*Por Wilson Gomes
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O jornalismo brasileiro vai sair desta crise
muito menor que quando nela entrou. O jornalismo podia ter ficado no seu papel,
já bem amesquinhado, de atiçar brigas entre políticos, mas o gozo do regicídio
foi uma tentação forte demais. E agora não tem a menor ideia de como vamos sair
do atoleiro em que nos puseram nem onde foram parar aqueles cenários de saída
que pareciam tão cristalinos em 2015. Naturalmente, o jornalismo brasileiro
passará o resto do milênio explicando que nada teve a ver com os eventos, que
só estava presente na hora em que eles aconteceram e que ninguém deve culpar o
pobre do mensageiro, embora as suas digitais estejam tão presentes em tudo o
que se passou de 2015 pra cá quanto as de Geddel estavam nas malas de dinheiro
que duendes colocaram para ele em um apartamento vazio.
Os economistas-que-estão-todo-dia-na-mídia-disputando-a-interpretação saem bem
menores desta crise, em grande parte construída por profecias autorrealizáveis
cheias de intenções políticas. A este ponto, já é claro para todo mundo que
Economia “de circunstâncias” é tão útil para prever saídas de políticas
econômicas quanto jogar uma moeda para o alto e tomar decisões com base nisto.
Por fim, o Judiciário e o Ministério Público
vão desmilinguindo sua reputação e credibilidade em velocidade assustadora. Já
foi triste o bastante o espetáculo triste de o STF ter-se autocontido, durante
o impeachment, ao papel de mestre de cerimônias do rito, quando a sociedade
esperava uma arbitragem justa e acima da vil briga de foices do Congresso. Se
isso não bastasse, ainda temos o assombroso e sinistro “efeito Gilmar”, a
percepção pública de que as decisões judiciais não são feitas para corrigir a
colisão dos Poderes e em nome da Constituição, mas se orientam principalmente
por cálculos arbitrários do que o magistrado considera “o melhor para o país”,
segundo, naturalmente, o seu repertório subjetivo de preferências, concepções e
visões de mundo.
E temos o “efeito Moro”, a percepção pública
de que um juiz é muito maior do que os processos que ele julga e os malfeitos
que as suas sentenças corrigem, que, portanto, é mais cintilante e mais
merecedor de câmeras, aplausos na rua e celebridade do que qualquer astro do
mundo pop ou qualquer “digital influencer” do universo digital. Juiz não arbitra,
juiz performa (em) julgamentos; juiz não analisa autos, juiz participa, como
protagonista, de espetáculos judiciais, de épicos políticos, de odisseias
democráticas.
Nem vou mencionar a contribuição de
Dallagnol, dos piás do MP de Curitiba e, agora, de Janot, para a figura do
procurador afobado, do procurador palmatória do universo e, por fim, do
procurador-tira.
Pelas minhas contas, de todos os envolvidos,
apenas os políticos não foram diminuídos pela crise. Ninguém perde o que não
tem e, como diz o Barão, de quem menos se espera, daí é que não sai nada mesmo.
Ao contrário, parecem ratos e baratas em um cenário apocalíptico,
multiplicados, luzidios e onipresentes. Estão em frenesi.
Rá. Quem achou que aquele impeachment maroto
iria significar o fim dos nossos problemas mal podia imaginar que ali apenas
iniciava o caos. I told you, didn’t I?
*Wilson Gomes é professor da Faculdade de
Comunicação da UFBA
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