Nas
condições atípicas em que o Brasil está vivendo, sob o regime do golpe de
Estado, a luta eleitoral desenvolve-se em condições especiais.
Tudo o que
se fez até agora não passou de pré-campanha. A campanha começa hoje, após a
proclamação, pelo Presidente Lula, da candidatura de Fernando Haddad como seu
representante nas ruas, no rádio e TV e na urna eletrônica.
Com o
anúncio na tarde desta terça-feira, 11 de setembro, de que Haddad é Lula,
começa para valer, do ponto de vista das forças democráticas, populares e
progressistas, a campanha pela conquista da quinta vitória eleitoral
consecutiva.
Algo
incontornável e inegociável para as forças progressistas é a vigorosa denúncia
de que, à partida, estamos em uma campanha eleitoral viciada, fraudada,
porquanto se desenvolve doravante a partir de uma violência, um ato arbitrário,
um golpe de mão, um descarado roubo, uma violação da Constituição e demais
leis, um atentado contra o regime democrático e a soberania popular, um ataque
aos direitos do povo.
É isto que
se contém na prisão de Lula e na sua interdição como candidato. Será preciso
sempre lembrar: um crime contra a democracia foi cometido e, como tal, um dia
os que o perpetraram terão de responder. Se não perante as instituições,
perante a História, esta que se grafa com maiúscula e que diz respeito à luta
do povo por seus direitos e emancipação. Para o bem e para o mal, já temos o 11
de Setembro brasileiro.
Por si só
a interdição de Lula já seria fato suficiente para significar a gravidade da
situação do país. Labora em crasso erro quem pretende escamoteá-lo, é uma
vanidade imaginar que o povo não tem percepção nem memória.
Mas, o
quadro político nacional revela-se ainda mais complexo e perigoso quando se
constata que ao consórcio golpista formado pela maioria parlamentar de 2016,
setores dominantes do Ministério Público, Polícia Federal, Poder Judiciário e a
Mídia monopolizada, agregam-se as Forças Armadas. Ressalvadas digníssimas e
heroicas exceções individuais na história, as Forças Armadas brasileiras, sob o
manto de um conveniente - e portanto claudicante - "nacionalismo",
cristalizaram o conservadorismo na sua ideologia e orientação política, que as
conduz, nos momentos cruciais dos conflitos, a optar pela repressão contra a
liberdade, pelos interesses das classes dominantes e do imperialismo contra o
povo.
Não podem
as forças progressistas calar-se diante da ameaça castrense. Não se trata de
quebrar pontes nem de cessar o diálogo entre instituições, mas a passividade em
face de ameaças golpistas identifica-se mais com a covardia do que com a
prudência. Por isso, merecem solidariedade a nota do Partido dos Trabaohadores
do último domingo (9) e as declarações do deputado Damous. A defesa da
democracia é inegociável.
É falsa a
disjuntiva "radicalismo x amplitude", invocada como anteparo a uma
estratégia e tática de capitulação e conveniente aos setores das classes
dominantes que se vendem como "centristas". O realismo político impõe
que se perceba como algo inerente às circunstâncias objetivas a polarização do
país entre golpistas e progressistas, entre o projeto democrático, popular,
patriótico, progressista, de um lado, e o projeto antidemocrático, antipopular
e entreguista, de outro.
Desde o
dia seguinte ao golpe era cristalino que no espectro político esta polarização
se expressava entre as forças agrupadas em torno de Lula e do lado oposto as
enfileiradas com os interesses que levaram à violação da ordem democrática em
17 de abril de 2016.
Quanto
mais o regime golpista e os partidos que a este se aliaram intensificavam os
ataques aos direitos do povo, à democracia e à soberania nacional, agravando a
crise do país, mais a população se opunha a isto, aglutinando-se em torno da
pré-candidatura de Lula à presidência da República. Mais do que ninguém, as
astutas classes dominantes reacionárias perceberam o fenômeno. Por isso,
arremeteram furibundamente contra Lula, levando-o ao encarceramento e
finalmente à impugnação de sua candidatura.
Foi,
assim, correta a orientação de Lula de afirmar-se como pré-candidato até às
últimas consequências políticas e aos últimos recursos judiciais. Errou que se
lhe opôs, dividiu a frente ampla, percorreu falsos atalhos. Errou quem disse
que o "ciclo Lula" estava esgotado e que sequer comoção haveria com
sua prisão e impugnação. O povo, em sua sabedoria, expressou sua comoção - e
até a sua sagrada ira silenciosamente (por enquanto), indicando preferência de
votar em Lula, como atestaram as sondagens eleitorais. Continuará expressando o
mesmo sentimento e as mesmas convicções votando na chapa Haddad-Manuela,
levando-a ao segundo turno e conquistando pela quinta vez consecutiva a
presidência da República.
A
polarização se acentua e é nela que se deve apostar. A chapa de Lula - Haddad
presidente, Manuela vice -, chapa da unidade popular entre o PT e o PCdoB, é o
polo em torno do qual objetivamente convergirão as forças progressistas do
país. Do lado de lá, as forças golpistas, o país do atraso, da ditadura, das
injustiças, do entreguismo, da política de fome e miséria para o povo.
A campanha
que começa neste 11 de setembro brasileiro, de curtíssima duração, exigirá
tensionamento e mobilização totais. A tendência desenhada é a vitória das
forças progressistas, com a eleição de Haddad presidente da República, caso não
se cometam erros graves.
"Apenas"
uma ilusão estas forças tendencialmente vitoriosas não devem ter: com as
artimanhas, manobras e ameaças do inimigo, que seguramente não vai descansar.
Quando as Forças Armadas associam-se ao consórcio golpista, tudo pode
acontecer. Mas não é com derrotismo e conciliação que se constroem vitórias. A
luta é o elemento da esquerda. É o que ensina o sacrifício de Lula. Por sua
honra, é preciso luar e vencer.
*Jornalista,
pós-graduado em Política e Relações Internacionais, diretor do Cebrapaz –
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz
Fonte: Publicado no Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário