"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O país das ficções escravizantes com força de lei


Por Ulysses Ferraz
 
A causa do impeachment é fragilíssima. Não existe nenhuma base legal que a sustente. Todos sabem disso, até mesmo seus autores. As pedaladas não passaram de uma ficção mal feita. Dramaturgia ruim. Roteiro surreal povoado por personagens impensáveis até nas obras mais farsescas. A vilania de Eduardo Cunha, a hipocrisia de Aécio Neves, a covardia de Michel "Fora" Temer, as interpretações afetadas de Janaína Paschoal, e tantas outras aberrações impensáveis, não caberiam em nenhuma narrativa ficcional, em nenhum mundo possível, exceto em nosso Brasil real de hoje. Ninguém teria a imaginação de criar um rol de personagens tão grotesco e reuni-los todos na mesma trama. Até o público mais tolerante exigiria um mínimo de plausibilidade. Esse impeachment não se sustenta nem juridicamente, nem tecnicamente, nem politicamente. É uma farsa sob qualquer aspecto que se queira analisar. Um golpe tosco. Rudimentar. Grosseiro. E, no entanto, caminha incólume para um desfecho vitorioso. O povo se cala. A imprensa frauda pesquisas, manipula dados econômicos, blinda golpistas e ataca seletivamente aqueles que pretende destruir. O maior crítico e ativista contra o golpe brasileiro é um jornalista norte-americano. Paradoxo. O Brasil vive imerso em uma espécie de torpor. Uma indiferença naturalizada. Em tempos de olimpíadas, um golpe derrubou o país. Com um cruzado da direita, fomos assaltados no logo primeiro assalto. Antes de o gongo tocar. O nocaute já estava consumado. Por pontos. Os juízes foram unânimes. As regras? Ora, as regras... E os fatos? Ora, os fatos... As leis? Ora, as leis... As regras, os fatos, as leis, os juízes, nada disso existe por si. Serão sempre as ficções que os poderosos quiserem que sejam. Vivemos numa espécie de Matrix jurídica e econômica manipulada pelos interesses das classes dominantes. Somos corpos que dissipam energia humana para manter em funcionamento a máquina da plutocracia. Seres ficcionais a serviço de uma distopia real. A história do Brasil é a história das ficções escravizantes. Com a força da lei.

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