"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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domingo, 16 de agosto de 2020

Eita realidade... Por Régis Barros

Sinto dor e tristeza e gostaria que essa dor pudesse acordar aqueles que ainda podem ser acordados.

*Por Régis Barros | ABMMD - CE
A realidade é soberana. Podemos negá-la e racionalizá-la, mas, quando ela se impõe, não há mais barganha. Até tentei negar e racionalizar essa dita realidade, mas, hoje, não consigo mais. A realidade nos mostra uma sociedade mesquinha, egoísta e que flerta com o fascismo. Duro, mas é verdade. Tentei achar que isso não era possível, mas, lamentavelmente, é fato. O mal está banalizado. A truculência é propagada. A perversão é real. Olhares de admiração para a tortura, o preconceito, a misoginia e a ditadura são, cada vez mais, comuns. Lendo Primo Levi e Viktor Frankl, que descreveram muito bem a atuação cruel do nazismo em Auschwitz, entendi um pouco o nosso momento e a nossa sociedade. Ambos falam da morte moral no campo de concentração e de como conseguir sobreviver diante de todas as atrocidades. Eles lembram e descrevem que aquelas atrocidades, difíceis de entender e de digerir, foram feitas por humanos. Foram feitas por humanos semelhantes a eles. Foram executadas por humanos semelhantes às crianças, aos jovens e aos velhos, que sumariamente foram assassinados. Levi e Frankl explicam que eles não fizeram isso sem apoio. Eles não estavam sozinhos. Havia uma sociedade e um coletivo majoritário de pessoas que apoiavam essa construção horrenda e que acreditavam, sem crítica, que aquela escolha era a certa. Portanto, perceber, atualmente, sociedades que caminham com tais idiossincrasias e perversidades não é inédito. As crueldades, como pauta social e governamental, alimentam o desejo de vários que compõem essa sociedade. A perversão é aceita, valorizada e apoiada. Perdemos! Todos nós perdemos. Eu e você perdemos. Não demos conta da derrota, mas perdemos. Os campos de concentração internos, em cada apoiador dessa perversão social, estão aí e bem presentes. Tudo com muita dor. Sinto dor e tristeza e gostaria que essa dor pudesse acordar aqueles que ainda podem ser acordados. Como dito por Renato Russo, “se tua voz tivesse força igual a imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a minha casa, mas a vizinhança inteira”.

*Régis Barros é médico psiquiatra, mestre e doutor em saúde mental



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