*Por Michel Pinho
Há 184 anos, Belém iniciava um dos seus
períodos históricos mais relevantes. A cabanagem foi gestada muito antes do dia
7 de janeiro de 1835. As graves lutas sociais existentes na Amazônia, o desejo
de representatividade política de parte da elite agrária do Pará e a
insatisfação com o governo de Lobo de Souza são possíveis explicações para a
eclosão do movimento.
Há uma farta produção bibliográfica sobre
o início do século XIX no Pará. Domingos Antônio Raiol, Pasquele di Paolo e
Magda Ricci são peças chaves para entendermos um pouco desses conturbados anos.
Ricci nos informa da gradiosidade e da extensão que foram esses anos: " A
revolução social dos cabanos que explodiu em Belém do Pará, em 1835,
deixou mais de 30 mil mortos e uma população local que só voltou a crescer
significativamente em 1860. Este movimento matou mestiços, índios e africanos
pobres ou escravos, mas também dizimou boa parte da elite da Amazônia. O
principal alvo dos cabanos era os brancos, especialmente os portugueses mais
abastados. A grandiosidade desta revolução extrapola o número e a diversidade
das pessoas envolvidas. Ela também abarcou um território muito amplo. Nascida
em Belém do Pará, a revolução cabana avançou pelos rios amazônicos e pelo mar
Atlântico, atingindo os quatro cantos de uma ampla região. Chegou até as
fronteiras do Brasil central e ainda se aproximou do litoral norte e nordeste.
Gerou distúrbios internacionais na América caribenha, intensificando um
importante tráfico de idéias e de pessoas."
(http://www.scielo.br/pdf/tem/v11n22/v11n22a02)
Parte desta memória foi reelaborada e repensada
várias vezes ao longo destes séculos, mas na metade da década de 80 do século
XX, a cabanagem marcaria lugar na cidade de Belém. Eleito governador pelo PMDB,
Jader Barbalho escolheu a entrada da cidade para mostrar a magnitude do
monumento da cabanagem. Oscar Niemeyer foi o arquiteto, e sua construção é
única no norte do Brasil. Composto por um memorial, onde haviam placas
explicativas sobre o movimento, um vitral e além dos restos mortais de
personagens ilustres daqueles anos, como o cônego Batista Campos e o último
governador Eduardo Angelim. Para o arquiteto a explicação do monumento está
ligada com a luta da população: "
“a bela lâmina de concreto representa a
Cabanagem, acompanhando o caminho da História para o infinito; a grande fissura
existente significa o momento de ruptura dessa mesma História, quando a
Revolução foi esmagada, porém, como continua viva na memória do povo do Pará,
também continua seguindo o caminho da História para o infinito"
(http://www.monumentosdebelem.ufpa.br/transcodificacao/index.php/monumento/cabanagem)
A Imagem abaixo é de autoria do próprio
Niemeyer e faz parte da lista de obras largamente estudadas por estudantes de
arquitetura no Brasil. O anel viário que interliga Ananindeua, Belém e Icoaraci
acabou por impedir sua utilização como espaço museológico. O atual governador
do Estado, anunciou através do seu twitter: " O Monumento da Cabanagem sai
do abandono e ganha a atenção que merece. O @GovernoPara,
por meio da Secult, realiza, de 7 a 12 de janeiro, a programação “Belém
Cabana”, uma semana alusiva ao Movimento da Cabanagem com atrações em diversos
espaços culturais da capital. " Publicando a fotografia do espaço
recebendo iluminação especial. Palmas para a valorização do nosso
patrimônio.
*É professor, bacharel e
licenciado pleno em História pela UFPa e Mestre em comunicação, linguagens e
cultura pela Universidade da Amazônia.
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