A atual conjuntura social, política e econômica vivenciada no país
consiste num conjunto de propostas que incidem no desmonte das políticas
públicas e na consequente perda dos direitos sociais, retrocessos com
consequências diretas para a classe trabalhadora. Nesta perspectiva, em
agosto de 2016, o Brasil sofreu “um golpe político-institucional, que
tem acarretado em significativas transformações no sentido da restrição
do Estado para com as Políticas Sociais” (SANTOS et al, 2017, p. 05).
A postura conservadora adotada pelo governo Temer ao aprovar o
congelamento dos gastos públicos com o social por vinte anos, a proposta
de contrarreforma da Previdência por meio da PEC 287/16 e o
desmantelamento dos direitos do trabalho por meio da promulgação da Lei
13.467/17 (que dispõe sobre a Reforma Trabalhista e a consequente
desregulamentação da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT) beneficia
os empregadores em detrimento dos empregados, que, por sua vez, passam a
ser duramente penalizados e explorados. Faz com que observemos que as
trajetórias dos direitos sociais no Brasil estão sendo rompidas, estes
perdendo seu caráter universalista e assumindo um viés residual e
focalista.
Essa política de “assalto” ao fundo
público […] se radicaliza e se acelera consideravelmente no governo
Temer. Sua função primordial é promover um “choque” de medidas
neoliberais radicais de natureza conservadora e reacionária, que inclui
um pacote que compromete sobremaneira o sistema protetivo garantido na
Constituição Federal de 1988, entre eles a limitação dos gastos públicos
em vinte anos; a desvinculação das pensões e aposentadorias das
correções do salário mínimo; o desmonte da CLT e a lei de regulamentação
da terceirização irrestrita. […] (CASTILHO et.al, 2017, p. 458).
Após ter dado o golpe certeiro que culminou no impeachment
de Dilma Rousseff , em 2016, Michel Temer demonstrou o caráter
antidemocrático e inflexível do seu governo ao lançar a PEC 241/2016,
covertida no Senado em PEC 55/2016, que estabeleceu o congelamento dos
investimentos em educação, saúde e assistência social pelos próximos
vinte anos, corrigidos apenas pelo valor anual da inflação. Ao ser
aprovada, tornou-se Emenda Constitucional 95/2016, ignorando os diversos
movimentos sociais que se manifestaram contrários à arbitrariedade de
tais propostas, sob pretexto de que a “alternativa para evitar a
catástrofe final [seria] aplicar um austero programa aos gastos
públicos”. (GRANEMANN, 2016, p. 173).
O que falar sobre as propostas do documento “Travessia Social – Uma
ponte para o futuro” (elaborado pela Fundação Ulisses Guimarães a pedido
do PMDB atual MDB)? Ele incide num conjunto de propostas neoliberais,
com políticas públicas de proteção social de caráter compensatório e
residual, “impondo à classe trabalhadora um cenário de extrema
degradação humana, precarização e barbárie social, na medida em que
restringe a competência do Estado em implementar políticas sociais que
venham garantir a reprodução social da classe trabalhadora”. (CASTILHO et.al, 2017, p.458).
Tal governo demonstra claramente que se estrutura nos pilares do
neoliberalismo, indicando que apostará na privatização das políticas
públicas, conforme fragmento retirado do documento Travessia Social –
Uma ponte para o futuro (2016, p.17) que diz: “As lições que estamos vivendo nos obrigam a buscar uma reengenharia das relações do Estado com o setor privado”.
Tem-se aí, a ideologia neoliberal que retira do Estado à
responsabilidade pela execução de políticas públicas conduzindo-as à
privatização e ao Estado mínimo.
No pós-golpe parlamentar, é verificada que “a austeridade que se
deseja impor sobre os gastos sociais públicos restringe-se ao destinado
aos direitos da classe trabalhadora” (GRANEMANN, 2016, p. 174), sempre
penalizada pela conflituosa gestão econômica do governo brasileiro.
Diante do exposto, não seria demais dizer que “o passado nunca esteve
tão presente”, os retrocessos estão batendo em nossas portas, pois a
atual conjuntura das políticas públicas no Brasil segue na contramão dos
direitos sociais e só tende a aprofundar ainda mais as desigualdades
sociais.
Ao se indagar “um governo para quem?” o ensejo é inflamar a discussão
bem como os desafios que se colocam frente às ações de um governo que,
com um discurso falacioso, vem mascarando o princípio da universalidade
ao passo que desmantela as políticas públicas sociais. Faz-se necessário
e urgente que os diversos movimentos sociais se organizem na retomada
do espírito de luta pela democracia e pelos direitos sociais que estão
sendo atacados e derrotados pela ofensiva neoliberal incorporada pelo
governo golpista que em nada representa a classe trabalhadora e os
movimentos sociais que outrora lutaram incessantemente pelos direitos
sociais garantidos na Constituição de 1988.
Referências bibliográficas
CASTILHO, Daniela Ribeiro; LEMOS, Esther Luíza de Souza; GOMES,Vera Lúcia Batista. Crise do capital e desmonte da Seguridade Social: desafios (im) postos ao Serviço Social. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 130, p. 447-466, set./dez. 2017.
GRANEMANN, Sara. O desmonte das políticas de seguridade social e os impactos sobre a classe trabalhadora: as estratégias e a resistência. Serv. Soc. Rev., Londrina, v. 19, n.1, P. 171-184, Jul/Dez. 2016.
SANTOS, Ana Cristina de Lima; SANTOS, Vaneide alves dos; SILVA, Roberta Teodorico Ferreira da; Bezerra, Kassandra Queiroga; CONSERVA, Marinalva de Sousa. Os impactos das reformas no “governo temer” para as políticas sociais. In: Anais do II Seminário Nacional de Serviço Social, Trabalho e Políticas Sociais. Florianópolis– 23 a 25 de outubro de 2017.
*Mariane Rodrigues Silva é assistente social graduada pela Universidade Federal dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), e mestranda em Estudos Rurais na
mesma universidade. Atuou como assistente social no Centro de Referência
de Assistência Social (CRAS) em Ladainha (MG) e no Serviço de
Acolhimento em Família Acolhedora em Novo Oriente de Minas (MG)
Fonte: Publicado no Brasil Debate
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