Por Mauro Donato
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Fernando Haddad na GloboNews. Foto: Reprodução/Facebook |
Dia
sim, outro também, colunistas, editoriais, analistas políticos e
filósofos de plantão têm atribuído à falta de autocrítica do PT como
explicação para a freada no crescimento e aumento da rejeição de
Fernando Haddad.
Que
a legenda até hoje não teria se manifestado sobre seu ‘ocaso ético’;
Que o partido permanece devendo um mea culpa à população. Essa cobrança
se faz desde o impeachment, mas intensificou-se desde o sábado 29, dia
do histórico #elenão puxado pelas mulheres (sendo que andava bem sumida
durante a arrancada de Haddad pós passagem de bastão de Lula).
Por
que insistem tanto nisso? Como diria Bozo, “que tara é essa” pelo
reconhecimento dos erros. Algo relacionado com sadismo? Professores à
moda antiga que obrigavam o aluno a vestir um cone na cabeça e ficar no
canto da sala? E como isso se daria?
Antes
de mais nada é bom lembrar que tais reconhecimentos já foram feitos.
Vários inclusive. Fernando Haddad em inúmeras ocasiões de sabatinas e
entrevistas o fez com clareza.
Quem tiver assistido o documentário O Processo (filme de Maria Augusta Ramos sobre o impeachment de Dilma Rousseff) teve a oportunidade de testemunhar que Gilberto Carvalho faz com todas as letras um longo ‘erramos’. Estão querendo mais o que, que seja em praça pública?
Segundo
a linha de pensamento corrente, não há como progredir enquanto petistas
não assumirem que Lula ‘sabia de tudo’, que ‘o estupendo volume de
negócios escusos’ sempre teve aval do presidente.
Ora,
mas e FHC? E Geraldo Alckmin? Eles nunca precisarão fazer tal mea
culpa? A responsabilidade dos esquemas de corrupção nos governos tucanos
é da iniciativa privada e seus empresários inescrupulosos? Então isso
enterra o discurso de privatização como receita de eficiência, certo?
O
que parece mais coerente como explicação do porque dia 29 ter saído
como um tiro pela culatra é que tudo o quanto possível a direita
transforma numa guerra de costumes. E o inominável vai bem – muito bem –
em dois segmentos radicalmente refratários a pautas progressistas: os
mais ricos e os que se veem representados pela bancada evangélica.
Uma
turma que não faz nenhuma ideia do que é o programa de governo do
capitão candidato, mas o que não quer mesmo é ver feministas exigindo
igualdade ou colocando os seios de fora.
Deve-se
ao fato de ele ser a escolha de uma imensa parcela da população que não
aprendeu nada sobre a ditadura nas escolas, algo que o Escola sem
Partido (não por acaso outro ninho de bolsonaristas) pretende perpetuar
para que no futuro nossa juventude continue ignorante acerca de 1964, de
2014 e de 2018. “Não foi golpe”, permanecerão repetindo à la Toffoli,
ou “não existiu ditadura”, como tantos outros.
Bolsonaro
e sua carteira de trabalho verde e amarela, sua agenda de continuísmo
do pacote de austeridades do governo golpista e as declarações
reveladoras de Mourão e Paulo Guedes sobre qual é realmente o plano
dessa ‘equipe’ se subirem a rampa do Planalto deveriam espantar a todos,
não apenas as camadas trabalhadoras. Mas o discurso da truculência e do
moralismo tem funcionado melhor. Essa é a explicação para a subida do
coiso.
Um
discurso que cola facilmente em uma população amedrontada por programas
jornalísticos sensacionalistas e com um ódio antipetista inoculado pela
mídia ao longo de anos. Não há pedido de perdão que resolva isso. Pelo
contrário, algo em rede nacional como parece ser o desejo desses
ensaboados será utilizado como “confissão” e irá equivaler a colocar o
pescoço na forca. Além de inocentar todos os demais, grande mídia
inclusa.
Quando
Sergio Moro quebra o sigilo de um delator em dobradinha com um
Judiciário que impede a outra parte de se defender, o que mais esperar? O
‘fenômeno’ Bozo se dá mais por sua usina de fake news, pela
desigualdade de tratamento concedido aos agentes políticos, pela
manipulação de informações. Nada a ver com falta de autocrítica.
Pariram um Frankenstein e agora isso também virou culpa do PT, ‘ta ok?’
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