"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog
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Lula envia carta aberta aos blogueiros progressistas
"Quantas notícias ignoradas ou bloqueadas nos
jornalões saíram pelos blogues, muitos deles com mais audiência que os
sites dos jornalões? [...]".
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(Lula/Reuters)
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Leia a íntegra da carta de Lula aos
blogueiros progressistas:
A história ensina que numa guerra, a primeira vítima é a verdade.
Encontro-me há mais de 100 dias na condição de preso político, sem
qualquer crime cometido, pois nem na sentença o juiz consegue apontar
qual ato eu fiz de errado. Isso porque setores da Polícia Federal, do
Ministério Público e do Judiciário, com apoio maciço da grande mídia,
decidiram tratar-me como um inimigo a ser vencido a qualquer custo.
A guerra que travam não é contra a minha pessoa, mas contra a inclusão
social que aconteceu nos meus mandatos, contra a soberania nacional
exercida pelos meus governos. E a principal arma dos meus adversários
sempre foi e continuará sendo a mentira, repetida mil vezes por suas
poderosas antenas de transmissão.
Tenho sobrevivido a isso que encaro como uma provação, graças à boa
memória, à solidariedade e ao carinho do povo brasileiro em geral.
Dentre as muitas manifestações de solidariedade, quero agradecer o
espírito de luta dos homens e mulheres que fazem do jornalismo
independente na internet uma trincheira de debate e verdade.
Desde que deixei a Presidência, com 87% de aprovação popular, a maior da
história deste país, tenho sido vítima de uma campanha de difamação
também sem paralelo na nossa história.
Trata-se, sabemos todos, da tentativa de apagar da memória do povo
brasileiro a ideia de que é possível governar para todos, cuidando com
especial carinho de quem mais precisa, e fazer o Brasil crescer,
combatendo sem tréguas as desigualdades sociais e regionais históricas.
Foram dezenas de horas de Jornal Nacional e incontáveis manchetes
dedicadas a espalhar mentiras – ou, para usar a linguagem da moda, fake news – contra mim, contra minha família e contra a ideia de que o Brasil poderia ser um país grande, soberano e justo.
Com base numa dessas mentiras, contada pelo jornal O Globo e
transformada num processo sem pé nem cabeça, um juiz fez com que eu
fosse condenado à prisão, por “ato indeterminado”, usando como pretexto a
suposta posse de um imóvel “atribuído” a mim, do qual nunca fui dono.
Contra essa aliança espúria entre alguns procuradores e juízes e a mídia
corporativa, a blogosfera progressista ousou insurgir-se. Sem poder
contar com uma ínfima parcela dos recursos e dos meios à disposição dos
grandes veículos alinhados ao golpe, esses homens e mulheres fazem
Jornalismo. Questionam, debatem e apresentam diariamente ao povo
brasileiro um poderoso contraponto à indústria da mentira.
Lutaram e continuam a lutar o bom combate, tendo muitas vezes apenas o
apoio do próprio povo brasileiro, por meio de campanhas de financiamento
coletivo (R$ 10 reais de uma pessoa, R$ 50 reais de outra).
Foram eles, por exemplo, que enfrentaram o silêncio da mídia e
desvendaram as ligações da Globo com os paraísos fiscais, empresas de
lavagem de dinheiro e a máfia da Fifa. Que demonstraram a cumplicidade
de Sérgio Moro com a indústria das delações. Que denunciaram a entrega
das riquezas do país aos interesses estrangeiros. Tudo com números e
argumentos que sempre são censurados pela imprensa dos poderosos.
Por isso mesmo a imprensa independente é perseguida por setores do
judiciário, por meio de sentenças arbitrárias, como vem ocorrendo com
tantos blogueiros, que não têm meios materiais de defesa. Enfrentam toda
sorte de perseguições: tentativa de censura prévia, conduções
coercitivas e condenações milionárias, entre outras formas de violência
institucional.
E agora, numa investida mais sofisticada – mas não menos violenta –
agências de “checagem” controladas pelos grandes grupos de imprensa
“carimbam” as notícias independentes como “Fake News”, e dessa forma bloqueiam sua presença nas redes sociais. O nome disso é censura.
Alguns desses homens e mulheres que pagam um alto preço por sua luta são
jornalistas veteranos, com passagens brilhantes pela grande imprensa de
outrora, outros sem qualquer vínculo anterior com o jornalismo, mas
todos movidos por aquela que deveria ser a razão de existir da
profissão: a busca pela verdade, a informação baseada em fatos e não em
invencionices. Lutaram e lutam contra o pensamento único que a elite
econômica tenta impor ao povo brasileiro.
Quantas derrotas nossos valentes Davis já não impuseram aos poderosos
Golias? Quantas notícias ignoradas ou bloqueadas nos jornalões saíram
pelos blogues, muitos deles com mais audiência que os sites dos
jornalões?
Mesmo confinado na cela de uma prisão política, longe de meus filhos e
amigos, impedido de abraçar e conversar com o povo brasileiro, tenho
hoje aprovação maior e rejeição menor que meus adversários, que
fracassaram no maior dos testes: melhorar a vida dos brasileiros.
Eles, que tantos crimes cometeram – grampos clandestinos no escritório
de meus advogados, divulgação ilegal de conversas entre mim e a
presidenta Dilma, todo o sofrimento imposto à minha família, entre
muitos outros –, até hoje não conseguiram contra mim uma única prova de
qualquer crime que seja. A cada dia mais e mais pessoas percebem que o
golpe não foi contra Lula, contra Dilma ou contra o PT. Foi contra o
povo brasileiro.
Mais do que acreditar na minha inocência – porque leram o processo,
porque checaram as provas, porque fizeram Jornalismo – os blogueiros e
blogueiras progressistas estão contribuindo para trazer de volta o
debate público e resgatar o jornalismo da vala comum à qual foi atirado
por aqueles que o pretendem não como ferramenta capaz de lançar luz onde
haja escuridão, mas apenas e tão somente como arma política dos
poderosos.
A democracia brasileira agradece, eu agradeço a vocês, homens e mulheres que fazem da luta pela verdade o seu ideal de vida.
Hoje a (in)justiça brasileira não só me prende como impede sem nenhuma
razão que vocês possam vir aqui me entrevistar, fazer as perguntas que
quiserem. Não basta me prender, querem me calar, querem nos censurar.
Mas assim como são muitos os que lutam pela democracia nas comunicações e
pelo jornalismo independente, e não caberiam aqui onde estou, essa cela
também não pode aprisionar nem a verdade nem a liberdade. Elas são
muito mais fortes do que as mentiras mil vezes repetidas pelo plim-plim,
que quer mandar no Brasil e no povo brasileiro sem jamais ter tido um
único voto. A verdade prevalecerá. A liberdade triunfará.
Forte abraço,
Lula
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