"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

MAS AS INSTITUIÇÕES ESTÃO FUNCIONANDO…

*Por Wilson Gomes
Publicado em sua página do Facebook

O jornalismo brasileiro vai sair desta crise muito menor que quando nela entrou. O jornalismo podia ter ficado no seu papel, já bem amesquinhado, de atiçar brigas entre políticos, mas o gozo do regicídio foi uma tentação forte demais. E agora não tem a menor ideia de como vamos sair do atoleiro em que nos puseram nem onde foram parar aqueles cenários de saída que pareciam tão cristalinos em 2015. Naturalmente, o jornalismo brasileiro passará o resto do milênio explicando que nada teve a ver com os eventos, que só estava presente na hora em que eles aconteceram e que ninguém deve culpar o pobre do mensageiro, embora as suas digitais estejam tão presentes em tudo o que se passou de 2015 pra cá quanto as de Geddel estavam nas malas de dinheiro que duendes colocaram para ele em um apartamento vazio.

Os economistas-que-estão-todo-dia-na-mídia-disputando-a-interpretação saem bem menores desta crise, em grande parte construída por profecias autorrealizáveis cheias de intenções políticas. A este ponto, já é claro para todo mundo que Economia “de circunstâncias” é tão útil para prever saídas de políticas econômicas quanto jogar uma moeda para o alto e tomar decisões com base nisto.

Por fim, o Judiciário e o Ministério Público vão desmilinguindo sua reputação e credibilidade em velocidade assustadora. Já foi triste o bastante o espetáculo triste de o STF ter-se autocontido, durante o impeachment, ao papel de mestre de cerimônias do rito, quando a sociedade esperava uma arbitragem justa e acima da vil briga de foices do Congresso. Se isso não bastasse, ainda temos o assombroso e sinistro “efeito Gilmar”, a percepção pública de que as decisões judiciais não são feitas para corrigir a colisão dos Poderes e em nome da Constituição, mas se orientam principalmente por cálculos arbitrários do que o magistrado considera “o melhor para o país”, segundo, naturalmente, o seu repertório subjetivo de preferências, concepções e visões de mundo.

E temos o “efeito Moro”, a percepção pública de que um juiz é muito maior do que os processos que ele julga e os malfeitos que as suas sentenças corrigem, que, portanto, é mais cintilante e mais merecedor de câmeras, aplausos na rua e celebridade do que qualquer astro do mundo pop ou qualquer “digital influencer” do universo digital. Juiz não arbitra, juiz performa (em) julgamentos; juiz não analisa autos, juiz participa, como protagonista, de espetáculos judiciais, de épicos políticos, de odisseias democráticas.

Nem vou mencionar a contribuição de Dallagnol, dos piás do MP de Curitiba e, agora, de Janot, para a figura do procurador afobado, do procurador palmatória do universo e, por fim, do procurador-tira.

Pelas minhas contas, de todos os envolvidos, apenas os políticos não foram diminuídos pela crise. Ninguém perde o que não tem e, como diz o Barão, de quem menos se espera, daí é que não sai nada mesmo. Ao contrário, parecem ratos e baratas em um cenário apocalíptico, multiplicados, luzidios e onipresentes. Estão em frenesi.

Rá. Quem achou que aquele impeachment maroto iria significar o fim dos nossos problemas mal podia imaginar que ali apenas iniciava o caos. I told you, didn’t I?

*Wilson Gomes é professor da Faculdade de Comunicação da UFBA


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