"Quando eu falava dessas cores mórbidas. Quando eu falava desses homens sórdidos. Quando eu falava desse temporal. Você não escutou." (Paisagem da Janela / Fernando Brant e Lô Borges)
Por Manoel Paixão
Meu caro leitor e minha cara leitora,
Todo mundo lembra que Bolsonaro foi eleito com discurso antissistema, anticorrupção e contra a "velha política". E aquele blá-blá-blá, que a gente conhece bem!
Refrescando a memória: "Um governo sem toma lá dá cá, sem acordos espúrios. Um governo formado por pessoas que tenham compromisso com o Brasil e com os brasileiros. Que atenda aos anseios dos cidadãos e trabalhe pelo que realmente faz a diferença na vida de todos. Um governo que defenda e resgate o bem mais precioso de qualquer cidadão: a liberdade. Um governo que devolva o país aos seus verdadeiros donos: os brasileiros." (14 de agosto de 2018, em texto no qual divulgava o seu plano de governo)
Todo esse discurso aí caiu por terra. Logo não passava de papo furado, para enganar bobos.
Um resumo do Brasil atual: país vivendo uma crise política, econômica, social e sanitária, tão avassaladora; frustração crescente de parte da população, perda de credibilidade e repercussão internacional negativa do governo; presidente perdendo aprovação, sofrendo graves acusações de possíveis crimes comuns e crimes de responsabilidade, preocupado com o avanço de investigações envolvendo o seu entorno e acumulando pedidos de impeachment.
É nesse cenário que, se vendo todo acuado, Bolsonaro se agarra ao chamado Centrão — comandado por políticos comprovadamente envolvidos com a corrupção — para evitar o isolamento político e institucional, e se safar de um eventual processo de afastamento do cargo, recorrendo ao "toma lá dá cá", prática que até pouco tempo, dizia repudiar. Somando-se ainda as denúncias de supostas interferências políticas do presidente nas instituições em nome de interesses pessoais, e a clara tendência do seu governo ao autoritarismo, com ameaças à liberdade de imprensa e à própria democracia.
Sem perder tempo, Bolsonaro abriu o balcão de negócios no Planalto, e já começou a fazer a distribuição de cargos em troca de apoio no Congresso. E partidos do Centrão, como o PP e o Republicanos, já emplacaram nomes em órgãos vinculados ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
Nada de se estranhar, só mais da velha política de sempre. Também pudera, tendo em vista que sua carreira parlamentar irrisória se fez no antro político do Centrão.
Aliás, estranho mesmo, são as contradições dos fiéis seguidores da seita bolsonarista — que ultrapassa todas as barreiras do ridículo —, dispostos a seguir cegamente o seu mito, os ditos "cidadãos de bem desse país ", adeptos do discurso da "anticorrupção" e da "moralização da política", pois na cabeça dessa gente, tudo isso que anda acontecendo pouco importa e o governo Bolsonaro representa a tal da "nova política".
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