Em meio ao caos e as incertezas sobre o futuro, eis que desdenhosamente escutamos isso.
*Por Régis Barros
Publicado originalmente na página do Facebook da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia - ABMMD - CE.
Guardem essa expressão. Ela pode parecer boba, mas diz muito. Ela foi dita hoje (28). Vocês viram e escutaram. Isso não é uma invenção minha ou da imprensa. Ela foi falada. Ao ser questionado, aquele que deveria liderar as ações contra a COVID-19 iniciou sua fala mórbida com esse “e daí?”. Depois, todos podem checar o restante da fala. Ela é digna de pena e de revolta. Desrespeito e ausência de empatia. Já temos mais de 5.000 óbitos e mais de 70.000 casos registrados. E olhe que a subnotificação de ambos os números é importante. Ou seja, estamos começando a alcançar aquilo que alguns países europeus viveram semanas atrás. Mortes, desespero e dor. A morte de uma pessoa amada já traz naturalmente dor, porém, nas circunstâncias de colapso do sistema, produzido pela COVID-19, é muito mais doloroso. Escolhas de quem vive e de quem morre, mortes solitárias, ausência de velórios e impotência preenchem a realidade. Nenhum chefe de estado desdenhou desse cenário. Nenhum chefe de estado teve postura pouco empática com aqueles que morreram e com os seus familiares.
Portanto, “e daí?” é “o raio que o parta”! Quanta cretinice. Quanta safadeza. Em meio ao caos e as incertezas sobre o futuro, eis que desdenhosamente escutamos isso. Quem falou isso, certamente, tem em sua estrutura uma marca bem comum na sociopatia – o desrespeito pelo alheio preenchido pela falta de remorso e de culpa. Chegamos num ponto em que não temos mais uma pauta política e ideológica, mas sim uma questão de lutar por humanidade. Deixo aqui os meus sinceros sentimentos a todos os familiares dos mais de 5.000 falecidos pela COVID-19 no Brasil.
*Régis Barros é médico psiquiatra, mestre e doutor em saúde mental.
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