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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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terça-feira, 15 de junho de 2021

É hora de escolher qual vacina contra a covid-19 devemos tomar?

Pesquisadores apontam que eficácia e efeitos colaterais não são bons parâmetros de comparação entre os imunizantes; neste momento da pandemia, o mais racional é vacinar o maior número de pessoas

Por Fabiana Mariz e Guilherme Gama | Jornal da USP
Arte jornal da USP sobre imagem Freepik

À espera de uma possível terceira onda, o Brasil vacina em ritmo lento. A indisponibilidade de insumos para fabricação dos imunizantes e a falta de estratégias em nível governamental para garantir o comparecimento dos cidadãos aos postos de saúde se refletem em números. Até o dia 10 de junho, quando finalizamos esta reportagem, cerca de 480 mil pessoas haviam perdido a vida para a covid-19, e os casos confirmados passavam de 17 milhões, segundo dados do Ministério da Saúde. Por outro lado, 51.846.929 de pessoas haviam recebido a primeira dose — o equivalente a 24,48% da população brasileira, e menos da metade (23.418.325) garantiram a segunda.

Nas últimas semanas, a aplicação do imunizante foi feita em menor velocidade, segundo painel do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP. Mesmo com essa demora na fila, ainda há pessoas que deixam de se vacinar por terem preferência entre as três vacinas disponibilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. 

Entretanto, pesquisadores apontam que comparar as taxas de eficácia de cada imunizante não faz sentido, devido aos contextos particulares de obtenção desses dados. O mais racional, portanto, é apoiar-se nos resultados coletivos de uma vacinação em massa, que são positivos no caso dos três imunizantes aplicados. Efeitos colaterais também não devem ser levados em conta  — salvo contra indicações, pois reações graves são raríssimas e variáveis em cada indivíduo.

A “queridinha” da vez é a vacina produzida pela Pfizer/BioNTech e as razões vão desde os efeitos colaterais mais comuns reportados por quem tomou a vacina de Oxford/Astrazeneca até o receio quanto à efetividade da Coronavac em reduzir número de casos e hospitalizações. Porém, de acordo com Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), na qual atua como e professor de Imunologia Clínica e Alergia, o cenário atual de vacinação no País não permite que a população eleja um imunizante de preferência: “Nós temos que tomar a vacina que está disponível”, garante Kalil. “A eficácia só é importante em nível individual quando uma imunização é feita de forma preventiva ou com poucos vírus circulando.”

Letícia Kawano, médica pneumologista, pesquisadora do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração (HCor) e membro do grupo de desenvolvimento de diretrizes em tratamentos para covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta que o mais importante, neste momento, é alcançar a imunidade coletiva, ou “de rebanho”. Essa forma de imunização acontece quando atinge-se uma porção de imunizados suficiente, numa população, para proteger os demais, de forma indireta, ao barrar a transmissão viral. “É isso que de fato vai controlar a doença, não a vacinação individual”, garante. “Se as pessoas ficam adiando sua vacinação porque querem receber essa ou aquela vacina, isso posterga a proteção de toda a população.”

Letícia usa como exemplo o projeto S, realizado pelo Instituto Butantan em Serrana, cidade que integra a região metropolitana de Ribeirão Preto. Lançado em fevereiro deste ano, teve como objetivo aplicar a Coronavac nos moradores e, posteriormente, analisar o impacto da imunização na redução de casos de covid-19 e no controle da pandemia. Os resultados, divulgados em 31 de maio, mostraram que 27.160 pessoas tomaram as duas doses, ou seja, 95% da população. Houve uma redução de 95% dos óbitos, de 86% das hospitalizações e de 80% dos casos sintomáticos da doença.

Outro dado mostrou que, quando 75% da população estava imunizada, a proteção era estendida aos não vacinados. “Isso mostra que, mesmo quando se utiliza uma vacina que é boa (ou suficiente) em larga escala, se controla a doença”, pontua a Letícia. 

Em nível internacional, o pesquisador Jorge Kalil exemplifica a importância da vacinação em massa com países que aplicam imunizantes também usados no Brasil. Em Israel, as medidas de restrição para contenção da transmissão viral foram retiradas após o sucesso do programa de vacinação que contou, em sua maior parte, com a vacina da Pfizer. No país, mais da metade da população está completamente imunizada e os casos graves da doença quase eliminados. Já na Escócia, que contou também com as doses da Astrazeneca, o cenário é semelhante. “Mesmo sem 100% de eficácia, as vacinas aplicadas no Brasil fornecem grande proteção, principalmente quando usadas em grande porção da população”, completa.





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