Por Mariana Tokarnia - Repórter da
Agência Brasil
Edição: Valéria Aguiar
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Nas salas de aula, as meninas são cerca de 5% dos estudantes, disse a professora Maria Cristina Tavares - Divulgação Unicamp |
O Brasil é o país íbero-americano com a
maior porcentagem de artigos científicos assinados por mulheres seja como
autora principal ou como co-autora, de acordo com a Organização dos Estados
Ibero-americanos (OEI). Entre 2014 e 2017, o Brasil publicou cerca de 53,3 mil
artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres.
Atrás do Brasil, aparecem a Argentina,
Guatemala e Portugal com participação de mulheres em 67%, 66% e 64% dos artigos
publicados, respectivamente. No extremo oposto estão El Salvador, Nicarágua e
Chile, com mulheres participando em menos de 48% dos artigos publicados por
cada país.
Além desses países, a OEI analisou a
produção científica da Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República
Dominicana, Equador, Espanha, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai
e Venezuela. Os dados fazem parte do estudo As desigualdades de gênero na
produção científica ibero-americana, do Observatório Ibero-americano de
Ciência, Tecnologia e Sociedade (OCTS), instituição da OEI.
A pesquisa analisou os artigos
publicados na chamada Web of Science, em português, web da
ciência, que é um banco de dados que reúne mais de 20 mil periódicos
internacionais.
“O Brasil está melhor do que o restante
dos países. Acho que é algo que não podemos nos dar por satisfeitos porque
temos desafios, mas indica que o Brasil caminha na direção positiva de mais
oportunidades, de igualdade de gênero entre homens e mulheres”, diz o diretor
da OEI no Brasil, Raphael Callou.
Menos pesquisadoras publicam
Apesar de assinar a maior parte dos
artigos, quando levado em conta o número de mulheres pesquisadoras que
publicaram no período analisado, ele é menor que o dos homens. No Brasil, elas
representam 49% dos autores, de acordo com os dados de 2017. A porcentagem se
manteve praticamente constante em relação a 2014, quando elas eram 50%.
Com base nos números de 2017, o Paraguai
ocupa o topo do ranking, com 60% das autoras mulheres. Na outra ponta,
está o Chile, com 37%.
As diferenças aparecem também entre
áreas de pesquisa. No Brasil, entre as áreas analisadas, medicina é a que conta
com a maior parte das autoras mulheres, elas são 56% entre aqueles que
publicaram entre 2014 e 2017. As engenharias estão na base, com a menor
representatividade, 32%.
Essa realidade faz parte do cotidiano da
professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Cristina Tavares. “Nas salas de aula, as
meninas são cerca de 5% dos estudantes. No departamento temos em torno de 90
professores e somos cinco professoras”, diz. “Quando você vai a congressos, são
pouquíssimas engenheiras. Você vê só ternos. Se você tem 100 trabalhos sendo
expostos, tem geralmente três ou quatro pesquisadoras”, acrescenta.
Maria Cristina comemora a posição de
destaque das mulheres no número de assinaturas de publicações: “Publicações
hoje em dia são tudo no mundo acadêmico. As próprias universidades prezam
por expor o resultado das pesquisa. Para eu conseguir mais bolsas para os meus
estudantes, preciso estar com um bom nível de publicação e não é número pelo
número, é número que significa que meu trabalho está sendo bom”, diz.
A professora faz, no entanto, uma
ressalva sobre a baixa presença de pesquisadoras na área que atua: “O país
perde quando não trabalha essa diversidade e todos esses olhares”.
Maioria entre estudantes, minoria entre
professores
“Publicar sempre foi difícil, sempre é
um processo. Há casos clássicos, bem icônicos de como esse estereótipo de
gênero está arraigado. Quando se lê um artigo de autor chinês, polonês
ucraniano, que tem um nome diferente, dificilmente vem imagem de que seja uma
mulher, porque na nossa cabeça, a gente entende que esse lugares difíceis são
ocupados por homens”, diz a bióloga da Universidade de Brasília (UnB) Bárbara
Paes.
Apaixonada por ciência, a pesquisadora
integra a equipe do Dragões de
Garagem, criado para divulgar, de forma simples e atrativa,
descobertas científicas e questionamentos sobre o fazer ciência no país.
“Existe uma resistência da própria academia de reconhecer que existe um problema”,
diz.
De acordo com o Censo da Educação
Superior de 2016, última edição do levantamento, as mulheres representam 57,2%
dos estudantes matriculados em cursos de graduação.
Elas são também maioria entre bolsistas
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), representam 60% do total
de beneficiários na pós-graduação e nos programas de formação de professores.
Entre os professores contratados, no
entanto, o cenário muda, os homens são maioria. Dos 384.094 docentes da
educação superior em exercício, 45,5% são mulheres.
Fonte: Publicado na Agência Brasil
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