Por Manoel Paixão
A reforma do ensino médio no país
é necessária, mas esta deve ser feita às claras, não por meio de medida
provisória e sem o amplo debate com estudantes, professores e a sociedade em
geral. A MP 746/16 editada pelo atual governo, entre outros pontos, propõe a
escolha de disciplinas focadas na área de interesse do estudante – podendo ser
linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas – ou a formação
técnica. Diante disso, quando penso na proposta defendida por esse governo e na
realidade das nossas escolas públicas, percebo que tal reformulação pretendida
para o ensino médio se mostra inconsistente e por isso não responde às
expectativas reais de melhoria na qualidade deste ciclo da educação básica.
Voltando a atenção para a realidade cotidiana do ensino médio, a cargo das
redes estaduais, vemos que as carências se repetem por todo o país, como a
falta de estrutura mínima e até dificuldades específicas relacionadas às
estratégias didático-pedagógicas. No atual cenário, o que se vê é uma intensa
precariedade de grande parte de nossas escolas públicas, que apresentam
infraestruturas em péssimas condições, além disso, muitas são desprovidas de
quadras poliesportivas, de bibliotecas com acervo diversificado, de
laboratórios de ciências, de laboratórios de informática e de audiovisuais e,
principalmente, conectados à internet, e quando há algum recurso ou tecnologia
desse tipo disponível no espaço escolar, é evidente a falta de sua manutenção. Nossas
escolas padecem não só desses problemas, mas também do descontentamento de muitos
dos seus profissionais, que constantemente reivindicam melhores remunerações e
condições dignas de trabalho, e sofre ainda com a ausência de outros
profissionais qualificados para suprir a demanda de todo o processo
educacional. Basta acompanhar de perto para ver essa dura realidade de nossas
escolas públicas estaduais, a exemplo dessa situação, o Estado do Pará,
inclusive na sua rede de escolas técnicas. Diante do exposto, como conceber uma
proposta de ensino na qual o estudante opta por uma área “foco” de seu
interesse ou na sua formação técnica, com uma escola que não oferece um mínimo
de estrutura que atenda às necessidades do desenvolvimento de um simples
currículo básico? Na vivência da prática cotidiana, os(as) nossos(as)
professores(as) das disciplinas de ciências naturais, por exemplo, com pouco ou
quase nada de recursos didático-pedagógicos, a depender quase que
exclusivamente do livro didático e do quadro branco, se desdobram para
ministrar o conteúdo exigido, e como forma de facilitar esse processo de
ensino-aprendizagem, mais precisamente para fazer a articulação entre a teoria
e a prática, na falta do laboratório de ciências – que é uma raridade nas escolas públicas –
acabam recorrendo quase sempre aos “materiais alternativos” como solução
imediata para realizar as suas atividades experimentais, e isso no impasse de
estes não surtirem os resultados esperados. Imagina só, como será esse novo
ensino médio, sendo realizado nos velhos moldes das escolas públicas
existentes? Em face da realidade das escolas públicas estaduais, sem que a
princípio sejam enfrentados e resolvidos os problemas e as carências
existentes, dificilmente se conseguirá implantar quaisquer metodologias que
sejam com algum êxito, e tampouco, uma oferta de um ensino médio de qualidade.
Essa reformulação do ensino médio, a qual pretende esse governo, mostra-se
inconsistente e nem de longe responde às reais expectativas deste ciclo da
educação básica, sem contar de que este não passa de um simplório programa de
governo, que nada tem que ver com um plano nacional de educação, que seja capaz
de promover as mudanças consideradas necessárias com relação à qualidade do
ensino médio oferecido no país e fazer a educação de fato avançar. Não sei onde
esse governo quer chegar, mas tudo indica que a educação pública não é uma de
suas prioridades. Para que o ensino médio público melhore no país, é preciso,
sim, que se faça os investimentos necessários, que realmente garantam uma
infraestrutura adequada para as nossas escolas, bem como, a sua manutenção
periódica, e que contribuam para as melhores relações de ensino-aprendizagem e
condições de trabalho no ambiente escolar, além de dar uma atenção maior à
qualificação e valorização de todos os profissionais envolvidos no processo
educacional. Fazer a reforma do ensino médio por meio de medida provisória, sem
que antes se debata com estudantes, professores e demais atores da educação,
sem dúvida não é o caminho mais adequado, porém caracteriza-se mais como uma
forma autoritária de governo.
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