Por Ulysses Ferraz
![]() |
Foto: Isabela Kassow |
Por
que tanta violência no mundo de hoje? Uma das resposta possíveis é
econômica. A indústria bélica não pode parar. E o artefato cria o fato.
Que conduz ao ato. A lógica capitalista é crescer ou morrer. A pequena
padaria da esquina que não se transformou em uma rede de fast food
é a exceção que confirma a regra. Logo, para quem produz armas, a paz é
um mau negócio. Interrompe o crescimento. Dá prejuízo. E as metas
comerciais devem ser batidas. O show não pode parar. Seja guerra,
guerrilha, terrorismo, tráfico ou violência urbana, tudo isso é muito
lucrativo. E deve ter fluxo positivo para garantir a expansão dos
negócios. Lucro direto para os fabricantes de armamentos. Indireto para
toda a cadeia de valor: desde os bancos e acionistas que financiam os
projetos de novas tecnologias bélicas (que lucram muito ao fazê-lo), até
a rede de suprimentos que abastece o setor. Transporte,
matérias-primas, vestuário, alimentação, energia, engenharia de
sistemas, gestão de projetos e, em última instância, a indústria da
reconstrução. A destruição também é um excelente negócio. Um mundo de
oportunidades para empresas de infraestrutura, construção civil e
grandes empreiteiras. Sem mencionar os setores correlatos de segurança
privada, exércitos particulares, mercenários legalizados, blindagem,
alarmes, monitoramentos, drones. O marketing é feito subliminarmente
pela mídia, por políticos, "pelos cidadãos de bem", pela indústria do
entretenimento e pela lógica do encarceramento. A legitimidade moral,
incrustada nas universidades. A representativa política, infiltrada nos parlamentos. Não
é a toa que grande parte dos recursos provém de impostos. E como não
existe almoço grátis, os recursos que poderiam ir para educação, saúde,
redistribuição de renda, urbanização de áreas carentes, pesquisas
ambientais, ajuda humanitária etc. são drenados pela indústria bélica.
Assim como cérebros que poderiam estar contribuindo para um mundo mais
pacífico e justo, são atraídos por esta mesma indústria. Engenheiros,
cientistas, administradores, economistas. As melhores cabeças, quando
não são cooptados pelo mercado financeiro, muitas vezes são arrastados
pela indústria da violência. Paga-se muito bem. Definitivamente, a paz
interessa a poucos. Num mundo hobbesiano, quem vai dar o primeiro passo e
se desarmar? Aparentemente ninguém. E a indústria bélica é
irresistível. A cada nova onda de violência, um próspero ciclo de
negócios é ativado. Uma bomba ou uma bala só são utilizadas uma única
vez. Munições não são recicláveis. Exigem reposição imediata. Mas as
vidas perdidas nunca mais serão repostas. Resultado? Indiferença.
Banalização. Medo. Um preço que muitos parecem estar dispostos a pagar.
Desde que os lucros continuem. E os suspeitos de sempre sejam punidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário