Por Ulysses Ferraz
A
causa do impeachment é fragilíssima. Não existe nenhuma base legal que a
sustente. Todos sabem disso, até mesmo seus autores. As pedaladas não
passaram de uma ficção mal feita. Dramaturgia ruim. Roteiro surreal
povoado por personagens impensáveis até nas obras mais farsescas. A
vilania de Eduardo Cunha, a hipocrisia de Aécio Neves, a covardia de
Michel "Fora" Temer, as interpretações afetadas de Janaína Paschoal, e
tantas outras aberrações impensáveis, não caberiam em nenhuma narrativa
ficcional, em nenhum mundo possível, exceto em nosso Brasil real de
hoje. Ninguém teria a imaginação de criar um rol de personagens tão
grotesco e reuni-los todos na mesma trama. Até o público mais tolerante
exigiria um mínimo de plausibilidade. Esse impeachment não se sustenta
nem juridicamente, nem tecnicamente, nem politicamente. É uma farsa sob
qualquer aspecto que se queira analisar. Um golpe tosco. Rudimentar.
Grosseiro. E, no entanto, caminha incólume para um desfecho vitorioso. O
povo se cala. A imprensa frauda pesquisas, manipula dados econômicos,
blinda golpistas e ataca seletivamente aqueles que pretende destruir. O
maior crítico e ativista contra o golpe brasileiro é um jornalista
norte-americano. Paradoxo. O Brasil vive imerso em uma espécie de
torpor. Uma indiferença naturalizada. Em tempos de olimpíadas, um golpe
derrubou o país. Com um cruzado da direita, fomos assaltados no logo
primeiro assalto. Antes de o gongo tocar. O nocaute já estava consumado.
Por pontos. Os juízes foram unânimes. As regras? Ora, as regras... E os
fatos? Ora, os fatos... As leis? Ora, as leis... As regras, os fatos,
as leis, os juízes, nada disso existe por si. Serão sempre as ficções
que os poderosos quiserem que sejam. Vivemos numa espécie de Matrix
jurídica e econômica manipulada pelos interesses das classes dominantes.
Somos corpos que dissipam energia humana para manter em funcionamento a
máquina da plutocracia. Seres ficcionais a serviço de uma distopia
real. A história do Brasil é a história das ficções escravizantes. Com a
força da lei.
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