*Por João Marcos Buch
Por que uma pessoa decide tornar-se um juiz? Por que escolher como
profissão algo que tem em seu centro o ato de julgar condutas e ações? O
que leva alguém a optar por uma atividade que implica em reconhecer ou
não direitos às pessoas, nos mais variados campos, de um impasse
contratual a uma disputa pela guarda de um filho, de um conflito
locatício a uma reintegração de posse envolvendo centenas de pessoas? O
que leva alguém a escolher trabalhar para e pela Justiça?
A atenção à magistratura começa já nos bancos da faculdade. O
estudante de direito tem a possibilidade de escolher, entre um leque de
opções, a carreira jurídica com a qual melhor se identifica. São todas
importantes, com significativas chances de realizações. Quando o
acadêmico conclui que a carreira na magistratura é uma boa opção, passa a
idealiza-la. Ele a vê como algo edificante. Após se graduar e começar a
atuar em práticas jurídicas, estuda mais alguns anos.
Abdica do descanso e lazer. Por fim, um dia ele consegue a aprovação
no concurso. E, uma vez juiz, se tinha alguma dúvida sobre a imagem que
formara da magistratura, suas expectativas são logo correspondidas. Ela é
edificante. Porém não é só. O jovem juiz aprende que o cotidiano não é
tão glamouroso quanto imaginava e que julgar não é fácil. Ele percebe
rapidamente que no peso da sua caneta muitas vezes está o peso do mundo.
Que em suas mãos estão vidas e destinos de pessoas das mais variadas
idades, origens, profissões, cada uma com suas próprias angústias e
dissabores.
Entretanto, novamente não é só. O desafio vai além. Ao longo dos
últimos anos o Poder Judiciário passou a ser chamado cada vez mais a
atuar em áreas cruciais da vida das pessoas e da sociedade. Isso porque o
Estado Social está em falta nas frentes que lhe são reservadas e
obrigadas por imperativo constitucional, como na educação, saúde e
segurança. Assim, para além de aplicador da lei, diante dos graves
conflitos que lhe cabe resolver, o juiz é considerado primordialmente
garantidor da Constituição. E face aos reflexos extensos e graves de
suas decisões a ponderação e a coragem tornam-se o sangue que corre em
suas veias abertas. Afinal, não importam as tormentas que se tenham que
enfrentar, como em Berlim, ainda há juízes no Brasil.
*Joao Marcos Buch – Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais e Corregedor do Sistema Prisional da Comarca de Joinville/SC
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Fonte: Publicado na Revista Pazes
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