O poeta e escritor francês
Honoré de Balzac dizia que "os costumes são a hipocrisia de uma
nação". Acho que essa frase vale mais do que nunca para nós, brasileiros.
Não acredito em generalização,
claro. Não somos todos nós os hipócritas. Pelo menos os hipócritas da vez. E
sim eles, os "manifestantes contra a corrupção".
Sim, talvez você faça parte
desse grupo. Capaz que você nem imagine o quão hipócrita é, por apenas ter
servido como massa de manobra de interesses mesquinhos de um grupo bem
específico.
Mas, talvez você saiba da sua
hipocrisia, e não tenha a menor vergonha de admiti-la.
De qualquer forma, foram alguns
os milhões de brasileiros que ocuparam as ruas desde o ano passado para
protestar contra a corrupção - e consequentemente pelo impeachment da
presidente Dilma
Rousseff.
Veja bem: a impopularidade de
Dilma era algo que quase partia do senso comum do brasileiro. A diferença se
encontra nos motivos e causas que geraram tal indignação.
Por exemplo, as classes C, D e E
não gostavam de Dilma não por achar ela culpada de toda a corrupção denunciada
pela Lava
Jato. Eles não aprovavam seu governo por justamente não ter
dado continuidade aos programas e avanços do governo Lula. O
ajuste fiscal, a perda de consumo, tudo isso foi um reflexo de sua
impopularidade com a classe trabalhadora.
Já vocês, os "manifestantes
contra a corrupção", pouco se importam com o ajuste fiscal. Terceirização,
privatização e corte em programas sociais é visto como algo positivo por boa
parte daquela massa confusa que ocupou as ruas.
Digo boa parte porque não são
todos assim em sua totalidade. Como disse acima, talvez você seja
"manifestante contra a corrupção", mas também tenha sido parte de uma
massa de manobra bem articulada.
Faço esse texto porque não ouço
panelas batendo. Não vejo manifestantes com a cara pintada e a bandeira do
Brasil nas ruas.
Muito menos congressistas
irritados com a corrupção na frente das câmeras, e a abraçando antes de dormir
longe dos holofotes.
Pelo menos 7 dos novos ministros
indicados por Michel Temer estão sendo investigados pela Justiça. Alguns
até mesmo são investigados pela Polícia Federal na operação Lava Jato.
Nem por isso o grupo fascistoide
Revoltados On Line fez protesto na frente da casa desses novos ministros -
assim como o fizeram quando Lula foi quase indicado para o Ministério da Casa
Civil por Dilma.
E o senador Aécio Neves? O
ministro do STF,
Gilmar Mendes, em menos de 24 horas, aceitou os argumentos do tucano e seus
advogados, suspendendo as investigações sobre Aécio no caso de Furnas.
Resolvi fuçar a página dos
liberais do Movimento Brasil Livre. Nenhuma postagem sobre.
NENHUMA. NENHUMA NOTA. NADA.
Pensei em pegar um cartaz e
escrever em letras garrafais: PROCURA-SE O MANIFESTANTE CONTRA A CORRUPÇÃO.
Onde ele foi parar?
A resposta é mais simples do que
você imagina.
Nunca existiu nenhuma campanha
popular contra a corrupção. A corrupção nada mais é do que o instrumento de
grupos políticos pré-estabelecidos em um sistema corrupto para atacar seu
rival, geralmente da situação (governo). Quando o cenário muda de lado, é a vez
desse grupo político se defender das acusações.
A corrupção faz parte de um
sistema que concilia partidos políticos com os interesses de multinacionais e
empresas privadas, aceitando doações generosas para campanhas políticas.
E meu amigo, nenhum desses que
estão no novo governo defendem o fim do financiamento privado. Nem os
fascistoides do Revoltados Revolts. Nem os liberuxos do MBL. Nem mesmo o Temer,
oras.
"Mas, primeiro derrubamos a
Dilma, agora iremos derrubar o restante".
Não, amigo. Não vão não.
Esses grupos que organizaram os
protestos contra Temer já fazem campanha em defesa de seu novo governo. Talvez
porque enquanto vocês torravam no sol durante a mega-ultra-manifestação na
Avenida Paulista, esses caras que lideram tais grupos estavam ali nos
bastidores, negociando cargos e ganhos em cima de tudo isso.
É diferente de 2013.
Em 2013 não havia lideranças.
Não era preciso três carros de som gigantescos para colocar milhões de pessoas
na rua. Muito menos era preciso protestar só nos domingos - pelo contrário, era
todo dia, toda noite, toda madrugada se for preciso.
Ainda dá tempo de negar essa
hipocrisia, e entender o jogo como funciona.
Antes que seja tarde. Não é
preciso "temer".
Fonte:
Publicado em www.brasilpost.com.br
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