Por Renato Rovai
Um golpe não é, um golpe vai sendo. E o que aqueles que coordenaram
de forma distribuída a operação para derrubar Dilma e se apropriar do
Estado estão fazendo agora já fazia parte da estratégia inicial. Nada é
surpreendente e muito menos está sendo realizado de forma
destrambelhada.
No cálculo dos que estão por trás de toda a operação havia a
necessidade de uma legitimidade para que se pudesse agir em algumas
áreas. A entrega do Pré-Sal, a reforma da Previdência, a votação do
teto, os processos contra Lula, a reforma trabalhista já estavam sendo
sinalizadas e operadas. Mas ficaram para ser escancaradas depois da
eleição.
Se o PT saísse um pouco mais forte do processo eleitoral. Algumas
dessas coisas talvez fossem repensadas. Por exemplo, Lula talvez não
fosse condenado e preso.
Mas isso ficou pra trás.
Com a estrondosa derrota do petismo, os golpistas têm caminho aberto
pra estrangular de vez qualquer projeto de esquerda para os próximos 10
anos. E isso passa necessariamente pela entrega do Pré-Sal, que vai
ajudar no financiamento imediato do Estado, mesmo que jogando fora
qualquer projeto de futuro para o Brasil. E na prisão de Lula.
Se o golpe não conseguir dar uma ajeitada nas contas e fazer o país
retomar algum nível de crescimento e de recuperação do emprego nos
próximos 12 meses, Lula poderia voltar montado num cavalo branco para o
Palácio do Planalto.
E para que isso não ocorra, não basta mais torná-lo inelegível. É
preciso transformá-lo num bandido comum, como José Dirceu foi
transformado.
Após a prisão de Lula se iniciará a fase 3. Que será de
desarticulação total do ativismo e do movimento social. Vai faltar
cadeia para presos em manifestações e por serem considerados incitadores
de violência contra a ordem pública. Vão sobrar processos contra
blogueiros, jornalistas e ativistas digitais de esquerda que insistirem
em ficar na resistência.
Não vale a pena para Lula esperar o japonês da federal vir algemá-lo. Já disse aqui e
repito, é hora de começar a pensar em se exilar. Não há espaço possível
neste momento para uma resistência que mude essa situação. E as urnas
de alguma forma deixaram isso claro.
O papel da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo passa a
ser fundamental a partir de agora. Elas precisam ser fortalecidas e têm
que se começar a pensar se de alguma maneira não devem se tornar uma
plataforma também para as disputas eleitorais que virão. E para
enfrentar o golpe no voto.
Ainda é cedo para fazer este debate, mas não o é para começar a pensar nesta hipótese.
Até porque no projeto estratégico do golpismo está a destruição do PT e a cassação do seu registro. Claro, com Lula preso.
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