.
É possível que a ducha de água fria do
decano desperte as demais instituições, que ainda parecem narcotizadas pelo
carnaval nesta Quarta Feira de Cinzas. O próprio Bolsonaro parece ter acordado
para a gravidade do assunto ao postar um tuite falando que suas mensagens no
Whatsapp são “pessoais”.Um bom sinal nesta manhã foi a manifestação que veio do
outro lado da rua, do decano do STF, Celso de Mello, que teve a coragem de
dizer que Bolsonaro não está à altura do cargo se apoiou o ato contra o
Congresso. Mello lembrou que tal atitude para configurar crime de
responsabilidade — aquele que sujeita o presidente da República a processo de
impeachment.
Mas, se não houver reação à altura por
parte dos maiores interessados — nos alvos da manifestação do dia 15 — o
episódio tende a se repetir de forma perigosa e com consequências
imprevisíveis.
Fonte: Publicado em Os Divergentes
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