População tem rejeição à velhice, diz presidente de Sociedade de Geriatria
“A nossa sociedade
tem rejeição à velhice. Vivemos em uma sociedade que rejeita envelhecer
e isso deixa o idoso à margem”. A declaração é do presidente da
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, João Bastos Freire
Neto. Segundo ele, determinantes culturais, sociais, comportamentais e
de acesso à saúde, por exemplo, não permitem um envelhecimento
participativo no Brasil e isso faz com que as pessoas não queiram chegar
à velhice.
No Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a
Pessoa Idosa, lembrado nesta quarta-feira (15), o geriatra explica que é
preciso ver a velhice em todas as fases da vida e não só quando a
pessoa chega aos 60 anos. “Hoje, a grande violência contra o idoso é ter
uma criança fora da escola. Essa criança que não tem acesso à educação tem toda a condição de chegar a ser um idoso vulnerável”, disse.
Bastos
disse que com menos acesso à educação maior o risco de se ter uma
dependência na velhice. Ele explica que a população idosa que sofre
violência é aquela que tem alguma limitação na funcionalidade e que tem
uma família despreparada e sem um suporte formal de cuidados.
“Quando falamos sobre o que aparece, estamos falando das consequências.
Precisamos falar das causas e de uma estrutura melhor para esses
cuidadores”, disse.
O Disque 100, serviço de denúncias de
violência do governo federal, recebeu 12.454 denúncias de violência
contra a pessoa idosa de janeiro a abril de 2016. Os dados da Secretaria
de Direitos Humanos, do Ministério da Justiça e Cidadania
apontam que entre os denunciados, 54,48% são filhos das vítimas. Entre
as violações mais recorrentes aos idosos estão a negligência, a
violência psicológica, o abuso financeiro e a violência física.
De
2011 a 2015, houve um crescimento de 292% no número de denúncias de
violência contra o idoso ao Disque 100. Em 2011, foram 8.224 denúncias
e, em 2015, 32.238 denúncias.
Para Bastos, a atuação dos conselhos
municipais e estaduais criaram um sistema de vigilância maior em
relação à pessoa idosa, com o aumento da possibilidade de denúncias.
Junto a isso, segundo ele, há o aumento da população idosa e a
diminuição do tamanho das famílias, deixando mais pessoas vulneráveis à
violência.
“Nos últimos 50 anos, o Brasil saiu de uma expectativa
de vida de 48 anos para 78 anos. A questão é que ganhamos esses 30 anos
de vida, porém em uma condição de dependência. Precisamos aumentar a
expectativa de vida saudável que depende dos cuidados à saúde e outros
fatores. Para aumentar a expectativa de vida saudável, precisamos
discutir como crianças, adolescentes e adultos estão vivendo para ter
uma velhice que seja com funcionalidade”, completou o geriatra.
Tipos de violência
O
Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa foi
instituído pela Organização das Nações Unidas e pela Rede Internacional
de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa em 2006 e tem como objetivo
criar uma mobilização mundial tanto no âmbito social como no político,
para que as pessoas não aceitem esse tipo de violência e não se esqueçam
da importância do tema.
A negligência é a omissão por familiares
ou instituições responsáveis pelos cuidados básicos para o
desenvolvimento físico, emocional e social do idoso, tais como privação
de medicamentos, descuido com a higiene e saúde, ausência de proteção
contra o frio e o calor. O abandono é uma forma extrema de negligência.
A
violência psicológica corresponde a qualquer forma de menosprezo,
desprezo, preconceito e discriminação, incluindo agressões verbais ou
gestuais, com o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir a
liberdade ou isolar a pessoa idosa do convívio social. Pode resultar em
tristeza, isolamento, solidão, sofrimento mental e depressão.
O
abuso financeiro e patrimonial consiste no usufruto impróprio ou ilegal
dos bens dos idosos, e no uso não consentido por eles de seus recursos
financeiros e patrimoniais, como, por exemplo, obrigar a pessoa a
contrair empréstimos.
A violência física inclui abuso e maus
tratos físicos, que constituem a forma de violência mais visível e
costumam acontecer por meio de empurrões, beliscões, tapas ou por outros
meios mais letais, como agressões com cintos, armas brancas (facas e
estiletes) e armas de fogo.
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