O desemprego generalizado que se combina
às formas diversas de subocupação e precarização da classe trabalhadora
brasileira não é enfrentado pela política econômica e social do governo
Bolsonaro
*Por Marcio Pochmann
Após significativa trajetória de redução
na sua participação relativa no desemprego global, o Brasil encerra a década de
2010 com presença relativa inédita na quantidade de trabalhadores sem ocupação
no mundo. Isso porque em 2019, por exemplo, o país detém o equivalente a 7,2% do total dos desempregados do
planeta, segundo levantamento da Organização Internacional do Trabalho.
Há dez anos, em 2009, o Brasil respondia
por 4,9% do número global de desempregados, enquanto em 1999, o último ano do
século passado, a participação do país no total dos trabalhadores ativos sem
ocupação foi de 5,6%. Assim, a presença do Brasil no desemprego mundial
decresceu 13,4% entre 1999 e 2009, ao passo que na comparação entre 2009 e 2019
houve crescimento de 48,3%.
Essa brutal inflexão na trajetória do
país em relação ao desemprego deveu-se fundamentalmente à alteração da política econômica e social adotada no Brasil.
Na década de 2000, o abandono da política neoliberal praticada durante a “era
dos Fernandos” (Color, 1990-1992, e Cardoso, 1995-2002) permitiu ao país trazer
de volta o crescimento econômico com ampliada geração de empregos combinada com
significativa inclusão social.
No saldo da década de 2010, o retorno ao
neoliberalismo emergiu em 2015 e impulsionou, por consequência, o decrescimento
econômico e o significativo desemprego e a exclusão social. Tanto assim que em
2014, por exemplo, a participação do Brasil no desemprego mundial era de 3,7%,
o que representou acentuada queda de 23,9% se comparada ao ano de 2009 (4,9%),
seguindo-se uma extrema elevação de 94,9% se relacionada ao ano de 2019 (7,2%).
Essa situação não é mais grave ainda porque
as informações adotadas para revelar o excedente de mão de obra às necessidades
da economia brasileira concentram-se apenas no conceito do desemprego aberto
(pessoas ativas que não exercem alguma ocupação, procuram por trabalho e estão
disponíveis para exercer atividade laboral). Com isso, a quantidades de
trabalhadores subutilizados, como nos casos do exercício simultâneo de algum “bico” para sobreviver e
manter a procura ativa por ocupação, termina sendo desconsiderada da
contabilidade do desemprego aberto.
Por outro lado, importa dizer que a
manifestação massiva do Brasil desempregado encontra-se distante da batida tese
do progresso tecnológico destruidor de ocupações. Aliás, países com maiores
indicações de impulsão e internalização do salto tecnológico são aqueles cuja
situação ocupacional encontra-se próxima do pleno emprego, como nos EUA e
China, com taxa de desemprego abaixo de 4% da População Economicamente Ativa.
Nesses países há uma diversidade de
problemas no interior do mundo do trabalho, na maioria das vezes associados à
ampliação da condição de precarização das ocupações, porém sem a escassez de
ocupações como atualmente registrada atualmente no Brasil. Com a economia
nacional funcionando a quase 4 pontos percentuais abaixo do verificado em 2014,
não há milagre que permita manter o nível de ocupação adequado à incorporação
da totalidade da força de trabalho.
O desemprego generalizado que se combina
às formas diversas de subocupação e precarização da classe trabalhadora
brasileira não encontra enfrentamento por parte da política econômica e social
do governo Bolsonaro. Ao contrário, a ausência das políticas econômicas
voltadas à recuperação do nível de consumo e investimento articula-se cada vez
mais com o conjunto das medidas destrutivas dos direitos sociais e
trabalhistas.
*Marcio Pochmann é professor do Instituto
de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do
Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.
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