Por Ricardo Miranda
![]() |
juíza Carolina Moura Lebbos |
“O velho mundo agoniza, um novo mundo
tarda a nascer, e, nesse claro-escuro, irrompem os monstros”.
Aforismo do filósofo Antonio Gramsci,
lembrado pelo ativista Noam Chomsky, em vídeo de apoio a Lula
Responsável pelas decisões sobre a
custódia do ex-presidente Lula, a juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara
Federal de Curitiba, vem transformando o cárcere político do ex-presidente Lula
numa verdadeira solitária. Observação: você não precisa concordar que seja um
cárcere político, quem diz isso sou eu. Partindo do princípio da isonomia com
outros investigados da Lava Jato – coisa que Lula nunca teve, em momento algum
do processo que o levou à prisão -, admitamos que a discípula de Sérgio Mouro
tenha o direito de não permitir uma procissão diária à cela de 15 metros
quadrados reservada ao ex-presidente. Também não é possível, por outro lado,
que não use de um pouco mais de bom senso diante de algumas pessoas que desejam
legitimamente visitar Lula – e ver as condições em que se encontra.
Que pessoas? Bom, Miss Lebbos barrou
visitas de Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, e de Leonardo Boff, um
dos pais da Teologia da Libertação, ambos amigos pessoais de Lula. Agora, em
despacho desta terça, 23, negou permissão a uma ex-presidente da República,
Dilma Rousseff. Por volta das 15h, Dilma chegou à Superintendência da PF para
tentar encontrar-se com o colega de partido. Ficou do lado de fora. Também
ficou no vácuo uma “Comissão Externa” criada pela Câmara dos Deputados para
“verificar in loco” as condições em que Lula se encontra na PF. A senadora e
presidente do PT Gleisi Hoffmann, ex-senador Eduardo Suplicy (PT), o
presidenciável Ciro Gomes, o ex-ministro Carlos Lupi, o deputado Paulo Pimenta,
e o deputado Wadih Damous (PT), que chegou a pedir para visitar Lula na
condição de advogado, estão entre os barrados na pefelândia. Sobre visitas, a
magistrada ressalta que, em duas semanas, chegaram “requerimentos de visitas
que abrangem mais de uma dezena de pessoas, com anuência da defesa, sob o
argumento de amizade com o custodiado”.
É evidente que algumas dessas visitas
servem para criar fatos políticos. Manter Lula no noticiário. Criar uma comoção
em torno de sua prisão. Ninguém está camuflando essa estratégia – aliás,
politicamente legítima. Mas as negativas peremptórias de Miss Lebbos apenas
alimentam a sensação de que, ao invés de impedir que Lula receba privilégios, o
que se faz é reservar a ele restrições desproporcionais. Ela quer tratar Lula
como um preso comum, ok. Mas alguém acha – mesmo que tenha pousado agora num
disco voador no planeta Brasil – que Lula é um preso como qualquer outro?
Esquivel e Boff não poderiam visita-lo? Dilma não poderia passar 10 minutos com
ele? Se não quer abrir a porteira, que faça uma triagem justa. Tanto que em sua
negativa, a juiz escorrega no verbete: “o alargamento das possibilidades de
visitas a um detento, ante as necessidades logísticas demandadas, poderia
prejudicar as medidas necessárias à garantia do direito de visitação dos
demais”. Quantos presos estão detidos ali? Qual a média de visitas diárias?
Esse “alargamento” faria algum mal ao entra e sai na gloriosa PF curitibana?
É difícil até saber se hoje, para o PT,
não será mais vantajoso poder usar a imagem de um Lula isolado, como tem feito,
do que qualquer prejuízo à rotina do sistema penitenciário local – neste caso,
uma cela improvisada na PF de Curitiba – que visitas como de Esquivel, Boff e
Dilma pudessem trazer. Em boa parte desta segunda, 23, o UOL, um dos principais
portais de notícia do país, manteve como manchete: “Juíza barra Dilma, Ciro,
Gleisi e todos os outros pedidos para visitar Lula”. Ao todo, 23 pedidos de
visita ao ex-presidente Lula foram negados por Miss Lebbos até a tarde desta
segunda, 23, entre eles, o do escritor Raduan Nassar.
A tentativa de dessacralizar Lula está
ficando cada dia mais difícil. Depois de Esquivel prometer indica-lo ao Nobel
da Paz, o linguista, filósofo e ativista americano, Noam Chomsky, gravou um
vídeo de apoio à libertação de Lula. No país de Jucá, Geddel,
Padilha e Moreira, fica difícil sair explicando quem são Esquivel, Boff, Nassar
e Chomsky. É tão desigual que soa injusto. Mas Miss Lebbos sabe o que faz.
Afinal, basta assistir qualquer sessão do Supremo na TV Justiça para lembrar
que a Justiça é cega.
Fonte: Publicado em Os Divergentes
Nenhum comentário:
Postar um comentário