Por Ulysses Ferraz
Para
aqueles cujos bois estão confortavelmente deitados debaixo da sombra, tanto faz
"impeachment", golpe, perda de direitos, retrocessos em políticas
públicas, mais concentração de riqueza, mais injustiça social, mais exclusão,
menos Estado. É tudo uma bobagem. Conversa de "esquerdopata". Assunto
de "comunista". Seja lá o que isso signifique. Mas a questão é que
essa manobra jurídico-parlamentar, nomeiem como quiser, afetará milhões de
brasileiros somente para beneficiar um punhado de plutocratas desavergonhados e
sem moral, que fazem da hipocrisia e do cinismo um meio de vida. Num país com
tanta desigualdade social, não há tempo a perder. Um único dia com direitos a
menos já causa estrago suficiente. Cada minuto conta. Toda paralisação é
catastrófica. O Brasil não tem "reservas sociais" para queimar.
Programas sociais não são como operações cambiais que podem flutuar às custas
de reservas em moeda estrangeira. Pouco importa se em 2018 haverá eleições e os
rumos do país provavelmente caminharão para dias melhores. Além de ser uma
aposta sempre imprevisível (quem poderia imaginar um golpe de Estado em pleno
2016?), o país tem pressa. As carências sociais são profundas. Extensas.
Intensas. Dois anos e meio nesse ritmo de desmonte irresponsável de políticas
sociais será uma eternidade. Paradoxalmente, uma eternidade que correrá a toda
velocidade. Quando se trata de destruição, o tempo é mais veloz. O que se leva
tempo para construir destrói-se num átimo. E o tempo que voa não volta atrás.
As perdas não retroagem. O sofrimento deixa marcas perenes. Para uma parcela
significativa da população, a confirmação de Michel Fora Temer na presidência
trará impactos mediatos e imediatos. E seus efeitos devastadores se propagarão
para muito além de 2018. Muitos serão irreversíveis. Significará mais
empobrecimento. Mais desamparo social. Precarização. Desesperança.
Esquecimento. Negligência. No limite, serão tempos de brutal abandono aos
abandonados de sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário