Homem que construiu sua trajetória
com a retórica necessária a falar, desde os tempos de liderança sindical, a
multidões, Lula voltou a fazer uso de seu particular estilo oratório em um
encontro partidário em São Paulo, na presença de várias lideranças do PT e do
ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica.
Em um país em que - pelo menos por
enquanto, existe - teoricamente -liberdade de expressão, e a mentira e a
calúnia grassam impune e grosseiramente na internet, pelo menos desde 2013,
engordando o crescente ódio e a hipocrisia nacionais, sem resposta à altura -
nem política, nem jurídica - de seu próprio partido e de sua militância - vide
a ausência de defesa de Lula nas redes sociais contra os ataques que tem
recebido com relação ao tema de que trata este artigo - o ex-presidente da
República fez uso amplo de suas costumeiras expressões e trejeitos.
Chamou a atenção para a inexistência
de provas cabíveis contra ele, e para a sucessão de tentativas de incriminá-lo,
como forma de impedir que venha a se candidatar em 2018, e lembrou que poderia
"mandar" prender quem o está acusando injustamente agora, no futuro,
obviamente referindo-se à possibilidade que - também teoricamente - está
assegurada por lei, de caluniados processarem seus caluniadores.
A fala de Lula ocorre no mesmo
momento em que, com maciça divulgação de certa parcela da mídia, pela enésima
vez se apresenta mais uma acusação contra ele, desta vez feita por um gigante
moral da estatura do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, na base do disse
que me disse, de que se teria pedido 133 milhões de dólares para o PT em
negociatas envolvendo a Sete Brasil.
Ora, não seria o caso de se perguntar
- se Duque tinha essa informação - por que não a repassou antes, e preferiu
ficar o tempo que passou na cadeia e aceitar ser condenado a 57 anos de prisão
quando poderia ter feito essa denúncia logo que foi preso, e resolver de início
o imbróglio político-jurídico em que está metido?
Por que - como ocorre costumeiramente
com a Lava Jato - as provas que Duque diz possuir, não foram apresentadas no
ato da própria denúncia desta semana - no âmbito do que se está chamando,
ultimamente, no dicionário político, segundo novo termo cunhado por velha
raposa paulista, de "extorsão premiada"?
Ainda que comprovada a denúncia, como
assegurar que o nome do presidente da República não foi usado por quem pediu o
dinheiro sem o seu consentimento?
Todo mundo sabe que em esquema de
corrupção, quem pede a propina quase sempre fala que o pedido do dinheiro
partiu de cima, normalmente de alguém a quem o corruptor não tem acesso
diretamente, e que a primeira atitude de quem está fazendo a extorsão faz é
exagerar o grau de intimidade com a "otoridade" que supostamente está
pedindo o "favor", para reforçar e valorizar a chantagem.
Se Lula recebeu dezenas de milhões de
dólares, e aconselhou o próprio Duque, em outra ocasião, a não abrir contas no
exterior - como, convenientemente, para sua narrativa, diz o próprio Duque -
onde estão os recursos de que fala o narrador da vez, a quem cabe estar em
destaque, nesta semana, nos meios de comunicação?
Afinal, de que vale, para um suposto
corrupto, se apropriar de uma quantia como essa se não vai ou não poderá gastar
esse dinheiro?
Não parece estar claro, mais uma vez,
que se tentará colar no ex-presidente a mal aplicada tese, no Brasil, da Teoria
do Domínio do fato, para outra condenação sem provas, o que escancararia, no
caso de um pré-candidato que está à frente na maioria das pesquisas para as
eleições presidenciais do ano que vem, o descarado uso de "lawfare"
pela justiça brasileira?
É preciso lembrar que a Lava Jato
costuma dizer que provas serão apresentadas em sequência para corroborar
denúncias e depoimentos, e que, em muitos casos depois se aparece -
principalmente no caso de Lula - com mirabolantes apresentações em power-point
e dois ou três tickets de pedágio.
Se Lula pegou dinheiro para si mesmo,
como fizeram outros acusados, como Eduardo Cunha e Sérgio Cabral, por que não
adotou estilo de vida semelhante, viajando para Paris e Dubai, hospedando-se em
caríssimos hotéis, gastando centenas de dólares em garrafas de vinho, pagando
exclusivas aulas de tênis para Dona Marisa Letícia, comprando ou
"ganhando" para ela, anéis de centenas de milhares de reais, e está
sendo acusado de ter tentado comprar um triplex e possuir indiretamente um
sítio mambembe - para os padrões dessa turma - em Atibaia, cheio de puxadinhos,
nos dois casos propriedades que ridicularizariam o ostentatório, perdulário e
mafioso cotidiano de bandidos que, em muitos casos já estão, na prática,
soltos, ou só têm suas penas comutadas depois que acusam e delatam justamente
Lula?
Muitos podem dizer que, passando pelo
delicado momento que está vivendo, o ex-presidente deveria medir melhor suas
palavras, e evitar falar de improviso, o que não é, definitivamente, seu
estilo.
Seus adversários podem até discordar
de suas posições, mas não podem negar que ele está fazendo o que se espera
dele, considerando-se suas características pessoais e sua posição - vide
novamente as pesquisas - de uma das principais lideranças políticas do país.
Assim como não se pode negar que, ao
responder, por meio de um procurador, de forma pública, ao discurso feito por
um dirigente partidário, pré-candidato à Presidência da República, falando em
um encontro de seu partido, com a presença de convidados internacionais, o
Ministério Público, ou a parte dele que está encarregada da Operação Lava Jato,
prova o que até as pedras - portuguesas - dos calçadões litorâneos da orla da
Zona Sul carioca e o resto do mundo, incluída a opinião pública internacional,
já sabem: em certos casos, o que o MP brasileiro está fazendo nos últimos anos
- contra o que determina a lei - não é justiça.
É, obvia, despudorada e
rigorosamente... política.
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