Por Fernando Brito
Evidente que nenhuma pessoa responsável pode apontar as causas diretas do horrível rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho.
Não há, sequer, informações precisas sobre o número e a gravidade das vítimas do acidente.
Embora, sendo a segunda catástrofe ambiental e humana em três anos de mineração, a palavra acidente já deva ser vista com certa reserva.
A privatização fez crescer muito a produção de minério de ferro, que dobrou desde o fim do controle estatal e mineração é uma indústria que deixa rejeitos e devastação por onde passa. Mesmo com programas de recuperação ambiental, o custo é certamente enorme.
Mas há outro fator que deve entrar nas preocupações de quem cuida da segurança desta atividade: os picos de produção que, em função do preço do minério, a extração alcança.
Ano passado, a Vale extraiu 390 milhões de toneladas de minério, um aumento de cerca de 6,5 % ante 2017. Mas, daqueles 390 milhões, 220 milhões foram apenas no segundo semestre, ou 60%. Não tenho dados das minas da região de Brumadinho, mas é provável que não tenham ficado fora do esforço geral que levou a um aumento de 25% em nossas exportações de minério de ferro.
Foram 394,24 milhões de toneladas, frente a 314,37 milhões de toneladas exportadas em 2017.
Não é implausível, para usar a palavra da vez, que isso tenha se dado sem o correspondente aumento das estruturas, porque mais minérios igual a mais rejeitos.
Se tivéssemos tido dois desastres ambientais como este nos campos de petróleo, a esta altura já estariam chamando a Petrobras de criminosa.
O fato é que está evidente que, ao contrário do que diz o atual presidente, a fiscalização do Estado tem que ser posta “no cangote” das mineradoras, que ganham fortunas.
E que, além da corrupção – quem vai bater de frente com eles, o prefeito de Brumadinho? – produzem, como se está vendo, outros mares de lama.
Fonte: Publicado no Tijolaço
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