*Por Manoel Fonseca
Texto publicado originalmente na página do Facebook da ABMMD-CE
A cloroquina é usada há mais de 70 anos no Brasil e o seu derivado, a hidroxicloroquina, para tratamento de malária e algumas doenças reumáticas, como o lúpus e a artrite reumatoide. Nestes dois últimos casos, por geralmente ser um tratamento mais prolongado, há a necessidade de acompanhamento sistemático por um médico, pois pode causar lesões oculares e até cegueira e distúrbios cardíacos graves e até o óbito. Dependendo da dosagem, estes distúrbios podem acontecer precocemente.
Bolsonaro e o general Ministro da Saúde resolveram liberar geral a cloroquina, produzida pelo Exército, para uso nas Unidades de Saúde ambulatoriais do SUS. Estão praticando uma temeridade e, potencialmente, podem propiciar problemas de saúde graves e até mortes das pessoas, pois elas irão para casa e, numa intercorrência aguda, dificilmente chegarão ao hospital a tempo. Para se proteger de possíveis processos, o Ministério da Saúde e seu general-Ministro orientam os médicos a pedirem ao paciente que assine um "termo de consentimento informado", praticamente isentando o profissional e o Ministério sobre qualquer efeito colateral que possa advir e responsabilizando o paciente pela escolha deste medicamento. Este termo de consentimento ressalta que "não existe garantia de resultados positivos" e que "não há estudos demonstrando beneficios clinicos". O documento afirma ainda que o paciente deve saber que a cloroquina pode causar efeitos colaterais que podem levar a "disfunção grave de orgãos, ao prolongamento da internação, à incapacidade temporária ou permanente e até óbito".
A Medicina Suplementar, em especial a Unimed e a Hapvida, no Ceará, resolveram aderir à orientação do Ministro-general e distribuir a cloroquina em nivel ambulatorial e também responsabilizar o paciente pela decisão de aceitar este tratamento e pelos possiveis efeitos colaterais, alguns muito graves, que poderão ser letais, pedindo que ele também assine um "termo de consentimento informado, semelhante ao do Ministério da Saúde.
Estão promovendo uma falácia, justificando que esta decisão reduziria as internações e a ocupação dos leitos de UTI e protegeria seus clientes.
Documento divulgado em 19/05/2020 pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, pela Sociedade Brasileira de Infectologia e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, reunindo ao todo 27 especialistas, informa terem chegado a um consenso para não recomendar o uso da cloroquina e a hidroxicloroquina no tratamento da COVID19, por não encontrarem nenhuma evidência científica de seus benefícios. Este consenso é respaldado numa bibliografia contendo 79 publicações nacionais e internacionais de estudos e pesquisas sobre este tema.
O governo Bolsonaro, que estimula a morte de milhares de pessoas por Covid19, por sua vergonhosa omissão e insistente militância contra o isolamento social, poderá ser responsavel por mais uma tragédia: o aumento de mortes, para além das causadas pela Covid19, devido ao uso indiscriminado e abusivo de cloroquina.
*Manoel Fonseca é Médico Sanitarista. Epidemiologista e Mestre na área de Saúde Pública
Fonte: Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia - ABMMD-CE
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