Moro e Dallagnol são nomes próprios que,
no português brasileiro, estão se tornando quase sinônimos de abjeção. Carentes
de uma régua moral que lhes permita medir alguém como Lula, enredam-se em seus
próprios truques e, a cada dia que passa, se resumem, mais e mais, a meros
sintomas da degradação do Brasil.
Texto publicado no Facebook do Autor
A Lava Jato se encaminha para um fim
inglório. Cai por seus muitos erros, em particular porque seus protagonistas
agiram com uma soberba absolutamente imprópria para quem participava de uma
conspiração criminosa de enormes dimensões.
Outro erro da Lava Jato mostra ter
grandes consequências: eles subestimaram a estatura moral de Lula.
Lula surgiu das entranhas do
sindicalismo oficial e converteu-se no maior líder operário de nossa história.
Mostrou coragem e tirocínio político ao comandar as greves que puseram em xeque
a ditadura. Esteve à frente do projeto de um partido de esquerda de novo tipo,
tornou-se a voz maior das oposições e delineou um caminho próprio para alcançar
e exercer o poder, que a literatura acadêmica hoje alcunha de “lulismo”.
O lulismo foi uma estratégia de
transformação social muito moderada, a fim de evitar atrito com os grupos
dominantes. Para seus muitos críticos, entre os quais sempre me incluí, Lula se
acomodou bem demais à posição de gestor do nosso capitalismo subalterno.
Tornou-se amigo de empreiteiros, de financistas e de oligarcas. Tornou-se um
mestre da nossa política tradicional, corrompida e excludente. Levava adiante o
combate à pobreza extrema e apontava para um horizonte de nacionalismo
econômico, mas evitava ciosamente dar qualquer outro passo que melindrasse seus
novos parceiros.
A fúria com que as nossas velhas elites
se voltaram contra ele e contra seu partido claramente o pegou de surpresa.
Mesmo depois do golpe, mesmo depois da prisão, Lula não deixou de expressar sua
mágoa com aqueles que romperam unilateralmente um pacto que lhes era muito
favorável e que o próprio Lula cumpriu com tanto zelo.
A Lava Jato apostou, então, que a
perseguição – que culminou na absurda prisão, que se prolonga há quase ano e
meio – produziria um Lula abatido. Um Lula alquebrado.
Um Lula incapaz de aceitar a mudança na
sua vida – dos jantares de Estado e dos agrados dos poderosos ao banco dos réus
e à pequena cela em Curitiba – e, portanto, disposto a aceitar todas as
humilhações.
Em suma: se a campanha contra Lula não
fora capaz de destruí-lo, ele, quebrado pela perseguição sofrida, destruiria a
si mesmo.
Em vez disso, encontraram um gigante. Um
homem com um sentido de honradez pessoal e uma consciência de seu papel
histórico como poucas vezes se viu.
Quando Lula fala – e ele tem falado
muito, desde que a censura a ele foi levantada – é possível discordar de muita
coisa: de seu diagnóstico do passado recente, de sua avaliação da conjuntura,
da estratégia que ele propõe para o campo popular.
Mas é impossível não admirar a dignidade
e o sentido de sacrifício com que ele enfrenta a adversidade.
Como esperar que a Lava Jato se
contraponha a isso? Moro e Dallagnol são nomes próprios que, no português
brasileiro, estão se tornando quase sinônimos de abjeção. Carentes de uma régua
moral que lhes permita medir alguém como Lula, enredam-se em seus próprios
truques e, a cada dia que passa, se resumem, mais e mais, a meros sintomas da
degradação do Brasil.
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