* Por Felipe Recondo
Rodrigo
Janot, procurador-geral da República, é alvo de mais de uma dezena de
pedidos de impeachment no Senado. Alimentados por insatisfações de
grupos políticos atingidos, por incompreensões sobre sua estratégia na
Lava Jato ou por dúvidas legítimas sobre os rumos das investigações.
O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem tantos
inquéritos abertos contra si quanto pedidos de impeachment contra Janot.
É ele, Renan Claheiros, quem decidirá o andamento do processo no
Legislativo contra Janot. Renan Calheiros não desconfia que Janot está
rumando a Lava Jato para prejudicar este ou aquele. Está, certamente,
insatisfeito com a atuação de Janot em relação às investigações de
crimes crimes que possa ter cometido.
Rodrigo Janot, por sua atuação na Lava Jato e em tempos de
antagonismos políticos, é também alvo de desconfianças razoáveis da
opinião pública, de contestações por suas escolhas e ritmo de atuação na
Lava Jato e pelos vazamentos de informações, que políticos classificam
como seletivos e atribuem à PGR (Janot, por evidente, rechaça a
acusação).
Questionamentos vários surgem a cada passo que a investigação dá
nesta e não naquela direção. Perguntas que se ouve da boca de quem não
acompanha a linha de frente das investigações, mas que deseja que elas
atinjam a todos os que tiverem cometidos crimes. Perguntas como: por que
há vários presos no Paraná e nenhum preso em Brasília? Por que as
investigações na primeira instância já levaram a várias condenações e em
Brasília, onde o salvos têm foro privilegiado, ainda não há um
condenado por envolvimento na Lava Jato? Por que Eduardo Cunha foi
denunciado e Renan Calheiros não? Por que Delcídio do Amaral foi preso
por obstruir a Justiça e outros suspeitos da mesma prática permaneceram
livres?
São perguntas possíveis. Para algumas, uma simples explicação técnica
do sistema de Justiça ou dos embaraços legais para a investigação de
parlamentares seria suficiente. À imprensa, disse Rodrigo Janot, caberia
desfazer essas confusões e explicar o funcionamento do sistema.
Para outras questões que se possa fazer, mais afeitas aos rumos e
detalhes das investigações, as respostas estão exclusivamente com a
Procuradoria. São questionamentos como estes que podem comprometer a
confiança de parte da opinião pública na operação Lava Jato. A
Procuradoria Geral da República tem consciência disso. E organizou o
seminário “Grandes casos criminais: Experiência italiana e perspectivas
no Brasil” para analisar como a opinião pública abandonou a operação
Mãos Limpas, na Itália, e contribuindo para frustrar as investigações.
Na abertura do seminário, Janot revelou sua preocupação ao exortar a
opinião pública brasileira: “A Lava Jato, por si só, não salvará o
Brasil, nem promoverá a evolução do nosso processo civilizatório. Para
tanto, é indispensável a força incontrastável da cidadania vigilante e
ativa. Se desejamos que a roda da fortuna gire na direção do futuro,
cada cidadão precisa se engajar verdadeiramente nesse esforço. O Brasil,
neste momento, precisa de cada um de nós enquanto cidadãos, muito mais
do que de qualquer instituição ou agente público individualmente
considerado.”
A opinião pública, como demonstram pesquisas, coloca a corrupção e a
impunidade no topo dos problemas do País. Ações que combatam estes
problemas terão, certamente, apoio da sociedade civil, como exorta
Rodrigo Janot. Mas a opinião pública precisa entender como essas ações
se desenrolam, precisa ser convencida de que a Procuradoria Geral da
República não é mais, como foi no passado, uma sala de estar para
acordos políticos para preservar este ou aquele grupo político. Este
convencimento só é possível com transparência e comunicação.
Um grande desafio para a PGR, tratando-se de uma investigação que
tramita em segredo de Justiça e em que a confidencialidade é arma
necessária para o êxito das investigações. Além disso, é natural que
pairem suspeitas de seletividade em toda apuração. Mas como demonstrar
que a seletividade na Lava Jato não é partidária, mas estratégica?
Como convencer a sociedade de que hoje o foco é este deputado por
razões de efetividade e que o outro parlamentar, de outra legenda, será
atingido num segundo momento também por razões de planejamento?
Como admitiu Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Janot, a PGR
precisa obter a prova diabólica: de que não desmerece a confiança da
opinião pública.
Janot está trabalhando nessa direção – a organização de um seminário
como o que ocorreu nesta semana é prova disso. Se tiver sucesso, a
opinião pública poderá, enfim, confiar com tranquilidade no seu mantra:
“Pau que dá em Chico dá em Francisco”.
*Felipe Recondo
é jornalista e tem 15 anos de cobertura de Política, Economia e Justiça. Nos
últimos 8 anos escreveu de Brasília sobre o Judiciário para O Estado de
S. Paulo. Venceu o Prêmio Esso do Sudeste em 2012. Trabalhou na Folha,
Blog do Noblat e Isto é Dinheiro.
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