"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Tiram o bode da sala, colocam Vélez Rodriguez

Numa das postagens que fez para patrocinar a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez para o MEC (pois é claro que não basta influenciar, tem que ostentar a influência), Olavo de Carvalho escreveu que ele é "a pessoa que mais entende de pensamento político-social brasileiro - motivo suficiente para que eu o considere o melhor nome para o Ministério da Educação".

Faz pouco tempo, eu li um paper do futuro ministro sobre pensamento político brasileiro contemporâneo. Era longo, muito longo, mas raso demais, sem qualquer aprofundamento analítico, consistindo sobretudo numa listagem de nomes e obras, encaixados em "correntes" meio bizarras. O grande destaque, obviamente, era Antonio Paim, o patriarca do conservadorismo na filosofia política brasileira. O maior nome vinculado ao pensamento da Escola de Frankfurt no Brasil seria Vamireh Chacon (!) e Demétrio Magnoli era destacado na corrente "social-democrata" (!). O marxismo quase não aparecia, anexado que estava ao "lulopetismo" - sim, uma das correntes do pensamento político brasileiro. O texto mencionava com certeza mais de uma centena de nomes; as mulheres eram talvez uma meia dúzia, não mais que isso.

O paper é tudo o que conheço da obra acadêmica de Vélez Rodríguez. Mas vi pela imprensa trechos do que ele escreve em blogs e quetais: "ciência" é quase uma ofensa em sua boca, "gênero" é uma "invenção deletéria" e a escola precisa é de "comitês de ética" para supervisionar o comportamento dos estudantes. Ele tem ao menos o mérito de assumir sem rodeios o espírito do "Escola Sem Partido" (sic): o ódio à educação, por colocar em xeque os "valores tradicionais da nossa sociedade".

Vélez Rodríguez não tem o olhar vidrado de Guilherme Schelb, o bode habilmente introduzido na sala pelas especulações de ontem para o MEC. Até onde sei, não se vê como alguém a quem Deus em pessoa confiou a missão de derrotar os ímpios. Uma olhada no seu currículo indica que sempre foi conservador, mas que - coincidência ou não - se radicalizou e assumiu um discurso tão caricato só quando essas posturas começaram a render vantagens.

Mas isso não faz dele uma opção melhor. Um com fanatismo, outro de forma mais calculista, ambos abraçam o mesmo projeto, que é o combate sem tréguas à educação no Brasil.


*Luis Felipe Miguel - Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades. Pesquisador do CNPq. Autor de diversos livros, entre eles Democracia e representação: territórios em disputa (Editora Unesp, 2014), Feminismo e política: uma introdução (com Flávia Biroli; Boitempo, 2014).




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