Por Hermes Fernandes, pastor
Texto publicado originalmente no Facebook
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Bolsonaro e seus filhos sendo batizados pelo Pastor Everaldo, em 2016 |
A igreja nem sempre esteve do lado certo da história. A igreja apoiou
o Nazismo na Alemanha, apoiou a Klu Klux Klan e a segregação racial nos
Estados Unidos, apoiou o apartheid na África do Sul e o golpe militar no Brasil em 1964. Mas sempre houve um remanescente que não rendeu ao Baal de seu tempo.
Deus sempre levanta profetas que são tachados de perturbadores da
ordem, inimigos do status quo. Na Alemanha de Hitler, Ele levantou
Bonhoeffer. Nos Estados Unidos, Martin Luther King. Na África do Sul,
Desmond Tutu. No Brasil, Dom Helder Câmara e tantos outros pastores e
profetas que serviram de farol a uma geração mergulhada nas trevas da
ignorância.
A história parece se repetir. Mais uma vez a igreja se posiciona ao
lado do autoritarismo, de forças retrógradas e reacionárias, e faz coro
com um discurso de ódio e preconceito contra as minorias.
Ao escolher apoiar à candidatura de Bolsonaro, o povo evangélico
mandou um recado ao mundo: somos contrários aos direitos humanos.
Consegue ver a gravidade disso e o quanto isso vai na contramão da
proposta do verdadeiro Messias? Agora nos vemos numa inusitada
encruzilhada. Algo semelhante ao que se via nos dias de Cristo. Imagine
se os discípulos vivessem numa democracia e tivessem que escolher entre
Herodes e Pilatos. Obviamente, eles escolheriam Herodes. Afinal, ele
havia reformado o templo de Jerusalém, tornando-o mais suntuoso do que
nos dias de Salomão. Embora não fosse propriamente judeu, ele poderia
ser considerado um “parente” pois era Edomita. Bem diferente de Pilatos
que era romano e não conhecia seus costumes e tradições.
Por incrível que pareça, Jesus nunca dirigiu uma única critica a
Pilatos, nem mesmo questionou os altos impostos que eram remetidos à
César. Pelo contrário, Jesus reconheceu sua autoridade como vinda do
alto. Mas a Herodes, que tinha a simpatia de alguns de seus discípulos,
Jesus chamou de “aquela raposa” e ainda os advertiu pra que não se
deixassem contaminar com seu fermento. O que faz o fermento? Leveda a
massa, fazendo-a crescer exponencialmente.
É justamente isso que tem levado muitos líderes evangélicos a
juntarem forças em apoio à Bolsonaro. Eles querem crescer a todo custo
em influência na sociedade, demonstrar força, construir seus impérios
particulares. Para isso, são capazes até de lançarem mão de fake news (o
novo fermento de Herodes!). Sacrificam a vergonha e a credibilidade do
evangelho no altar da conveniência e dos interesses escusos. E por falar
em Pilatos, bem faremos se não lavarmos as mãos numa hora tão crucial
como a que vivemos.
Por isso, sigo posicionando-me contra o fascismo, o autoritarismo, o
fake news, o moralismo hipócrita, a xenofobia, a misoginia, a homofobia e
tudo que atente contra a liberdade e a dignidade humanas. E é por amor a
Jesus que os conclamo a se posicionarem pelo oprimido, pelo excluído,
pelas minorias, pelo pobre, pelo negro e índio, pela mulher, e por todos
os discriminados. Reconheço que não será fácil, pois quem mais nos
criticará serão nossos próprios irmãos.
Mantenhamo-nos firmes. Pode não ser o melhor dos cenários, mas nem por isso podemos nos esquivar.
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