Por Ricardo Kotscho
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Ricardo Kotscho, jornalista. |
Fim de Carnaval, acabou a fantasia,
faz-se silêncio nas ruas, voltamos à medíocre rotina.
Logo passa o barulho provocado pelo
vídeo escatológico do capitão, como prevê o general Mourão, que já enterrou o
assunto: “Tudo passa”.
O que não passa é a sensação que
vivemos num país sem governo e sem oposição, navegando para o desastre
anunciado desde a campanha eleitoral.
Nada deveria nos surpreender ao
entregar o país nas mãos de um alucinado, que desfilou suas loucuras durante 30
anos pelo Congresso Nacional, depois de ser desligado pelo Exército.
Que estarão pensando agora os
generais e os donos do dinheiro que bancaram os delírios do indisciplinado
tenente reformado como capitão, sabendo de quem se tratava?
Como se sentem os que votaram no
Mito ou nulo ou em branco para derrotar o demônio do PT, um pacato professor
que não assustava ninguém?
Estarão todos felizes agora?
De nada adianta tirar o celular das
mãos dele, porque os filhos continuam soltos por aí, desafiando o Brasil que ainda
não entregou os pontos.
Loucuras à parte, o fato é que não
temos mais um governo para gerir o Estado, só levando tudo no vai da valsa,
deixando o país no salve-se quem puder.
A oposição sumiu, por absoluta
inutilidade, já que o governo é o maior adversário dele mesmo.
Ainda o maior partido de esquerda
do país, o PT segue no mesmo passo, consumido-se em disputas internas, para ver
quem fica com a massa falida.
E o que sobrou? Com o PDT. o PSB e
o PCdo B sem saber para onde vão, coxeando o alambrado, como dizia Brizola,
resta apenas o franco atirador Ciro Gomes, agora em busca de um discurso que
não seja nem de direita nem de esquerda, muito pelo contrário.
Antes do jogo começar para valer, o
PSL bolsonarista já está se liquefazendo como a barragem de Brumadinho, com o
Centrão de olho no butim, como de costume.
Até as “bancadas temáticas” do BBB
(bola, bíblia e boi), contempladas com cargos no governo, parecem perdidas sem
saber o que fazer com as reformas.
Sem partidos e sem lideranças, o
Congresso Nacional a tudo assiste bestificado, assim como a sociedade civil,
que demora a acordar do sono profundo dos últimos anos.
Nem se fala mais em movimentos
sociais, mobilizações, resistência ao horror, que se aproxima cada dia mais,
nos tuítes disparados a esmo do Palácio do Planalto.
Fica todo mundo tentando descobrir
qual é a estratégia dos militares arrastados com prazer para o centro da cena
política, mas eles estão na encolha.
Quem é que hoje poder falar com
autoridade pelo governo ou pela oposição para levantar uma bandeira qualquer ou
indicar um norte que nos desvie do caos para onde navegamos?
Depois do Carnaval, restou um
imenso vazio neste deserto de homens e ideias em que nos transformamos, apenas
reagindo no varejo aos fatos mais escabrosos.
No dia seguinte, todo mundo
esquece, à espera do próximo escândalo, que sempre supera o anterior.
E ainda não descobriram quem mandou
matar e quem matou Marielle, quase um ano após o bárbaro crime, que abriu a
temporada de execuções a sangue frio.
Misturam-se milícias e laranjas no
mesmo balaio, os governadores eleitos fingem-se de mortos, os três poderes
parecem amancebados e nada se vislumbra no horizonte capaz de dar alguma
esperança.
A tal da “nova política” logo se
revelou uma fraude, uma contrafação tosca e ignara da velha, adaptado-se
rapidamente à nova ordem unida.
A cada dia que passa, mais voltamos
para trás, fazendo lembrar dos tempos mais sombrios da nossa história.
É o que temos para o momento na
ressaca da folia.
Nestes dias cinzentos, cheios de
incertezas, a única boa notícia foi a vitória da Mangueira, jogando na cara dos
donos do poder a nossa verdadeira história, feita de heróis anônimos, até hoje
tentando escapar da escravidão.
Vida que segue.
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