José
Serra é um político à deriva. É detestado no PSDB, suportado no governo Temer e
se tornou eleitoralmente irrelevante. Tão irrelevante que a última sondagem CNT
sequer o incluiu nas fichas de presidenciáveis.
Seu pedido de demissão
deve-se aos seguintes fatores:
1. A
irrelevância de sua atuação à frente do MRE
O insuspeito O Globo relacionou todos os fatos relevantes da gestão Serra no Ministério das Relações Exteriores (MRE). Sob o impactante título “As principais passagens de Serra no MRE”, relacionou os seguintes feitos:
· Defesa
do apoio ao governo
·
Polêmica com países bolivarianos
·
Proximidade com a Argentina
· Passaportes
diplomáticos
· E seu
grande momento: Homenagem à Chapecoense.
E nada
mais havia para se dizer. O cargo, aliás, comprovou a profunda ignorância de
Serra em relação a qualquer tema contemporâneo. Em uma das áreas mais
sensíveis, para a reaproximação com os Estados Unidos, não logrou nenhum
protagonismo. Sua insegurança era tal que chegou a levar Fernando Henrique
Cardoso em um dos primeiros encontros de confronto do Mercosul, pela
incapacidade de desenvolver um discurso minimamente eficaz.
Na
vitrine o MRE, além disso, ficou escancarada sua baixíssima propensão ao
trabalho. Serra é de acordar tarde, dormir tarde e não tem pique gerencial. Por
isso, em cargos executivos acaba restringindo sua agenda diária a encontros
insossos com um ou outro secretário.
2. Sua
irrelevância política
Serra é
detestado no PSDB, aturado no PMDB e descartado no governo Temer. No Palácio,
era alvo de piadas e gozações da troupe de Temer, por impropriedades cometidas,
a julgar pelos relatos do mais assíduo dos comensais, Jorge Bastos Moreno.
Havendo
eleições em 2018, o PSDB teria Geraldo Alckmin ou Aécio Neves e Temer—PMDB
apostará em Henrique Meirelles.
A volta
para o Senado devolve Serra ao seu habitat natural. Seu maior mérito foi o de
sempre ter-se cercado de bons assessores para as atividades parlamentares.
3. A Lava
Jato
Ao
longo de sua carreira, Serra sempre amarelou em momentos graves. Apesar de se
dizer defensor de câmbio competitivo, enquanto Ministro do Planejamento de FHC
desapareceu das discussões públicas. Anos depois, Gustavo Franco confessaria
seu espanto com o baixo nível de informação econômica de Serra.
No
governo de São Paulo, as principais crises foram enfrentadas assim:
· Na
greve da USP, mandou a Polícia Militar retirar estudantes a cacetada.
· Na
greve da Polícia Civil, que cercou o Palácio Bandeirantes, recuou rapidamente
de sua decisão de não receber grevistas e acabou premiando-os com mais do que
as próprias propostas da categoria.
· Nas enchentes
que assolaram o Estado, sumiu. Não presidiu uma reunião sequer da defesa civil,
não veio uma vez sequer a público comandar os trabalhos do governo. Quando saiu
candidato a presidente, demonstrou não conhecer sequer o conceito de Defesa
Civil.
Com as
investigações da Lava Jato batendo na sua porte, o pânico é evidente. Até algum
tempo atrás, Serra mantinha em casa uma coleção de obras de arte capaz de
provocar inveja até em ricos de verdade, como Roberto Civita, dono da Abril. A
quebra do sigilo do fundo de investimento de sua filha Verônica certamente
teria um efeito devastador sobre seu futuro.
No
Senado, Serra voltará a ser mais um dentre muitos – e não um Ministro exposto.
E terá tempo para tentar recompor seus laços com a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal, que lhe permitiram, em outros tempos, montar
dossiês mortais e ações policiais contra adversários políticos.
4. A
doença
Em
praticamente todas as fotos em que aparece, como chanceler, há a expressão do
olhar vazio, da falta de energia, indicando claramente problemas físicos. Serra
alega ter dores na coluna que o impediriam de efetuar viagens longas. É
provável.
Mas
padece de outros problemas. Colegas tucanos apontam para uma depressão
continuada. Cenas recentes – dele não sabendo declinar nomes de países que
compõem os BRICs – podem indicar problemas graves de memória, mas pode ser
efeito de medicamentos pesados.
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