Por Kiko Nogueira
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Jarbas Passarinho: “Nunca pude suportar Jair Bolsonaro” |
Você já leu aqui sobre o desprezo que o general Ernesto Geisel nutria por Jair Bolsonaro, “um mau militar” e “fora do controle”.
Bolsonaro se auto outorgou o papel de
herdeiro do regime, atendendo aos anseios de analfabetos funcionais e
fascistas que acreditam que o Brasil emanou leite e maná do chão entre
1964 e 1985.
O “capitão” era considerado um “bunda
suja” no Exército — a maneira carinhosa com que os oficiais graduados
tratavam os que não faziam carreira.
Além de Geisel, Bolsonaro causava asco a outra figura emblemática daqueles tempos: Jarbas
Passarinho, tenente coronel que foi governador, senador e ministro do
regime, além de signatário do AI 5 (“Às favas, senhor presidente, neste
momento, todos os escrúpulos de consciência”, foram suas imortais
palavras no momento da assinatura).
Morreu em 2016, aos 96 anos. Numa entrevista de 2011 para o site Terra Magazine, Passarinho falou de Jair, então às voltas com a polêmica em torno de suas declarações estúpidas no CQC sobre a cantora Preta Gil.
Ele descreveu o colega de armas. “Ah, esse homem eu nunca pude suportar!”, afirmou. Transcrevo alguns trechos:
Já tive com ele aborrecimentos sérios. Ele é um radical e eu não suporto radicais, inclusive os radicais da direita.
Eu não suportava os radicais da esquerda e não suporto os da direita.
Pior ainda os da direita, porque só me lembram o livrinho da Simone de
Beauvoir sobre “O pensamento de direita, hoje”: “O pensamento da direita
é um só: o medo”. O medo de perder privilégios.
(…)
Ele irrita muito os militares também, porque quando está em campanha, em vez de ele ir ao Clube Militar, como oficial, ele vai pernoitar no alojamento dos sargentos (risos).
Pra ganhar a popularidade dele. Quando eu fui ministro da Justiça,
recebi a visita de uma viúva de um brigadeiro de quatro estrelas. Ela
era pensionista, portanto. Sabe que a pensão dela, naquela ocasião, no
governo Collor, era o que um cabo recebia na ativa? O Collor me
autorizou a tentar fazer uma modificação daquilo, pra ter pelo menos um
pouco mais de dignidade. Ele (Bolsonaro) me viu fazendo isso. Ficou
calado, veio com a esposa dele lá do Rio (de Janeiro), e em seguida ele
foi pra tribuna e deu aquilo como projeto de lei dele. Por aí tu vês
qual é a pessoa.
(…)
Foi mau militar, só se salvou
de não perder o posto de capitão porque foi salvo por um general que
era amigo dele no Superior Tribunal Militar (STM). O ministro
(do Exército), que era o Leônidas (Pires Gonçalves), rompeu com esse
general por causa disso (em 1986, Bolsonaro liderou um protesto pelo
aumento do soldo dos militares). Ele começou a se projetar quando aluno
da escola de aperfeiçoamento de capitães. Deu uma entrevista falando dos
baixos salários que nós recebíamos.
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Bolsonaro faz proselitismo sobre o golpe militar em 2014 (foto de Orlando Britto) |
(…)
Ele já teve um aborrecimento comigo.
Um cadete meu, que depois foi paraquedista e fez parte da luta contra a
guerrilha do Araguaia, Lício Maciel, que esteve à morte, uma
guerrilheira atirou na boca dele… Quase foi o fim. E o Lício Maciel foi
na conversa do Bolsonaro, que o levou para uma sessão (no Congresso).
Ele entrou e levou o Lício, que foi na conversa dele e começou a dizer:
“(José) Genoino, você tenha a coragem de dizer aqui na minha frente que
foi torturado… Você mente! Você foi preso por mim, pelo meu grupo”.
Depois eu soube, por uma mulher da esquerda, que ele (Genoíno) confessou
que lá ele não foi torturado, mas depois.
Então, Bolsonaro submeteu esse rapaz a um vexame, porque ele entrou numa sessão do Congresso.
Eu escrevi um artigo e mostrei a total imprudência e irresponsabilidade
do deputado. Submeter um oficial brilhante, digno, que tinha exercido
sua atividade contra a guerrilha sem nunca ter participado de uma
violência física, e ao contrário, sofreu, para depois ser expulso de uma
sala da maneira vergonhosa como foi!… Ele escreveu para o “Correio
Braziliense” me metendo o pau.
Era a primeira vez que ele tinha
coragem, depois de tantos atritos. Ele (Bolsonaro) me insultou, dizendo
que eu era um escondido da esquerda, um infiltrado, não sei o quê. E
mais ofensas de natureza pessoal. O “Correio” não publicou. Ele ficou
indignado. Eu não gosto nem de falar sobre ele, porque tudo isso vem à mente.
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