Os juros básicos, em 2020, podem ser
negativos - ou seja, abaixo da inflação. Bom para os poupadores e investidores?
Talvez não. Lucro certo somente para os banqueiros e o Governo Federal
Economistas do sistema financeiro estão
comemorando a possibilidade do Brasil ter juros negativos em 2020, após o
Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) indicar novas reduções de
taxas. Para os banqueiros é bom, mas para quem está com dinheiro na poupança
será um momento de perda patrimonial.
É que o Banco Central, em uma decisão
inédita, já antecipou que irá reduzir 0,5% a taxa básica de juros (Selic) na
próxima reunião de dezembro e deixou claro que manterá a tendência de queda em
2020. Os juros cairiam para 4,5% em 2019 e devem ficar em 4% ou menos em 2020.
Praticamente igual a inflação. Se for
considerado o imposto que é pago pelo poupador nas aplicações financeiras, a
rentabilidade será negativa.
O BC está seguindo esta trajetória de
juros baixos acreditando que possa estimular a retomada do crescimento da
economia. Isto só é possível com a queda da inflação – que é reflexo da redução
do consumo, desemprego e perda de renda a população.
Para ilustrar, veja o que diz BC: “O
Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva
deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude. O Copom entende que o
atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes
no grau de estímulo”.
O spread continua alto
A eficácia da redução dos juros, como
instrumento de política monetária capaz de tirar a economia do buraco, está
sendo questionada no Brasil e em outros países que praticam juros negativos. No
nosso caso, o processo de redução de 14,25% dos juros, iniciado em setembro de
2016, para 5% em um intervalo de 3 anos pouco contribuiu para economia crescer
no governo do presidente Michel Temer e neste primeiro ano de Jair Bolsonaro.
Os benefícios dos juros negativos para o
tomador de crédito é insignificante, tendo em vista os custos dos spreads bancários
para quem precisa dinheiro para investir ou adquirir algum bem de consumo. Os
banqueiros terão oportunidade de captar recursos com juros negativos e
emprestá-lo a terceiros com os mesmos ganhos atuais, e até maiores, com as
elevadas e intocáveis margens de intermediação bancária.
Já o poupador – assalariados da
caderneta de poupança, aposentado da classe média ou mesmo os ricos – estará
tendo perda real de patrimônio. Os bancos, de olho nos recursos que deixarão de
ser aplicados em renda fixa, já estão oferecendo aos poupadores aplicações de
renda variável, onde não têm compromisso com o ganho do aplicador, mas têm
asseguradas taxas de prestação dos serviços elevadíssimas.
Dívida pública estável
Outro grande beneficiado com juros
negativos é o Tesouro Nacional. Com uma dívida de R$ 4,1 trilhões, poderá fazer
a rolagem de seus papéis com custo menor em cima da poupança dos brasileiros. É
uma maneira engenhosa de busca de equilíbrio das contas publicas sem precisar
aumentar os impostos ou reduzir as despesas.
Algum economista do governo poderá fazer
um gráfico no ano que vem informando que a dívida pública da União, em
proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), estará estável. Alguns analistas de
plantão do governo dizem que a queda de rentabilidade nos papéis de renda fixa
fará com que as pessoas deixem de poupar para consumir. Isso ajuda no aumento
do consumo e contribuiu para retomada do crescimento.
Até pode ocorrer, mas com certeza não
serão estes consumidores que vão colocar a economia em crescimento, nem aqui ou
no Japão, onde os juros negativos são até mesmo para o tomador de crédito. Para
o Brasil voltar a crescer é preciso elevar os investimentos, reduzir o
desemprego e aumentar o poder de compra das pessoas.
Sem crescimento à vista
O economista André Lara Resende, um dos
formuladores do Plano Real, publicou recentemente uma análise sobre as
limitações do uso das taxas de juros como instrumento de política monetária.
Resende alerta que, para o Brasil voltar a crescer, depende de estímulos a
economia.
Melhor seria o Banco Central reduzir os
compulsórios de depósito a prazo e à vista para diminuir os custos de captação
dos bancos. Isto reduziria os custos de intermediação. Além disso, o custo
final do dinheiro para o investidor ficaria mais barato.
O que estamos vendo é que a equipe do
ministro Paulo Guedes, com justa preocupação, se dedica a reduzir o déficit
público e desfazer armadilhas que consomem os recursos públicos, como a
previdência. Acreditava-se que, com isto, haveria uma melhora na confiança e o País
voltaria a crescer. Mas nada mudou.
O Brasil deve crescer menos do que 1%
este ano. O atual governo está sem recursos para investir e criatividade para
motivar os empresários a empreender.
A existência de juros negativos em um
país carente de poupança interna e externa para financiar as suas necessidades
de investimentos deve ser vista como consequência de uma economia que está mais
para doente do que saudável. Não há sinal de que estamos no rumo de um
crescimento sustentável da economia, especialmente se olharmos os índices de
desemprego, ociosidade nas plataformas de produção da indústria e nos índices
de consumo.
O mais grave é faltar também
credibilidade na capacidade do Governo de levar adiante as reformas no
Congresso Nacional. Sem falar nas condições mínimas de governabilidade, devido
aos conflitos extravagantes e recorrentes da família Bolsonaro.
*Formado em jornalismo pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul com pós graduação em jornalismo econômico pela
Faculdade de Economia e Administração(FAE) de Curitiba/PR. Repórter
especializado em finanças públicas e macroeconomia, com passagens pela Gazeta
Mercantil, Folha de São Paulo e Secretaria de Comunicação da Presidência da
República. Participou da cobertura de formulação e implementação de todos os
planos econômicos do país deste o Plano Cruzado, em 1985, ao plano Real, de
1994. Sempre atuou na cobertura diárias das decisões de política econômica dos
Ministério do Planejamento, Fazenda e Banco Central. Experiência em grandes
coberturas de finanças como das reuniões anuais do Fundo Monetário
Internacional(FMI), do Banco Mundial(BIRD) e Banco Interamericano de
Desenvolvimento(BID).
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