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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Imagina só como será essa nova proposta de ensino médio sendo realizada nas velhas escolas públicas existentes


Por Manoel Paixão

A reforma do ensino médio no país é necessária, mas esta deve ser feita às claras, não por meio de medida provisória e sem o amplo debate com estudantes, professores e a sociedade em geral. A MP 746/16 editada pelo atual governo, entre outros pontos, propõe a escolha de disciplinas focadas na área de interesse do estudante – podendo ser linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas – ou a formação técnica. Diante disso, quando penso na proposta defendida por esse governo e na realidade das nossas escolas públicas, percebo que tal reformulação pretendida para o ensino médio se mostra inconsistente e por isso não responde às expectativas reais de melhoria na qualidade deste ciclo da educação básica. Voltando a atenção para a realidade cotidiana do ensino médio, a cargo das redes estaduais, vemos que as carências se repetem por todo o país, como a falta de estrutura mínima e até dificuldades específicas relacionadas às estratégias didático-pedagógicas. No atual cenário, o que se vê é uma intensa precariedade de grande parte de nossas escolas públicas, que apresentam infraestruturas em péssimas condições, além disso, muitas são desprovidas de quadras poliesportivas, de bibliotecas com acervo diversificado, de laboratórios de ciências, de laboratórios de informática e de audiovisuais e, principalmente, conectados à internet, e quando há algum recurso ou tecnologia desse tipo disponível no espaço escolar, é evidente a falta de sua manutenção. Nossas escolas padecem não só desses problemas, mas também do descontentamento de muitos dos seus profissionais, que constantemente reivindicam melhores remunerações e condições dignas de trabalho, e sofre ainda com a ausência de outros profissionais qualificados para suprir a demanda de todo o processo educacional. Basta acompanhar de perto para ver essa dura realidade de nossas escolas públicas estaduais, a exemplo dessa situação, o Estado do Pará, inclusive na sua rede de escolas técnicas. Diante do exposto, como conceber uma proposta de ensino na qual o estudante opta por uma área “foco” de seu interesse ou na sua formação técnica, com uma escola que não oferece um mínimo de estrutura que atenda às necessidades do desenvolvimento de um simples currículo básico? Na vivência da prática cotidiana, os(as) nossos(as) professores(as) das disciplinas de ciências naturais, por exemplo, com pouco ou quase nada de recursos didático-pedagógicos, a depender quase que exclusivamente do livro didático e do quadro branco, se desdobram para ministrar o conteúdo exigido, e como forma de facilitar esse processo de ensino-aprendizagem, mais precisamente para fazer a articulação entre a teoria e a prática, na falta do laboratório de ciências –  que é uma raridade nas escolas públicas – acabam recorrendo quase sempre aos “materiais alternativos” como solução imediata para realizar as suas atividades experimentais, e isso no impasse de estes não surtirem os resultados esperados. Imagina só, como será esse novo ensino médio, sendo realizado nos velhos moldes das escolas públicas existentes? Em face da realidade das escolas públicas estaduais, sem que a princípio sejam enfrentados e resolvidos os problemas e as carências existentes, dificilmente se conseguirá implantar quaisquer metodologias que sejam com algum êxito, e tampouco, uma oferta de um ensino médio de qualidade. Essa reformulação do ensino médio, a qual pretende esse governo, mostra-se inconsistente e nem de longe responde às reais expectativas deste ciclo da educação básica, sem contar de que este não passa de um simplório programa de governo, que nada tem que ver com um plano nacional de educação, que seja capaz de promover as mudanças consideradas necessárias com relação à qualidade do ensino médio oferecido no país e fazer a educação de fato avançar. Não sei onde esse governo quer chegar, mas tudo indica que a educação pública não é uma de suas prioridades. Para que o ensino médio público melhore no país, é preciso, sim, que se faça os investimentos necessários, que realmente garantam uma infraestrutura adequada para as nossas escolas, bem como, a sua manutenção periódica, e que contribuam para as melhores relações de ensino-aprendizagem e condições de trabalho no ambiente escolar, além de dar uma atenção maior à qualificação e valorização de todos os profissionais envolvidos no processo educacional. Fazer a reforma do ensino médio por meio de medida provisória, sem que antes se debata com estudantes, professores e demais atores da educação, sem dúvida não é o caminho mais adequado, porém caracteriza-se mais como uma forma autoritária de governo.

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